domingo, setembro 22, 2013

Domingo (e começa a primavera)

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Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá

domingo, setembro 15, 2013

A Sopa 13/06

Não, esse não é um texto de auto-ajuda.

Podemos considerá-lo mais uma confissão, ou um desabafo.

Algum tempo atrás, formulei a tese (certamente não original, mas não importa) de que a busca pela sabedoria e - em última instância - pela felicidade, era o caminho da simplicidade. Retomar as origens do homem. O contato com a terra, poderia dizer a agricultura, como fonte de sapiência. Não me afastei de tudo e fui morar num sítio, afastado de tudo e todos, como poderia alguém imaginar como caminho lógico das minhas ideias.

O princípio, contudo, continua válido.

Lembrei disso quando, há algumas semanas, saturado por notícias, teses e comentários os mais variados -  coerentes, estúpidos, raivosos, etc - me vi (me viram) perturbado. Estava - assim como aqueles dias de inverno sem sol, úmidos, frios e de chuva do mês passado - desgostoso com o mundo. O humor havia sumido, a tolerância era pouca. Eu estava me deixando afetar pelo mundo externo de forma muito intensa. E é claro que falo da questão do governo, dos médicos, o Brasil como um todo. Aquilo me afetou muito. Eu tomava cada crítica feita ao médicos como se fosse pessoal. Era eu quem estava sendo chamado de mercenário, de playboy, de estar com medo de estrangeiros, de ser um mau caráter. Não importava o fato de continuar fazendo a minha parte como sempre fiz, muitas vezes trabalhando de graça e não reclamando, além de procurar ser um cidadão exemplar, pagar meus impostos, não sonegar, etc: por ser médico eu era da turma do mal, que tinha uma dívida com meu país e blá-blá-blá... Cansei, e decidi tomar uma atitude, lançar mão de um mecanismo de defesa muito conhecido.

A negação.

Decidir negar. Não ler, não ouvir.

Há cerca de três semanas, deliberadamente não leio nada sobre o ministério da saúde, programa mais médicos, médicos cubanos, o SUS, mercado de pessoas, etc. Nada mesmo. Quando vejo a manchete, mudo a leitura, "oculto" no facebook, não compartilho, mudo de estação no rádio, viro a página do jornal. Como falei, negação completa. Até no carro, em que passava a maior parte do tempo ouvindo notícias, agora ouço quase que exclusivamente música.

É mais ou menos como férias mentais. Desde então, ao deixar de me sentir atacado por todos os lados, tenho vivido num estado de tranquilidade bem maior, preocupado - com minhas atenções direcionadas - com questões mais objetivas e práticas. Vivendo - forçando um pouco a barra, exagerando  - num estado ignorância feliz.

A chave para a felicidade seria, também, a alienação.

Imagino que não vai durar para sempre. Logo, muito em breve provavelmente, desisto da atitude de contemplação passiva e volto ao debate, volto a defender minhas ideias, os valores nos quais acredito, com fervor - digamos assim - juvenil. Vou para a briga mesmo.

Ou não.

Pode ser que eu tenha cansado definitivamente e desistido de discutir com paredes. Talvez eu não me importe mais com nada, nem com as pesadas moedas do céu e nem com as sacolas de lixo viradas pelo caminho, pode ser que eu queira mesmo é ficar na minha, com diz a música. Só o tempo vai dizer.

Até.

domingo, setembro 08, 2013

Soneto de domingo


Em casa há muita paz por um domingo assim.
A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai...
Esqueço de quem sou para sentir-me pai
E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim,

Um relógio bater, e outro dentro de mim...
Olho o jardim úmido e agreste: isso distrai
Vê-lo, feroz, florir mesmo onde o sol não vai
A despeito do vento e da terra que é ruim.

Na verdade é o infinito essa casa pequena
Que me amortalha o sonho e abriga a desventura
E a mão de uma mulher fez simples, pura e amena.

Deus que és pai como eu e a estimas, porventura:
Quando for minha vez, dá-me que eu vá sem pena
Levando apenas esse pouco que não dura.
(Vinicius de Moraes)

terça-feira, setembro 03, 2013

Surpresa

Aconteceu inesperadamente.

Comecei um pouco mais cedo o ambulatório, faltaram pacientes, e consegui sair cerca de meia hora antes. Tudo deu certo: estrada tranquila, entrada em Porto Alegre sem estresse.

Assim, simples.

E o dia terminou muito melhor.

Setembro, setembro...

Até.