quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Pedante, e o Ciclo da Vida

Há um certo de tempo, por razões variadas, eu perdi o hábito da leitura, uma atividade que sempre foi um prazer para mim. Em uma das tentativas passadas de recuperá-lo, o hábito, “engatei” a leitura de uma série de livros e, quando terminei, ao escolher o próximo, encontrei, entre os livros que eu tinha ganho de presente, uma biografia de Dante Alighieri, escritor florentino, autor de ‘A Divina Comédia’.

 

Pois bem...

 

Virtualmente nunca conversava sobre leituras e literatura com ninguém, não era esse um assunto do meu dia a dia, o que mudou desde que publiquei o meu primeiro livro, mas – justamente quando estava lendo a biografia de Dante – calhou de eu atender uma escritora e poeta (poetisa, eu sei o correto) e enquanto conversávamos ela perguntou justamente o que eu estava lendo. A resposta, citando o que eu estava lendo, pareceu – até para mim, que realmente estava lendo – pedante

(adjetivo que se refere a alguém que se expressa de forma formalista ou detalhista, exibindo conhecimentos que não possui), mesmo que não fosse.

 

Ao interromper minhas curtas férias de verão para vir à Porto Alegre para ensaiar ontem à noite, e voltar hoje pela manhã, em meio ao calor escaldante destes primeiros dias de fevereiro, estive em casa por um tempo, e parei para ler um pouco enquanto o ar-condicionado amenizava o calor. Enquanto lia ‘Sobre a Amizade’ de Marco Túlio Cícero, em edição bilingue de 2006 da Editora Nova Alexandria, em português e latim (!), (parece pedante, eu sei) que fala sobre a imortalidade da alma, e defende que a amizade verdadeira sobrepuja a morte, pois ela tem a tem a capacidade de perpetuar a memória daqueles que se foram, enquanto lia esse livro recebi a mensagem de que o pai de um grande amigo, em uma amizade de quase quarenta anos, havia morrido.

 

Havíamos conversado sobre isso, a passagem do tempo e a mortalidade, nossa e de nossos entres queridos, quando nos encontramos a última vez, no mês passado. 

 

É parte da vida, mas nunca é fácil.

 

Como amigo, tenho que estar próximo, e nem preciso dizer nada. 

 

Ele sabe, nós sabemos.


Até.

 

terça-feira, fevereiro 04, 2025

Caminhando na praia

Praia já não é minha praia.

 

Como diz a música do Duca Leindecker (“... Eu volto pra lembrar / Que a gente cresceu / Na beira do mar...”), crescemos na beira do mar no litoral norte do Rio Grande do Sul, em Imbé, com a Turma do Muro, nossa turma de verão cujo ponto de encontro era no muro da casa do Adriano, do outro lado da rua da casa da Stefania. Já falei várias vezes disso, mas – desde que nossa casa da praia foi vendida, há mais de dez anos - não passo mais por aquele local, porque perdeu o sentido, pois as pessoas não estão mais lá.   

 

A rotina de praia naqueles anos de adolescência era de acordar mais ou menos cedo, hábito que mantenho até hoje, e – após o café da manhã – ir caminhar na praia por cerca de uma hora e na volta ir diretamente jogar vôlei com um grupo de idades variadas, em que era dos mais novos, por mais um tempo, antes ainda de encontrar os amigos. Volta para casa, almoço e um pequeno descanso.

 

O final de tarde era reservado para o futebol de pés descalços na grama do campo da casa do Pimenta, ao lado na casa do Adriano, onde passamos a jogar quando atingimos idade para jogar com os mais velhos. A volta para casa era após o pôr do sol, para o banho e jantar, antes de sair para a noite, que – quando éramos mais novos - encerrava quando o meu pai nos chamava com o seu assobio característico. Depois de uns anos, não havia mais a necessidade do assobio, e não havia mais hora para a noite encerrar.

 

Circulávamos, então, pela noite caminhando, algumas vezes pegávamos carona, de um lugar a outro, em grupo, e muitas histórias temos desse tempo, momento de construção de solidificação de amizades que persistem fortes até hoje, mesmo que a distância geográfica e as atribuições da vida tornem os encontros mais espaçados, com frequência menor que gostaríamos, mas é da vida. Uns se perderam pelo caminho, se afastaram, e a conexão de certa forma se perdeu, o que também é da vida.

 

De volta ao presente.


Os dias das curtas férias de verão seguem, e temos caminhado, a Marina e eu, pela praia, aqui em Atlântida. Apostamos entre nós se vamos encontrar alguém conhecido durante a caminhada, o que tem acontecido. O engraçado é que me vejo caminhando pela beira da praia em um lugar que não é onde por anos caminhei, cujas referência geográficas eu conhecia praticamente de olhos fechados, e que – durante um tempo – também reconhecia as pessoas que estavam lá. 

 

Após um tempo, logo antes de nossa casa ser vendida, caminhar pela praia de Imbé tornou-se uma atividade estranha, e era o começo do fim da minha história lá, pois apesar de as referências geográficas serem as mesmas, as pessoas que importavam já não estavam lá.

 

E elas são o mais importante da vida.


Até.   

segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Segunda-feira, de novo

Verão.

 

O sol brilha no céu azul, entrecortado por nuvens brancas que aparecem por sobre as casas em frente ao lago. Uma brisa fresca movimenta as árvores e ameniza a temperatura, que a essa hora da manhã já é alta, como tem sido nas últimas semanas deste verão de 2025. Hoje é segunda-feira e estamos de férias por alguns dias.

 

Sempre que falo/escrevo que ‘hoje é segunda-feira...’, automaticamente continuo – ao menos mentalmente – cantarolando Raul Seixas, “... e decretamos feriado, chamei Dom Paulo Coelho e saímos lado a lado, Lá na esquina da Augusta quando cruza com a Ouvidor, Não é que eu vi o Sílvio Santos?...". É incontrolável, isso de associar determinadas palavras e/ou expressões com uma letra de música ou nome de filme, por exemplo.

 

Como com o Dias dos Namorados.

 

É impossível, para mim, falar ‘Dia dos Namorados’ sem complementar com ‘Macabro”. Não importa a situação, o contexto. O Dia dos Namorados sempre vai ser completado por um Macabro. E isso não é nenhum tipo de mensagem subliminar ou ato falho. Parece que – se não houver o complemento – fica incompleto.

 

Assim como tenho minhas implicâncias linguísticas, que cultivo com certo orgulho, mesmo que sejam causas perdidas. Começou com um termo médico em inglês, severe asthma, em português asma grave, mas que algumas pessoas começaram a traduzir de forma equivocada como asma severa, que além de não ser – a meu ver – a melhor tradução possível, acho esteticamente desagradável. O que me causa(va) irritação ao ouvir. 

 

Severo ou severa, é algo ou alguém rigoroso(a), inflexível, rígido(a). Uma das possíveis definições até, sim, pode ser grave, mas não é a primeira e nem a melhor. Em reuniões científicas em que participava e esse termo era utilizado, eu tinha por hábito fazer um aparte e explicar isso. Com o tempo, cansei e (na maior parte das vezes) não falo nada.

 

O quadro piorou, no fim das contas.

 

Atualmente não consigo mais ouvir ou ler ‘severo(a)’ como um adjetivo, independente do contexto, ou da adequação ou não do seu uso, que fico incomodado.

 

O que fazer? 

 

Nada.

 

Paciência.

 

Até.

domingo, fevereiro 02, 2025

A Sopa

A Inquietude da Alma.


Uma das definições de tédio é a sensação de lenta passagem do tempo sem propósito, que muitos associam com monotonia, atividades repetitivas, entre outras. Pensei nisso a partir de uma mensagem recebida de um amigo, em um grupo, em que comentava que a última vez que havia ficado entediado havia sido há mais de trinta anos.

 

Minha primeira resposta foi de que eu não lembrava também, mas imaginava que havia sido ainda antes, lá pelos anos oitenta do século passado. Ou seja, há mais de quarenta anos.

 

Só que fiquei pensando se me referia a tédio mesmo ou a outra coisa, a momentos em que não havia preocupações com a vida, inquietações de qualquer tipo. Em que poderia passar longos períodos deitado olhando para o teto sem pensar em nada, ou em ninguém. Quando o futuro era um livro em branco esperando para ser escrito, e não se tinha nenhuma pressa em começar a escrever. 

 

Como aquelas tardes de verão na praia, logo após o almoço, quando os adultos estavam em período de sesta, e o silêncio dominava, e sentávamos em frente à casa na sombra das árvores, às vezes olhando em direção ao sol de olhos fechados sentindo o calor no rosto. O tempo realmente parecia passar mais lentamente, mas era tédio o sentimento presente?

 

Quando foi a última vez que pudemos passar um tempo sem nenhum pensamento sobre o futuro, próximo ou distante, não importa, ou sobre o passado? Sem ansiedades ou culpas, apenas estando presentes. Quando é que passamos a sempre estar com alguma obrigação ou compromisso ou plano? Quando perdemos a capacidade de abstrair da realidade e termos um momento livre, de mente inteiramente ‘vazia’?

 

Meditação seria isso? Seria a forma de nos desligarmos da realidade por um tempo e apenas sermos partes do todo?

 

Não sei.

 

Pensando assim, o tédio pode ser bom.

 

E você, quando foi a última vez que se sentiu entediado?


Até.   

sábado, fevereiro 01, 2025

Sábado (e como estamos?)

Por aí, não muito long


Estamos bem, em uns dias de férias, no litoral norte do RS.

A foto não é de lá, é de mais ao norte...

Bom sábado a todos.
Hoje tem School of Rock no Ramblas, em Atlaântida.
E sábado que vem, 08/02, este que vos escreve vai tocar lá.

Até.


sexta-feira, janeiro 31, 2025

A Realidade e um Sorriso

Matrix.

 

A realidade não é realidade. Ela é como a interpretamos, como a vemos. A realidade está em nós e é diferente para cada ser humano. Nunca perco de vista essa verdade, mas lembro dela especialmente quando penso no meu carro.

 

Quando comprei o meu atual carro, escolhi um modelo que fosse família, ou seja, tivesse capacidade de transportar pessoas – familiares, amigos da Marina, entre outros – também carga, ainda antes de saber que transportaria equipamentos musicais de lá para cá para shows que fazemos da School of Rock Benjamin. Mais, escolhi um carro para que eu não precisasse pensar em trocá-lo por ao menos cinco anos.

 

Vai completar seis desde que comprei.

 

E está muito bem.

 

Confesso, contudo, que de tempos em tempos eu penso que está na hora de trocar por um mais novo, mas que tenha os mesmos pré-requisitos do atual, como falado antes. Atualizar o modelo é uma opção. 

 

Quando aumenta muito essa sensação de necessidade, eu me utilizo do estratagema de mudar a realidade. Levo o carro para ser lavado. Pronto. Simples assim. Saio com um carro novo, e a percepção da necessidade de troca se esvai como em um passe de mágica. Prático e BEM mais barato...

 

A realidade, então, é como a fazemos. 

 

Vinha pensando nisso ao chegar para trabalhar esses dias, em um dos hospitais em que trabalho. O dia se torna melhor, por exemplo, quando chegamos nos locais de trabalho ou estudo, logo pela manhã, e damos ‘bom dia’ para as pessoas - mesmo que não as conheçamos - com um sorriso. Isso molda a percepção de todos, torna as coisas mais leves.

 

Procuro – nem sempre consigo – não esquecer que tornar a vida leve na maior parte das vezes é bem simples.

 

Vale tentar.


Até. 

quinta-feira, janeiro 30, 2025

De um outro tempo

Eu cresci em um mundo analógico.

 

Os meus primeiros escritos, em uma tentativa de fazer literatura, e que não eram trabalhos de escola, foi utilizando uma máquina de escrever, que é – para quem não conhece – um aparelho que, à medida de digitas ele ‘imprime’ ao mesmo tempo... Muito utilizei a máquina Olivetti que tinha em casa e que hoje está guardada como uma relíquia pelo meu irmão em sua casa nos Estados Unidos, junto com alguns dos MEUS discos de vinil, mas essa é uma discussão que terei que ter com ele...

 

Muito ouvi, aliás, discos de vinil, que depois foram substituídos pelos CDs, que prometiam, entre outras vantagens, um som mais límpido e puro, sem ruídos e chiados que eventualmente os de vinil possuíam. Que foram substituídos pelos Mp3, que baixávamos da internet – piratas ou não – e, finalmente, pelo streaming, que oferecia um mundo de músicas em um toque, mesmo aprendendo depois que a qualidade do som era bem inferior às mídias anteriores. Com o tempo, completando o círculo, os vinis estão retornando, sob o argumento de que o som, com os ruídos e chiados é mais puro.

 

Falava eu, então, que cresci em um mundo analógico, no tempo em que o Eskibon era de caixinha, e as pessoas utilizavam dinheiro em espécie. Há uns poucos anos, ao pagar um cachorro-quente em uma madrugada antes de voltar para casa em uns dias em que estava ‘soltinho’ pela cidade, ao usar dinheiro vivo, ouvi a expressão que aquilo era do tempo ‘dos Maias e dos Astecas’. Faz parte, sou antigo, mas não parado no tempo.

 

Evoluo.

 

Ontem, por exemplo, saí de casa em cima da hora para uma reunião de trabalho. Ao chegar no carro para sair, percebi que havia deixado minha carteira, com dinheiro, cartões e documentos em casa. Por um segundo, pensei em voltar para buscar, mas decidi passar um dia sem a carteira, novidade para mim. Quase um experimento.

 

Documento de identificação, documento do carro, cartão de crédito e aplicativos para fazer pix, tudo obviamente no celular. Se eu fosse parado no trânsito, ou precisasse me identificar, tudo certo. Qualquer compra, pix ou cartão de crédito. Muito simples e prático, mas sair sem a carteira, sem o peso no bolso de trás da calça, isso foi novo para mim.

 

Correu tudo bem, obviamente, mesmo que – ao longo do dia – estranhasse o bolso da calça sem o peso dela. Ao final de dia, em casa, me senti orgulhoso de mim mesmo.

 

Sou assim, pequenas coisas da vida me deixam feliz...


Até.