Eleições no Iraque neste final de semana que terminou.
Com este fato em mente, decidi cortar o meu cabelo voltado para Meca. Sério. Certo, não sei se estava voltado realmente para Meca, mas que eu fiquei o tempo todo olhando para ela, isso eu fiquei.
Por indicação do Rafael e da Monique , fui cortar o cabelo aqui perto de onde moro, num barbeiro iraquiano. Se vocês acompanham este relatos do exílio, sabem que em outubro fui cortar o cabelo num barbeiro italiano que, ao contrário do que eu pedia, não usava a máquina, apenas tesoura. Pois bem, o barbeiro iraquiano só usa a máquina. De um extremo a outro, mas tudo bem, prefiro a máquina.
Ocorreu mais ou menos assim.
Sábado de manhã, termômetros marcando agradáveis –9ºC, fui andando para tentar encontrar o local indicado. Fácil. Entrando na pequena barbearia, a temperatura deveria estar em torno de 20ºC. Tira casaco e blusão e sentei na cadeira indicada pelo barbeiro, de costas para um poster de Meca. No espelho, passei o todo tempo mirando a cidade sagrada que todo muçulmano deveria (deve) visitar ao menos uma vez em sua vida.
Ao começar, uma única pergunta: curto ou não? Curto, mas sem exageros, respondo, não esquecendo de explicar para ele tentar evitar de deixar o cabelo faça o contorno da cabeça, ou seja, não quero redondo. Ángulo de 90º entre a parte lateral e a superior. Certo, certo, e lá vai ele com a máquina. Acrescento – meu deus, como sou chato! – que nos lados pode ser máquina dois. Certo, e segue adiante. E me lembro de quando eu era pequeno.
Sabe quando começamos a aprender a pintar? Sejá lá o que for, nos ensinam que – para ficar uniforme a pintura, no caso – devemos pintar numa única direção – para cima e para baixo, de um lado a outro . Pois é, ele deve ter faltado a essa aula. A máquina vai circulando aleatoriamente pela minha cabeça. Tudo bem por enquanto, apesar disso. Corta, corta, em determinado momento relembro a ele sobre o ângulo reto, e vai em diante.
Até que termina. Pede que eu confira, inclusive a parte de trás, com um espelho. Olho… ainda está grande, é preciso cortar mais. Me avisa que se cortar mais vai ser difícil de pentear (por pouco comprimento de cabelo) e vai ser necessário usar gel. Digo que tudo bem, já uso gel mesmo. Termina o serviço: olho e gosto, apesar de que ainda poderia ter cortado mais nas laterais, mas deixa assim, fica para a próxima, no mês que vem.
Saio para a rua. O céu é azul, o sol brilha e aquece um pouco.
Sábado, manhã, o melhor momento da semana.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
domingo, janeiro 30, 2005
Um Texto de Ficção
Esse é outro texto antigo meu.
Histórias Inacreditáveis (1)
Encontraram-se, depois de um ano de separação, no supermercado. No princípio, fingiram que não haviam se visto, mas depois de muito pensar, Paulo resolveu falar:
- É, um dia isto teria que acontecer...
- Já não era sem tempo. Está atrasado...
- Como assim?
- Trouxe o pacote?
É, ela tinha enlouquecido, coitada. Após pensar isso, ele a observou todinha e chegou à conclusão de que a separação fora benéfica para ela. Ela estava diferente. E linda.
- “As vacas não gostam de metralhadoras”.
- O quê?!
- A senha. Agora me dê o pacote.
Após dizer isso, ela arrancou o pacote de azeitonas pretas que ele comprara numa loja especializada em azeitonas, e correu para fora do supermercado. Estupefato, ele a observou correr graciosamente para o carro que estava parado bem em frente à porta de entrada, e o carro explodir.
Atrás dele, um ex-combatente do Vietnã estava pronto para esfaqueá-lo.
Estourava a III Guerra Mundial.
Histórias Inacreditáveis (1)
Encontraram-se, depois de um ano de separação, no supermercado. No princípio, fingiram que não haviam se visto, mas depois de muito pensar, Paulo resolveu falar:
- É, um dia isto teria que acontecer...
- Já não era sem tempo. Está atrasado...
- Como assim?
- Trouxe o pacote?
É, ela tinha enlouquecido, coitada. Após pensar isso, ele a observou todinha e chegou à conclusão de que a separação fora benéfica para ela. Ela estava diferente. E linda.
- “As vacas não gostam de metralhadoras”.
- O quê?!
- A senha. Agora me dê o pacote.
Após dizer isso, ela arrancou o pacote de azeitonas pretas que ele comprara numa loja especializada em azeitonas, e correu para fora do supermercado. Estupefato, ele a observou correr graciosamente para o carro que estava parado bem em frente à porta de entrada, e o carro explodir.
Atrás dele, um ex-combatente do Vietnã estava pronto para esfaqueá-lo.
Estourava a III Guerra Mundial.
sábado, janeiro 29, 2005
Um texto antigo
O texto abaixo é bem antigo, de 1988. Foi feito em parceria com um colega, Igor Vinícius de Oliveira Teixeira, e o título é uma provocação à nossa professora que insistia que os títulos tinham que ser coerentes com o texto.
As Ruínas de Gênova uma vez Delimitados os Mais Altos Valores da Bolsa em Conseqüência do Aumento do Consumo de Drogas em Nova Iorque (ou uma história com moral)
Florípede era uma mulher tímida. Seus pais haviam escolhido este nome porque rimava com velocípede. Apesar de tímida era linda. Seus dotes eram magníficos. Poderia ter todos os homens que quisesse, mas era solitária. Tinha solitária. Era rica e poderosa.
Marcelo Igor, irmão de Igor Marcelo, era completamente diferente de Florípede. Era exaltado. Seus pais havia escolhido este nome porque era bastante parecido com o do seus irmão ao contrário. Era exaltado e feio. Dotes (dotes?) grotescos. Poderia querer todas as mulheres do mundo, mas elas o ignoravam.
Um dia, se encontraram quase sem querer. Não foi por obra do acaso, tinha mesmo que acontecer. Conversaram muito mesmo para tentar se conhecer. Marcelo Igor achou que ela era a mulher de sua vida. Ela achou o contrário. Se despediram e nunca mais se viram.
Moral: Não adianta gostar de quem não gosta da gente.
As Ruínas de Gênova uma vez Delimitados os Mais Altos Valores da Bolsa em Conseqüência do Aumento do Consumo de Drogas em Nova Iorque (ou uma história com moral)
Florípede era uma mulher tímida. Seus pais haviam escolhido este nome porque rimava com velocípede. Apesar de tímida era linda. Seus dotes eram magníficos. Poderia ter todos os homens que quisesse, mas era solitária. Tinha solitária. Era rica e poderosa.
Marcelo Igor, irmão de Igor Marcelo, era completamente diferente de Florípede. Era exaltado. Seus pais havia escolhido este nome porque era bastante parecido com o do seus irmão ao contrário. Era exaltado e feio. Dotes (dotes?) grotescos. Poderia querer todas as mulheres do mundo, mas elas o ignoravam.
Um dia, se encontraram quase sem querer. Não foi por obra do acaso, tinha mesmo que acontecer. Conversaram muito mesmo para tentar se conhecer. Marcelo Igor achou que ela era a mulher de sua vida. Ela achou o contrário. Se despediram e nunca mais se viram.
Moral: Não adianta gostar de quem não gosta da gente.
sexta-feira, janeiro 28, 2005
Holocausto
Hoje comemorou-se o 60º aniversário da libertação de Auschwitz. Um dos maiores símbolos da barbárie humana. Líderes do mundo estiveram no local para homenagear a memória daqueles que foram mortos naquele campo de concentração. Não devemos esquecer jamais as atrocidades cometidas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
O único problema é que a humanidade parece não ter aprendido a lição. Continuamos intolerantes e, por que não, bárbaros, como vem sendo desde o início dos tempos. Não podemos esquecer Auschwitz, o maior e mais significativo genocídio do século XX, mas não podemos fechar os olhos para todas as outras matanças que ocorreram por todo o mundo desde então. Ruanda, Bósnia, e todos os locais onde milhares de vidas inocentes foram tiradas pelas mais variadas razões, ou melhor, sem razão alguma, em conflitos e guerras ao longo do tempo.
Encontrei um site, chamado An Auschwitz Alphabet, que é uma ótima fonte de pesquisa e informação sobre o assunto. Vale a pena a leitura. Pertubadora.
Abaixo, transcrevo um parte, que fala sobre Deus.
” Where was God in Auschwitz?
Never should I forget that nocturnal silence which deprived me, for all eternity, of the desire to live. Never shall I forget those moments which murdered my God and my soul and turned my dreams to dust.
Wiesel
The horror of Auschwitz is a stark challenge to many of the more conventional ideas of God. The remote God of the philosophers....becomes intolerable. Many Jews can no longer subscribe to the biblical idea of God who manifests himself in history, who, they say with Wiesel, died in Auschwitz. The idea of a personal God, like one of us writ large, is fraught with difficulty. If this God is omnipotent, he could have prevented the Holocaust. If he was unable to stop it, he is impotent and useless; if he could have stopped it and chose not to, he is a monster. Jews are not the only people who believe that the Holocaust put an end to conventional theology.
Karen Armstrong, A History of God, (Ballantine Books, 1993) "
O único problema é que a humanidade parece não ter aprendido a lição. Continuamos intolerantes e, por que não, bárbaros, como vem sendo desde o início dos tempos. Não podemos esquecer Auschwitz, o maior e mais significativo genocídio do século XX, mas não podemos fechar os olhos para todas as outras matanças que ocorreram por todo o mundo desde então. Ruanda, Bósnia, e todos os locais onde milhares de vidas inocentes foram tiradas pelas mais variadas razões, ou melhor, sem razão alguma, em conflitos e guerras ao longo do tempo.
Encontrei um site, chamado An Auschwitz Alphabet, que é uma ótima fonte de pesquisa e informação sobre o assunto. Vale a pena a leitura. Pertubadora.
Abaixo, transcrevo um parte, que fala sobre Deus.
” Where was God in Auschwitz?
Never should I forget that nocturnal silence which deprived me, for all eternity, of the desire to live. Never shall I forget those moments which murdered my God and my soul and turned my dreams to dust.
Wiesel
The horror of Auschwitz is a stark challenge to many of the more conventional ideas of God. The remote God of the philosophers....becomes intolerable. Many Jews can no longer subscribe to the biblical idea of God who manifests himself in history, who, they say with Wiesel, died in Auschwitz. The idea of a personal God, like one of us writ large, is fraught with difficulty. If this God is omnipotent, he could have prevented the Holocaust. If he was unable to stop it, he is impotent and useless; if he could have stopped it and chose not to, he is a monster. Jews are not the only people who believe that the Holocaust put an end to conventional theology.
Karen Armstrong, A History of God, (Ballantine Books, 1993) "
quinta-feira, janeiro 27, 2005
Tribos e Tribunais
Tenho andado nos últimos dias com uma música que não sai da cabeça.
Não sei por quê.
É possível que os primeiros versos, "todo o dia a gente inventa uma alegria" sejam a causa.
É, pode ser...
A letra:
"Todo dia a gente inventa uma alegria
A gente esquenta a água fria
E ignora a bola fora
Toda hora a gente dá um desconto
A gente faz de conta
Mas chega a um ponto em que ninguém mais quer saber
Crimes passionais
Profissionais liberais demais
Segredos de estado
Centroavante recuado
Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem
Tem muita gente se queimando na fogueira
E muito pouca gente se dando muito bem
Agente secreto
Agente imobiliário
Gente como a gente
Presidente e operário
Empresas estatais
Estátuas de generais
Heróis de guerra
Guerra pela paz
Hindús, industriais
Tribos e tribunais
Pessoas que nunca aparecem
Ou aparecem demais
Críticos da arte
Arte pela arte
Pink Floyd sem Roger Waters
Torna sem função
Fascista de direita
Fascista de esquerda
Empresas sem fins lucrativos
Empresas que lucram demais
Todo dia a gente inventa e fantasia
A gente tenta todo dia
Feitos cegos
Egos em agonia"
Não sei por quê.
É possível que os primeiros versos, "todo o dia a gente inventa uma alegria" sejam a causa.
É, pode ser...
A letra:
"Todo dia a gente inventa uma alegria
A gente esquenta a água fria
E ignora a bola fora
Toda hora a gente dá um desconto
A gente faz de conta
Mas chega a um ponto em que ninguém mais quer saber
Crimes passionais
Profissionais liberais demais
Segredos de estado
Centroavante recuado
Isso me sugere muita sujeira
Isso não me cheira nada bem
Tem muita gente se queimando na fogueira
E muito pouca gente se dando muito bem
Agente secreto
Agente imobiliário
Gente como a gente
Presidente e operário
Empresas estatais
Estátuas de generais
Heróis de guerra
Guerra pela paz
Hindús, industriais
Tribos e tribunais
Pessoas que nunca aparecem
Ou aparecem demais
Críticos da arte
Arte pela arte
Pink Floyd sem Roger Waters
Torna sem função
Fascista de direita
Fascista de esquerda
Empresas sem fins lucrativos
Empresas que lucram demais
Todo dia a gente inventa e fantasia
A gente tenta todo dia
Feitos cegos
Egos em agonia"
quarta-feira, janeiro 26, 2005
Montanha-russa
Alguns dias são bons, outros não. Mesmo sem nenhuma razão aparente.
Hoje foi um dia em que não aconteceu nada de diferente de outros dias, mas não pude evitar a sensação de desajustamento. Estranho, fazia tempo que não sentia isso.
Talvez sejam os rescaldos do dia 24/01, que é - segundo uma pesquisadora britânica - o dia mais depressivo do ano. Talvez aqui no hemisfério norte. Não consigo imaginar pessoas deprimidas na beira da praia, em Porto de Galinhas, por exemplo.
A verdade é que certas pesquisas são totalmente inúteis...
Hoje foi um dia em que não aconteceu nada de diferente de outros dias, mas não pude evitar a sensação de desajustamento. Estranho, fazia tempo que não sentia isso.
Talvez sejam os rescaldos do dia 24/01, que é - segundo uma pesquisadora britânica - o dia mais depressivo do ano. Talvez aqui no hemisfério norte. Não consigo imaginar pessoas deprimidas na beira da praia, em Porto de Galinhas, por exemplo.
A verdade é que certas pesquisas são totalmente inúteis...
terça-feira, janeiro 25, 2005
Limites (ou a falta de )
Um dos principais problemas do mundo, hoje em dia, é a falta de limites.
É revoltante perceber que boa parte dos males do mundo poderia ser resolvida com a imposição de limites claros os quais não se poderiam ser ultrapassados. Tudo ficaria mais calmo, funcionaria melhor. O respeito seria maior.
Mas não estou falando especificamente de crianças e sua educação. Claro que é muito mais difícil – em tese – ser mais rígido em termos de educação do que há uma ou duas gerações, mas isso não pode servir de desculpa. Existe um velho dito que se diz quando alguém (no caso, a criança) está ultrapssando os limites, e é algo mais ou menos assim: “a gente dá a mão e eles já querem o braço”. Isso está se tornando a regra.
De novo, não falo de crianças e sua criação. Olha o tempo, por exemplo.
É inverno, faz frio, neva no Canadá e nos Estados Unidos. Tudo bem, isso é o esperado. Vários dias de neve, temperaturas em torno de –10ºC, tudo conforme o figurino. Mas aí entra a falta de limites: venta MUITO, neva MUITO, e a temperaratura cai a –23ºC com sensação térmica de –34ºC. Mas o que é isso?! Simples, falta de limite.
Em Porto Alegre, por outro lado, verão, sol, pessoal indo para a praia nos finais de semana. Perfeito? Sim, mas aí passam dos limites. Temperatura de 35ºC com sensação térmica de quase 50ºC pela umidade do ar. Sai-se do banho já suando. É um horror. Por quê? Falta de limite…
Claro que nem sempre a falta de limite é negativa. Ou prejudicial. Veja o caso do Magno, por exemplo. Ele é um bom exemplo de uso não prejudicial da falta de limites… mas não vou falar dele, deixa para lá.
Prefiro deixar os bons exemplos – como o do Magno – de lado e me concentrar nos ruins, para reforçar a minha tese. Certo, eu sei que esse é um procedimento pouco científico, mas o objetivo aqui não é fazer ciência. O Bush, sim, ele é um exemplo de falta de limites. A invasão do Iraque foi um bom exemplo de falta de limites desse menino. Mas vocês já entenderam o meu ponto de vista, e sabem muitos exemplos.
Agora, –23ºC com vento e neve batendo na cara não dá para aceitar.
Só falta me dizerem que ainda faltam dois meses para acabar o inverno…
:-)
É revoltante perceber que boa parte dos males do mundo poderia ser resolvida com a imposição de limites claros os quais não se poderiam ser ultrapassados. Tudo ficaria mais calmo, funcionaria melhor. O respeito seria maior.
Mas não estou falando especificamente de crianças e sua educação. Claro que é muito mais difícil – em tese – ser mais rígido em termos de educação do que há uma ou duas gerações, mas isso não pode servir de desculpa. Existe um velho dito que se diz quando alguém (no caso, a criança) está ultrapssando os limites, e é algo mais ou menos assim: “a gente dá a mão e eles já querem o braço”. Isso está se tornando a regra.
De novo, não falo de crianças e sua criação. Olha o tempo, por exemplo.
É inverno, faz frio, neva no Canadá e nos Estados Unidos. Tudo bem, isso é o esperado. Vários dias de neve, temperaturas em torno de –10ºC, tudo conforme o figurino. Mas aí entra a falta de limites: venta MUITO, neva MUITO, e a temperaratura cai a –23ºC com sensação térmica de –34ºC. Mas o que é isso?! Simples, falta de limite.
Em Porto Alegre, por outro lado, verão, sol, pessoal indo para a praia nos finais de semana. Perfeito? Sim, mas aí passam dos limites. Temperatura de 35ºC com sensação térmica de quase 50ºC pela umidade do ar. Sai-se do banho já suando. É um horror. Por quê? Falta de limite…
Claro que nem sempre a falta de limite é negativa. Ou prejudicial. Veja o caso do Magno, por exemplo. Ele é um bom exemplo de uso não prejudicial da falta de limites… mas não vou falar dele, deixa para lá.
Prefiro deixar os bons exemplos – como o do Magno – de lado e me concentrar nos ruins, para reforçar a minha tese. Certo, eu sei que esse é um procedimento pouco científico, mas o objetivo aqui não é fazer ciência. O Bush, sim, ele é um exemplo de falta de limites. A invasão do Iraque foi um bom exemplo de falta de limites desse menino. Mas vocês já entenderam o meu ponto de vista, e sabem muitos exemplos.
Agora, –23ºC com vento e neve batendo na cara não dá para aceitar.
Só falta me dizerem que ainda faltam dois meses para acabar o inverno…
:-)
domingo, janeiro 23, 2005
A Sopa 04/27
Os dias de exílio têm sido propícios para pensar a vida.
Não é sempre que temos esta oportunidade, de – sem interromper as atividades do dia a dia – parar e pensar sobre questões que normalmente não pensamos, relacionadas aos caminhos que temos percorrido, com quem os temos percorrido e, talvez mais importante, onde esses mesmo caminhos nos levarão. Os primeiros meses aqui foram dias de silêncio e circunspecção, de resolução de pendências não relacionadas a minha estada aqui, e – por que não dizer – de encerramento de uma fase. Agora o enfoque mudou. Mas não só enfoque.
Os silêncios não são mais os mesmos, diminuiram em frequência, com o advento da televisão que comprei logo que a Jacque chegou aqui para me visitar. Se perdi em silêncio, por outro lado me sinto progressivamente mais confortável em casa, ainda mais nestes dias de frio intenso, vento forte e neve batendo forte na cara, ou no espaço do rosto que fica descoberto, mesmo com todas as proteções possíveis.
Mas eu falava sobre pensar (ou repensar) a vida.
Ao ler os meus escritos antigos – boa parte de qualidade e interesse literário nulos – estou podendo revisar e relembrar (seu único mérito, registro da minha história pessoal) o que eu esperava para a minha vida há mais de 12 anos atrás. Ansiedades, dúvidas, antes ainda de terminar a faculdade.
Fico tranqüilo em saber que – em termos gerais – ainda penso de forma parecida, ou seja, a linha geral é a que eu imaginava a mais adequada. Obviamente que eu não imaginava as voltas que a vida daria – ninguém pode saber, eu sei – e onde eu pararia. Valeu à pena?
Sempre vale.
#
Esse foi um final de semana de muita leitura. Atenta, obcecada até. Para não deixar passar nada, nenhuma vírgula, crase, pronome. E ainda entender o que lia… Mas foi bom, gosto disso, ainda mais quando o que estou lendo é interessante.
Ainda sobre o assunto, devo confessar que sou um entusiasta das vírgulas. Como vírgulas são importantes! São elas que dão cadência ao texto, assim como sentido ao que está escrito. Há um tempo atrás, falei sobre minha fascinção com os parênteses. Hoje, declaro meu amor pelas vírgulas.
Lembro, ainda na faculdade de medicina, assistir aulas e anotar poucas coisas, esquematicamente. E tinham as colegas que gravavam as aulas. No início, até fazia cópias destas transcrições para estudar. Mas não conseguia: acabava corrigindo o português escrito e acabava desistindo de estudar. É o que digo, são as vírgulas que nos indicam o momento de respirar durante a leitura, dão toque sutis ao que está escrito. E não só as vírgulas, pontos são também importantes.
Escrever bem é uma arte, todos sabemos. Mas, além de inspiração, requer muito esforço, muita transpiração. E conteúdo.
É o que tento fazer sempre.
Não é sempre que temos esta oportunidade, de – sem interromper as atividades do dia a dia – parar e pensar sobre questões que normalmente não pensamos, relacionadas aos caminhos que temos percorrido, com quem os temos percorrido e, talvez mais importante, onde esses mesmo caminhos nos levarão. Os primeiros meses aqui foram dias de silêncio e circunspecção, de resolução de pendências não relacionadas a minha estada aqui, e – por que não dizer – de encerramento de uma fase. Agora o enfoque mudou. Mas não só enfoque.
Os silêncios não são mais os mesmos, diminuiram em frequência, com o advento da televisão que comprei logo que a Jacque chegou aqui para me visitar. Se perdi em silêncio, por outro lado me sinto progressivamente mais confortável em casa, ainda mais nestes dias de frio intenso, vento forte e neve batendo forte na cara, ou no espaço do rosto que fica descoberto, mesmo com todas as proteções possíveis.
Mas eu falava sobre pensar (ou repensar) a vida.
Ao ler os meus escritos antigos – boa parte de qualidade e interesse literário nulos – estou podendo revisar e relembrar (seu único mérito, registro da minha história pessoal) o que eu esperava para a minha vida há mais de 12 anos atrás. Ansiedades, dúvidas, antes ainda de terminar a faculdade.
Fico tranqüilo em saber que – em termos gerais – ainda penso de forma parecida, ou seja, a linha geral é a que eu imaginava a mais adequada. Obviamente que eu não imaginava as voltas que a vida daria – ninguém pode saber, eu sei – e onde eu pararia. Valeu à pena?
Sempre vale.
#
Esse foi um final de semana de muita leitura. Atenta, obcecada até. Para não deixar passar nada, nenhuma vírgula, crase, pronome. E ainda entender o que lia… Mas foi bom, gosto disso, ainda mais quando o que estou lendo é interessante.
Ainda sobre o assunto, devo confessar que sou um entusiasta das vírgulas. Como vírgulas são importantes! São elas que dão cadência ao texto, assim como sentido ao que está escrito. Há um tempo atrás, falei sobre minha fascinção com os parênteses. Hoje, declaro meu amor pelas vírgulas.
Lembro, ainda na faculdade de medicina, assistir aulas e anotar poucas coisas, esquematicamente. E tinham as colegas que gravavam as aulas. No início, até fazia cópias destas transcrições para estudar. Mas não conseguia: acabava corrigindo o português escrito e acabava desistindo de estudar. É o que digo, são as vírgulas que nos indicam o momento de respirar durante a leitura, dão toque sutis ao que está escrito. E não só as vírgulas, pontos são também importantes.
Escrever bem é uma arte, todos sabemos. Mas, além de inspiração, requer muito esforço, muita transpiração. E conteúdo.
É o que tento fazer sempre.
sábado, janeiro 22, 2005
Sábado em casa
Enredo para uma história de terror.
Homem com seus trinta e poucos anos descobre, por acaso, que uma ex-namorada morreu de uma doença desconhecida, após passar por sofrimento atroz. Algumas semanas após este ocorrido, recebe a notícia de que outra mulher com a qual havia tido uma curta relação antes do seu casamento, também morrera de causa indeterminada, após ficar dias em um hospital sofrendo de grande dores. A partir de então, curioso e preocupado com a situação, pesquisa e descobre que TODAS as mulheres as quais já tinha beijado estavam morrendo misteriosamente, com exceção da sua esposa.
A sua esposa, por sinal, parecia cada dia mais jovem e bela. Mostrava uma energia que nunca tivera antes. Com o passar dos dias, notou que cada vez que ele ficava sabendo da morte de uma de suas ex-namoradas – tinha várias ex – ela aparecia mais bonita e jovem. Não comentava nada com ela, mas temia que o culpado das mortes fosse ele próprio, estaria transmitindo algum vírus ou algo assim. Segundo esta lógica, ela seria uma das próximas, ou mesmo a próxima. Só que, ao contrário do que ele poderia esperar, ela parecia cada vez mais bela e com a saúde inabalável.
Nunca contou nada para ela, que nunca ficou doente. Ele, ao contrário, envelheceu muito atormentado pela dúvida de ser portador e transmissor de alguma doença misteriosa e incurável. Afastou-se de todos, passou a não sair de casa, depois do quarto, até que foi dado com louco. Internado numa clínica de repouso, passou o resto dos seus dias beijando a própria mão na esperança de acabar com o seu sofrimento e culpa, sem nunca ter percebido que utilidade que um curso de química poderia ter tido para uma advogada e chef de cuisine...
Homem com seus trinta e poucos anos descobre, por acaso, que uma ex-namorada morreu de uma doença desconhecida, após passar por sofrimento atroz. Algumas semanas após este ocorrido, recebe a notícia de que outra mulher com a qual havia tido uma curta relação antes do seu casamento, também morrera de causa indeterminada, após ficar dias em um hospital sofrendo de grande dores. A partir de então, curioso e preocupado com a situação, pesquisa e descobre que TODAS as mulheres as quais já tinha beijado estavam morrendo misteriosamente, com exceção da sua esposa.
A sua esposa, por sinal, parecia cada dia mais jovem e bela. Mostrava uma energia que nunca tivera antes. Com o passar dos dias, notou que cada vez que ele ficava sabendo da morte de uma de suas ex-namoradas – tinha várias ex – ela aparecia mais bonita e jovem. Não comentava nada com ela, mas temia que o culpado das mortes fosse ele próprio, estaria transmitindo algum vírus ou algo assim. Segundo esta lógica, ela seria uma das próximas, ou mesmo a próxima. Só que, ao contrário do que ele poderia esperar, ela parecia cada vez mais bela e com a saúde inabalável.
Nunca contou nada para ela, que nunca ficou doente. Ele, ao contrário, envelheceu muito atormentado pela dúvida de ser portador e transmissor de alguma doença misteriosa e incurável. Afastou-se de todos, passou a não sair de casa, depois do quarto, até que foi dado com louco. Internado numa clínica de repouso, passou o resto dos seus dias beijando a própria mão na esperança de acabar com o seu sofrimento e culpa, sem nunca ter percebido que utilidade que um curso de química poderia ter tido para uma advogada e chef de cuisine...
A política e o absurdo
Um dos debates acalorados nos últimos dias – ao menos desde que comecei a acompanhar os noticários da televisão daqui – tem sido sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo. Parece que o governo liberal do Primeiro Ministro Paul Martin está estudando um projeto de legalização do chamado “casamento gay”. Mas não sem polêmicas.
Um dos argumentos de oposição a isso, e que eu achei “extremamente racional” e “bem embasado” é o de que, o passo seguinte após liberar o casamento gay é a poligamia. E daí ao “seja o que Deus quiser”, e o fim do mundo está próximo. Verdade. Ao menos é o que tenho ouvido na televisão.
Mas tudo deve ser parte da grande conspiração gay que está em curso no mundo.
Ao menos é o que dá a entender o Dr James C Dobson, fundador do grupo conservador “Focus on Family”, que falou num jantar de gala para congressistas e aliados políticos como parte das comemorações dos resultados das eleições dos EUA. Ele disse que o Bob Esponja, o personagem do desenho animado que está sempre feliz e se diverte com qualquer coisa, como uma caixa vazia, por exemplo, é sucesso não apenas com as crianças, mas também com os gays… e que tudo isso é parte da conspiração “pró-homossexual” em curso.
É o que assusta. A impressão que tenho é que – no fundo – existe um movimento conservador e de intolerância em curso, e poucas vezes nos damos conta.
Começaram com o Papai Noel. Em várias partes do mundo, não se permite que as crianças sentem no colo dele, pois há o risco de haver tensão sexual envolvida, pedofilia. Estão avançando com a intolerância. A FOX, rede de TV americana, está fazendo auto-censura para não ser processada pelo governo por algum possível programa que ofenda a “moral e os bons costumes”. Quem será o próximo? Afinal, não se respeita mais ninguém…
E parece que ninguém faz ou fala nada. Talvez porque ainda estejam boquiabertos com tamanha estupidez.
UPDATE - Tem um dito (não lembro o autor) que diz que, quando um escritor escreve e o leitor não entende, é porque um dos dois é burro. Sempre prefiro considerar que o problema é meu, me expressei mal. Então, alguns esclarecimentos sobre o assunto:
1. Não acho que exista uma conspiração gay em curso no mundo;
2. Quanto ao casamento de pessoas do mesmo sexo, acho que todos devem ter os mesmo direitos.
3. Aliás, todos - sem exceção de sexo, cor, raça, crença - devem ter os mesmo direitos, em todas as áreas.
4. Qualquer discriminação é reprovável.
5. No texto acima, as expressões “extremamente racional” e “bem embasado” estão entre aspas porque são ironias.
Além disso, e vou cada vez deixar mais claro, às vezes eu escrevo textos de ficção também.
Um dos argumentos de oposição a isso, e que eu achei “extremamente racional” e “bem embasado” é o de que, o passo seguinte após liberar o casamento gay é a poligamia. E daí ao “seja o que Deus quiser”, e o fim do mundo está próximo. Verdade. Ao menos é o que tenho ouvido na televisão.
Mas tudo deve ser parte da grande conspiração gay que está em curso no mundo.
Ao menos é o que dá a entender o Dr James C Dobson, fundador do grupo conservador “Focus on Family”, que falou num jantar de gala para congressistas e aliados políticos como parte das comemorações dos resultados das eleições dos EUA. Ele disse que o Bob Esponja, o personagem do desenho animado que está sempre feliz e se diverte com qualquer coisa, como uma caixa vazia, por exemplo, é sucesso não apenas com as crianças, mas também com os gays… e que tudo isso é parte da conspiração “pró-homossexual” em curso.
É o que assusta. A impressão que tenho é que – no fundo – existe um movimento conservador e de intolerância em curso, e poucas vezes nos damos conta.
Começaram com o Papai Noel. Em várias partes do mundo, não se permite que as crianças sentem no colo dele, pois há o risco de haver tensão sexual envolvida, pedofilia. Estão avançando com a intolerância. A FOX, rede de TV americana, está fazendo auto-censura para não ser processada pelo governo por algum possível programa que ofenda a “moral e os bons costumes”. Quem será o próximo? Afinal, não se respeita mais ninguém…
E parece que ninguém faz ou fala nada. Talvez porque ainda estejam boquiabertos com tamanha estupidez.
UPDATE - Tem um dito (não lembro o autor) que diz que, quando um escritor escreve e o leitor não entende, é porque um dos dois é burro. Sempre prefiro considerar que o problema é meu, me expressei mal. Então, alguns esclarecimentos sobre o assunto:
1. Não acho que exista uma conspiração gay em curso no mundo;
2. Quanto ao casamento de pessoas do mesmo sexo, acho que todos devem ter os mesmo direitos.
3. Aliás, todos - sem exceção de sexo, cor, raça, crença - devem ter os mesmo direitos, em todas as áreas.
4. Qualquer discriminação é reprovável.
5. No texto acima, as expressões “extremamente racional” e “bem embasado” estão entre aspas porque são ironias.
Além disso, e vou cada vez deixar mais claro, às vezes eu escrevo textos de ficção também.
sexta-feira, janeiro 21, 2005
Cento e um
Ontem foi o centésimo post neste blog desde que vim para o Canadá.
O blog foi criado em junho, mas já escrevo A Sopa há três anos e sete meses, e ainda é enviada aos assinantes semanalmente em um arquivo Word. Mas escrevo desde bem antes disso.
Mudando de enfoque, mas mantendo assunto.
Pela minha ligação com barcos e vela desde os meus dez anos de idade (e isso inclui projetos de futuro), sempre denominei os meus escritos como "Diários de Bordo". Isso bem antes de surgir 'A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo'. Há mais de dez anos escrevo, não só textos de ficção mas também impressões sobre a minha vida e o mundo. Antes de ter computador, escrevia em cadernos - diários, se quiserem. Quando estive em Porto Alegre, em dezembro, reuni-os e trouxe comigo na volta.
Pois então, por estes dias, além de estudar medicina, tenho mergulhado no passado. Estou relendo os meus escritos e transformando-os em arquivos digitais, para ter guardados. De certa forma, é preservar a minha memória. E uma fase de reflexão, reavaliação. Como sempre, entender quem fui para saber quem sou.
É possível que eu desencave algumas coisas do fundo do baú e compartilhe com vocês.
Será que seria legal?
O blog foi criado em junho, mas já escrevo A Sopa há três anos e sete meses, e ainda é enviada aos assinantes semanalmente em um arquivo Word. Mas escrevo desde bem antes disso.
Mudando de enfoque, mas mantendo assunto.
Pela minha ligação com barcos e vela desde os meus dez anos de idade (e isso inclui projetos de futuro), sempre denominei os meus escritos como "Diários de Bordo". Isso bem antes de surgir 'A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo'. Há mais de dez anos escrevo, não só textos de ficção mas também impressões sobre a minha vida e o mundo. Antes de ter computador, escrevia em cadernos - diários, se quiserem. Quando estive em Porto Alegre, em dezembro, reuni-os e trouxe comigo na volta.
Pois então, por estes dias, além de estudar medicina, tenho mergulhado no passado. Estou relendo os meus escritos e transformando-os em arquivos digitais, para ter guardados. De certa forma, é preservar a minha memória. E uma fase de reflexão, reavaliação. Como sempre, entender quem fui para saber quem sou.
É possível que eu desencave algumas coisas do fundo do baú e compartilhe com vocês.
Será que seria legal?
quinta-feira, janeiro 20, 2005
Subir ou não subir
Estou morando em Toronto desde agosto do ano passado.
Admito que ainda não visitei todos os pontos turísticos da cidade. Confesso que não fui nem ao ROM (Royal Ontario Museu) nem à AGO (Art Gallery of Ontario) assim como não fui à Casa Loma. A Jacque foi, por isso que anda dizendo por aí que conhece mais Toronto que eu. Não é bem assim, claro. Com relação à CN Tower, a mais alta estrutura sem sustentação do mundo, posso dizer que já visitei. Com ela. Deliberadamente, deixei para subir à torre quando fosse para ir com alguém, já que certamente eu teria, terei, que subir para mostrá-la a todos que vierem me visitar aqui, o que espero que sejam muitos…
Mas poderia ter subido antes, e aí lembrei do Petterson.
O Petterson é um grande amigo de muitos anos, colega na faculdade de medicina e depois de residência, ele em cardio e eu em pneumo. Também ele é um dos Perdidos na Espace original. Por que lembrei dele? Porque eu poderia ter subido algumas vezes enquanto estava sozinho, e teria “subidas na torre em haver”. Explico.
Não lembro quando esta “idéia” surgiu, mas lembro do exemplo disso. O Petterson morava (e mora) em Santa Cruz do Sul, cerca de 160km de Porto Alegre, e fazia a faculdade na PUCRS, em Porto Alegre. Durante a semana, ficava na cidade e aos finais de semana ia para Santa Cruz. Daí que dizia que, algumas vezes, quando estava em Porto Alegre com tempo livre, pegava o carro, ia à Santa Cruz e voltava, apenas para ficar com viagens em haver. Assim, quando quisesse ir para casa, já teria feito a viagem…
Ou – podemos inferir - com o banho: num dia, seria possível tomar mais banhos que o necessário para, em outro, quando necessitássemos do banho, pronto, teríamos essa “reserva de banhos tomados”…
Idéias, idéias.
UPDATE - Esse foi o centésimo post desde que vim para o Canadá. Provavelmente amanhã eu comento sobre isso...
Admito que ainda não visitei todos os pontos turísticos da cidade. Confesso que não fui nem ao ROM (Royal Ontario Museu) nem à AGO (Art Gallery of Ontario) assim como não fui à Casa Loma. A Jacque foi, por isso que anda dizendo por aí que conhece mais Toronto que eu. Não é bem assim, claro. Com relação à CN Tower, a mais alta estrutura sem sustentação do mundo, posso dizer que já visitei. Com ela. Deliberadamente, deixei para subir à torre quando fosse para ir com alguém, já que certamente eu teria, terei, que subir para mostrá-la a todos que vierem me visitar aqui, o que espero que sejam muitos…
Mas poderia ter subido antes, e aí lembrei do Petterson.
O Petterson é um grande amigo de muitos anos, colega na faculdade de medicina e depois de residência, ele em cardio e eu em pneumo. Também ele é um dos Perdidos na Espace original. Por que lembrei dele? Porque eu poderia ter subido algumas vezes enquanto estava sozinho, e teria “subidas na torre em haver”. Explico.
Não lembro quando esta “idéia” surgiu, mas lembro do exemplo disso. O Petterson morava (e mora) em Santa Cruz do Sul, cerca de 160km de Porto Alegre, e fazia a faculdade na PUCRS, em Porto Alegre. Durante a semana, ficava na cidade e aos finais de semana ia para Santa Cruz. Daí que dizia que, algumas vezes, quando estava em Porto Alegre com tempo livre, pegava o carro, ia à Santa Cruz e voltava, apenas para ficar com viagens em haver. Assim, quando quisesse ir para casa, já teria feito a viagem…
Ou – podemos inferir - com o banho: num dia, seria possível tomar mais banhos que o necessário para, em outro, quando necessitássemos do banho, pronto, teríamos essa “reserva de banhos tomados”…
Idéias, idéias.
UPDATE - Esse foi o centésimo post desde que vim para o Canadá. Provavelmente amanhã eu comento sobre isso...
quarta-feira, janeiro 19, 2005
Ficção
Pensei numa história de ficção. Teria como título “Por que não me tornei gay”, e seria o depoimento de um cara explicando porque é apaixonado pelas mulheres em geral. Mas me defrontei com um problema: ia dar confusão.
Primeiro, as pessoas iam pensar que era um texto autobiográfico. Não seria, e, para evitar esta confusão, eu esclareceria no início que era uma obra de ficção. O que causaria mais confusão, porque as pessoas concluiriam que, se era ficção, então era – por outro lado – uma confissão. Aí eu teria que explicar que não, eu não estava me confessando, mas aí ficaria uma dúvida no ar… desisti.
Hoje vivi o dia mais frio da minha vida. De manhã, na hora de sair para o hospital, a temperatura era de –23ºC com sensação térmica de –33ºC. Loucura. Ainda assim, não passei mais frio do que ontem, quando caí no erro de andar por muito tempo na rua, quase congelaram os meus dedos. Hoje eu estava preparado, desde cedo.
Pela primeira vez nesse inverno – e em muito anos – eu usei ceroulas. Sim, cuecões. E foi bom, não passei frio. Muita roupa, pouco frio. O problema, já sabia, seria o metrô. Normalmente, desceria duas estações depois, e não daria tempo de sentir os efeitos da calefação do metrô. Mas hoje eu tinha que ir a uma reunião em outro lugar e deveria ir de metrô, descendo numa estação diferente, seis estações depois.
Metrô lotado mais calefação e eu de ceroulas. De pé. Esquentando. Decidi permanecer completamente imóvel, quase sem respirar, dimuinuir meu metabolismo para não sentir mais calor. Não funcionou, claro, mas a minha estação chegou logo e voltei para o frio. Mas não por muito tempo, para não congelar…
Primeiro, as pessoas iam pensar que era um texto autobiográfico. Não seria, e, para evitar esta confusão, eu esclareceria no início que era uma obra de ficção. O que causaria mais confusão, porque as pessoas concluiriam que, se era ficção, então era – por outro lado – uma confissão. Aí eu teria que explicar que não, eu não estava me confessando, mas aí ficaria uma dúvida no ar… desisti.
Hoje vivi o dia mais frio da minha vida. De manhã, na hora de sair para o hospital, a temperatura era de –23ºC com sensação térmica de –33ºC. Loucura. Ainda assim, não passei mais frio do que ontem, quando caí no erro de andar por muito tempo na rua, quase congelaram os meus dedos. Hoje eu estava preparado, desde cedo.
Pela primeira vez nesse inverno – e em muito anos – eu usei ceroulas. Sim, cuecões. E foi bom, não passei frio. Muita roupa, pouco frio. O problema, já sabia, seria o metrô. Normalmente, desceria duas estações depois, e não daria tempo de sentir os efeitos da calefação do metrô. Mas hoje eu tinha que ir a uma reunião em outro lugar e deveria ir de metrô, descendo numa estação diferente, seis estações depois.
Metrô lotado mais calefação e eu de ceroulas. De pé. Esquentando. Decidi permanecer completamente imóvel, quase sem respirar, dimuinuir meu metabolismo para não sentir mais calor. Não funcionou, claro, mas a minha estação chegou logo e voltei para o frio. Mas não por muito tempo, para não congelar…
terça-feira, janeiro 18, 2005
Ele
Eu havia feito pouco caso dele. Galhofas, piadas, rido.
Até que ele quase ficou com os meus dedos, hoje à tarde, quando eu ia até o supermercado. De luvas!
O Frio chegou. Esse eu respeito.
Segunda-feira, 10:45 PM.
Temperatura: - 15ºC / Sensação térmica: -26ºC.
Viva o inverno!
Até que ele quase ficou com os meus dedos, hoje à tarde, quando eu ia até o supermercado. De luvas!
O Frio chegou. Esse eu respeito.
Segunda-feira, 10:45 PM.
Temperatura: - 15ºC / Sensação térmica: -26ºC.
Viva o inverno!
domingo, janeiro 16, 2005
A Sopa 04/26
Reflexões.
Uma das poucas certezas que temos na vida é que ela, além de ser pouco mais que histórias para contar, é também uma sucessão de despedidas. Somos obrigados, desde a mais tenra idade, a nos despedirmos.
Nos mais variados graus, obviamente, e não sem protestos. Desde as crianças chorando na porta das escolas pela sua mãe que as deixou ali, “abandonadas”, com a impressão irracional de que nunca vão voltar, até adultos que se desesperam perante a certeza de que certos entes queridos não vão realmente voltar, estamos sempre nos despedindo. Muitas vezes nos arrependemos de não ter dito o que sentíamos a tempo, e aí é tarde.
Muitos dos traumas relacionados à morte talvez estejam relacionados a isso, ao remorso de não termos dito o que sentíamos para aquela pessoa que não está mais entre nós. Por que não passamos mais tempo juntos, por que não fomos mais carinhosos? É necessário perder alguém para nos darmos conta que as coisas podem e devem ser diferentes em termos de expressarmos o que sentimos?
Há um bom tempo percebi que não. Talvez por ter uma visão um pouco diferente das coisas desde que tive a minha própria experiência de quase morte, há alguns anos descobri que precisava dizer às pessoas o que eu sentia por elas. Até porque nem sempre elas percebem ou mesmo porque às vezes ela precisam ouvir, como forma de conforto ou segurança. E é impressionante o retorno positivo que isso traz, como uma corrente positiva.
Mas eu falava de despedidas, e o último ano foi um ano de despedidas, quando me mudei para Toronto, “deixando” em Porto Alegre praticamente todas as pessoas importantes na minha vida, vindo sozinho. Não sei se falei de como foi a despedida lá, mas – em resumo – foi gratificante e dolorosa. Gratificante porque vi o quanto as pessoas que eu considero importantes me consideram importante, e doloroso porque deixar um lugar onde se é feliz nunca é fácil.
Mas isso foi há alguns meses, já voltei (mas não pude rever todos os que gostaria de ter revisto) e parti de novo. Mas desta vez não saí sozinho: fomos encontrar a família na casa do meu irmão e, depois do ano novo, a Jacque e eu viemos para a casa de Toronto, que depois da sua passagem aqui está muito mais casa que antes, principalmente porque agora eu tenho lembranças dela aqui. E fotos, muitas fotos.
Sexta-feira foi novamente dia de despedida, com ela voltando para o Brasil. Despedidas são dolorosas, como já disse, principalmente quando o tempo que passamos juntos é tão bom quanto sempre quando estamos juntos. E é também a hora em que me pergunto se realmente vale à pena passar por todo esse sacrifício, ficar longe de todos que amo em nome da carreira.
Vale, e vou fazer valer muito mais. E logo estarei de volta, afinal o tempo passa muito, mas muito rápido.
Uma das poucas certezas que temos na vida é que ela, além de ser pouco mais que histórias para contar, é também uma sucessão de despedidas. Somos obrigados, desde a mais tenra idade, a nos despedirmos.
Nos mais variados graus, obviamente, e não sem protestos. Desde as crianças chorando na porta das escolas pela sua mãe que as deixou ali, “abandonadas”, com a impressão irracional de que nunca vão voltar, até adultos que se desesperam perante a certeza de que certos entes queridos não vão realmente voltar, estamos sempre nos despedindo. Muitas vezes nos arrependemos de não ter dito o que sentíamos a tempo, e aí é tarde.
Muitos dos traumas relacionados à morte talvez estejam relacionados a isso, ao remorso de não termos dito o que sentíamos para aquela pessoa que não está mais entre nós. Por que não passamos mais tempo juntos, por que não fomos mais carinhosos? É necessário perder alguém para nos darmos conta que as coisas podem e devem ser diferentes em termos de expressarmos o que sentimos?
Há um bom tempo percebi que não. Talvez por ter uma visão um pouco diferente das coisas desde que tive a minha própria experiência de quase morte, há alguns anos descobri que precisava dizer às pessoas o que eu sentia por elas. Até porque nem sempre elas percebem ou mesmo porque às vezes ela precisam ouvir, como forma de conforto ou segurança. E é impressionante o retorno positivo que isso traz, como uma corrente positiva.
Mas eu falava de despedidas, e o último ano foi um ano de despedidas, quando me mudei para Toronto, “deixando” em Porto Alegre praticamente todas as pessoas importantes na minha vida, vindo sozinho. Não sei se falei de como foi a despedida lá, mas – em resumo – foi gratificante e dolorosa. Gratificante porque vi o quanto as pessoas que eu considero importantes me consideram importante, e doloroso porque deixar um lugar onde se é feliz nunca é fácil.
Mas isso foi há alguns meses, já voltei (mas não pude rever todos os que gostaria de ter revisto) e parti de novo. Mas desta vez não saí sozinho: fomos encontrar a família na casa do meu irmão e, depois do ano novo, a Jacque e eu viemos para a casa de Toronto, que depois da sua passagem aqui está muito mais casa que antes, principalmente porque agora eu tenho lembranças dela aqui. E fotos, muitas fotos.
Sexta-feira foi novamente dia de despedida, com ela voltando para o Brasil. Despedidas são dolorosas, como já disse, principalmente quando o tempo que passamos juntos é tão bom quanto sempre quando estamos juntos. E é também a hora em que me pergunto se realmente vale à pena passar por todo esse sacrifício, ficar longe de todos que amo em nome da carreira.
Vale, e vou fazer valer muito mais. E logo estarei de volta, afinal o tempo passa muito, mas muito rápido.
sábado, janeiro 15, 2005
Mais uma de chimarrão
Na casa de um gaúcho, não pode faltar o chimarrão, claro. Acontece que, ao vir pra cá em agosto, eu acabei não trazendo os "apetrechos" para o chimarrão.
Quando voltei para cá, com a escala em NY, acabei trazendo apenas a cuia e a bomba, mas não a erva. Achei que teria problemas em explicar na imigração que eu tinha "erva" e uma "bomba" na minha mala...
Bobagem, esqueci da erva mesmo.
Com o material para preparar o chimarrão aqui, com exceção da erva, sobraram duas opções: a Jacque me mandar a erva pelo correio quando chegasse de volta ao Brasil, o que aconteceu hoje e foi tudo bem, por sinal, ou eu encontrar por aqui à venda.
No Kensington Market, região próxima ao Toronto Western Hospital, com lojas com produtos de vários países, encontramos de erva-mate de várias marcas num mercadinho. Peguei uma que se chamava 'Chimarrão Gaúcho', pois me pareceu a melhor opção, mas mudamos de idéia ao descobrir a data de validade: outubro de 2003!!
A escolhida, então foi uma chamada 'La Tranquera'. Pelo nome, deveria ter desconfiado...
Pode ser que melhore, mas por enquanto está MUITO RUIM.
Vou tentar outras marcas, mas aguardo que me mandem um quilinho da boa e velha erva-mate produzida no Rio Grande do Sul.
Quando voltei para cá, com a escala em NY, acabei trazendo apenas a cuia e a bomba, mas não a erva. Achei que teria problemas em explicar na imigração que eu tinha "erva" e uma "bomba" na minha mala...
Bobagem, esqueci da erva mesmo.
Com o material para preparar o chimarrão aqui, com exceção da erva, sobraram duas opções: a Jacque me mandar a erva pelo correio quando chegasse de volta ao Brasil, o que aconteceu hoje e foi tudo bem, por sinal, ou eu encontrar por aqui à venda.
No Kensington Market, região próxima ao Toronto Western Hospital, com lojas com produtos de vários países, encontramos de erva-mate de várias marcas num mercadinho. Peguei uma que se chamava 'Chimarrão Gaúcho', pois me pareceu a melhor opção, mas mudamos de idéia ao descobrir a data de validade: outubro de 2003!!
A escolhida, então foi uma chamada 'La Tranquera'. Pelo nome, deveria ter desconfiado...
Pode ser que melhore, mas por enquanto está MUITO RUIM.
Vou tentar outras marcas, mas aguardo que me mandem um quilinho da boa e velha erva-mate produzida no Rio Grande do Sul.
Do virtual para o real
Foto da janta de quarta-feira, em que conhecemos pessoalmente os casais Ana e Alessandro (e o pequeno Henrique) e Monique e Rafael. Já nos conhecíamos há meses, como parte da rede de blogs de pessoas ou que moram ou que estão para vir morar no Canadá.
Foi uma noite bem agradável e - espero - primeira de muitas.
Foi uma noite bem agradável e - espero - primeira de muitas.
sexta-feira, janeiro 14, 2005
Outro blog
Enquanto não volto a escrever diariamente aqui no 'A Sopa no Exílio', gostaria de recomendar o blog dos Perdidos na Espace, que já está com atualizações diárias e fotos.
E vai ficar melhor, aguardem.
E vai ficar melhor, aguardem.
quarta-feira, janeiro 12, 2005
Niagara Falls (2)
Fotos das cataratas no sábado à noite. No domingo, tomamos um banho de chuva na visita.
08/Jan/2005
08/Jan/2005
Niagara Falls
Noite de sábado em Niagara. Passamos a noite com vista para as cataratas e voltamos para Toronto no domingo. O carro, alugado, muito legal...
domingo, janeiro 09, 2005
A Sopa 04/25
Eu sabia que esse seria um ano de grandes mudanças.
Tudo começou na semana que passou. Mudei muita coisa. A confusão foi (e ainda é) grande. Recomecei a trabalhar na terça-feira, já que segunda era feriado, e nos dias que se seguiram mudei muito.
Começamos empacotando livros, desmontando os aparelhos do laboratório, separando coisas que não seriam reaproveitadas. Encontramos muitas coisas velhas, jogamos muita coisa fora. Algumas coisas foram realmente difíceis de se desfazer, e isso que eu não tinha nenhum envolvimento emocional com elas.
O meu local de trabalho, o Respiratory Research Lab (RRL), mudou de local. Saímos do 12º andar do Toronto General Hospital e fomos para o 7º andar da nova ala do Toronto Western Hospital. A mudança aconteceu na quinta-feira, sob uma quantidade de estresse poucas vezes vistas por mim. Eles vinham planejando a mudança há mais ou menos dois anos. Há meses já se sabia da data da mudança. Tudo estava devidamente organizado, mas… foi e está sendo uma grande esculhambação. Tudo o que eu não esperava ver aqui no Canadá.
Em ordem cronológica, tudo o que ocorreu:
Quinta-feira, 06/01/2005
10:00 – Após o Grand Round da Medicina Interna, chego no RRL e estão ultimando os preparativos para a mudança, que tinha o horário previsto para às 13:00. A notícia da hora era de que a sala reservada para o outro fellow, Carlos, havia sido “tomada” por um cardiologista e sua clínica de hipertensão. Assim, como se tivesse visto uma sala vaga e resolvido tomar posse.
11:00 – Liberaram a sala do Carlos, mas a sala da Pat (que é a coordenadora das pesquisas do RRL) está completamente tomada por caixas que não deveriam estar ali. Não há espaço para nada na sala dela, isso que todo o material do nosso laboratório ainda não foi para o novo hospital. Pat vai para o Toronto Western (TWH) tentar resolver o assunto.
11:30 – Parece que até a minha sala (que vou dividir com alguém que não conheço, mas pelo menos vou ter uma sala para mim) também está cheia de coisas que não deveriam estar ali. Pat liga do TWH e diz que não vamos nos mudar enquanto não resolverem o problema. Mudança suspensa.
11:50 – Digo que vou assistir a reunião da pneumo com a radiologia (para conseguir um almoço de graça) porque não posso me estressar. Voltarei às 13:00,na hora da mudança.
12:30 – Retorno para o que restou do RRL e digo que voltei antes porque “não queria perder a parte divertida”. A tensão é evidente. O responsável pela empresa de mudanças pergunta por telefone se não aceitamos mudar no sábado. “Sem chances”, é a resposta da Pat. Ainda não sabemos se vamos nos mudar.
13:20 – Chega a equipe de mudanças. Ligamos para a Pat que diz que não vamos nos mudar. Não devemos autorizar a mudança. A alta direção dos hospitais é contatada. A Vice-Presidente da UHN (University Health Network) intervém para tentar resolver o assunto.
15:00 – A equipe de mudança começa a carregar nossas coisas. Soa o alarme geral e há um aviso de que o subsolo do hospital (onde estão os caminhões de mudança) está alagado por um vazamento de água e que, portanto, está bloqueado qualquer acesso ao local. Os bombeiros e o serviço de emergências da cidade já foram chamados e estão isolando o local. O que faço, enquanto supervisiono e oriento o que deve ser levado de algumas das salas, é rir e afirmar que em algumas semanas, quem sabe meses, vamos rir de tudo isso.
16:20 – Pegamos o ônibus que nos leva de um hospital a outro.
16:35 – Chegamos na nossa nova área: caos. Caixas, carrinho, tudo espalhado. A minha sala está em condições de ser habitada. Como eu era o que tinha menos coisas a levar, apenas o computador (que, por sinal, após um upgrade que foi feito enquanto eu estava viajando não funciona…) fui o primeiro a ficar pronto. Pude, então, ajudar os outros a descarregar as coisas, levantar umas caixas, colocar outras nos seus lugares parciais, etc. O comentário era de que eu estava usando o meu PhD para melhor carregar caixas, no que eu respondia que tinha estudado muito para conseguir aquele trabalho…
18:00 – Falta muita coisa a ser arrumada, mas é hora de uma pausa. É aberto um vinho (Cat’s Pee, o mijo do gato, vinho branco da Nova Zelândia) e comemos chicken wings.
18:30 – Saio do hospital para encontrar a Jacque para jantarmos (não comi muitas asas de galinha por isso).
Sexta-feira, 07/01/2005.
09:00 – Chego no hospital. A situação não melhorou muito. Linhas telefônicas não funcionam, não há internet nem linha de fax funcionando. Alguns pacientes chegam para consultas. A sensação ainda é de que fomos varridos por um furacão. Vai levar algumas semanas para tudo entrar no seu lugar. Minha internet não funciona. O computador vai ser consertado depois de todos os outros equipamentos serem instalados. Mas colocaram uma fotocopiadora na minha sala. Não tenho internet, mas posso fazer cópias…
O que mais me espanta, é que se essa confusão acontecesse no Brasil, diríamos que é por ser num país subdesenvolvido. Aqui, não dá para entender, só rir.
Tudo começou na semana que passou. Mudei muita coisa. A confusão foi (e ainda é) grande. Recomecei a trabalhar na terça-feira, já que segunda era feriado, e nos dias que se seguiram mudei muito.
Começamos empacotando livros, desmontando os aparelhos do laboratório, separando coisas que não seriam reaproveitadas. Encontramos muitas coisas velhas, jogamos muita coisa fora. Algumas coisas foram realmente difíceis de se desfazer, e isso que eu não tinha nenhum envolvimento emocional com elas.
O meu local de trabalho, o Respiratory Research Lab (RRL), mudou de local. Saímos do 12º andar do Toronto General Hospital e fomos para o 7º andar da nova ala do Toronto Western Hospital. A mudança aconteceu na quinta-feira, sob uma quantidade de estresse poucas vezes vistas por mim. Eles vinham planejando a mudança há mais ou menos dois anos. Há meses já se sabia da data da mudança. Tudo estava devidamente organizado, mas… foi e está sendo uma grande esculhambação. Tudo o que eu não esperava ver aqui no Canadá.
Em ordem cronológica, tudo o que ocorreu:
Quinta-feira, 06/01/2005
10:00 – Após o Grand Round da Medicina Interna, chego no RRL e estão ultimando os preparativos para a mudança, que tinha o horário previsto para às 13:00. A notícia da hora era de que a sala reservada para o outro fellow, Carlos, havia sido “tomada” por um cardiologista e sua clínica de hipertensão. Assim, como se tivesse visto uma sala vaga e resolvido tomar posse.
11:00 – Liberaram a sala do Carlos, mas a sala da Pat (que é a coordenadora das pesquisas do RRL) está completamente tomada por caixas que não deveriam estar ali. Não há espaço para nada na sala dela, isso que todo o material do nosso laboratório ainda não foi para o novo hospital. Pat vai para o Toronto Western (TWH) tentar resolver o assunto.
11:30 – Parece que até a minha sala (que vou dividir com alguém que não conheço, mas pelo menos vou ter uma sala para mim) também está cheia de coisas que não deveriam estar ali. Pat liga do TWH e diz que não vamos nos mudar enquanto não resolverem o problema. Mudança suspensa.
11:50 – Digo que vou assistir a reunião da pneumo com a radiologia (para conseguir um almoço de graça) porque não posso me estressar. Voltarei às 13:00,na hora da mudança.
12:30 – Retorno para o que restou do RRL e digo que voltei antes porque “não queria perder a parte divertida”. A tensão é evidente. O responsável pela empresa de mudanças pergunta por telefone se não aceitamos mudar no sábado. “Sem chances”, é a resposta da Pat. Ainda não sabemos se vamos nos mudar.
13:20 – Chega a equipe de mudanças. Ligamos para a Pat que diz que não vamos nos mudar. Não devemos autorizar a mudança. A alta direção dos hospitais é contatada. A Vice-Presidente da UHN (University Health Network) intervém para tentar resolver o assunto.
15:00 – A equipe de mudança começa a carregar nossas coisas. Soa o alarme geral e há um aviso de que o subsolo do hospital (onde estão os caminhões de mudança) está alagado por um vazamento de água e que, portanto, está bloqueado qualquer acesso ao local. Os bombeiros e o serviço de emergências da cidade já foram chamados e estão isolando o local. O que faço, enquanto supervisiono e oriento o que deve ser levado de algumas das salas, é rir e afirmar que em algumas semanas, quem sabe meses, vamos rir de tudo isso.
16:20 – Pegamos o ônibus que nos leva de um hospital a outro.
16:35 – Chegamos na nossa nova área: caos. Caixas, carrinho, tudo espalhado. A minha sala está em condições de ser habitada. Como eu era o que tinha menos coisas a levar, apenas o computador (que, por sinal, após um upgrade que foi feito enquanto eu estava viajando não funciona…) fui o primeiro a ficar pronto. Pude, então, ajudar os outros a descarregar as coisas, levantar umas caixas, colocar outras nos seus lugares parciais, etc. O comentário era de que eu estava usando o meu PhD para melhor carregar caixas, no que eu respondia que tinha estudado muito para conseguir aquele trabalho…
18:00 – Falta muita coisa a ser arrumada, mas é hora de uma pausa. É aberto um vinho (Cat’s Pee, o mijo do gato, vinho branco da Nova Zelândia) e comemos chicken wings.
18:30 – Saio do hospital para encontrar a Jacque para jantarmos (não comi muitas asas de galinha por isso).
Sexta-feira, 07/01/2005.
09:00 – Chego no hospital. A situação não melhorou muito. Linhas telefônicas não funcionam, não há internet nem linha de fax funcionando. Alguns pacientes chegam para consultas. A sensação ainda é de que fomos varridos por um furacão. Vai levar algumas semanas para tudo entrar no seu lugar. Minha internet não funciona. O computador vai ser consertado depois de todos os outros equipamentos serem instalados. Mas colocaram uma fotocopiadora na minha sala. Não tenho internet, mas posso fazer cópias…
O que mais me espanta, é que se essa confusão acontecesse no Brasil, diríamos que é por ser num país subdesenvolvido. Aqui, não dá para entender, só rir.
sábado, janeiro 08, 2005
Old Pirates
Não posso dizer que não gosto de reggae, mas também seria uma inverdade afirmar que sou um entusiasmado fã. Tive a minha fase de ouvir muito reggae, há muitos anos atrás.
Em agosto de 2000, fizemos um show da Banda da Sopa no Casa de Teatro, em Porto Alegre, e tocamos uma canção do Bob Marley que eu gosto muito, em especial a parte que diz “…Emancipate yourselves from mental slavery / None but ourselves can free our minds…”. Chama-se ‘Redemption Song’.
Redemption Song
Old pirates, yes, they rob i;
Sold I to the merchant ships,
Minutes after they took i
From the bottomless pit.
But my hand was made strong
By the ’and of the almighty.
We forward in this generation
Triumphantly.
Won’t you help to sing
These songs of freedom? -
’cause all I ever have:
Redemption songs;
Redemption songs.
Emancipate yourselves from mental slavery;
None but ourselves can free our minds.
Have no fear for atomic energy,
’cause none of them can stop the time.
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look? ooh!
Some say it’s just a part of it:
We’ve got to fulfil de book.
Won’t you help to sing
These songs of freedom? -
’cause all I ever have:
Redemption songs;
Redemption songs;
Redemption songs.
Em agosto de 2000, fizemos um show da Banda da Sopa no Casa de Teatro, em Porto Alegre, e tocamos uma canção do Bob Marley que eu gosto muito, em especial a parte que diz “…Emancipate yourselves from mental slavery / None but ourselves can free our minds…”. Chama-se ‘Redemption Song’.
Redemption Song
Old pirates, yes, they rob i;
Sold I to the merchant ships,
Minutes after they took i
From the bottomless pit.
But my hand was made strong
By the ’and of the almighty.
We forward in this generation
Triumphantly.
Won’t you help to sing
These songs of freedom? -
’cause all I ever have:
Redemption songs;
Redemption songs.
Emancipate yourselves from mental slavery;
None but ourselves can free our minds.
Have no fear for atomic energy,
’cause none of them can stop the time.
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look? ooh!
Some say it’s just a part of it:
We’ve got to fulfil de book.
Won’t you help to sing
These songs of freedom? -
’cause all I ever have:
Redemption songs;
Redemption songs;
Redemption songs.
segunda-feira, janeiro 03, 2005
A Sopa 04/24
Toronto.
A vôo entre os aeroportos de La Guardia e Pearson, em Nova York e Toronto, respectivamente, dura pouco mais de uma hora, mas a diferença entre a manhã ensolarada da Big Apple e a tarde chuvosa de Toronto foi como se tivéssemos mudado de continente.
Voltei para casa, agora nossa – minha e da Jacque – já que ela veio tomar posse da sua parte aqui. E gostou do que viu, e falo do apartamento, que já foi acampamento e que agora (e mais nos próximos dias, quando comprarmos alguns complementos) tornar-se-á um “lar”, mesmo que temporário, mas também da cidade, ou da pequena porção que ela viu quando parou de chover e caminhamos de mãos dadas pelo bairro, as construções baixas (com exceção dos altos edifícios aqui da rua) e o aspecto de cidade do interior. Um jeito de subúrbio, mas perto do centro, ou downtown, como eles chamam.
A passagem para o novo ano, ainda em Nova York, foi – assim como o Natal – com reunião da família, pai, mãe, o meu irmão, minha cunhada, a irmã dela, a Jacque e eu. Ficamos em casa, a Times Square das onze da manhã já era um prenúncio do que seria à noite, com milhares de pessoas guardando lugar desde cedo, com óculos ‘2005’, cartazes de ‘Happy New Year 2005’, sorridentes, algumas jogando cartas para passar o tempo, a televisão mostrando. E a polícia.
A polícia por todos os lados, em grande número, ainda receosos dos atentados e das ameaças, nas esquinas, fechando as ruas a partir do final da tarde, quando passamos a segunda vez, revistando quem tentava chegar à praça. Mesmo assim, todos felizes e querendo celebrar o ano que terminava (finalmente!) e as expectativas para o vindouro.
Não vou falar (ainda) do ano que passou nem do que espero para o que recém começou. Preciso pensar um pouco mais, refletir, entender tudo o que aconteceu comigo e com os que estão à minha volta. Dois mil e quatro não foi um ano simples, disso podemos ter certeza. Nenhum ano é, mas não sei, o ano passado parece que foi mais complicado que os outros. Sei lá, só impressões.
Para marcar o início do que espero seja uma nova e proveitosa fase em nossas (todos nós) vidas, marcamos o primeiro dia do novo ano com uma refeição simbólica: sopa de ervilhas. Foi uma imposição da família, afinal já sou conhecido pela sopa, de Ervilhas Anual do Marcelo e no Exílio. Foi uma reunião em família, sopa de ervilhas, no inverno. Faltaram os amigos para ser uma legítima Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo. Essa, volta à Porto Alegre em algum tempo, não se preocupem. Enquanto isso, pode ser que ocorram alguns eventos paralelos aqui no norte do mundo. Quem quiser aparecer para tomar sopa, é só vir.
Que dois mil e cinco seja muito, mas muito melhor que dois mil e quatro, três, dois, um…
Feliz Ano Novo a todos.
A vôo entre os aeroportos de La Guardia e Pearson, em Nova York e Toronto, respectivamente, dura pouco mais de uma hora, mas a diferença entre a manhã ensolarada da Big Apple e a tarde chuvosa de Toronto foi como se tivéssemos mudado de continente.
Voltei para casa, agora nossa – minha e da Jacque – já que ela veio tomar posse da sua parte aqui. E gostou do que viu, e falo do apartamento, que já foi acampamento e que agora (e mais nos próximos dias, quando comprarmos alguns complementos) tornar-se-á um “lar”, mesmo que temporário, mas também da cidade, ou da pequena porção que ela viu quando parou de chover e caminhamos de mãos dadas pelo bairro, as construções baixas (com exceção dos altos edifícios aqui da rua) e o aspecto de cidade do interior. Um jeito de subúrbio, mas perto do centro, ou downtown, como eles chamam.
A passagem para o novo ano, ainda em Nova York, foi – assim como o Natal – com reunião da família, pai, mãe, o meu irmão, minha cunhada, a irmã dela, a Jacque e eu. Ficamos em casa, a Times Square das onze da manhã já era um prenúncio do que seria à noite, com milhares de pessoas guardando lugar desde cedo, com óculos ‘2005’, cartazes de ‘Happy New Year 2005’, sorridentes, algumas jogando cartas para passar o tempo, a televisão mostrando. E a polícia.
A polícia por todos os lados, em grande número, ainda receosos dos atentados e das ameaças, nas esquinas, fechando as ruas a partir do final da tarde, quando passamos a segunda vez, revistando quem tentava chegar à praça. Mesmo assim, todos felizes e querendo celebrar o ano que terminava (finalmente!) e as expectativas para o vindouro.
Não vou falar (ainda) do ano que passou nem do que espero para o que recém começou. Preciso pensar um pouco mais, refletir, entender tudo o que aconteceu comigo e com os que estão à minha volta. Dois mil e quatro não foi um ano simples, disso podemos ter certeza. Nenhum ano é, mas não sei, o ano passado parece que foi mais complicado que os outros. Sei lá, só impressões.
Para marcar o início do que espero seja uma nova e proveitosa fase em nossas (todos nós) vidas, marcamos o primeiro dia do novo ano com uma refeição simbólica: sopa de ervilhas. Foi uma imposição da família, afinal já sou conhecido pela sopa, de Ervilhas Anual do Marcelo e no Exílio. Foi uma reunião em família, sopa de ervilhas, no inverno. Faltaram os amigos para ser uma legítima Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo. Essa, volta à Porto Alegre em algum tempo, não se preocupem. Enquanto isso, pode ser que ocorram alguns eventos paralelos aqui no norte do mundo. Quem quiser aparecer para tomar sopa, é só vir.
Que dois mil e cinco seja muito, mas muito melhor que dois mil e quatro, três, dois, um…
Feliz Ano Novo a todos.
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