domingo, dezembro 29, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 07)

Retrospectiva (2).

Um aprendizado interessante, podemos dizer assim, mas podemos nos perguntar também se não são todos os aprendizados interessantes por si só, pelo crescimento que nos proporcionam, pelos diferentes pontos de vista que se abrem, pelo próprio fato de que quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos, ou o ipse se nihil scire id unum sciat (“só sei que nada sei”) atribuído a Sócrates, o filósofo. Como dizia, um aprendizado interessante é que tudo o que acontece em nossas vidas, os fatos, as histórias, independente de (em tese) boas ou não, elas são simplesmente a forma como as vemos/vivemos. Em outras palavras, elas são como vamos contá-las.

A narrativa.

A realidade é ditada por quem conta a história.

Poderia traçar um paralelo com o que acontece no Brasil nos últimos vinte anos, mas – como já disse – esses escritos, salvo quando claramente anunciado, são sobre mim. Sobre como eu vejo o que acontece comigo, como vejo o mundo.

Voltando à retrospectiva pessoal do ano que ora termina, os eventos em parte determinantes de 2019 iniciaram ainda nos estertores de 2018, com uma constatação íntima, pessoal: eu não terminaria esse ano como terminara os últimos dois anos.

Explico.

Dentre as muitas atividades profissionais em que estava envolvido, desde o último trimestre de 2016 eu era médico contratado de uma multinacional da indústria farmacêutica.  Médico especialista, com a função de trabalhar com educação médica continuada, consultoria científica. Regime de trabalho parcial, boa parte em home office, mantinha minhas atividades na Universidade e consultório. Claro, como envolvia viagens quase semanais, consultório ficou em segundo plano.

Era um trabalho muito bom, em termos de ambiente de trabalho, do grupo com que trabalhava, e – claro – salário e benefícios envolvidos. Estava muito satisfeito. Houve, contudo, um momento, depois de dois anos na função, em que senti que a perspectiva de continuar com esse trabalho estava com os dias contados. Encerrei o ano de 2018 com a tranquila certeza de que não terminaria 2019 trabalhando ali. Estava pronto para pensar em novas possibilidades, me preparar para quando saísse, o que pretendia fazer até o final desse ano.

Os fatos se desenrolaram mais rápido que eu havia imaginado. Na metade de fevereiro fui chamado para uma reunião. Fui com a certeza do que aconteceria, e que se confirmou: por questões de readequação financeira, redução de custos, reengenharia, a minha posição seria terminada e, por isso, fui desligado da empresa. Mundo corporativo, nada pessoal.

Simples assim, e foi tranquilo. 

Lamentei, claro, a perda da convivência com os ótimos colegas (e, não vou negar, o salário e os benefícios, mas ofereceram um pacote de rescisão muito bom.). Poderia parecer algo muito ruim, afinal ainda na metade do ano anterior eu havia me desligado da Universidade por dificuldade em compatibilizar os dois trabalhos (e por estar cansado da estrada, 300km toda terça-feira, por mais gratificante que fosse a tarefa de ser professor). No espaço de tempo de seis meses, eu havia encerrado dois contratos de trabalho, com carteira assinada e tudo mais. Poderia ser devastador.

Mas foi libertador.

Como falei, o que aconteceu – ruim sob diferentes aspectos que se olhe – foi o determinante para tudo o que aconteceu no resto do ano, que foi muito bom. O fato em si não é o mais importante, mas sim como vi e vivi o que aconteceu.  

Porque fui eu quem escrevi a história, a narrativa é minha.

Conto mais sobre isso, sobre o ano que termina, adiante, na sequência musical.

Até.

terça-feira, dezembro 24, 2019

domingo, dezembro 22, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 06)

Retrospectiva.

Tradicionalmente, ao final do ano, e como essa Sopa é sobre mim, o que vejo, sinto, penso e repenso, além – é claro – de uma ficção ocasional, todo final de ano eu fazia uma retrospectiva pessoal do ano que terminava, compartilhava com os (poucos) leitores o que tinha se passado comigo, e como eu tinha visto/sentido o que se passara comigo. Nesse momento de (tentativa de) retomada desses escritos regulares que eu havia perdido enquanto corria em perseguição à cenoura (como a história do burro que puxa a carroça cujo dono está balançando uma cenoura em frente ao seu nariz, o dono podendo saber onde está indo, mas o burro perseguindo uma ilusão). 

Não faço aqui crítica (ou julgamento) a ninguém, pessoas ou locais de trabalho.

Falo de mim, do meu umbigo, e de como nos últimos anos acumulei diversas atividades e funções de trabalho, associativas e – de certa forma – políticas. É a teoria da porta que se abre: seguia o caminho e – à medida em que andava – ia entrando nas portas (possibilidades) que se abriam (surgiam). Foi muito bom, profissionalmente falando.  E também em termos financeiros, claro.  Mas todo bônus tem um ônus. E a corrida do dia-a-dia, trabalho e trabalho, cobra um preço que não pode ser mensurado, e não pode ser recuperado.

Tempo.

Por uma questão de prioridades temporárias, de urgências da rotina, houve a necessidade de deixar de lado algumas atividades, digamos assim, que me eram caras. Normal, parte da vida. Sabemos que existem momentos em que devemos priorizar determinadas ações/atividades em detrimento de outras em função da situação de vida em que estamos. 

Como quando voltei do Canadá.

Voltar foi uma retomada da vida, um reinício profissional, hora de “agarrar” todas as oportunidades, entrar em todas as portas que se abrissem. Consultório, Santa Casa, Centro Clínico Gaúcho, depois a Universidade, o concurso para Prefeitura de Porto Alegre, além das atividades associativas, primeiro como Diretor e depois Presidente da Sociedade de Pneumologia do RS. Fui acumulando atividades, que traziam algum retorno financeiro e algum reconhecimento profissional.

Nessa corrida, deixei de escrever. 

E continuei correndo,  a cenoura ali na frente mas que não chegava nunca.

E fui assumindo mais funções.

A melhor de todas, evidentemente, de pai da Marina. Mas ainda outras.

Mas falo disso mais adiante.

Até.

domingo, dezembro 15, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 05)

Post hoc ergo propter hoc.

Falácia lógica, ou correlação coincidente, consiste na ideia de que dois eventos que ocorram em sequência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. Esse é um tipo de erro muito comum quando se discute assuntos de saúde, por exemplo, mas claro que não restrito a essa área. Um exemplo desse tipo de erro ocorre com vacinas.

Vacinas não são questão de crença ou fé.

Simples assim. 

Da mesma forma que a Terra não é plana, vacinas funcionam e são fundamentais. Quem diz ou pensa em contrário, está errado. Ponto. Não tenho paciência para discutir o assunto.

De tempos em tempos, aparece no consultório um paciente que – ao ser perguntado com relação à vacinação para a gripe – diz que “não acredita em vacinas”. Assim, como se fosse questão de opinião pessoal, ou gosto. Como se fosse o mesmo que dizer que não gosta coco ralado, ou de comida japonesa.

Durante um tempo, até argumentava pacientemente sobre o assunto, apresentava argumentos racionais, dados e estudos científicos que comprovam a eficiência e segurança das vacinas, mas cansei. Não consigo mais. Mudei de estratégia. Atualmente, reajo diferente quando o paciente diz não acreditar em vacinas.

Respiro fundo e digo que ele tem todo o direito de acreditar ou não em duendes, unicórnios e até elefantes voadores, mas que esse não é o caso das vacinas. Estamos lidando com fatos, com dados que foram extensamente estudados. Que a vacina da gripe NÃO causa gripe. 

“Mas eu sei de gente que tomou a vacina e no dia seguinte teve um gripão”, muitos rebatem, e eu tenho que explicar que não, não funciona assim. Que isso é uma falácia lógica. 

Que, se um dia eu sair de casa de chapéu e chover, não quer dizer que choveu porque eu saí de chapéu... Que a pessoa provavelmente já estava infectada e desenvolveu os sintomas (estava em período de incubação quando fez a vacina). E que gripe é diferente de resfriado. Gripe é coisa séria, pode matar. Por isso a necessidade de fazer a vacina anualmente.

Ainda assim, mesmo com todos os argumentos possíveis, alguns pacientes associam ter feito a vacina e terem adoecido logo depois, como se fosse relação de causa e efeito, como se chovesse quando eu saio de casa de chapéu. 

Assim como as pessoas que afirmam que a Terra é plana, ou que querem salvar o planeta mas não arrumam a própria cama.

Uns chatos.

Até.

segunda-feira, dezembro 09, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 04)

Tenho algumas implicâncias.

Antes de mais nada, devo dizer que – sim – sou a favor de que cada um cuide de sua própria vida, que – desde que não cause prejuízo real a outras pessoas (a liberdade de um termina onde começa a do outro) – cada um viva sua vida da forma que achar melhor. Que trabalhe naquilo que quiser e puder, que se vista como der na telha, que case com quem se apaixonar, ou não se case, tanto faz, desde que seja sua escolha e esteja feliz com isso.

Sou a favor da liberdade individual. 

Não é o governo, nem a religião, e muito menos outras pessoas que vão determinar como cada um deve viver sua vida. Desde que, enfatizo, todos sejam respeitados, e ninguém cause prejuízo (e para isso existem regras de convivência) a outros.

Mas, confesso, tenho implicâncias. E não vou falar dos vegetarianos, muito menos dos veganos. Não dessa vez, não hoje.

Pessoas que tomam cerveja no supermercado, enquanto fazem compras.

Todo mundo já presenciou a cena. Meio da tarde de uma quarta-feira, ou sábado de manhã, por acaso estamos no supermercado fazendo algumas compras de última hora, ou mesmo as compras semanais, não importa, estamos lá abastecendo o carrinho com provimentos, leite, carne, pão, entre outros produtos, e passa por nós, tranquilamente, indivíduo (não é exclusivo de gênero) com uma long neck na mão, a outra empurrando o carrinho de compras, tomando cerveja durante as compras. Acho isso errado em muitos sentidos.

Não estamos em casa, ou em uma festa, ou mesmo na praia, para circularmos de forma tão informal. Ingerindo álcool no meio da tarde (ou de manhã, ou mesmo à noite, que seja) em pleno supermercado dá ideia da necessidade urgente de satisfação imediata, da incapacidade de esperar pelo momento mais adequado para consumir. Precisa ser aqui e agora. É infantil, como quando levamos uma criança pequena conosco e ela está com fome. Aí até justifica-se permitir que ela consuma algo ainda dentro do supermercado. Mas não um adulto com idade suficiente para comprar e ingerir álcool. Nada justifica isso.

E, ao sair do supermercado, como levará as compras para casa?

De táxi, Uber, Cabify ou outro transporte, mas esperamos que não dirigindo, porque seria pior ainda. Mas não duvido...

E não estou nem entrando no mérito daqueles que consomem algo (e aí não precisa ser cerveja) e deixam a embalagem em qualquer local, saindo sem pagar por ela. Porque aí é o fim da civilização.

Mas, como eu disse, cada um sabe de si.

E eu não tenho nada a ver com isso.

Até.

sábado, dezembro 07, 2019

domingo, dezembro 01, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 03)


Sobre o tempo.

Assunto recorrente em meus pensamentos e reflexões. Mas quem me conhece já sabe disso...

A passagem do tempo ainda me fascina. Pode parecer que não me conformo até hoje por ter crescido, mas não é isso, podem ficar tranquilos.

O tempo ainda me encanta. Um encantamento juvenil, ingênuo, sincero. 

E, também, eventualmente, esquisito.

Estamos às portas de 2020, e ainda acho estranho quando escrevo o ano em que vivemos. E isso acontece desde 1986. Qualquer ano depois disso parece... digamos... errado, fake, para usar um termo atual. Não faz nenhum sentido, entendo, e não sei explicar.

Assim como as viagens no tempo proporcionadas pela música.

Cada vez mais, e quanto mais passa o tempo, quanto mais passado tenho, mais fascinante é o efeito de voltar no tempo que determinadas músicas têm em mim. Impressionante como me vejo em lugares e situações de muitos anos passados ao ouvir músicas que marcaram esses momentos. Muito mais para o bem que para o mal.

E é uma sensação muito real, essa de se sentir de volta no tempo ao ouvir certas músicas.

Situações e pessoas, boas lembranças.

Até.

sábado, novembro 30, 2019

quarta-feira, novembro 27, 2019

Não vou falar (uma declaração de princípios)


Não tenho vontade de falar de atualidades.

Falar de política, sociedade, esportes, religião. Não quero falar de ideologia de gênero, de direita, esquerda, centro, Brexit, Trump ou Bolsonaro. Mudanças climáticas ou terra plana. Nem da Venezuela, Bolívia, Chile ou Equador. Ou do Flamengo. Muito menos da Ucrânia.

Estou sem paciência.

Quero falar de mim.

Do que penso, do que sinto. De quem é importante no meu mundo que, afinal de contas, é o que importa. 

Claro que estou inserido no mundo (impossível não estar), e muitas vezes, para falar de mim, vou falar de atualidades, do mundo, das pessoas, política, religião, esportes. Talvez até de mudança climática, mas não de ideologia de gênero nem de terra plana, porque são bobagens, mas não é hora de entrar em polêmicas.

Ainda.

Além de falar de mim, de emitir opiniões (não tenho e não almejo ter opiniões sobre tudo) pretendo (desejo) fazer ficção nesse espaço. Ou voltar a fazer. Crônicas do cotidiano. Gostaria de voltar a ver poesia no dia-a-dia. Transformar o tédio em melodia, com diria Cazuza.

Ideias, planos.

Escrita, artesanato.

Até.

domingo, novembro 24, 2019

A Sopa


(Ano 19, Número 02)

Confissão.

Assim que me formei em medicina, lá no século passado, após uns poucos dias de férias, iniciei a residência médica em Clínica Médica/Pneumologia. Naquela época, a residência (pós-graduação, especialização) começava logo após o ano novo, no dia 02 de janeiro. Assim foi, e logo no primeiro dia fui sorteado para estar de plantão naquele mesmo dia. Comecei a residência numa segunda-feira, já de plantão.

O primeiro momento de folga foi no final da semana, sábado à tarde, depois de ter visto os pacientes no hospital pela manhã. Cheguei em casa, almocei, parei um pouco e pensei:

“Terminei a primeira semana. Como é que não descobriram até agora que eu não sei nada, que sou uma fraude?”. 

Essa sensação, esse sentimento, tem um nome, um diagnóstico (mesmo que não oficial): Síndrome do Impostor. Naquela época, eu não sabia disso, e nem sabia que era bem comum. Por isso, nunca comentei com ninguém.

O tempo passou, essa sensação inicial arrefeceu, a confiança e tranquilidade aumentaram, mas – de tempos em tempos – retornava. Aquela sensação de que o local em que eu estava não era aquele em que eu deveria estar, de que estava “enganando”, de que em algum momento seria desmascarado. Era um sentimento passageiro, mas incomodava. Durante o período em que durava, era como se eu estivesse acuado num canto de um ringue de boxe, apenas na defensiva.

Só que não tinha ninguém mais no ringue!

Eu a chamava Síndrome da Luta de Boxe.

A Síndrome do Impostor, a ideia de que o seu sucesso decorre apenas de sorte, e não por causa do seu talento, de suas qualificações, foi primeiro descrita em 1978 pelos psicólogos Pauline Rose Clance e Suzanne Imes. Inicialmente pensou-se que afetava apenas mulheres, mas posteriormente viu-se que afeta igualmente homens e mulheres. Sabe-se hoje que essa síndrome ocorre com qualquer um que não é capaz de internalizar suas próprias conquistas. O que pode gerar estresse, ansiedade e depressão. Existe toda uma literatura abordando o assunto, especificando diferentes tipos (características) da Síndrome, e como lidar com ela, quando se é afetado por, ou quando ocorre em pessoas que estão sob seu treinamento e/ou supervisão. Admitir e existência e conversar sobre isso é um bom início.

Voltando ao meu caso...

Como disse, eu me sentia na defensiva contra um inimigo imaginário. Minhas inseguranças estavam me atacando. Eu era meu próprio inimigo.

Isso não me impediu, contudo, de seguir em frente, de avançar.

Mas isso é outra história, para outro dia.

Até.

quarta-feira, novembro 20, 2019

O mundo anda tão complicado


Dias difíceis, esses que vivemos.

Falo de um modo genérico, da cidade, do estado, do país e do mundo. E falo também das pessoas e suas relações, virtuais e reais, de redes sociais, da natureza e nossa relação com ela. Basicamente, uma crise de entendimento e empatia, ou falta de.

Política, no seu conceito amplo e genérico, de relações pessoais.

Diferentes assuntos, mas que – nem tão no fundo assim – tem o mesmo ponto central, que é a visão do mundo que temos.

O Brasil, por exemplo.

Sim, eu votei no Bolsonaro. Não, ele não era o meu preferido.

Votei porque não era mais possível ter a esquerda (e o PT, em especial) governando o país. O estrago feito foi gigantesco, e todos sofremos com isso. Os anos Lula e Dilma foi um período em que uma organização criminosa governou o país, se locupletou, financiou ditaduras periféricas, dividiu o país entre nós e eles, criou conflitos e uma grave crise econômica, até agora insolúveis.

Descobertos os seus crimes, o seu líder maior, o pior (no sentido de caráter) governante da história desse país, foi processado, condenado (em mais de uma instância), passou a cumprir pena com inexplicáveis regalias, onde ficou até o STF mudar o entendimento da lei para beneficiá-lo, mas com isso criando um precedente perigosíssimo. Sabemos que quem tem dinheiro para recorrer em muitas instâncias não será preso nunca, enquanto os outros, de poucas posses, vão para a cadeia. Nós brasileiros não somos todos iguais perante a lei...

Isso tudo em meio a um governo novo que tenta colocar o país no rumo novamente, principalmente em termos de economia, e tem de lidar com a maior oposição já vista no país: partidos de esquerda, o Centrão, a grande imprensa, e “aliados” que se elegeram pelo mesmo partido e com as mesmas bandeiras e – uma vez eleitos – viraram as costas e tratam de seus próprios e nem sempre republicanos interesses. 

Todos parecem não querer que o país melhore. Apostam no já batido “quanto pior, melhor”. Que, por sinal, é uma característica das esquerdas brasileiras que vem de longe (lembram, foram contra o Plano Real, não assinaram a Constituição de 1988, etc.). Eu, por outro lado, sempre quero que o país avance, independente do governo.  

E também tem a questão dos filhos do Presidente e sua relação com as redes sociais, que mais atrapalham do que ajudam. O grande problema do atual governo é – sem dúvida – a comunicação. Ao menos, enquanto uns falam, discutem e criam polêmicas, o governo trabalha e o país avança, vide reforma da previdência.

Uma grande confusão, tudo isso.

Não sabemos mais em quem confiar, a grande imprensa se tornou não confiável, por um viés político claro. A maioria não se posiciona politicamente, se diz isenta, mas - claramente - é oposição ao governo por questões de ideologia. E manipulam, mentem e distorcem os fatos. Generalizo, eu sei, nem todos são assim, como em tudo existem os bons e os maus, os honestos e os desonestos, mas boa parte da imprensa está contaminada por esse viés ideológico.

Fica difícil saber se devemos acreditar no que lemos e/ou ouvimos.

Está muito complicado mesmo.

Até.

domingo, novembro 17, 2019

A Sopa


(Ano 19, Número 01)


O Ponto.


Já escrevi sobre isso, em algum momento do passado.

Da busca ancestral, milenar, heroica até, daquele momento de perfeição num dos momentos mais sublimes da experiência humana: o churrasco. Milhares de anos se passaram, vidas foram perdidas, guerra travadas, muitas fogueiras foram acesas e brasas pereceram, tudo em busca desse, podemos dizer sem medo de errar, nirvana culinário. Do ápice da evolução humana.

O Ponto.

E escrevo assim, em letras maiúsculas, por sinal de respeito e reverência. Porque devemos nos curvar e homenagear aqueles que dedicaram suas vidas em busca d’O Ponto, aquele exato estágio em que a carne se faz canção, e o churrasco vira poesia. Em que nos deparamos com a beleza da criação em seu estado mais perfeito.

O problema é que as pessoas confundem tudo.

Chegam e saem dizendo “Prefiro carne mal passada”, ou “Só como bem passada”. Uma heresia, claro, mas elas não sabem o que dizem. Elas pensam que gostam desse ou daquele jeito quando na verdade querem a carne n’O Ponto. Pecam por não saber, o que talvez pudesse atenuar a culpa, mas isso ainda é questão de debate. Alguns consideram isso como imperdoável.

O que penso, como me posiciono, perante essa questão? 

Não é importante, no momento.

Importante, de verdade, é informar, trazer conhecimento para todos.

O Ponto é definitivo, não passível de discussão.

Mas, e sempre tem um mas na vida, existem nuances, mitos e filosofia envolvidos nessa discussão. 

O Ponto muda conforme mudam as pessoas, conforme muda o mundo. O Ponto é como o rio de Heráclito, que nunca cruzamos duas vezes, pois já não é o mesmo rio e não somos os mesmos de antes.

Fazer churrasco não é um ato banal, comum. É um ritual, em que o churrasqueiro se coloca na posição de sacerdote. Enquanto faz o churrasco, ele entra em conexão, em sintonia, com o Universo. Naquele momento, ele é como um Mestre Jedi, e essa conexão é a Força. Quanto mais conectado com o Universo, com a Força, melhor é o churrasco e mais perfeito é O Ponto. O Ponto é a Força.

Chega um momento em que o Mestre pode fazer churrasco de olhos fechados, deixando apenas a energia do Universo fluir através dele. Ele como um meio de ligação com o infinito.

Churrasco é coisa séria.

Até.

quarta-feira, novembro 13, 2019

Uma Sopa, uma Volta



Depois de um longo inverno, cá estou eu.

Inverno, nesse caso, e de certo modo, existencial, quero dizer.

Falo de estar aqui com frequência, escrevendo, que é o estágio final de reflexões, de pensamentos que pretendem me levar a algum lugar, sabendo onde tudo começa e sem ter a menor ideia onde vai parar. Como quando reformamos a nossa casa (no sentido literal).

Quando começamos, até podemos ter um plano, uma ideia do que queremos e de como queremos, mas nunca sabemos onde (e nem por quanto) vai terminar. É dinâmico, fluido (e muitas vezes caro).

O mundo, a vida, tudo mudou muito desde quando escrevia aqui com regularidade. Até porque faz muito tempo. De quando estava no Exílio que não era exílio, de quando a Sopa ainda era anual e fazia sentido (não sei se faz hoje em dia, se não deve permanecer no passado, como uma lembrança boa de um tempo diferente). 

Eu mudei, óbvio.

Fui e voltei.

O que quero dizer é que prioridades diferentes se sobrepuseram à atividade de escrever como resultado final de reflexões à cerca da vida, do mundo em geral, e da minha em particular. O foco foi outro, o que é lícito e justo. Sem ressentimentos.

Corri atrás de objetivos, entrei numa engrenagem de trabalho que – sim – consumia, exigia parte substancial do meu tempo e energia, mas que dava satisfação pessoal e reconhecimento.

Por circunstâncias planejadas e outras alheias à minha vontade, fiz um caminho – de certa maneira – de volta a um lugar de onde nunca planejara sair. Visto de outra forma, reencontrei (estou reencontrando, na verdade) o caminho, o rumo. Para onde?

Este é outro papo, para uma outra Sopa.

Até. 

terça-feira, março 05, 2019

quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Quase Carnaval

Vivo dias sabáticos.

Após as mudanças em minha vida profissional do último ano, parte delas voluntárias e outra parte involuntária, me dei alguns dias para não pensar. Estou vivendo alguns dias sabáticos, como falei. Claro que não totalmente, afinal as atividades outras (remuneradas, como o consultório, e não, como o serviço de pneumologia da PUCRS) continuam a todo vapor, levando-se em conta que é final de fevereiro no Rio Grande do Sul, o que não é um 'a todo vapor' de abril ou de junho.

Quero dizer que ainda não pensei/planejei como será a partir de agora, em que me tornei profissional liberal, sem nenhum vínculo empregatício. O que farei, além de continuar no consultório, agora sem os muitos cancelamentos dos últimos anos decorrentes de viagens a trabalho. Como será, enfim?

Não sei. De verdade.

(Ainda) Não me preocupo.

Passando o carnaval, aí sim, o plano é avaliar/planejar/pensar/criar novos rumos e possibilidades.

Agora não, agora vou não pensar.

Alalaô.

Até.

domingo, fevereiro 24, 2019

Dormir

Sobre o dormir.

Há muitos anos (muitos, sim, na escala em que medimos a vida olhando os dias que passam em meio às atividades comezinhas - no sentido de caseiras, domésticas - que é o comum e normal, mas não muitos anos de olharmos em perspectiva, na escala de tempo do universo) acordo cedo. Desde os anos em que nos verões do litoral norte do Rio Grande do Sul eu acordava para caminhar na praia logo cedo, antes de ir jogar vôlei de praia para, só depois, encontrar os amigos no final da manhã.

Segui assim, dormindo tarde (nem sempre) e acordando cedo, independente da hora que dormisse, independente do que o dia seguinte fosse exigir de mim. Quando estava com um débito de sono muito grande, compensava com um descanso à tarde, quando possível, claro.

Ao longo do tempo descobri, ainda, que sete horas de sono era o ideal - para mim, caro - para uma ótima noite de sono. Se dormisse mais, melhor, mas esse era o alvo. Sete horas. Acordava recuperado, descansado. Como o horário de acordar era sempre o mesmo, a melhor forma de fazer isso era indo dormir para que conseguisse esse objetivo.

O que quase nunca era possível.

Principalmente nos últimos quase dois anos e meio, de viagens semanais, ou quase, a trabalho. A maioria dos eventos era à noite, aula e jantar após antes de voltar para o hotel. E o dia seguinte era de retorno para Porto Alegre, o mais cedo possível para poder trabalhar ainda. Ou acordava muito cedo par ir ao aeroporto, ou - como fiz algumas vezes - saía do evento para o aeroporto (ou rodoviária) para viajar durante a noite e estar em casa/consultório no dia seguinte logo cedo. Funcionava bem.

Mas o sono certamente ficava prejudicado.

Nem sempre, por exemplo, conseguia chegar de volta ao hotel de um evento e dormir direto. Adrenalina, pensamentos diversos, planos (e preocupações/"encucações") impediam de dormir logo. Virava uma potencial bola de neve de pouco sono e cansaço progressivo.

Claro, havia outros fatores que contribuíam para o deficit de sono (ou qualidade ruim do mesmo), como uso do celular e o tablet antes de dormir, que pioram tudo. Muitas vezes, como em viagens de avião noturnas, fiz uso de medicações indutoras do sono. Funcionava bem, confesso.

E a questão do sono não tinha necessariamente a ver com o trabalho, confesso.

Em férias, a rotina continuava igual.

E a certeza disso se dava pelo monitoramento do sono fornecido pelo relógio, que mostra as horas de sono dormidas, a qualidade do mesmo, frequências cardíaca, etc. O meu déficit de sono, se não era gigante, era maior bem que eu gostaria.

Pois isso mudou.

Desde as férias últimas, agora no início de fevereiro, e descontando a noite noite no avião na volta de Orlando, tenho dormido muito melhor, em termos de horas dormidas e qualidade do sono. Não tenho uma explicação clara e lógica para isso, mas é muito bom.

As mudanças profissionais, com toda a carga de - podemos dizer - incerteza sobre como serão as coisas ao longo desse ano, não tiveram nenhum efeito sobre a qualidade do sono. Pelo contrário, talvez. Quase posso dizer que tenho dormido ainda melhor a última semana.

Sei lá.

Até.

terça-feira, fevereiro 19, 2019

Novo Ano Novo

Dois mil e dezenove.

Sempre me foi simpática a simbologia do novo ano que inicia como momento de renovação e de dar início a novos projetos e ideias. Sempre objetivo ser um novo eu. Aperfeiçoado, melhorado. Nada mais natural, óbvio.

Além disso, o verão - começo de ano no hemisfério sul - é época mais tranquila em termos de trabalho, que reduzo também para dar conta de compromissos familiares. Torna-se o verão - portanto - um tipo de "pré-temporada" preparatória para o ano de trabalho que se desenha à frente. Sem falar nas curtas férias de verão, dez dias, para curtir a família 100% do tempo.

Esse ano foi um pouco diferente.

Fizemos férias em grupo, três famílias cuja ligação inicial foram as filhas, melhores amigas da escola. Foram dez dias de muitas caminhadas, muitos parques, muita diversão. Valeu muito à pena, principalmente pelos laços reforçados e as relações consolidadas.

A volta foi lenta, um início gradual de retorno às atividades que culminou no final da semana passada por um fechamento de ciclo: em virtude de uma restruturação, comum no mundo corporativo, encerrei/foi encerrado o meu vínculo com a empresa multinacional do ramo farmacêutico para qual eu desempenhava a função de Internal Expert, especialista contratado para apoio a atividades científicas e promocionais do laboratório.

Foram dois anos e meio muito produtivos, em termos de crescimento profissional, atualização científica, exposição perante aos pares, convívio com colegas de fora do país, e - acima de tudo - criação e fortalecimento de relações muito legais com colegas com quem tive a chance de conviver. Saí - tenho convicção - deixando pontes e amigos.

Bola para frente, então.

Confesso que já vislumbrava no horizonte essa possibilidade, esse caminho. Imaginava, ainda antes da virada do ano, que era bem possível que dois mil e dezenove terminasse comigo não mais nessa função que exercia. O plano era me preparar para isso. Veio um pouco antes do esperado, mas "vida é o que acontece enquanto fazemos planos", não?

Por isso, também, não foi um choque o que ocorreu.

Lamentei (e lamento) a perda da convivência frequente com pessoas que aprendi a admirar e que viraram bons amigos, mas sei que vez que outra vamos nos encontrar por congressos e eventos e que vai ser legal. Que as relações pessoais não se encerram com o final de um contrato de trabalho.

Por outro lado, confesso - também - uma certa sensação de liberdade, que é muito interessante.

E muitos caminhos em frente, muitas possibilidades.

O ano novo promete.

Até.