domingo, abril 30, 2023

A Sopa (Perdidos Mãe e Filhos 32)

A Viagem (20).

 

Eu subi para o alto da montanha, para ver a planície, os homens pequeninos, a aldeia de longe, longe, longe, e pra esquecer Rosa, principalmente pra esquecer... não, não é verdade. Nem sei que é Rosa... deixa para lá...

 

A Montanha.

 

Como já falei outrora, tenho um enorme respeito e admiração pela montanha, desde – principalmente – a minha primeira e única vez em Turim. Os Alpes, em especial, são motivo de encantamento. E hoje seria o dia de subirmos a montanha. 

 

Sábado de carnaval. Acordamos, tomamos café da manhã no apartamento, organizamos nossas coisas e esperamos a responsável pelo apartamento chegar para fazermos o checkout. Após o checkout, saímos de Peschiera de Garda e seguimos em direção ao acesso à rodovia SS12 e depois E45/A22. Nosso rumo no sábado de carnaval era o norte, e a autoestrada A22 vai até a passagem de Brenner, já na fronteira da Itália com a Áustria, passando por Trento e Bolzano, entre outras cidades, na região chamada também de Südtirol (o Tirol do Sul). Ali, os idiomas “oficiais” são o italiano e o alemão.

 

Nossa primeira parada foi em uma estação de abastecimento ao norte da entrada de Trento, para tomar um café e usar banheiro. Após a parada, seguimos para o primeiro destino do dia: Verla di Giovo, a cidade onde – no fundo – parte da história dessa viagem (do grupo) começou. Foi de lá, em 1949, que Alfredo Rizzolli, pai da Karina e da Jacque, avô da Roberta e da Marina e meu sogro saiu rumo à Gênova e depois em um navio para o Brasil. Sem esse fato, a migração desse braço da família RIzzolli para o Brasil, e Porto Alegre como destino final após chegar por Santos, passar um tempo no Paraná e depois em Bento Gonçalves/RS, esse grupo não existiria, e essa história não seria contada.

 

Seria minha terceira vez em Verla, município (comune) de Giovo, localizada no Val di Cembra. Desde antes do Waze, sabíamos que, passando por Trento, deveríamos ir em direção à Lavis e a partir dali subir até Verla. Com o advento do GPS e/ou o Waze (melhor ainda), a chegada lá é bem fácil. Durante o caminho de subida passamos por diversos campos com parreiras, afinal a agricultura é a uma das principais, se não a principal, atividade econômica da cidade.


Chegando em Verla
 


A partir de Lavis, o trajeto até Verla é feito pela SS612 indo até chegar ao viaduto com a Via ai Molini, quando – ao invés de passar por baixo do mesmo – entramos no acesso à direita que vai nos levar ao centro de Verla. Logo após o viaduto ao qual não passamos por baixo, há um túnel que não existia nas primeiras vezes em que estive lá e que leva não sei para onde...  O acesso que pegamos nos leva à própria Via ai Molini por onde seguimos, entrando à esquerda na Via Principe Umberto e novamente à esquerda na Via dei Boscatti, junto à Igreja de Santa Maria Assunta, passando em frente ao cemitério e, subindo mais um pouco, em frente à Scuola di Giovo. Fomos até a Via del Dos Pules, onde paramos.

 

A Igreja ao fundo, vista do Dos Pules


Estávamos acima da pequena cidade, e a Karina e a Jacque lembravam do lugar porque havia ali um hotel, o Dos Pules, onde ficaram em uma visita no final dos anos 1980, quando foram conhecer a cidade natal do seu pai e conhecer os familiares locais. Havia ali um parque, com uma praça infantil, e o prédio do hotel agora estava abandonado, fechado. Observamos a vista, nos esticamos e alongamos um pouco, algumas fotografias, e fomos ao centro.

 

Retornamos pelo mesmo caminho até a esquina da Igreja de Santa Maria Assunta e viramos à esquerda na Via Principe Umberto, a principal de Verla. Paramos num estacionamento público e fomos caminhar. Como era meio-dia, as ruas estavam desertas. Elas tentaram ligar para Porto Alegre (eram 8h da manhã, hora de Brasilia), mas ninguém atendeu. Procuravam a casa onde meu sogro nascera e vivera até migrar para o Brasil, e fizeram vídeo e fotos em frente a casa para mostrar. 

 

Só que era a casa errada...

 

Descobrimos na volta que a casa não existia mais, pois havia sido reformada ou demolida. Valeu a intenção, certamente...


Não é essa casa...

 

Hora de seguir.

 

Nosso próximo destino, onde pretendíamos almoçar, era Ortisei, já na província de Bolzano (estávamos na província de Trento), cerca de 100km de onde estávamos. Saímos de Verla por Palú, e era hora de vermos neve. Até ali, nessa viagem, não tínhamos tido quase nenhum (ou nenhum mesmo) contato com neve, mas – como estávamos no inverno, e subindo os Alpes – tínhamos essa intenção.

 

Como falado, após Verla di Giovo, nosso plano era visitar Ortisei e – primeira ideia – percorrer a Grande Strada delle Dolimiti até Cortina D’Ampezzo e voltar, pois terminaríamos o dia em Meltina, cidade próxima à Bolzano, mas chegamos à conclusão de que não teríamos tempo de fazer todo esse trajeto. Decidimos, então, ir à Ortisei para almoçar e depois subir até o Passo Sella, de onde voltaríamos até Meltina. Certamente encontraríamos neve em alguns lugares nesses trajetos.

 

O trajeto de Verla até Ortisei, principalmente ao nos aproximarmos de Ortisei, foi realmente de crescente visão de montanhas e neve, tudo animado por música do Tirol, o tradicional yodel. Mas o que é yodel, afinal de contas? yodel é uma forma de cantar, e consiste justamente em fazer uma quebra vocal de maneira intencional. Tal quebra pode ocorrer entre um registro e outro, ou até com a mesma nota, quando transita de firme para soprosa. Outra possibilidade é que isso aconteça entre notas diferentes de um mesmo registro. É o “yodelei-iô”, que se canta, que é típico de lá, dessa área que vai do Sul da Alemanha, Áustria e essa parte do norte da Itáia. Fomos ouvindo até chegar em Ortisei, onde – sim – havia neve.

 

Ortisei (St. Ulrich, em alemão) é uma estação de esqui de 4500 habitantes, cuja população aumenta muito no inverno devido às suas pistas de esqui e outros esportes de inverno. Como já falado, foi ali minha primeira experiência com temperaturas realmente negativas (-10ºC) na vida. A Jacque e eu havíamos dormido ali na noite de 23 de dezembro do ano 2000. O hotel era o Garni Snaltnerhof, na Piazza San Antonio, bem no centro da cidade, e jantado no restaurante no térreo do hotel.

 

Chegando agora ali, já mais do que na hora de almoçar, em rápida pesquisa escolhemos exatamente esse restaurante para comer... Foi uma boa refeição, de verdade, exceto para a Karina, que pediu algo como uma seleta de legumes e – segunda ela – parecia uma sopa bem rala para ser servida a crianças, e não de uma forma positiva... Após o almoço, por volta das 15h, saímos para visitar o pequeno centro de Ortisei e parar para comprar algumas lembrancinhas.

 

Ortisei


Paramos também em uma – podemos dizer – delicatessen, mistura de padaria, mercadinho de produtos típicos também junto ao hotel em que havíamos ficado em dezembro de 2000 para comprar alguns produtos para trazer para casa, como arroz com cogumelos para risoto, farinha de polenta, entre outros produtos, o que se revelaria providencial mais adiante naquele mesmo dia...

 

Já era aproximadamente 16h quando começamos a realmente subir a montanha, em direção ao Passo Sella, o ponto alto, em termos de altitude, do dia e da viagem, até onde iríamos para depois descermos e irmos para Meltina, como eu já disse, no meio do nada.

 

Nada mesmo.

 

A seguir.

 

Até.





quinta-feira, abril 27, 2023

Perdidos Mães e Filhos (31)

A Viagem (19).

 

Veneza. Carnaval.

 

A origem do carnaval é incerta. Dizem que tem suas primeiras raízes na Antiguidade, entre o Egito e a Grécia, em uma comemoração popular que vibrava com a chegada da primavera. A festa marcava o fim do longo inverno e suas vegetações mortas, o renascer da vida. Também se associa carnaval com o carnis levale, ou carne vale, um período para as pessoas extravasarem seus desejos antes de iniciarem a Quaresma. A expressão significaria “retirar a carne” e representaria o carnaval exatamente como o momento de preparação para que os prazeres carnais fossem retirados precedendo a quaresma.

 

O famoso Carnaval de Veneza tem suas origens quando a nobreza da época se disfarçava com fantasias e máscaras com o objetivo de não serem reconhecidos e depois se misturavam com o povo para se divertir durante o festival. Desde então as máscaras são os elementos mais importantes deste carnaval. As máscaras do carnaval e os trajes que se usam são característicos do século XVIII, e são comuns as maschera nobile, ou seja, máscaras nobres, caretas brancas com roupa de seda negra e chapéu  de três pontas. Desde 1797 (!) foram sendo somadas outras cores aos trajes, embora as máscaras continuem a ser brancas, prateadas e douradas.


Maschera nobile 

Em 1797, Veneza passou a fazer parte do Reino Lombardo-Vêneto, quando Napoleão Bonaparte assinou o tratado de Campo Formio, e os festivais foram proibidos. No ano em seguinte, os austríacos tomaram conta da cidade. Os festejos de carnaval só foram teriam restabelecidos de forma oficial em 1980.

 

Bom, era sexta-feira, início de carnaval, e estamos a caminho de Veneza após tomar café da manhã em nosso apartamento em Peschiera del Garda. 

 

Cerca de centro e quarenta quilômetros separam Peschiera del Garda e Veneza, via A4/E70, rodovia com pedágio, depois acessando a Tangenziale di Mestre e a A57 em direção à Veneza/aeroporto, para então pegar a saída SS309, a Rotonda Romea e a Via della Libertà (SR11) até a Ponte della Libertà, por onde entramos na cidade. Ali estão os grandes estacionamentos onde as pessoas deixam os carros para ir ao “centro” de Veneza, a Piazza San Marco.

 

Por pouco conhecimento de geografia local, desde a primeira vez que estivera em Veneza, no começo dos anos 2000, tivera a impressão de que deixáramos o carro em Mestre, cidade vizinha de Veneza, de onde pegáramos o ferry até a Piazza San Marco. Anos depois, já em 2014, aprendi que íamos de carro até a ilha mesmo, deixávamos o carro no estacionamento, e pegávamos o ferry. Ou deixávamos o carro e poderíamos ir a pé, a partir do – acho – extremo oeste da cidade. Dessa forma, íamos visitando Veneza de um estacionamento até a Piazza San Marco.

 

Descobri isso ao procurar um hotel próximo de um estacionamento, e percebi que podia ir com carro até quase o hotel, que era na beira de um canal, e podíamos ir caminhando dele até a Piazza San Marco. Aquela vez, ficamos no Hotel Arlechino, próximo a Piazzale Roma. Mais interessante, contudo, ao menos para mim, foi que – depois da nossa viagem – revisitando o nosso roteiro para esse relato, aprendi que o Parking Tronchetto, onde deixamos o carro (e já havia deixado em viagens em 2000 e 2003) fica em uma ilha artificial de nome Tronchetto, criada em 1960, também chamada Isola Nuova, uma informação sem utilidade prática, mas curiosa, no mínimo.

 

Deixamos o carro estacionamento e iniciamos nosso dia em Veneza cruzando a Ponte Tre Ponti, e seguindo por via estreitas, com canais que – naquele momento estavam com o nível de água normal (notícias de estarem secos apareceriam na imprensa uma semana depois, quando já estávamos em casa). Muitas pessoas pelas ruas, e - à medida que nos aproximávamos da Piazza San Marco – mais e mais pessoas com as tradicionais fantasias de carnaval. Sem pressa, passeamos parando para fotos em alguns dos quase infinitos pontos muito fotogênicos do caminho.

 

Por Veneza


Quando decidimos almoçar, e enquanto pensávamos em possibilidades, olhei para cima e vi uma placa e em uma fechada que dizia ‘Pizza e Jazz’. Foi o suficiente para chamar minha atenção.  Fomos até o local para conferir, e valeu a pena. 

 

Era a Pizzeria e Jazz Club 900.


Localizado na Campiello del Sansoni, número 900, é – como o nome diz – uma pizzaria e um clube de jazz. À noite, tem apresentações de música. Como fomos almoçar, apenas música ambiente, jazz (óbvio) e um clima meio ‘Meia Noite em Paris’, o filme do Woody Allen. Muito legal, além de uma das melhores pizzas que comemos em toda viagem. 

 

Após o almoço, seguimos nossa jornada em direção Piazza San Marco, a mais importante de Veneza. Na verdade, é a única piazza de Veneza, pois as outras são piazzales ou campos... É considerada uma das praças mais bonitas do mundo, e Napoleão Bonaparte a definiu como “O Salão mais Bonito da Europa”. Contudo, é o lugar mais baixo de Veneza e, quando sobem as águas é o primeiro lugar a ficar abaixo d’água. É na praça, ainda que está a Basílica de São Marco, além do Palácio Ducal, o campanário e a Torre dell’Orologio. No verão, a praça fica movimentada, com muitas pessoas circulando por entre os cafés com música ao vivo, e a noite vai longe. No carnaval, também estava cheia de vida.

 

"Carnavalzinho"


À medida que nos aproximávamos dela, aumentava – claro – o movimento de pessoas e, mais, de pessoas fantasiadas que circulavam por entre os passantes, que paravam e tiravam fotos. Todas aqueles trajes do século XVIII, máscaras do carnaval (as já faladas maschera nobile) ou seja, máscaras nobres, caretas brancas com roupa de seda negra e chapéu de três pontas. Havia, realmente, muita gente na praça, muitos em fantasias, outros sem, mas em um clima de carnaval. Havia mais de um palco com diferentes apresentações teatrais também.

 

Para não parecermos estranhos, compramos máscaras para todos e nos juntamos à festa. Também compramos confetes, que – de tempos em tempos – eram jogados para cima enquanto a Roberta e a Marina cantavam “carnavalzinho, carnavalzinho” no ritmo de ‘Mamãe eu quero”, e dançavam em círculos. Era, sem dúvidas, engraçados.


Carnaval


Circulamos pela praça, e seguimos pela Riva degli Schiavoni, passando pela Ponte dos Suspiros e por onde os barcos de transporte chegam e saem. Caminhamos até encontrar um café para fazer uma pausa. Nesse momento, ocorreu um fenômeno semelhante ao que ocorre em Gramado, onde – em determinada hora do dia – baixa uma neblina de aspecto invernal, não importando se é verão ou inverno (e que sempre digo que é artificial, que deve haver uma máquina que eles ligam e faz isso). 

 

As gôndolas


Como eu dizia, nesse momento a temperatura caiu e baixou uma neblina densa, o que foi perfeito por combinar com o chocolate quente que havíamos pedido para tomar. Após o café, iniciamos o longo caminho de retorno para o carro, com paradas em lojinhas para as meninas comprarem lembrancinhas... A neblina era tanta, e a noite caía, que quase nos perdemos quando íamos em para o estacionamento, e a volta para Peschiera foi com atenção redobrada devido a ela.

 

A neblina


Decididos a jantar em casa, fomos até o supermercado do dia anterior para comprar o necessário, mas chegamos minutos depois de fechar. Corremos até um outro, e conseguimos (a menina do caixa inclusive era brasileira).

 

A Jacque fez o jantar. A Roberta seguiu com seu home office.

 

Fomos dormir relativamente cedo, pois o dia seguinte seria de subir a montanha e terminar no que imaginávamos seria “no meio do nada”, sem ter ideia de quão verdadeiro seria esse “nada”...    

 

Até. 

terça-feira, abril 25, 2023

Perdidos Mãe e Filhos (30)

 A Viagem (18).

 

Outra maravilhosa noite de sono no camping em Firenze, e segundo dia de café da manhã foi no restaurante junto ao camping, com deliciosos croissants, pães, frutas, suco e café. Após, hora de deixar a cidade rumo ao norte.


Hu Firenze Camping in Town, um achado


Antes de pegarmos a A1 no sentido de Bolonha e Modena, fomo até a Piazzale Michelangelo para ver Florença. Construída em uma colina ao sul do Centro Storico, do outro lado do Arno, essa praça fornece uma ótima vista da cidade. No centro da praça está uma reprodução do David de Michelangelo. O dia estava – diferente dos outros da viagem – meio nublado e com uma névoa que restringia um pouco a vista e “prejudicava as fotos”.

 

Vista da Piazzale Michelangelo, com névoa


Após a visita e fotos, rumamos para a autoestrada e o trajeto de cerca de 250km até Peschiera del Garda, às margens do Lago di Garda, nosso ponto base para visitar Verona e Veneza. Havíamos discutido qual a melhor abordagem de visitas: ir direto à Verona, ou ir à Peschiera fazer o checkin, nos instalar e então ir para Verona. Optamos pela segunda opção.

 

Foi uma viagem tranquilo, com músicas variadas tocando (a partir das minhas playlists do Spotify, afinal, “meu carro (era como se fosse, já que eu era o motorista) minhas músicas” ... Como necessidade, parada em Autogrill para café e banheiro.

 

Pausa para um café


Chegamos em Peschiera e fomos até o apartamento. Honestamente, mesmo eu - que havia feito a reserva – não sabia bem o que esperar da nossa hospedagem de dois dias lá. Ao chegar, descobrimos que era um edifício de apartamentos de temporada, agora a maior parte vazios por ser inverno. E o apartamento era bem legal, dois quartos bons, e sofá cama em uma ampla sala em conceito aberto com a cozinha e mesa de jantar. Como eu havia recebido por SMS o código de uma caixa de correspondência ao lado da porta, conseguimos entrar no prédio e acessar o apartamento. Pouco depois, chegou a responsável pelo aluguel, que nos apresentou o apartamento e pudemos fazer o acerto das duas diárias. Em conversa com ela, nos sugeriu que fôssemos naquele dia mesmo à Verona, porque o dia seguinte seria dia de parada e muitas ruas estariam fechadas na cidade. Resolvemos (na verdade, era o plano original) ir para Verona.


Antes, porém, decidimos almoçar em Peschiera mesmo

 

Ela nos deu algumas indicações de possíveis locais para almoçarmos, e decidimos pelo – por ela indicado – Restaurante e Pizzaria La Plume, na Via Risorgimento. Fomos até ele de carro, pois dali iríamos para Verona. Após estacionar, todos descemos e fui na frente para saber se ainda estavam abertos (passavam das 14h20). O garçom, assim que perguntei olhando para o local com (ainda) algumas mesas ocupadas, me respondeu que sim, mas que teríamos que escolher os pratos rapidamente.

 

Olhei para o grupo e topamos ficar ali, afinal estávamos com fome...

 

Sentamo-nos à mesa e ele reafirmou o nosso tempo para a escolha: 

 

Tre minuti! 

 

E fico parado esperando escolhermos, o que fizemos rapidamente.

 

E per bere

 

E para beber, o que escolher? Eu escolhi uma Coca Cola Zero (simples, e eu tinha que dirigir) e a Marina perguntou se havia spremuta (No!), então ficou com uma água sem gás. A Roberta acho que pediu uma cerveja. E a Jacque, responsável normalmente por escolher o vinho, quase não conseguiu fazê-lo pela pressão de ter que fazer com tempo contado. Deu certo, afinal.


Pizza La Plume


A comida estava boa, porém a Jacque e a Karina pediram Cacio e Pepe, uma massa com – como o nome diz – queijo e pimenta, prato tradicional da cozinha de Roma, mas que se come bem em toda a Itália. O problema foi que porção pepe do prato delas era MUITO forte, e a Karina não aguentou comer todo. Acontece nas melhores famílias...

 

Após o almoço, saímos de Peschiera em direção à Verona.

 

A distância entre as duas cidades é de cerca de 30km, com um tempo estimado de trinta minutos de viagem pela A4/E70. Acontece que, mesmo com o Waze nos guiando, com música tocando e conversas o tempo todos, eu errei em uma das saídas e acabamos pegando um caminho alternativo, um pouco mais logo e bem mais demorado... sem problemas, afinal estávamos de férias (era o que eu pensava para diminuir a contrariedade com esses pequenos erros bobos...).

 

Chegamos em Verona após mais ou menos uma hora (o dobro do tempo esperado) e, seguindo indicações, deixamos o carro no Parcheggio Saba Arena, e seguimos caminhando pela Corso Porta Nuova, passando pelo I Portoni dela Brà para chegar até a Piazza Brà


Arena di Verona, na Piazza Brà


A Piazza Brà é a maior praça de Verona e acredita-se que seja a maior de toda Itália. Em seu redor, há diversos restaurantes e cafés, e prédios importantes, como a prefeitura, o Palazzo Barbieri. É ali que está a Arena di Verona, um anfiteatro romano construído no século I depois de Cristo, local que ainda hoje abriga apresentações de ópera e shows diversos. Quando foi construída, a Arena ficava fora dos muros da cidade.

 

No centro da praça há um jardim com cedros e pinheiros, onde estão – também – a Fontana delle Alpi e um estátua em bronze de Vittorio Emanuele II, primeiro rei da Itália unificada. Foi ali, na praça, em frente à Arena, que reproduzimos a foto tirada em 2014 da Marina e da Roberta juntos, uma mais alta que a outra, agora em posições invertidas de estatura (a Marina já era, agora, a terceira mais alta do grupo, atrás de mim e da Jacque). Saindo a Piazza Brà, seguimos pela elegante Via Giuseppe Mazzini, rua pedestres com lojas de grife, e muitas pessoas passeando por ela no final de tarde de quinta-feira pré-carnaval.    


2014 x 2023


A Via Giuseppe Mazzini termina (na verdade, começa) na Via Cappello, outra via importante de comércio de Verona. Chegando ali, vindo da Arena, ao olhar à esquerda temos a Piazza delle Erbe. À direita, a poucos metros dali, a Casa di Giulietta.

 

Piazza delle Erbe (praça das ervas) é onde havia um Fórum na época romana, quando era a praça central da cidade. Ali que acontecia a vida política, econômica e social de Verona.  Ainda hoje ocorre ali um mercado diariamente, com inúmeras bancas vendendo desde frutas, verduras e legumes até roupas, acessórios, artesanatos e souvenirs (um tipo de paraíso para minha mãe e as outras compradoras compulsivas...). Também a praça é circundada por restaurantes com mesas nas ruas. No meio da praça, ainda, está a Tribuna, espécie de tenda de pedra, que é um monumento histórico do século XIII. Do alto da Tribuna eram lidas novas leis e anúncio eram feitos, era onde se empossavam magistrados, onde se sentava o prefeito durante cerimônias e, também, onde se acorrentavam os condenados para serem expostos ao escárnio da população.


Piazza delle Erbe


Atrás da Piazza delle Erbe, e acessada através do Arco della Costa, está a Piazza dei Signori. Cercada por edifício históricos renascentistas, como a Loggia del Consiglio, o Palazzo del Podestà e o Palazzo di Cansignorio. No centro tem uma estátua de Dante Alighieri. Ali perto, com um acesso diferente de outras vezes que a havíamos visitado, está a Casa di Giulietta. 

 

Situada na Via Capello, 23 (mas cujo entrada atualmente é pela rua de trás, pelo Teatro Nuovo) a Casa di Giulietta é uma atração concorrida de Verona. A casa onde há a sacada onde ela estava quando Romeu teria se declarado e ela, é inspirada na lenda que deu origem à clássica e talvez mais famosa peça de Shakespeare, Romeu e Julieta.

 

Arquétipo do amor juvenil e escrita entre 1591 e 1595, a peça conta a história de dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, anteriormente inimigas. Ela faz parte de uma tradição que remonta à antiguidade, e foi baseada em um conto italiano bem anterior à peça. É quase visita “obrigatória” para quem vai à Verona, e está sempre com muitos visitantes. Anteriormente, entrava-se pela Via Capello, por uma passagem cheia de inscrições com declarações apaixonadas feitas pelos visitantes, e um pátio retangular, estava a casa (e a sacada), e estátua em bronze de Julieta (em cujo seio direito a tradição manda colocar a mão) e – atrás da estátua – uma parede completa coberta por chicletes grudados a ela, numa ‘tradição’ do lugar.


Julieta e a tradição...


Com a mudança do local de acesso à casa, essa parede foi retirada e chegamos nesse pátio vindos do Teatro Nuovo, bem ao lado da estátua da Julieta e da loja de souvenirs. A saída é justamente pelo local onde entrávamos anteriormente, organizando o fluxo de visitantes sempre em um sentido único.

 

Após visitarmos a Casa, seguimos pela via Capello nos afastando da Piazza delle Erbe, por mais algumas quadras, quando decidimos parar e retornar, não sem antes visitar a Uppim, loja de departamentos, onde a Marina foi “agredida” por um elevador (na verdade, uma senhora que estava nele “fechou a porta” na Marina, aparentemente para que ela não entrasse...). Recuperada do acidente, e com a Mãe, a Karina e eu com dores, e em virtude do horário, resolvemos voltar para Peschiera para jantar em casa.

 

Voltamos via autoestrada, passamos em um supermercado já em Peschiera, compramos o necessário para um ‘queijos e vinhos’ (queijos e vinhos) e jantamos no apartamento. A Roberta, como todas as noites após o dia de passeios, tinha que trabalhar, já que – como eu disse – não estava de férias, mas, sim, aproveitando as maravilhas do trabalho remoto.

 

Queijos e vinhos...


Após a janta e as histórias e conversas de todas as noites, fomos dormir. O dia seguinte seria sexta-feira, começo de carnaval. E iríamos para Veneza.

 

A viagem chegava ao seu último final de semana.

 

Amanhã seria dia de carnavalzinho.

 

Até.

domingo, abril 23, 2023

A Sopa (Perdidos Mães e Filhos 29)

A Viagem (17).

 

Após uma ótima noite de sono, acordamos todos bem-dispostos para nosso segundo dia em Florença. O café da manhã foi no restaurante junto ao camping, com deliciosos croissants, pães, frutas, suco e café. Após, nos preparamos para voltar ao Centro Storico.

 

De volta ao Parcheggio Beccaria, mesmo lugar onde havíamos deixado o carro no dia anterior iniciamos nosso passeio pela Piazza Cesare Beccaria, e entrando na Borgo la Croce, rua de lojas e restaurantes. Poucos metros caminhando por ela, a primeira de muitas paradas em lojas para as meninas pesquisarem e eventualmente comprarem algo. 

 

Vindo pela Borgo la Croce, entramos à esquerda na Via della Mattonaia, onde – após cerca de uma quadra e meia – está, na Piazza Annigoni, Nuovo Mercato delle Pulci, o mercado de pulgas aqui em sua nova localização. É um brique, com a venda de peças antigas, livros, discos e muito mais. Não é muito grande, mas é interessante, sem dúvidas.

 

Mercado das Pulgas


Atravessando a rua ao sair do Mercato delle Pulci, está o Mercato di Sant’Ambrogio, o mercado do dia a dia dos florentinos. Na rua lateral, havia ainda uma feira de rua, onde – na passagem – a Jacque me convenceu (deu um empurrãozinho, me estimulou, na verdade) a comprar um chapéu. Como muitos sabem, sou fã de chapéus e bonés, e associarem isso à certa escassez de cabelos minha é apenas maldade... Geralmente, em viagens, ando de chapéu, boné, ou toucas, em caso de ser inverno....

 

Mercato di Sant'Ambrogio


Voltando ao mercado, seu horário de funcionamento é de segunda à sábado somente de manhã, das sete às duas da tarde. Os boxes dentro do mercado vendem carne, peixe, massa fresca, queijos, grãos e produtos típicos como azeite, salsas de trufa, entre muitas outras coisas, além de existirem alguns restaurante. As bancas ao redor do mercado, externamente, vendem frutas, verduras, flores, além de objetos para casa, roupas e acessórios (onde comprei o chapéu). Visitamos, compramos água, e seguimos. Estávamos na região da Santa Croce, e essa foi nossa próxima parada.

 

A Basilica di Santa Croce) é a principal igreja franciscana em Florença, e a maior igreja franciscana do mundo, além de ser uma das principais basílicas da Igreja Católica no mundo. Está situada na Piazza di Santa Croce, a leste da Basílica de Santa Maria de Fiori. É o lugar onde estão enterrados alguns dos mais ilustres italianos, tais como Michelangelo, Galileo Galilei, Maquiavel e Rossini. Por isso, é apelidada de Panteão das Glórias Italianas. Diz a lenda que foi fundada pelo próprio São Francisco de Assis. História curiosa e mórbida sobre ela: em 19 de outubro de 2017, um turista espanhol morreu quando estava a visitando a Basílica, ao ser atingido por um pedaço de teto que caiu de uma coluna. Um pedaço de pedra desprendeu-se, e caiu em cima do homem, de uma altura de 30 metros, que teve morte imediata.


Santa Croce


Ali, em 2014, na última vez que estivéramos ali, lembro de estar ocorrendo uma exposição em homenagem à Dante Alighieri. Foi ali, no claustro, que tiramos uma foto da Marina desenhando/escrevendo em um livro, foto essa que repetimos agora (pensando bem, é bem legal essa coisa de repetir fotos no mesmo lugar com anos de diferença...). Da Santa Croce, fomos almoçar. 

 

2014 x 2023


Após o almoço, era hora de visitar a Galleria degli Uffizi.

 

Uffizi, como a chamamos, nós, os íntimos, é uma das maiores atrações turísticas de Florença e um dos mais importantes museus do mundo. É um prédio em forma de U encomendado pelo duque Cosimo I de Médici ao famoso arquiteto Vasari em 1560, para reunir, em um só local, os escritórios (uffici, daí seu nome) dos treze principais magistrados da cidade, então espalhados por diversos locais de Florença. Nessa nova edificação, o duque poderia, então, controlar os magistrados diretamente a partir do velho e contíguo Palazzo della Signoria, sede do governo, de acordo com o status de potência que a cidade alcançou após a conquista de Siena. Para não me alongar, basta dizer que, com o tempo, virou museu.


Galleria degli Uffizi

 A Galleria degli Uffizi é dividida em cerca de cinquenta salas ou ambientes, nomeadas geralmente pelo artista mais importante exposto. Temos salas dedicadas aos maiores artistas do Renascimento, como Leonardo da Vinci e Rafael, salas com arte clássica da Roma antiga, uma grande coleção de quadros de Botticelli com suas incomparáveis Primavera e O Nascimento de Vênus e obras dos maiores artistas do mundo como Michelangelo, Ticinano, Albrecht Dürer e Peter Paul Rubens.

 

Chegando lá, que fica contigua à Piazza della Signoria, comprei os ingressos e entramos. A entrada, por medida de segurança, é feita através de um detector de metais e no raio x para as mochilas e bolsas, o que lembra uma história de 2014 envolvendo o Gabriel, a Karina e eu. Justamente quando fomos visitar a Uffizi.


Boticcelli

 O Gabriel, filho de Karina, irmão da Roberta e afilhado informal da Jacque e meu, mesmo que a Roberta tenha problemas com isso, havia comprado um canivete durante nossa passagem por Montepulciano, alguns dias antes, e o guardara em sua mochila. Em Florença, então, enquanto aguardávamos na fila para inspeção de nossas mochilas para entrar na Uffizi, por alguma razão perguntei do canivete e ele disse que estava com ele na mochila. Na hora, retruquei: vão apreender ele, isso se não te prenderem junto!

 

Momento de pânico dele.

 

Ato contínuo, “joga” a mochila para a Karina, para que ela passe com ela. 

 

Que passa pelo detector, sem problemas...

 

Para ser honesto, já havia acontecido comigo anteriormente no Louvre, em Paris. Fui entrar e eu estava com o meu canivete na mochila, e não lembrava desse fato. Acabei deixando-o com a segurança durante a visita e recuperei após, sem problemas.

 

A visita à Galleria começa no andar superior, o terceiro, e tivemos que subir INFINITOS lances de escada (com dores, principalmente a Karina, a Mãe e eu), apenas para descobrir no final da visita que havia elevadores... Fazer o quê?

 

O museu é fantástico, e ficamos um bom tempo na visita.

 

Saindo da Uffizi, fomos para a beira do Arno, próximos e na Ponte Vecchio. A tarde era – rotina – ensolarada e com céu azul e sem nuvens. Passeamos com calma, ainda paramos em algumas lojas (as meninas comprando presentes para trazer e eu comprando cuecas do Bob Esponja ?!). Com calma, voltamos ao carro, com parada no caminho para sorvete no Amorino. 

 

Ponte Vecchio

À noite, ficamos pelo camping e jantamos na cervejaria local, a Fabbrica in Pedavena. Boa cerveja, boas pizzas, boas conversas. Fomos descansar porque o dia seguinte seria de estrada, em direção ao norte. Seriam duzentos e cinquenta quilômetros até Peschiera del Garda


Fabbrica in Pedavena Firenze

 

Estávamos nos últimos dias de viagem.

 

E era quase carnaval.

 

Até.