sexta-feira, julho 26, 2024

Dois Anos

Passou o tempo.


Hoje, vinte e seis de julho de dois mil e vinte a quatro, completa-se o segundo aniversário de morte do meu pai. Era terça-feira, estávamos saindo de um velório quando recebemos a ligação do hospital comunicando o desfecho já esperado há alguns dias. Era agora oficial o que já sabíamos que iria acontecer a qualquer momento.

 

Ficou internado por treze dias antes de morrer, e seu último momento de lucidez foi quando o comuniquei que havia melhorado e que estava em condições de sair da UTI – onde estivera até entubado uns dias antes - e ir para um quarto de enfermaria, e me disse que “era hora de levantar acampamento”. Foi premonitório?

 

‘Levantar acampamento’ poderia simplesmente significar sair de UTI e ir para o quarto, para seguir o tratamento, mas também ser uma despedida, dizendo que estava finalmente na hora de descansar, de parar de sofrer, de não ter mais limitações e nem dores, não depender de ajuda para as menores atividades. De não ser mais independente e dono de si como fora em toda sua vida, e que – por mais que tenha aceitado externamente as limitações - nunca mais havia sido o mesmo. 

 

‘É fácil comandar homens livres, basta mostrar o caminho do dever’ era um de seus mantras, repetido incontáveis vezes ao longo de sua vida, mas sabemos que, nos últimos anos, ele era tudo, menos livre. As limitações que dificultaram sua mobilidade, a audição que foi diminuindo e que se recusava a usar aparelho para auxiliá-lo, foram tornando-o progressivamente dependente. Aquele pai que sempre fora a (minha) referência já não estava lá, infelizmente. 

 

É da vida, eu sabia, nós sabíamos.

 

A vida continuou, como sempre continua e continuará, independente de nossas situações, por maiores e mais graves que sejam. Aprendemos a viver sem sua figura protetora por perto, sem a quem recorrer quando precisasse, quando tivesse dúvidas sobre as coisas. Ainda bem que ele e minha mãe me prepararam para a vida, sempre digo.

 

Quarta-feira que passou foi o momento de uma nova despedida. Foi quando decidimos que era hora de espalhar as cinzas dele como forma de homenagem. Escolhemos um momento em que estávamos juntos, a Mãe, meu irmão e eu (além das netas Olivia e Marina e da Jacque) e um lugar que era importante para ele. Foi no rio, no Veleiros do Sul, clube que frequentou por quarenta anos. Era final de tarde, o sol se pondo num céu azul e temperatura agradável. 

 

Ele teria gostado.


Até. 

quinta-feira, julho 25, 2024

O Silêncio

O ano era 2018, fevereiro.

 

Estávamos em viagem em Portugal e visitávamos Évora, no Alentejo, quase no final da viagem, de onde iríamos para o Algarve antes de voltar ao Brasil. É lá que fica a Cartuxa, vinícola da Fundação Eugênio Almeida, famosa pelos vinhos ‘Cartuxa’ e ‘Pera Manca’. 

 

A visita ocorria em uma manhã de um dia de meio de semana, e havia poucos visitantes além de nós, Marina, Jacque, Pedro, Maria José e eu, os viajantes. Caminhávamos pela propriedade, e o silêncio da manhã dominava tudo. A Marina, com nove anos de idade, estava fazendo alguns vídeos da viagem no celular da Jacque. Gravando lá, ela falou que tínhamos que observar o som mais bonito de todos (ou algo assim), ‘o som do silêncio”.

 

The Sounds of Silence.

 

Lembrei direto da música da dupla Simon and Garfunkel, cujo registro ao vivo do show no Central Park, em Nova York, é belíssimo, e que ela não conhecia então. Foi um momento de sintonia com o Universo...

 

O silêncio.

 

Em um mundo de ruídos constantes, cada vez mais valorizo o silêncio, o ficar quieto. Mesmo que meus dias tenham se tornado muito mais musicais, por motivos óbvios, mas talvez também por isso, é que em silêncio que tenho ficado em alguns momentos do meu dia.

 

Talvez por paz, ou talvez para ouvir meus próprios pensamentos.

 

Até. 

quarta-feira, julho 24, 2024

Mais sobre o tempo e o escrever

Sobre o tempo.


O tempo, ou sua passagem, certamente é o tema de maior recorrência entre meus escritos. Pensar a vida, refletir sobre o que aconteceu e acontece é, também, um de meus passatempos prediletos. Assim como é terapêutico para mim.

 

Seguindo a linha terapêutica do falar para lidar com esse tipo de questão, ou com todo tipo de questão, é falando que lido com minhas ansiedades e encucações. Escrever é uma outra forma de falar, de expressar o que sinto e penso, de organizar as ideias até para conseguir entendê-las. 

 

Falando / escrevendo é que aprofundo a minha compreensão das coisas, do mundo e do tempo, e o passado é está entre elas. Esse processo é o caminho para eu digerir e ficar em paz com o que passou.

 

Um dia após o outro.

 

Até. 

terça-feira, julho 23, 2024

Uma terça-feira

O sol brilha, ainda tímido, ‘vencendo’ a neblina de mais cedo, em uma mudança com relação aos últimos dois meses, quando os dias cinzentos, as chuvas e a umidade predominaram aqui no Sul do Mundo. O ânimo muda, ficamos mais leves para continuar a reconstrução do que foi impactado pela inundação.

 

Boa parte das escolas está de férias de meio de ano, e muitas famílias tiram esse período para descansar junto, algumas viajam. As meninas, em casa, estão de recesso essa semana, descansando. Por ser apenas essa semana, a Marina nem chama de férias, por isso chamei de recesso.

 

Sigo trabalhando, afinal a época é quando a demanda por pneumologistas aumenta muito, ainda mais esse ano, em que tosses, secreções, resfriados e até pneumonias têm sido mais frequentes. Ainda assim, mesmo com muito trabalho no consultório/hospital, sinto um clima diferente, como se estivesse em férias enquanto trabalho (mais que do que normal), o que é estranho.

 

E não só como médico.

 

Os projetos paralelos seguem, alguns em planejamento e outros quase saindo do papel, em início de execução. Alguns são modestos, pé no chão, como se diz. Outros, porém, são gigantes. 

 

Seguimos.


Até.   

segunda-feira, julho 22, 2024

Limites

Assim como a rotina, os limites são importantes na vida.

 

Existe a natural tendência de aceitarmos, ou tolerarmos, situações que não são as melhores para nós em troca de aceitação a determinados grupos sociais. Isso tanto em termos pessoais como profissionais. 

 

Quando estamos nos primeiros passos em nossa profissão, e falo de medicina porque é a minha, somos “coagidos” a aceitar situações, e podem ser trabalhos, tarefas ou ambientes que não são os mais saudáveis do ponto de vista emocional. Era natural, no tempo em que comecei como médico, há quase trinta anos, trabalharmos em locais que estavam longe do ideal, em condições longe das ideais, muitas vezes quase imprudentemente. Além de mal remunerados. Era parte do crescimento, diziam, ou o “pedágio” a pagar para conseguirmos nos colocar – com o tempo – em lugares considerados melhores.

 

Não sei como é hoje.

 

O princípio era abraçar o que fosse possível e depois ir selecionando aquilo que fosse melhor, que tivesse mais a ver com o nosso “plano maior”. Foi o que fiz.

 

Mesmo agora, anos e anos depois, ainda é importante manter-me atento às tentativas de me empurrarem para situações às quais não gostaria de estar envolvido. De novo, tanto em termos de trabalho quanto pessoais. Por isso a importância do dizer ‘não’, de impor limites. É o que tenho tentado fazer.

 

Cada vez mais, digo não às roubadas em que querem me envolver, e me afasto de pessoas negativas, ou tóxicas, como dizem.

 

Dizer 'não' é libertador.

 

E uma luta diária.


Até.

domingo, julho 21, 2024

A Sopa

Continua a polêmica em casa.

 

Sobre o jejum.

 

Como escrevi por aqui há alguns dias, desde que decidi me abster de comer entre as refeições e comuniquei isso para a Jacque dizendo que eu estava fazendo jejum intermitente, o assunto virou motivo de discussão entre nós. E ambos temos razão, apesar de ela não admitir.

 

Não só isso, na última sexta-feira ela pediu reforço. Em um almoço em que estavam na mesma mesa que nós uma nutricionista, uma fisioterapeuta, uma enfermeira e um cirurgião (que não se envolveu no assunto), ela expôs e eu expliquei o que eu estava fazendo. Ficaram “do lado da Jacque”, mesmo eu sabendo que ela tem razão no que pensa, mas que eu também estou certo (!).

 

É simples.

 

Semanticamente falando, jejum é o ato de ficar sem comer. Ponto. Simples. E intermitente quer dizer não contínuo, intervalado, descontínuo. Logo, se eu fico sem comer entre o café da manhã e o almoço, tecnicamente (linguisticamente, poderia dizer?) eu estou fazendo jejum. E, como esse jejum não é contínuo, ocorrendo apenas entre a refeições, ele é – sim – intermitente. Então, tecnicamente eu faço jejum intermitente, certo?

 

É evidente que eu sei que o que faço não é a dieta (que é quase um estilo de vida) do jejum intermitente, que tem inúmeras variações e vertentes, com formas diversas de fazer, desde a dieta do 1:1 (um dia normal e um de jejum, comendo até 500 calorias), ou a 5:2 (come normal cinco dias e faz dois dias de restrição), ou a que faz apenas duas refeições diárias, etc. Não é isso que faço, e nem pretendo fazer. 

 

Controlar o peso, meu objetivo, incluindo aí perder alguns quilos, requer (para mim, para mim), um aumento significativo do gasto energético e uma redução na ingesta calórica. Comecei pela segunda parte, evitando comer bobagens nos intervalos das refeições, e em um segundo momento vou aumentar a frequência e intensidade da atividade física.

 

Simples assim, sem polêmica.

 

Até. 

sexta-feira, julho 19, 2024

Amanhã

Dia do Amigo.

Sou do tempo em que o dia vinte de julho era o Dia do Amigo. Agora, ao que parece, existem outras datas que as pessoas consideram o tal dia, principalmente em redes sociais. Não reconheço essas outras datas, mas respeito o dia vinte de julho.

Porque respeito meus amigos.

(até tem uma crônica sobre isso no meu livro ‘A Sopa no Exílio’... já comprou, já leu?)

 

Cada dia mais respeito e valorizo os amigos, os de fé, os que estão juntos na boa e na ruim. São poucos, e sabem quem são, como já escrevi. Um dia disse que minha cota de amigos (e de afetos) estava esgotada, e que - para que entrassem novos – alguns já existentes deveriam morrer, para liberar espaço...

 

Além de brincadeira, não poderia estar mais longe da verdade.

 

Há sempre espaço para mais...


Eu quero apenas olhar os campos

Eu quero apenas cantar meu canto

Eu só não quero cantar sozinho

Eu quero um coro de passarinhos

Quero levar o meu canto amigo

A qualquer amigo que precisar


...Eu quero ter um milhão de amigos

E bem mais forte poder cantar.


É isso.

 

Até.

quinta-feira, julho 18, 2024

Salvar o Mundo

Não posso salvar o mundo, eu sei.

 

O que posso e quero fazer, porém, é fazer a minha parte para melhorar o mundo, a vida, ao meu redor. O que considero um objetivo bem razoável. Um dia após o outro, com um pequeno gesto que se segue por outro pequeno gesto e assim por diante.

 

Durante a enchente de maio, houve um momento em que muitos de nós fomos tomados por um sentimento de impotência, de incapacidade, da ausência de “braços” suficientes para ajudar todos que gostaríamos da forma que gostaríamos. Foram momentos de angústia até que percebi (percebemos) que tinha (tínhamos) que fazer o que conseguisse (conseguíssemos) da melhor forma possível. Se todos fizessem um pouco, o todo seria significativo.

 

Da mesma forma acontece no dia a dia, e penso aqui na minha situação particular de médico, de pneumologista no inverno, nesse inverno gaúcho de poucos dias de sol até aqui, frio e umidade excessiva depois do período de inundações. Muitos doentes, muita tosse, muitas justas demandas. De novo, parece que vai faltar braço para ajudar todos que precisam e que buscam ajuda. Tenho (temos) me (nos) desdobrado para atender todos que precisam, dentro da limitação que existe em termos de horários e recursos humanos (no caso, eu...).

 

Seguimos, impávidos.

 

Até.

quarta-feira, julho 17, 2024

Falhei?

 Ontem não publiquei nenhum texto, justamente dois dias depois de ter anunciado em redes sociais que agora estava publicando diariamente. Péssimo timing...

Aconteceu, é da vida.

 

O consultório com suas demandas quadruplicadas pelo inverno úmido e chuvoso e de tosses e secreções, e “bronquites e sinusites”, e pacientes que involuntariamente atrasam e vira uma bola de neve que se estende para o meio da tarde no laboratório de função pulmonar e depois para a carona da Marina para casa e daí ao ensaio das terças-feiras e voltar para casa e a família e quando vi já estava acordando para a quarta-feira e o texto não tinha saído. Paciência.

 

Não é para ser um fardo difícil de carregar, mas também é um trabalho de disciplina, mas, também, artesanato. Como andar de bicicleta (que, como disse, ainda não retornei porque vou fazer uma avaliação médica antes), não dá para parar de pedalar para não perder o equilíbrio. Estou estabelecendo uma rotina de escrita novamente, e esses pequenos “deslizes” (ou desorganizações) ainda podem acabar ocorrendo. É parte do processo.

 

E, também, um motivo para uma pequena crônica no dia seguinte.


Até.

segunda-feira, julho 15, 2024

Será o Inverno?

Não deu.

 

Definitivamente, não tenho conseguido acordar mais cedo para ir fazer atividade física, como vinha fazendo há algum tempo, mas acho que não deve ser devido ao inverno ou aos dias úmidos e chuvosos dos últimos meses. Talvez o prazo de validade dessa rotina tenha chegado ao fim. Como aconteceu na época em que eu ia nadar ainda antes das seis horas da manhã, rotina que durou cerca de um ano, até que não consegui mais.

 

Pode ser isso, mas pode ser que seja a rotina intensa agora, em que as noites têm sido também de trabalho (divertido, diga-se de passagem), principalmente às segundas-feiras e as terças-feiras. Mas não só isso, existem os churrascos, as confrarias. Vida social...

 

O problema é que a quebra da rotina e a fácil adaptação ao não fazer aumentam muito o risco de simplesmente não mais fazer a atividade física. Criar uma nova rotina de exercícios, de idas à academia, encaixar isso tudo num já corrida semana torna-se desafiador. O risco de não conseguir é grande.

 

Eu estou – apenas agora – conseguindo de novo.

 

Desde a viagem no final de abril, que foi seguida das enchentes e inundações, quebrou a (naquele momento) frágil rotina. Acabava indo uma vez por semana, e me sentindo culpado por isso. Depois, duas vezes, até que nas últimas três semanas consegui me organizar para frequentar a academia ao menos três vezes por semana, o mínimo aceitável. Utilizando o sábado de manhã para isso e torcendo por um domingo de sol que não tem vindo para que seja a quarta vez da semana.

 

Ainda sem bicicleta, porque antes quero passar por uma avaliação médica, o que não fiz até agora porque - vejam só – não consegui encaixar na minha agenda da semana...

 

Decepção...

 

Até.

 

domingo, julho 14, 2024

A Sopa

Utopia.


“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” – Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano in ‘Las palabras andantes?’ de Eduardo Galeano. publicado por Siglo XXI, 1994.

 

Ouvi essa citação algumas vezes nos últimos dias, por pessoas diferentes ou pela mesma pessoa, não sei bem, mas ela é certeira. É mais uma versão do significado do sentido da vida. O destino não é e nem nunca foi o mais importante. O que vale é o caminho, e com quem andamos, claro. E as histórias vividas e depois contadas, e fecho o círculo na minha versão de sentido da vida, as histórias para contar.

 

Tenho pensado muito na vida nos últimos tempos, em seus variados e diferentes aspectos. Desde o “quem sou e para onde vou” até o “qual o sentido disso tudo, afinal”. E essas reflexões reafirmam – para mim, para mim – aquilo que está no início desse texto: que o que importa é, além do caminho que percorremos, com quem estamos caminhando.

 

As pessoas que fazem parte de nossa vida.

 

E não falo unicamente naquelas que convivem conosco no dia a dia, que fazem parte da nossa rotina de todos os dias, aquelas a quem somos de certa forma obrigados pelas circunstâncias a lidar, para o bem o para o mal. Existem algumas que, por tóxicas, não gostaríamos, mas não temos como evitar esse convívio, então vamos aprendendo a lidar com elas e evitar que drenem nossa energia, nosso bom astral.

 

Mas falava de utopia, palavra de origem grega que significa ‘lugar que não existe’, mas também sistema ou plano que parece irrealizável, fantasia, devaneio, ilusão, sonho. Acho fundamental a vida que se vive com sonhos e devaneios, mas também aquela com objetivos e planos concretos, com etapas a serem vencidas e caminhos a serem percorridos. É um balanço entre essas duas existências o que torna, no final das contas, a nossa vida completa.

 

E seguir andando, sempre.

Até. 

sábado, julho 13, 2024

sexta-feira, julho 12, 2024

Dress Code

Pois é.


É possível que tenha acontecido durante a pandemia, apesar de eu achar que sempre tenha sido assim, mesmo quando trabalhei no mundo corporativo, ou quando participava ativamente de eventos da pneumologia, como congressos: eu tenho meu jeito de me vestir, que é uma mistura entre o confortável, aquilo que gosto e o informal. Poderia chamar de meu estilo, meu jeito, o que nunca imaginei que fosse um estilo de verdade. Mas já disseram que é, e sei lá, tudo bem. 

 

Penso que o jeito de vestir é também uma forma de expressar quem sou, e você pode dizer ‘meio largado, ou esculhambado’, mas eu diria informal mesmo. Pois é justamente assim que sou, ou ao menos me  considero.  

 

Não importa, na verdade, o que pensam, apesar de eu já ter me preocupado muito com o que os outros pensavam de mim. Aprendi, com o tempo, que o quê outros pensam de nós fala mais sobre eles mesmos do que sobre quem somos.

 

Pensei isso porque tenho que ir à uma festa de aniversário hoje e não tenho a menor ideia de como devo ir vestido.

 

Por outro lado, confesso que – sim – tenho atualmente uma grande curiosidade, que é quase científica, a respeito do que as pessoas pensam de mim. 


Porque, sinceramente, não sei. 

Até. 

quinta-feira, julho 11, 2024

Correios e Telégrafos

Sou um saudosista.


Mas nem sempre, confesso.


Sei que não é o caso de alguém me dizer que sou eu ‘que ama o passado e não vê que o novo sempre vem’, mas já disse inúmeras vezes que respeito o que passou e quem esteve comigo na jornada. Respeito o passado, mas olho em frente.

 

Algumas vezes, porém, como dizia, tenho esses lampejos de saudosismo, em que sou atingido por lembranças muitas vezes prosaicas e não sentimentais, de tempos mais ou menos remotos. E acabo por me admirar como tudo mudou, o mundo, e como mudei. Exercício interessante, esse, como sempre digo, para mim, para mim.

 

Ao chegar em casa em um dos dias dessa semana, parei por um instante e abri a caixa de correio, depois de algum tempo em que não fazia isso. Estava vazia, e acabei por sentir uma certa melancolia, uma certa tristeza. E lembrei do tempo em que me comunicava com alguns amigos por carta, que vinham sem regularidade, apenas apareciam de tempos em tempos na correspondência deixada pelo carteiro. Cartões postais, depois as inevitáveis contas da vida adulto. Mesmo quando era contas a pagar, sempre havia uma surpresa na hora de abrir a caixa do correio.

 

Não tem mais, em tempos de contas online, e-mails e aplicativos de mensagens.

 

Um mundo com menos poesia esse que vivemos, da ausência de cartas... 

Até. 

quarta-feira, julho 10, 2024

Intermitências

Estou fazendo jejum intermitente.

 

Quando falei isso em casa, fui repreendido veementemente pela Jacque, que afirmou que o que estou fazendo NÃO é jejum intermitente. Tivemos um debate intenso sobre o assunto, ela com toda a razão e eu como toda a razão, da mesma forma. Como assim?

 

Sim, eu sei que o que estou fazendo não é o que as pessoas pensam quando se fala em jejum intermitente, e nem o que é recomendado por especialistas.  Por outro lado, semanticamente falando, o que estou fazendo é, sim, jejum intermitente. Além disso, o jejum é meu e eu chamo do que eu quiser.

 

Funciona assim: eu faço as refeições, como o café da manhã, por exemplo, e fico em jejum até a próxima refeição, como o almoço. Simples assim. Não como nada entre uma refeição e a outra, ao contrário de outros momentos em que eu comia entre as refeições, usualmente alimentos não nutricionalmente os mais adequados. Então, o que estou fazendo não é exatamente, mas é, sim, um tipo de jejum intermitente. Pois faço um tipo de jejum intermitentemente.

 

Se vai dar resultados?

 

Não sei.

 

Veremos.


Até. 

terça-feira, julho 09, 2024

Egoista, eu

Quando, em plena pandemia, lá por 2020 ou 21, idealizei um projeto de podcast, o meu objetivo inicial era o de conhecer pessoas, ouvir suas histórias e encontrar os pontos que nos conectavam. Talvez fosse pelo distanciamento social, mas sentia uma “urgência” de ouvi-las, de conhecer as histórias de cada um. O conceito inicial era o de que todo mundo tem uma história de vida que merece ser contada, merece ser ouvida.

 

Ao longo do tempo, desde daquilo que foi o embrião do programa que fazemos agora, o ‘Qual é o Tom’, a ideia ganhou contornos e proporções que eu sinceramente não esperava. Mas digo que – no fundo – é um projeto egoísta meu: eu quero e gosto e me divirto conhecendo pessoas, criando e cultivando relações e conexões, novas histórias.

 

O que é MUITO legal.

 

E você, já conhece o Qual é o Tom?.

 

Até.

 

segunda-feira, julho 08, 2024

Mais Uma

Segunda-feira.

 

Enquanto faço o trajeto de cerca de vinte e poucos minutos entre minha casa e o consultório, ouço música. Por um longo período, utilizava esse tempo para me atualizar das notícias e ouvir comentários no rádio, mas de um tempo para cá voltei ocupar o silêncio de dentro do carro, em meio ao trânsito barulhento, com música. Muitas vezes como estudo, ouvindo aquelas que farão parte da próxima temporada da School of Rock, mas em outras apenas ouvindo músicas que me agradam, ou que tem história comigo. Podem ser as mesmas, estudo e memória, mas nem sempre o são.

 

Vinha eu hoje cedo ouvindo outra vez músicas transportadoras (das quais falei semana passada) de uma playlist de nome sugestivo ‘Memória’, e que criei há alguns anos, quando comecei a utilizar o Spotify, e que foi um resgate praticamente em ordem cronológica das músicas que tinham (tem) significado para mim, por serem depositárias da memória de quem fui, do que vivi. 

 

Algumas delas, juntas, inclusive contam uma história completa, com início, meio e fim, nesse caso de 1988, como uma sequência de músicas do Cazuza que termina com ‘O Nosso Amor a Gente Inventa’, cuja mensagem ou, melhor, história – para mim, para mim – fala de um erro ao tentar retomar uma relação que não era para ser.

 

O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

 

Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

 

O nosso amor a gente inventa

Pra se distrair

E quando acaba a gente pensa

Que ele nunca existiu

 

Acho essa uma das mais lindas músicas do Cazuza, que compôs muitas das músicas que fizeram / fazem parte da trilha sonora da minha vida.

 

Até.

domingo, julho 07, 2024

A Sopa

Penso na semana de quatro dias úteis.

 

Sou, por conceito, favorável a trabalho de segunda à quinta-feira e um final de semana composto por três dias. Ia ser legal. Como profissional liberal, poderia estabelecer que a minha semana de trabalho encerrasse na quinta-feira no final da tarde, mas ainda não é o momento, se é que um dia vai acontecer. Como empreendedor, que agora sou também, certamente não seria o mais prudente também. E então penso em como a (minha) semana de trabalho mudou ao longo do tempo, desde que me formei e depois terminei a residência médica.

 

O começo da carreira médica de fato, após completar minha formação como pneumologista, foi com plantões, aos finais de semana e noites. Sofria internamente por estar de plantão num sábado de sol (o melhor momento da semana) enquanto amigos e familiares estavam de folga. Não gostava de dormir fora de casa, apesar de – quando no plantão – gostar e me divertir no trabalho. Durante um tempo, a rotina de plantão à noite e trabalho na manhã seguinte foi frequente. E ou estava de plantão ou viajava para trabalhar, isso quando não viajava para fazer plantões.

 

Quando morei no Canadá, a vida e a rotina de trabalho eram bem diferentes. Eu chegava no hospital por volta de 8h30 e era o primeiro a chegar. À tarde, por volta das 17h encerrava o dia, e não havia plantões e nem finais de semana de trabalho. Era bom.

 

Quando voltei a morar no Brasil, o recomeço foi com a decisão de não mais fazer plantões, mesmo que isso implicasse em rendimentos menores no início. Mas não significou menos deslocamentos a trabalho, além do trabalho em múltiplos locais e até cidades.  Por quase dez anos viajei semanalmente para dar aulas em uma Universidade a 150km de casa. Ia e voltava no mesmo dia, em tempo ainda de buscar a Marina na escolinha. Eram muitas horas semanais em trânsito, em Porto Alegre e fora da cidade. 

 

Houve um momento em que minha semana era – de certa forma – escalar uma montanha entre segunda-feira e quarta. Intensa e cansativa até a quarta-feira à noite, quando começava e reduzir a intensidade lentamente até chegar no final de semana. Quando trabalhei numa multinacional da indústria farmacêutica, o sábado de manhã (o melhor momento da semana) iniciava bem cedo mesmo, porque era um período que utilizava para estudar e preparar materiais. 

 

Esse período, aliás, foi agitado porque havia as viagens semanais para dar aulas, normalmente às quintas-feiras voltando no primeiro horário da sexta-feira para ainda trabalhar. Eu gostava muito, mas, olhando em retrospectiva, era meio insano. Tanto é que nos meus últimos dias como funcionário eu estava estressado, sedentário e obeso. Como eu disse, foi bom, mas estava cobrando um preço alta em minha saúde.

 

Quando encerrou (meses antes do que eu havia planejado) meu vínculo com a indústria, e entrei em um período de quarentena informal na minha relação com ela, que emendou com a pandemia e que – de certa forma - dura até hoje, decidi fazer um “ano sabático”, dedicando apenas ao meu consultório. Como já contei aqui antes, esse período encerrou alguns poucos dias antes de estourar a pandemia, o que “prolongou” esse período...

 

Durante a pandemia, acabei sendo contratado como professor em um Universidade na região metropolitana de Porto Alegre, onde eu ia às segundas e sextas-feiras à tarde, sem flexibilidade nenhuma de troca de horário, o que engessava minha semana. Permaneci dois anos, até que decidi que era hora de voltar a ser unicamente profissional liberal, que é o que sou hoje, com os bônus e ônus que isso me traz.

 

Desde o ano passado, também sou empreendedor, o que “exige” de mim mais tempo e dedicação e horários alternativos. Mas aí é bem diferente.

 

Sou eu, agora, quem define o que faço do meu tempo.


Até. 

sábado, julho 06, 2024

Sábado (e eu, escritor)

Autografando...
 

Mais uma sessão de lançamento do meu primeiro livro, 'A Sopa no Exílio'.
Está à venda também na AMHSL, além de no site da Editora Bestiário.
Já comprou o teu exemplar?

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, julho 05, 2024

Uma Amostra do Todo

Somos – já escrevi – a soma dos papeis que representamos nos diferentes ambientes em que convivemos. E, na maioria das vezes, as pessoas que não são as mais próximas de nós conhecem apenas uma pequena parte do todo, um instantâneo de quem somos. E nada mais natural do que isso. 

O interessante é quando, por qualquer razão, ocorre uma ruptura nesse quadro, um rompimento desta separação, ou compartimentalização da vida, e pessoas de um ecossistema em que convives acabam conhecendo uma outra parte de ti, que está em “outra caixa”, acabam se surpreendendo. Não por menosprezo, mas porque nunca imaginaram que poderias ser mais do que aquele papel que representas naquele ambiente.

 

Por mais que não seja de nenhuma forma inédito, as pessoas têm se surpreendido ao saber que – além de médico – sou também escritor, agora finalmente publicado. É surpresa – como eu disse - porque nunca haviam pensado nisso, no que eu (ou outros) faço ou sou, além daquele papel que estão acostumados a me ver desempenhar, e é assim mesmo. E tem sido bem legal, confesso.

 

Sem falar que a Sopa de Ervilhas do Marcelo, o evento, agora tem um alcance bem maior. Vai que saia uma maior ainda que outros anos.

 

Sei lá.

 

Até.

quinta-feira, julho 04, 2024

O Fim?

 Eu penso no fim.

 

Sim, a morte, o perecimento, o óbito, a matungona, inevitável destino de todos nós. Com o passar do tempo, e a constatação de que já vivi mais do que ainda tenho a viver, volta e meia o assunto surge em meus pensamentos.

 

Não que eu seja alguém fixado no assunto, mas não vou negar que – de uns tempos para cá – ele se tornou mais frequente em minhas reflexões. Posso de dizer que a contagem regressiva está mais clara, mais presente. Me pergunto, então, se todas os planos e projetos e objetivos que estão na mesa atualmente (a literatura e a música, entre eles) não seriam fruto de alguma urgência de alguém pensando que um dia – bem distante ainda, espero – vai morrer. 

 

Não é, não são.

 

A urgência é de viver, sempre.

 

Até.

quarta-feira, julho 03, 2024

As Coisas como São

Serenidade.


Um dos ensinamentos que a experiência (a idade, ou o tempo, se quiserem) nos traz, ou ao menos deveria trazer, é a capacidade de aceitarmos os fatos da vida, os acontecimentos, como eles são, e não como gostaríamos que fossem. Não “brigar” com a realidade, saber que nem tudo é sobre nós.

 

Quando das enchentes e inundações de maio no Rio Grande do Sul, com toda a tragédia das perdas humanas e materiais que direta ou indiretamente afetaram a todos nós gaúchos, e que começamos o lento processo de reconstrução, a grande parte dos eventos planejados para aqueles dias e por um período a seguir foram suspensos, quando não cancelados, com toda a razão. O foco era (é) sobreviver ao caos para poder seguir em frente. Tristes, consternados, mas já planejando a próxima etapa.

 

Entre os eventos daquele período que foram adiados estava o lançamento do meu livro, ‘A Sopa no Exílio’, que adiamos em quase um mês por óbvias razões. Mas não pude deixar de brincar que justamente no ano que lanço o meu livro e pretendo assiná-lo na Feira do Livro, ocorre uma catástrofe climática no estado e a Praça da Alfândega, onde ocorre a Feira do Livro, fica embaixo d’água... no que fui retrucado “nem tudo é sobre ti, Marcelo...”.  Justíssimo.

 

Mas não era disso que queria falar.

 

Falava de aceitar as coisas como elas são. 

 

É parte do aprender a viver. Temos que saber lidar (ou ao menos tentar) com os acontecimentos, independente se são consequências de atos prévios nossos ou frutos do acaso. O primeiro passo é aceitar que há coisas que não controlamos e não dependem de nós. Para essas, serenidade. Para as que dependem de nosso esforço, cada um sabe o que é melhor para si.

Até. 

terça-feira, julho 02, 2024

Zona de Conforto

Ansiedade?

 

Quem me conhece, e convive comigo, certamente em algum momento já ouviu o que eu penso sobre a recomendação de “sair da zona de conforto”, que muitos coachs fazem por aí, como se fosse o início da solução (quando não a solução completa) de nossos problemas. Sou contra essa história de sair da zona de conforto.

 

Eu gosto da minha zona de conforto, já falei muito isso, e é verdade.

 

Não vou me estender no tema, afinal já escrevi sobre isso com mais detalhes. O que reparei, contudo, é que tenho conseguido identificar mais frequentemente os momentos em que sou retirado da minha, que sou desafiado a lidar com situações que alteram o estado das coisas que não gostaria que fossem alteradas. Identifico, sei que vou me adaptar em um tempo mais ou menos longo, dependendo da situação. Acontece algo, interpreto como ‘desconfortável’, e agora verbalizo isso, ao menos para mim, o que já é o início do processo de aceitação.

 

Sou meu próprio terapeuta.

 

Até.   

segunda-feira, julho 01, 2024

Segunda-feira, Inverno

Manhã fria de segunda-feira.

 

Estava eu em 1988, absorto em pensamentos paralelos – expressão/conceito que me é simpático –, quando o sinal abriu e segui em direção ao hospital. Mais uma semana começava.

 

A música que eu ouvia era ‘Ideologia’, do Cazuza, que tocava enquanto dirigia para o trabalho. Ela é a primeira música do lado A (os mais jovens não vão conhecer o conceito, eu sei) do trabalho de mesmo nome, e que foi lançado em 1987. Também fazem parte desse disco outras músicas que me são caras, como ‘Blues da Piedade’, ‘Boas Novas’ (eu vi a cara da morte e ela estava viva), ‘Um Trem Pra as Estrelas’, ‘Obrigado (Por Ter se Mandado)’ e ‘Faz Parte do Meu Show’. Um disco sensacional, na minha opinião. E que tem o poder de me fazer voltar no tempo.

 

Músicas transportadoras, como ensinou o Professor Jaderson Costa da Costa, quando conversamos há algumas semanas no ‘Qual é o Tom’, podcast/programa que apresentamos às segundas-feiras direto da School of Rock Benjamin POA, e que são aquelas que nos fazem ter essa sensação, de voltar no tempo. Em uma manhã fria, aquece o coração.

 

Iniciamos hoje o segundo semestre de 2024.

 

Um ano intenso e louco.

 

Seguimos firmes. 


Até. 

domingo, junho 30, 2024

A Sopa

O meu livro.

Ainda sobre o fato de eu ter, depois de vinte anos escrevendo no blog ‘A Sopa no Exílio’, conseguido transformá-lo em livro. Imagino que seja natural, mas nos últimos dias (meses) tenho estado envolvido no processo da sua publicação, e estado menos focado em escrever. Poderia dizer que a fase é de colher os frutos desse trabalho, e até é um pouco disso, mas também existem outros fatores envolvidos.

 

Cresceu a pressão sobre mim. Vinda de onde? De mim mesmo, claro. Estou me cobrando mais porque agora eu sei que as pessoas vão ler. Elas compram o livro e o leem. É pessoal. Eu conheço aqueles que estão comprando e lendo, não é apenas um texto colocado em um site (ou blog, para ser mais preciso) para quem se interessar ler, de maneira impessoal.  Parece que a responsabilidade aumentou. 

 

E não era isso que eu queria?

 

Definitivamente, sim. 

 

Mais um dos desejos, sonhos até, que eu tinha era esse mesmo, ser um autor publicado, fazer sessões de autógrafos (quinta-feira tem sessão, na AMHSL/PUCRS, 18h), autografar na Feira do Livro de Porto Alegre (em novembro, em novembro). E não para aqui. Tenho material para outro(s) livro(s), para o(s) próximo(s) ano(s). Entre outras atividades em que estou envolvido, tanto na medicina quanto fora dela. O dilema agora é voltar a produzir material inédito. Para publicar aqui, mas também para os próximos projetos. 

 

Que existem e são vários.

 

Aí lembro do amigo Daniel Wildt, a quem admiro muito, que fala de projetos paralelos, e de como organiza e coloca energias diferentes em momentos diferentes em projetos diferentes, e que estabeleceu a rotina e disciplina de escrever diariamente, o que estou tentando fazer também, conciliando com as outras atividades, intelectuais e não. Organizando a minha rotina, abrindo espaço para novas demandas que surgem e que crio.


Até.

 

 

sábado, junho 29, 2024

Sábado (e quarta-feira foi lindo...)

Encerramento do show, agradecimento ao público
 

Show de temporada Beatles da School of Rock Benjamin POA.
Foi muito legal.

Que momento, que momento!

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, junho 28, 2024

Mais Correto

A vida parece e, de certa forma, é complicada, todos sabemos.

 

Mas não muito, e isso não importa agora.

 

As pessoas (nós) têm a tendência (natural?) à simplificação na hora de entender o mundo, de entender os fatos e consequências associados. Tende-se, de maneira maniqueísta, dividir tudo nas dualidades habituais, bom e mau, preto e branco, vermelho e azul e chimangos e maragatos (específico aqui do Sul do mundo). Quando pensamos bem, na maioria das vezes, não funciona assim. Há nuances, sombras, outras cores intermediárias. Dizem, inclusive, que a virtude está no meio termo, nunca nos extremos.

 

E o certo e o errado?

 

São conceitos variáveis? Existem aquelas verdades absolutas, inquestionáveis? Em tempos de questionamentos múltiplos, em que inclusive a biologia é muitas vezes questionada e contrariada, existem aqueles conceitos indiscutíveis?

 

Pensei isso quando recentemente, ao ouvir uma conversa que ocorria no mesmo ambiente em que eu estava em que disseram que alguém havia dito que determinada informação (ou conceito) era ‘mais correta’ do que outra. Imediatamente questionei: existe algo mais correto do que outro, ou – na verdade - algo é correto ou não é? E isso levou as outros conceitos e outras ideias (ou uma ideia e um conceito semântico).

 

Ser familiar de médico não é fator de risco para pior evolução de doenças ou para quadros mais estranhos ou difíceis, assim com uma doença nunca é severa. O correto é doença grave, não severa. Da mesma forma que não existe “princípio de pneumonia” (ou é pneumonia ou não é) e alguém estar “mais ou menos grávida” (ou está grávida ou não está).

 

E você, acha que o conceito de certo e errado é fluido, dinâmico?

 

Até.

  

quinta-feira, junho 27, 2024

Vinte Anos

Como quase todos que me conhecem agora sabem, neste mês de junho de 2024 esse blog completa 20 anos (!) de existência. Surgiu em – façamos as contas – 2004, cerca de dois meses antes de ir viajar para ficar dois anos no Canadá, fazendo um fellow na University of Toronto que viria a ser o meu pós-doutorado. Foi a transição de um semanário que eu enviava a alguns “assinantes” e que havia começado devido à minha vontade/necessidade de escrever. Se chamava ‘A Sopa’, referência à Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, uma outra história. 

 

Alguns meses antes de me mudar temporariamente para Toronto, então, eu criei o blog, com dois objetivos básicos. Seria uma forma de continuar escrevendo regularmente e, também, uma maneira de me comunicar com o Brasil, dar notícias minhas a quem tivesse o interesse em saber. O exílio da Sopa seria o meu tempo de Canadá. Durante o tempo em que estive lá, consegui ter a disciplina da escrita diária. Contribuiu para isso, evidentemente, o fato de estar lá basicamente para estudar / trabalhar, e morando sozinho.  

 

Após a volta ao Brasil, em 2006, o momento foi de recomeçar a vida profissional e focar o no trabalho. Com isso, a escrita (e o blog) ficaram meio de lado, com alguns “surtos de escrita”, como as histórias de viagem e durante a pandemia, naquele período em que o movimento do consultório caiu muito, e não havia interações sociais.  Desde então, tenho procurado manter uma regularidade mínima de escritos, com maior ou menor sucesso. Ao longo de todo esse tempo, porém, permaneceu mais ou menos “no ar” o desejo que eu tinha de publicar um livro, sair do digital e ter uma evidência “física” de que sou um escritor. Em dezembro do ano passado decidi que esse ano seria o ano em que publicaria o meu primeiro livro.

 

Era chegada a hora.

 

Criei cronograma de trabalho bem conservador para o ‘projeto livro’. 

 

Iniciei o ano fazendo uma primeira seleção de crônicas e contos que potencialmente entrariam no livro. Meu plano era fazer – durante os meses de janeiro e fevereiro – essa seleção, e, também, a revisão dos textos e reescrita daqueles que pedissem ajustes. Eliminaria aqueles datados, os que eu considerasse inadequados ou fracos, e aqueles que não tivessem mais sentido em 2024.

 

Seguiria com mais uma revisão em março (planejava imprimir os textos para revisá-los e rabiscá-los se necessário) e apenas depois disso, já em abril, passaria a estudar a forma de publicação. Se faria com editora, se financiaria eu mesmo a publicação ou faria um financiamento coletivo. Imaginava um lento processo.

 

Não foi.

 

Selecionei o material (para até três livros, na verdade), organizei, reescrevi o que precisava e, no início de março estava pronto para iniciar a busca pela publicação. Busca essa que durou pouco mais de vinte e quatro horas. Enviei e-mail para uma editora que haviam me recomendado (Ed. Bestiário) e logo me responderam positivamente com relação a publicar meu livro. Confesso que levei um tempo para acreditar que estava acontecendo.

 

O livro ‘A Sopa no Exílio’ foi lançado no início desse mês de junho de 2024, quase no mesmo dia em que o blog havia sido lançado, em 2004. Quando me perguntaram como a publicação do livro, respondo que foi rápido.

 

Vinte anos de preparação (ou para tomar coragem de colocar a cara à tapa...).  

 

Até.