sábado, maio 14, 2005

Outro Sábado

Percebe-se que se está ficando velho quando algumas lembranças que ainda estão vivas, claras e cristalinas na nossa mente tem mais de vinte anos. Aí olho-me no espelho e digo, ao contemplar o que vejo, ‘respeite meus cabelos brancos’. São poucos, mas são defintivos.

Eu tenho algumas lembranças bem claras de há 20 anos, mas isso não tem importância nenhuma. O passado não existe e o futuro é apenas uma possibilidade, muito mais que uma probabilidade. O que resto é o hoje, o agora. E vamos levando, da melhor forma possível.

Isso dito, ainda mais vindo de alguém que aprecia ao extremo as lembranças, as histórias, pode parecer estranho. Mas acho que não é. Sou um contador de histórias, isso é o que me define muito antes de qualquer possivel caracterização que possa ser feita. Contraditório? Não. Eu construo as histórias no hoje para poder contar-las no futuro, quando forem passado. Não vivo nas minhas lembranças, nem deixo que elas interfiram no presente.

Se é que isso é possível, afinal de contas somos o resultado do que passou, e o que fazemos agora é o que vai determinar o depois. Não podemos fugir dessa perspectiva, de viver o presente determinado pelo que passou e que vai determinar o que virá.

Percebi isso nas duas vezes em que estive em Porto Alegre desde agosto, quando vim para Toronto. Ao chegar em Porto Alegre, a sensação de que nunca tinha saído de casa, que sempre estivera ali, ao mesmo tempo em que – eventualmente – enquanto estou aqui, tenho a impressão de que nunca vou voltar para a vida que vivia lá. É o que chamo de Síndrome da Caverna do Dragão. Os conteporâneos dos anos 80 lembrarão, do desenho em que um grupo de amigos ia a um parque de diversões e ao entrar num dos brinquedos – cujo nome era o título do desenho – caíam numa dimensão paralela e nunca conseguiam voltar. A cada episódio, eles chegavam muito perto de voltar para casa, mas por uma razão qualquer não conseguiam.

Pois é, algumas vezes tenho a impressão de que nunca mais vou voltar à vida que tinha antes, e de certa forma vai ser assim. Vou voltar diferente, sem dúvida. O essencial, contudo, será sempre o mesmo.

A Jacque, acima de tudo.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu acho que vou passar por isso quando for visitar meus pais. Apesar da minha vida agora ser por aqui, vou me sentir esquisita quando for, um mix de saudade de casa, dos amigos, da comida, e saudade de deixar a minha vida aqui pra tras, nem que seja por um curto periodo de tempo. Vou estar diferente, eu sei, porque ja estou. Mas a vida e assim, as mudancas sempre vao existir.