domingo, janeiro 28, 2007

A Sopa 06/28

Só não há perdão para o chato.

Estava ouvindo ontem as notícias na tevê e me dei conta de um fato: os chatos não morrem. Ou pelo menos não se noticia isso. Já repararam? Sempre que se noticia a morte de alguém, por acidente, doença ou qualquer que seja a causa, e entrevistam um familiar ou mesmo um conhecido sobre a pessoa que se foi, a descrição é sempre a mesma: era uma pessoa cheia de vida, tinha um futuro brilhante pela frente, etc.

E isso me preocupa: quem morre são sempre os bons, aqueles com as melhores chances de um futuro brilhante. Os chatos, os de vida medíocre, os pequenos, esses continuam. Esses são imunes às mortes prematuras, às vidas interrompidas. Nunca se verá alguém dizendo sobre um morto: “Não, ele não tinha grandes ambições, queria apenas ser um burocrata, pagar seus impostos em dia, e não chamar muita atenção sobre si”.

Tudo porque a morte redime a todos.

Aquele que morreu, por não estar mais aqui para provar em contrário, poderia vir a ser qualquer coisa: astronauta, presidente da república, prêmio Nobel da Paz. E ele se torna aquilo que desejamos que ele tivesse sido.

(claro que isso acontece mais freqüentemente quando quem morre é jovem, mas não só)

Eu não.

Eu quero ser em vida alguém que, quando as pessoas lembrem de mim, digam ‘O Marcelo, como ele é cheio de vida, cheio de planos’. Que seja uma referência quando o assunto for animação, vibração capacidade de congregar, reunir. Que eu não me torne alguém assim apenas depois da vida.

Porque o que me interessa é o agora, o hoje.

Talvez esteja aí a gênese de todas as minhas invenções e eventos. A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, as Quarta-feiras Filosóficas, esse blog. Sem falar nas criadas num passado um pouco mais distante. Todas formas de reunir as pessoas, de estar junto, de festejar.

Porque ser lembrado como alguém cheio de vida quando não se tem mais uma não me interessa.

(um texto antigo nesse período de férias de verão...)

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Geralmente só se dá valor para alguém quando essa pessoa morre. Não tem jeito, o ser humano erra, erra e continua errando. Poucos conseguem aprender com seus erros. Abraço.