domingo, novembro 29, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Sessenta Dias)

 

São duzentos e sessenta dias.

 

De pandemia. Aqui no Sul do Mundo. E estamos num momento pior, em termos epidemiológicos, do que estávamos há dois meses. Se é segunda onda ou não, não importa.

 

Casos aumentando, muitos pacientes ligando, mandando mensagens, o consultório cheio de pacientes. Aqueles com outras doenças que agora vêm para revisar e uma parcela grande de pacientes que tiveram COVID e vem para serem reavaliados. Por outro lado, um dos temores que todos tínhamos durante o “lockdown”, de que pacientes com doenças graves tivessem suas doenças agravadas ainda mais pela demora em consultar decorrente do medo de sair de casa, vem se confirmando: nas últimas semanas, pelo menos um paciente chega para mim por semana com um câncer de pulmão bem avançado, quando já não há mais chance de cura. 

 

Será que se tivessem consultado antes teriam chance de cura? Impossível dizer, mas - por não terem vindo – e não por culpa deles, mas de quem assustou a todos com o “fica em casa” a qualquer custo, certamente agora não tem mais. Triste, e ninguém será responsabilizado por isso.

 

Como eu dizia, seguimos com a pandemia, e agora sem os sinais de melhora que tínhamos anteriormente, pelo contrário. Seguimos, então, com as recomendações de distanciamento social, de evitar aglomerações, uso de máscaras, lavagem de mãos e uso de álcool gel enquanto esperamos as vacinas. E seguimos a vida, com cuidados.

 

Confesso que – lá em março, quando começou por aqui – eu tinha a convicção (que era esperança, agora vejo) de que no final do ano já a teríamos superado. Tudo começaria a melhorar em setembro, e o Natal seria quase como se nunca tivéssemos passado por isso. Agradeceríamos por todos os que houvessem passado, lamentaríamos aqueles que não tivessem resistido, aprenderíamos com os erros cometidos e viraríamos a página. 

 

Dois mil e vinte e um começaria do zero, na medida do possível.

 

Eu estava enganado.

Ainda vamos seguir por um tempo convivendo com essa situação, e não há nada que possamos fazer diferente das recomendações que já seguimos. Lembrei de novo da imagem de uma corrida insana, que - quando parece que estamos completando - o ponto de chegada fica mais longe. De novo, paciência, não depende de nós.

 

Continuo, contudo, otimista.

 

O final nunca esteve tão perto, mesmo que – em meio a essa névoa de desinformação, boatos, teorias da conspiração – não consigamos avistar a linha de chegada, que está em algum lugar lá na frente, mais perto do que ontem e mais longe do que amanhã.

 

Temos que seguir correndo (ou caminhando, vá lá) e vivendo.

 

Até. 

sábado, novembro 28, 2020

Sábado (e saudades do norte...)


   Stowe, Vermont/USA   

    

    Nada a ver com o calor que chega por aqui, mas neve e férias combinam...

    Bom sábado a todos.

    Até.  

   

quarta-feira, novembro 25, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Cinquenta e Seis Dias

Às vezes, confesso, sou chato. 

 

Mesmo que na esmagadora maior parte do tempo eu seja uma pessoa realmente, digamos assim, emocional, em outras – por outro lado – sou muito prático e racional. De um lado, mesmo que não sejam situações opostas ou mesmo relacionadas, sou fã de comédias românticas e, por outro, há situação em que sou racional ao extremo, ainda mais quando se fala de determinadas crenças populares, digamos assim.

 

Como a crença generalizada no meio médico de que ser médico, ou familiar de médico, é um fator de risco para doenças ou evolução de doenças mais grave. Como se esse fato, ser médico ou familiar de, implicasse em ter chance maior de morrer ou sofrer mais por doença, seja ela qual for. Mesmo médicos experientes, professores, volta e meia se saem com essa afirmação.

 

Não consigo aceitar.

 

Sou obrigado rebater, sempre. Não faz sentido nenhum, não há lógica envolvida nisso. Entendo que médicos tenham essa impressão, mas ocorre simplesmente porque nos chama mais a atenção o fato de um colega ou familiar de um esteja com algum problema de saúde. Estatisticamente, certamente os médicos não são mais propensos a complicar, muito menos seus familiares. Se fizermos um estudo sério sobre isso, veremos que não há relação entre os fatos. Imaginário popular, apenas.

 

Assim como determinadas reações a acontecimentos no mundo, que não entendo. Sei que pode ser incapacidade minha, mas certamente não é falta de empatia, acreditem.

 

Como a morte de Diego Armando Maradona, ocorrida hoje.

 

É a perda de um mito do futebol, um dos maiores da história, sem dúvida nenhuma. Para os argentinos, um mito, quase uma divindade. Idolatrado. Perfeito, sem nenhuma contestação. Lamentamos a morte de uma lenda.

 

Contudo...

 

Ouvia o rádio enquanto voltava para casa, hoje mais cedo, e a apresentadora, em uma entrevista em meio à programação relacionada à morte do Maradona, diz que ‘estamos todos consternados’ e que o futebol ‘perde com a sua morte’. Opa, só um pouquinho... e aí não consigo não ser chato (eu avisei).

 

A história viva do futebol perde, sim, um dos seus grandes personagens, e todos lamentamos e reverenciamos sua memória enquanto jogador brilhante, genial. Mas o futebol perdeu, e muito, quando ele se aposentou, assim como quando Pelé – o maior de todos – parou de jogar. Perde, em maior ou menor grau, quando um grande jogador encerra sua carreira (e nenhuma piada ou insinuação nisso). O mundo do futebol perdeu um dos seus grandes craques do passado, e lamentamos sinceramente sua morte. 

 

Os termos ‘consternados’ e ‘comoção mundial’, contudo, me pareceram meio fortes... mas entendo...

 

O problema sou eu, que às vezes sou muito chato.

 

Até. 

segunda-feira, novembro 23, 2020

A Sopa

 (Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Cinquenta e Quatro Dias)

 

Ontem não teve Sopa.

 

De novo.

 

Fim de semana de sol e um certo frio ao final do dia. Bem agradável, como deveriam ser todos os finais de semana. Bom para estar ao ar livre.

 

Quanto a não ter publicado essa Sopa no domingo, como virou tradição, lembro que originalmente eu a enviava por e-mail aos assinantes, antes ainda do blog, às segundas-feiras. Foi um período em que eu tinha as manhãs de segunda disponíveis, e podia escrever. 

 

Há muito tempo isso, quase em outra vida.

 

Mas falava do final de semana.

 

Os começos de manhã foram – como tem sido há quase dois anos – dedicados a pedalar. Tenho o objetivo semanal de pedalar aos menos 55km, normalmente entre sábado e domingo, o que leva mais ou menos 1h30 em cada um dos dias. Começo e termino cedo, geralmente antes da 10h já voltei para casa e pronto para começar as atividades do dia. Pedalei mais no sábado e o domingo era para completar a meta semanal.

 

Mas, perto de casa, furou o pneu da bicicleta. Por estar perto, decidi não tentar trocá-lo, e fui empurrando a bicicleta até chegar. Tranquilo. Como guri de apartamento, e por estar na hora de fazer revisão nela, vou deixar que troquem o pneu na oficina...

 

Voltando ao final de semana, após a tradicional ida ao supermercado da manhã de sábado, saímos para almoçar fora, uma das poucas vezes desde março, quando começou a pandemia que tínhamos convicção que já teria terminado por esses dias... Conseguimos uma mesa ao ar livre e comemos numa parrilla. Ao final da tarde e para a janta, saímos novamente e encontramos uns amigos (distanciamento e as óbvias máscaras...) ao ar livre.

 

O domingo, churrasco na minha churrasqueira “sem fumaça”, aquisição da pandemia. Final de tarde, mais uma vez um tempo ao ar livre, com sol.

 

Com cuidados e prudência, a vida continua. 

 

Até.

sábado, novembro 21, 2020

Sábado (e a Itália, há 15 anos...)


        Amalfi, em dia nublado, em 2005.

        Província de Salerno, Itália.

        Bom sábado todos.


segunda-feira, novembro 16, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Quarenta e Sete e Dias

Ontem não teve Sopa. 

Por quê?

 

Ninguém perguntou, mas mesmo assim eu falo... por nenhuma razão em especial. Simplesmente porque não tenho obrigação de escrever. Escrevo quando preciso, ou sinto que devo. Ontem não estava no clima.

 

Teve eleição, e inexplicavelmente Porto Alegre insiste em eleger candidatos vinculados ao atraso e a ideias que não deram certo em lugar nenhum do mundo. Em candidatos de partidos que são, já no seu nome, uma impossibilidade. Como liberdade e socialismo, dois conceitos excludentes.

 

Aparentemente, ainda pensam que é bonito ser de esquerda. 

 

Já foi, já fui.

 

Não mais.

 

A esquerda hoje é envergonhada, tanto que a campanha da candidata do partido comunista do Brasil em nenhum momento mostrou em seus materiais a foice e o martelo, e nem a cor vermelha. Não faço nenhum julgamento pessoal quanto a ela, mas o que o partido dela representa é o indefensável.

 

Até.

sexta-feira, novembro 13, 2020

Sábado (e mais uma memória)


    Restaurant La Comedia.

    107 Rue Monge, Paris.

    Há mais de vinte anos fomos lá pela primeira vez, com os Perdidos na Espace. 

    Boa comida, boas lembranças.

    Até.

    

quarta-feira, novembro 11, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Quarenta e Dois Dias

Vacina.

 

Hoje tive a minha quarta consulta como parte do estudo da Coronavac, a famosa “vacina chinesa” que está em estudo no Brasil numa parceria com o Instituto Butantã. Aqui no Sul do Mundo, o estudo está sendo realizado no Hospital São Lucas da PUCRS, onde trabalho.

 

Quando iniciou o estudo, me inscrevi para participar e fui chamado.

 

Fiz a primeira dose em setembro e a segunda entre duas e três semanas depois. Desde então, tenho que medir minha temperatura todos os dias e registrar em um diário, em que também respondo sobre a possível ocorrência de reações adversas, tanto nos locais de aplicação como em geral. Não tive nenhuma reação, nem tive febre. Tudo segue normal comigo.

 

Essa semana, contudo, saiu a notícia de que o estudo havia sido suspenso devido a ocorrência de um evento adverso grave com um dos participantes, da mesma forma que havia ocorrido com outros dois estudos com outras potenciais vacinas, e como é comum em estudos clínicos. Mas virou notícia nos principais meios de comunicação e em redes sociais, inclusive com o presidente “comemorando” essa ocorrência, em mais um capítulo da medíocre briga política dele com o governador de São Paulo.

 

Ambos errados, ambos oportunistas, ambos abutres em busca de carniça.

 

Hoje, ainda, a estudo foi novamente liberado porque o tal evento adverso grave não tinha relação com a vacina em si, e o episódio só serviu para mais uma vez vermos o quão baixo podem chegar as pessoas em busca de obter e/ou manter o poder.

 

Até transformar pesquisa científica em reality show.

 

Eu até ia fazer uma piada com relação a isso, mas não vale.


Até. 

domingo, novembro 08, 2020

A Sopa

 (Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Trinta e Nove Dias)

 

Sou influenciável.

 

A história clássica que comprova isso é da minha relação com bancos. Anos atrás, já médico, e por isso mesmo, por ser médico, talvez pelo potencial financeiro que se via nesse fato, eu era alvo de alguns bancos, que me procuravam para ser seu cliente, a despeito do fato que, objetivamente, eu não era – em termos financeiros, claro – tudo aquilo que eles imaginavam. Aconteceu mais de uma vez.

 

Os bancos em questão me procuravam e ofereciam a possibilidade de abertura de conta corrente, isenta de tarifas de manutenção, com cheque especial e outros benefícios. Faziam a oferta, sedutora, e – claro – eu aceitava por influenciável, como falei. Bank of BostonCitibank foram dois bancos em que tive contas abertas nesse esquema.

 

Com relação ao primeiro, Bank of Boston, mantive a conta por alguns meses, com saldo zero, até perceber que não fazia sentido nenhum mantê-la (até porque trabalhava com outros bancos) e encerrá-la. Fui prejuízo para o banco, lamentavelmente. Quanto ao Citibank, foi um pouco diferente. Mantive a conta aberta por uns bons anos, com pouca movimentação. O principal uso era para renovar o visto americano, quando ainda durava cinco anos e o pagamento não era online. De qualquer forma, fui mantendo a conta até o que Itaú (de quem sou cliente há muito mais anos) incorporou-o e essa conta foi absorvida pela que já tinha. Resolvido. E faz um certo tempo que estou “imune” a isso.

 

Pois dizia eu que sou influenciável.

 

Sou mesmo.

 

Quero dizer que tenho poucas certezas pétreas, que nunca mudarão, e que tem a ver com quem sou, com o que podemos chamar de essência, ou princípios. Meus princípios não mudam.

 

O resto, contudo, pode mudar. Se apresentado a evidências que contradigam meus conhecimentos, que provem que estou errado, não tenho nenhum problema em mudar de ideia e/ou opinião. Só os idiotas não mudam de opinião quando frente a fatos/conhecimentos que invalidem ou mudem o que pensavam antes.

 

Por isso é bom sair da bolha vez que outra. 

 

Nem sempre é fácil ouvir pessoas com opiniões e visões de mundo diferentes das nossas, admitir que nem sempre sabemos tudo e que sempre podemos aprender com os outros. Só que dentro da bolha, dentro do ambiente seguro onde todos pensam como nós, nem sempre (quase nunca) temos essa oportunidade.

 

Não que vamos necessariamente mudar de opinião sempre. Sempre é bom respirar ar puro, contudo. E sair um pouco da bolha nos deixa respirar melhor.

 

Até.

 

sábado, novembro 07, 2020

Sábado (e um momento filosófico)


                          Ah, pois é...

                          Bom sábado a todos.

                          Até.

sexta-feira, novembro 06, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Trinta e Sete Dias

Estava errado. 

Pensei que meu desprezo pela imprensa militante era maior que o que sinto pelo Trump. Que valeria à pena passar mais quatro anos assistindo-o como presidente dos EUA só para ver a cara de derrota e as explicações que esses jornalistas/torcedores daria após verem seu candidato, que davam certo como vencido, ganhar a eleição. Seriam mais quatro anos do mesmo, de ambos os lados.

 

Não vale.

 

Assisti agora há pouco, na televisão, parte de um pronunciamento do (ainda) presidente, dando a entender que não pretende aceitar uma possível/provável derrota eleitoral e chamando os estados de Michigan e da Pensilvânia de politicamente corruptos. Não é uma postura aceitável vinda de um presidente. 

 

Vergonha alheia.

 

Até.

quinta-feira, novembro 05, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Trinta e Seis Dias

Maldito Bolsonaro.

Não, não é o que vocês estão pensando. 

Confesso a vocês que não consigo não ficar revoltado com o governo Bolsonaro todos os dias de manhã, quando acordo me percebo o que vivemos. É insuportável uma vida assim.

 

Sem horário de verão.

 

Sempre fui fã do horário de verão, e estou entre as “viúvas”, que lamentam e não perdoam o governo por ter acabado com o mesmo. Mas isso não é o pior. O pior de tudo é muito pior que isso. Pior mesmo.

 

É que o meu relógio biológico está em horário de verão.

 

Acordo, diariamente, antes das seis da manhã, como se fossem sete horas e fosse a hora de acordar. Diariamente. Sábados, domingos e feriados.  Forço o sono para ficar mais tempo na cama, mesmo que os pássaros já estejam cantando lá fora e que o sol já esteja nascendo. Não levanto de raiva.

 

Por quê, por quê?

 

Precisava fazer isso? Acabar com o horário de verão, com os finais de dia de luz mais longos? Quem se importa que a economia de luz não seja grande? Quem se importa com o que pensam os chatos anti-horário de verão?

 

Maldito Bolsonaro. Malditos anti-horário de verão.

 

Até.

terça-feira, novembro 03, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Trinta e Quatro Dias

 Política. De novo.

 

Confesso que estou torcendo para o Trump ganhar as eleições americanas.

 

Não que eu simpatize com ele, ou ache ele um ótimo presidente. Não tenho absolutamente nada a favor dele, com exceção, talvez, do potencial bom relacionamento entre Brasil e EUA, e – admito – vários contras. Vários contras mesmo. 

 

Por quê, afinal, estou torcendo para ele ganhar as eleições?

 

Por causa da narrativa.

 

Porque quero ver todos os ‘analistas’ que se dizem isentos, toda a imprensa militante, todos esses que se dizem especialistas, mas que, no fundo, não passam de torcedores, quebrar a cara em suas previsões. Para derrotar mais uma vez a narrativa de que só existe a esquerda boazinha e a extrema-direita. De quem pensa diferente é negacionista ou terraplanista. Para derrotar os chatos. O Trump, vejam só, é o Bolsonaro americano, aquele em que as pessoas deveriam votar para evitar que a esquerda assuma o poder. Sim, porque os Democratas são a esquerda americana, com tudo de ruim que ela representa. São o PT de lá. Não eram, mas se tornaram...

 

De verdade.

 

Para o Brasil, a derrota dos democratas será melhor, por pior que seja a figura de Donald Trump. 

 

Até.