domingo, fevereiro 06, 2005

A Sopa 04/29

Mais uma de carnaval.

Primeiro, deve ficar bem claro que não sinto falta do carnaval. Ao contrário de outras pessoas que – em Toronto – estão deprimidas (vide Orkut, comunidade Brasileiros em Toronto), pra mim está tudo tranqüilo. Afinal, já não era um carnavalesco assim, assíduo. Ao contrário do que acontecia em outros tempos, já há muito passado.

Mas nem tanto. O último baile (isso, baile) de carnaval que fui foi há dois anos, na SAT (Sociedade de Amigos de Tramandaí), em Tramandaí, litoral do Rio Grande do Sul. Fomos em grupo. Não um bloco, mas uma turma. E foi bem legal, ficamos no baile até as cinco horas da manhã e depois terminamos a noite comendo um “xis” no Pica-Pau Lanches.

Explicações: o ‘xis’ (corruptela de cheeseburger, e que no Rio Grande do Sul é feito com um pão maravilhoso e com uma fartura de ingredientes como em nenhum um outro lugar) do Pica-Pau era famoso pela sua qualidade, e tamanho, que incluia inclusive batatas fritas dentro, e era praticamente uma tradição terminar as noites de festa com uma passadinha lá.

Outras explicações: só participei de um bloco de carnaval nos tempos de folião assíduo. Foi o ‘Perversa’, e fomos nós que – em Imbé – começamos com o carnaval de rua na Av Rio Grande. Explicação da explicação: lá por 1990, época em que Imbé era o centro da noite do litoral gaúcho, e a Av Rio Grande era o centro da agitação com seus bares com música ao vivo, decidiram fazer um carnaval de rua que, na verdade, era num terreno ao lado de um dos bares. Nós, como bloco, fomos para lá.

No início, o pessoal ficava restrito ao terreno, enquanto carros passavam na avenida. Com o decorrer da noite, e num daqueles ‘trenzinhos’ característicos, que vai aumentando de tamanho à medida que vai passando e mais pessoas vão se juntando, começamos a atravessar a rua e a entrar em outros bares, chamando mais pessoas. E foi uma bola de neve, até que toda a rua foi invadida e carros não passavam mais. Nas noites seguintes e nos anos seguintes, a polícia antecipadamente bloqueava o espaço aos carros.

Aumentou muito em tamanho e número de pessoas com os anos, mas isso implicou – pelo fato de ser de rua e livre acesso – na presença de grupos dispostos a “esculhambar” muito mais que brincar. Assaltos e brigas foram o último estágio antes de o Imbé perder o posto de centro da noite no litoral para Atlântida, que desde então tem a principal noite do litoral gaúcho. Mas, nessa última fase, já não passávamos o carnaval lá. Nesta fase, já tínhamos nos mudado para os bailes de carnaval da SAT (a mesma que fomos, o Pedro, a Zeca, Jacque e eu, há dois anos).

Como falei outro dia, sou um fã dos carnavais de antigamente. Os carnavais das marchinhas, dos sambas-enredo das escolas de samba. Não daquelas festas de carnaval em que toca bate-estacas. Carnaval tem que ter música de carnaval, para o resto do ano temos as outras músicas. Ainda quero passar um carnaval em Salvador e um no Rio, desfilando numa das escolas, de preferência na Estação Primeira, do grande Cartola.

A música de hoje, novamente do Chico Buarque, é outra obra-prima da música popular brasileira, composta em 1966. A dica foi da Jacque, que insiste em chamá-la de “A Cachorra da Cabrocha”…



Quem Te Viu, Quem Te Vê

(Chico Buarque)

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Marcelo, realmente não eramos muito ligados em carnaval, mas nosso bloco perversa foi inesquecivel. Boas lembranças de uma epoca em que ainda dava para fazer festa na rua. Bons tempos! Um abraço, Fernando Miranda.