quarta-feira, maio 18, 2005

Considerações sobre um dia de sol

A primavera finalmente apareceu em Toronto, só não sei até quando vai durar. A previsão é de alguns dias de tempo bom e temparaturas amenas. O final de semana prolongado pelo feriado de segunda-feira – Victoria Day – promete ser de tempo agradável.

Hoje, em vez de ter que ir para o hospital, meu compromisso era num outro laboratório, a algumas quadras do Toronto Western Hospital. Fui de metrô até a estação Bathurst, e fiz caminhando o percurso entre a Bloor e a College st. A manhã de céu azul, sem vento, era mais do que propícia. Por ruas menos movimentadas, somente residenciais, caminhei lentamente com a máquina fotográfica na mão e procurando os melhores ângulos para uns retratos. Tulipas vermelhas e amarelas em alguns jardins estreitos que nem as casas muitas vezes conjugadas. Cheguei com calor.

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Já no hospital, após o almoço, fui ao banheiro, me olhei no espelho e vi o Elvis Presley dias antes de morrer. Resolvi começar uma dieta…

Ou cortar o cabelo.

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Tudo começou com um comentário que eu fiz no blog da Luly, em que eu dizia que eu era suuuper mal-humorado. Brincadeira, claro. E ela respondeu comentando que eu não parecia mal humorado, parecia introspectivo e reflexivo. E então a Renata comentou dizendo que já lia este blog há tempos e – antes de ver as minhas fotos – achava que eu era um cara mais velho, solitário e reflexivo.

Fiquei pensando nisso, na imagem que passo através do que escrevo, e me dei conta que tem gente que só me conhece por aqui, e a única idéia que têm de mim é justamente pelo que escrevo. Que coisa, eu realmente pareço reflexivo e introspectivo no que eu escrevo. E eu sou reflexivo e introspectivo! Mas não sou só isso, claro, se não nem eu me agüentava…

Pensei em pedir para algumas pessoas que me conhecem há mais tempo para darem seu depoimento sobre mim. Grande falcatrua, porque só poderia pedir para quem eu sei que só falaria bem de mim. Desisti. Contudo, enquanto eu escrevia o texto de hoje, a Jacque escreveu um comentário justamente sobre isso. Eu sei, eu sei, ela não é imparcial nem tem o distanciamento crítico suficiente. Mentira, não acredito nisso. Acho que ela tem TODAS as condições de falar sobre mim com total isenção… e considero o depoimento dela totalmente válido, senhor juiz…

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Mas não posso deixar de dizer que gostei dessa imagem, de reflexão e introspecção. Prefiro pensar que isso tem a ver com a Estética do Frio, termo criado e teoria desenvolvida pelo Vítor Ramil, músico gaúcho. Tem a ver com a imensidão do pampa, das terras do sul, onde é frio e até neva, em contraposição ao que se pensa quando se fala em Brasil, sol, calor e praia.

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Ainda sobre a impressão que passo e os comentários feitos, foi dito que eu dou a impressão de ser “muito mais velho, solitário e reflexivo”. Lembrei direto de uma música do Nei Lisboa, também gaúcho de Porto Alegre.

Baladas


Nem ao menos deus por perto
Mil idéias brilham
Mas não molham meu deserto
E já faz tempo
Que eu escuto ladainhas
As minhas, as ondas do verão
Que irão bater na mesma tecla
A mesma porta
Baladas de uma época remota
Não há saídas
Só delírios de outro Midas
Lambendo a tua cruz
É ouro que reluz

Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém


E apesar de tudo estranho
Tenho inimigos que me amam
Fantasmas
E garçonetes em Pequim
É sempre alguém
Alguém que pense em mim
Enquanto o palco acende a luz do soul
A banda passa e bossa amassa o business-show
Romanos
Encharcados de poção
Vivemos de paixão
E alguma grana

Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém


Muito além do jardim
Viajo atrás de sombras
Não sei a quem chamar
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem
Você me arrasou, meu bem
E qualquer dia desses como as tuas bolas
Mas por hora esqueça o drama na sacola
Não puxe o cobertor
Não tape o sol que resta nessa dor
Foi bom, não durou

4 comentários:

Anônimo disse...

Tudo bem. A Ana Paula de Brampton falou comigo que me imaginava totalmente diferente pessoalmente, porque no blog eu sou toda sarcastica, "opinionated" e por ai vai. Falou que pessoalmente eu estava quietinha. Expliquei pra ela que num encontro de brasileiros, ir com um canadense que nao fala portugues nao ajuda muito. Eu TENHO que fazer companhia pra ele, e dessa forma nao posso sair puxando papo com todos. Entao acabei ficando quietinha. Acho que outra coisa foi saber que a maioria das pessoas ali ja tinha lido coisas que eu pensava e falava...e me senti meio "Big Brother Canada"! Eu nunca achei que voce fosse mal humorado...talvez serio. Mas definitivamente nunca mal humorado!

Luly :) disse...

Hahahahhaha!!! A-DO-REI essa!! Qdo vc escreveu lá no blog eu fiquei em dúvida se vc estava falando sério e pensei: "nossa, será? Nunca percebi isso!", mas, como só te conheço por aqui, pensei que talvez vc se achasse mal humorado, mesmo que seus textos tenham sempre uma pitada de humor (vai que era só sarcasmo! hehehehe!)... Tb vi o comentário da Jacque e já me convenci (sem muito esforço) de que vc é tri bem humorado, mas isso não faz que vc deixe de ser reflexivo e instrospectivo... ;o)
Pode ser porque quando a gente mora sozinho tem mais tempo pra pensar... Qdo eu morava sozinha também fiquei assim...

Ainda bem que não vou ter que mudar o jeito que leio seus textos! hehehehe...

Bjo!

Luly :)

Ana Celia disse...

Oi Marcelo,
no comeco achava que vc era "introspectivo" por causa do blog... mas, depois conhecendo vc, vi que nao tem nada disso, vc e' muito engracado e bem humorado. Fora que vc adora um agito social, ne?
Blog, as vezes engana...:)

Bjs,
Ana

Anônimo disse...

Olá, Marcelo (acertei o nome dessa vez).
ainda não posso fazer uma avaliação do seu humor ou sua personalidade (sai fora), mas uma coisa eu acho. Você escreve bem pra... Depois de ler os teus escritos fiquei preocupadíssima com o meu estilo. Agora estou escrevendo no word e corrigindo antes de postar.
Mas sobre o assunto fiquei pensando! Quando vc escreve vc "está" reflexivo e introspectivo. Que bom!
Ai que saudades das tulipas...
Um abraço Luciana