A Ideia, O Plano.
O ano é 2022.
Sexta-feira, quinze de julho, final do dia.
A noite cai sobre Porto Alegre. Chove, ou ao menos eu acho que chovia. Após terminar meus atendimentos no consultório (em minha nova rotina após me desligar da Universidade onde eu passava minhas sextas-feiras à tarde), vou para casa. A semana havia sido pesada.
Começara na segunda-feira de manhã cedo com uma ligação dizendo que minha mãe passara mal, eu indo até a casa dos meus pais – onde estavam, além deles, meu irmão e minha sobrinha que os visitavam vindos de NY – para ver o que havia acontecido. Excetuando-se pela Olívia – que estava isolada – todos estavam com COVID. Na sequência, dois dias depois, meu irmão e eu levamos meu pai para o hospital por não estar bem (não relacionado ao COVID) e internando-o na quarta-feira, depois de duas noites muito ruins em casa, mesmo dia em que depois, à noite, tocaríamos num shopping em celebração ao Dia do Rock. A rotina da semana era chegar no hospital, ver meu pai, atender, vê-lo de novo no intervalo do almoço, e uma vez mais antes de voltar para casa.
Na sexta-feira, ainda enquanto me dirigia para casa, a médica responsável pela internação dele, a minha muito querida amiga Cynthia Dullius, que mais cedo me avisara que iriam colocá-lo em ventilação não-invasiva para auxiliar sua respiração, ligou e me disse que ele havia sido entubado e transferido da emergência para a UTI. Ainda dirigindo, chorei pela primeira vez em muitos e muitos anos, algo que aconteceria com certa frequência nas próximas semanas.
Eu sabia que estava próximo do fim.
Ele vinha, desde o início da pandemia, progressivamente piorando em seu estado geral, com uma qualidade de vida cada vez menor, e – nesse período todo – sendo cuidado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, pela minha mãe. Era uma rotina pesada, e eu ajudava o quanto podia, mas certamente a gigantesca carga era dela. Como relatei para quem me perguntou na época, ele tinha uma série de condições que – isoladamente – não eram muito graves, mas que – juntas – o faziam viver caminhando em gelo fino, quando qualquer movimento poderia desequilibrar tudo.
Quando a Cynthia me ligou e disse que ele estava sendo entubado, tive a convicção de que o fim era iminente, que talvez não passasse do final de semana. Cheguei em casa, me recompus como pude, e comuniquei a notícia e o que eu imaginava ser o que aconteceria em breve para minha mãe e para meu irmão. Foi difícil, eu ia falando e a voz ia sumindo. Conversei também com o Giba, meu tio.
Após as ligações, junto à Jacque e à Marina, comuniquei a elas que estava se aproximando rapidamente a hora em que eu faria a tatuagem em homenagem ao meu pai. Além disso, nas próximas férias de verão iríamos para a Itália com minha mãe.
O desfecho da internação só ocorreria onze dias depois, após ele ter sido extubado, acordado novamente, saído da UTI e infelizmente piorado de maneira definitiva nos dias subsequentes, falecendo no dia 26 de julho de 2022, no dia em que meu irmão iria retornar aos Estados Unidos (conseguiu trocar a passagem e ficar mais dois dias por aqui).
Um mês depois, fiz a prometida tatuagem.
Faltava a Itália.
Até.