domingo, março 12, 2006

A Sopa 05/34

Uma questão de equilíbrio.

Escolher o tema da sopa nossa de cada dia é uma tarefa que exige cuidado e atenção. Não basta esperar que um assunto se imponha, que se faça pauta obrigatória. Aliás, nem sempre a pauta aparentemente obrigatória é a mais adequada para se publicada. Talvez no jornalismo convencional ou, melhor, no jornalismo de verdade (já que esse espaço não o é) os fatos sejam a prioridade maior, diferentemente daqui. Talvez, até porque a informação, a verdade, sempre tem várias facetas, enfoques, interpretações.

Aqui na cozinha em que preparo A Sopa, principalmente a de domingo, que é especial, teoricamente preparada com mais apuro e dedicação que a de todos os dias nem sempre tem pela pressa da rotina, os ingredientes que uso são um pouco diferentes daqueles que incluiria se aqui fosse um espaço jornalístico. Entre esses ingredientes, que variam de semana para semana, estão doses diferentes de humor, reflexão, vez que outra uma pitada de melancolia, memórias, projetos futuros, saudades e até ficção. Tudo isso depende também “da mão”, do estado anímico, do cozinheiro, esse que vos escreve. Como, então, equilibrar todos os fatores envolvidos na elaboração dessa refeição?

Eu ia dizer experiência, mas ia parecer presunçoso.

Então não vou dizer. Que fique implícito…

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Ontem, quando o Rafael e a Monique chegaram aqui em casa, eu estava tomando chimarrão. Não quiseram tomar, o Rafael por falta de hábito (mesmo que suas origens sejam do sul) e a Monique porque nunca havia tomado e ficou relutante em experimentar a “bebida amarga da raça, que adoça meu coração”… Contei para eles sobre um dos meus hábitos quando morava no Brasil: o chimarrão com milonga.

Era aos sábados de manhã, em que acordava cedo, preparava o chimarrão e tomava enquanto lia o jornal e ouvia milongas. Perguntaram o que é milonga, afinal de contas?

Milonga é um estilo musical que surgiu na área do Rio da Prata, Argentina e Uruguai, muito popular em torno de 1870, e também no Rio Grande do Sul, onde até hoje tem certa popularidade em círculos mais tradicionalistas. É originada de um estilo de cantar mais antigo, conhecido como payada de contrapunto. A payada é uma forma poética, em geral um repente em décima (estrofe de 10 versos), de redondilha maior (verso de sete sílabas) e rima entrelaçada (todos os versos rimam entre si, alternadamente).

As raízes da payada remontam aos romances e quadras medievais e renascentistas, de temática popular, trazidos pelos povoadores espanhóis do território platino. O contato com o linguajar e com o dia-a-dia da vida campeira, porém, adaptou essas expressões à realidade da campanha. Talvez o único payador brasileiro autêntico tenha sido Jayme Caetano Braun, falecido em 1999.

Mais tarde, ainda ontem, quando já estavam aqui em casa também o Henrique e a Camilla, mostrei a eles um pouco da música gaúcha, e milongas em especial. Vítor Ramil, claro, com o CD Ramilonga. Um dos comentários foi que eram compreensível que eu, tomando chimarrão sozinho, vendo a noite pela janela e ouvindo milonga, ficasse baixo astral. 'Baixo astral não', corrigi.

Reflexivo, apenas reflexivo.

Até.

2 comentários:

Camilla Rangel Moreira disse...

Gostei de conhecer a milonga! Muito interessante e bonita, mas um pouco triste pra ouvir sozinha!

Anônimo disse...

Eu gosto de chimarrao, papai costumava fazer quando era inverno(estado do RJ no verao e IMPOSSIVEL de qualquer um consumir chimarrao) e eu tomava com ele sempre. Depois que fomos pra Brasilia acho que nunca mais tomei, mas ele ainda tem aquele copo.