Paleta Atlântida 2023.
Bom domingo a todos.
Até.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
Quem é você na vida?
Aquele que caminha lentamente em direção à morte ou o aquele que a vê no retrovisor e acelera para que ela não te alcance?
Vinha eu entrando no hospital por esses dias, absorto em pensamentos paralelos (escrevi sobre isso anteriormente, são aquelas situações em que começamos pensando em algo e – por estranhas associações – de repente nos vemos longe, refletindo sobre algo sem nenhuma relação com o tema inicial) quando tive isso que, sim, me dou o direito de considerar uma epifania. E tem relação com a forma pela qual encaramos a vida, a forma que vivemos.
A vida pode, então, ser vista como uma longa caminhada em direção ao destino inexorável, o final da linha, o último destino: a morte. Desde que nascemos, começamos lentamente a morrer. Caminhamos, um dia após o outro, rumo à morte. Lembro, então, do ‘Tango da Independência’, música de Paulo Seben e Vitor Ramil, que diz:
“...Não sei por que já desisti, só quero caminhar
Até que os passos meus me levem a nenhum lugar
Encontrarei então aquilo que perdi
A minha morte que fugiu quando nasci.”
Os que vivem caminhando em direção à morte (e a música não se refere a esses, devo dizer) são os que vivem devagar, procurando retardar o fim, se escondendo, como se tentassem enganá-la para que ela não os note ali, encolhidos no canto, medrosos, atrapalhados com a vida. São os que não vivem de verdade: vivem uma existência concreta, objetiva. Sem abstração, sem elevação espiritual (seja lá o que isso queira dizer). Vivem apenas o tédio, sem transformá-lo em poesia.
Vivem sem arte e sem relacionamentos intensos e/ou significativos. Metaforicamente sentados, esperam a morte chegar.
Existem os outros, contudo.
Os que também estão na estrada, mas não caminham rumo ao destino inexorável. Esses encaram a finitude não como uma maldição, uma condenação para a qual não há recurso. Não vivem como o gado em um brete rumo ao abate. Sim, o final é o mesmo para todos, mas isso não os impede de viver como se isso não importasse, ou importasse tanto que não podem perder tempo de viver agora porque não sabem quando e nem como será o final da jornada.
Estão sempre – metaforicamente falando, mais uma vez – deixando a morte para trás, a observando pelo retrovisor e não a deixando interferir no caminho, não permitindo que ela (ou o medo dela) seja maior do que a vontade de seguir em frente. Vivem intensamente as relações interpessoais, família e amigos, principalmente. Enxergam a vida como uma aventura.
A arte, poesia e música, são antídotos, são formas de vencer a morte.
Quando estava em dúvida sobre o que fazer da vida, nos meus dezesseis anos de idade, ainda muito novo para saber que rumo(s) tomaria, pensava naquele momento que a minha decisão sobre qual profissão eu teria era o mesmo que decidir sobre quem eu seria, aquele caminha para morte ou o que corre e a deixa para trás.
Não era, hoje eu sei.
Não decidimos quem somos.
Apenas somos.
Até.
Eu em meio a gigantes.
Que momento!
Bom sábado a todos.
Até.
Dois mil e vinte e três.
O COVID continua por aí, mas não nos apavora tanto assim (mantemos alguns cuidados, mas seguimos nossas vidas). Em termos de política, há o choro dos maus perdedores transformado de violência e vandalismo: atos terroristas, sim, que assistimos pela televisão entre incrédulos e revoltados. E que devem ser punidos com o rigor da lei. Se alguém de alguma maneira quiser justificá-los, é melhor não tentar comigo: não vai conseguir, e vai perder meu respeito.
Mas – “para variar” – não é da realidade externa que quero falar.
Vejo o ano que recém iniciou como uma óbvia continuação do processo de retomada da vida pós-pandemia que havia iniciado em dois mil e vinte dois. Para ser mais específico, da retomada das relações pessoais que foram brutalmente interrompidas pelas quarentenas e isolamentos. Reencontrar pessoas, retomar amizades, encerrar hiatos.
Os últimos episódios dessa retomada ocorreram ainda nos estertores do ano que encerrou há nove dias, quando reunimos as meninas – nossas filhas – da Sopa (as filhas dos antigos integrantes da Banda da Sopa, o Magno, o Márcio e eu). As três têm cerca de nove meses de diferença de idade entra elas (a mais velha e a mais nova), e fazia muito tempo que não se encontravam. Foi legal ver (mais uma vez) a passagem do tempo.
Ontem foi outro desses reencontros.
Nos reunimos com amigos do tempo da Projeto Vida, escola de educação infantil onde a Marina passou os primeiros seis anos de vida, e que não nos encontrávamos há quase cinco anos. Mais uma vez, foi legal ver que a conexão e a amizade persistem.
Ainda há outros encontros com outros amigos e grupos a serem feitos.
Boas perspectivas.
Até.
Minha mãe, a Marina e eu em frente à placa de sinalização da Rua Gustavo Reinaldo Tadday, em Brochier, interior do Rio Grande do Sul, homenagem ao meu avô materno, que foi médico lá por muitos anos.
Belo momento de resgate de parte das minhas origens no final de 2022.
Bom sábado a todos.
Até.