sexta-feira, junho 16, 2006

Dois

Duas. Semanas. Quatorze. Dias.

Ontem atendi um amigo no hospital. Após a consulta, fomos até a minha sala para tomar um café e falar da vida. Sempre é bom falar da vida. Assim, genericamente.

Mas o assunto inevitável sempre aparece na forma da pergunta “Muito ansioso?” que, muito mais que uma pergunta, no fundo é a permissão para eu falar no assunto. E minha resposta sempre começa com um “quanto mais se aproxima a data, mais devagar passa o tempo”. Mas mesmo aparentemente devagar, ele esvai-se. Dois finais de semana. No terceiro, já estarei em casa. Ou terei deixado a casa daqui para voltar para a casa daí.

Percebi isso essa semana.

Quando, em agosto de 2004, eu me despedia de Porto Alegre, eu na verdade não me despedia assim, definitivamente. Era mais um até logo, vou até ali Toronto passar dois anos e já volto. Seguras as pontas aí que não demora muito estou de novo na área. Não era uma despedida real, eu não estava partindo para sempre, mesmo que a sensação fosse essa, a possibilidade de nunca mais voltar. De novo, sensação. Mas isso não é importante nesse momento, é outra história. A idéia é que eu ia para voltar, mesmo que eu soubesse que havia a possibilidade de isso não acontecer. Sempre há essa possibilidade, mesmo que nunca tenha feito parte dos planos.

Agora vivo a sensação oposta.

Vou embora para sempre.

Certo, não tenho dúvidas de que vou voltar a Toronto, e mais de uma vez. Congressos, projetos e, mais importante, visita a amigos, bons amigos que fiz aqui. Talvez até passe um outro período aqui, dessa vez numa situação diferente, com a Jacque. Mas o que conta é que estou indo embora de Toronto para não voltar a morar aqui. E isso traz uma gama de sensações bem diferentes (mas – paradoxo – também semelhantes) há dois anos atrás.

E começo a sentir que estou me despedindo de tudo. A vista que tenho de determinada janela do hospital, que por onde no início olhava e pensava em quando e se eu voltaria para casa. Lugares por onde passei e não vou passar mais. Na minha rotina, do bonde e do metrô diários, da tranquilidade de andar nas ruas, do ritmo mais calmo da vida. Do calmo esperar para atravessar a rua.

Não estou de forma alguma triste, obviamente. Voltar para casa é algo que venho esperando desde que saí de Porto Alegre. Mas que vou sentir falta daqui, a isso vou. Até porque aqui agora também é minha casa.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nada como voltar para CASA !!!!