domingo, julho 13, 2025

A Sopa

De tempos em tempos, o algoritmo da vida faz com que eu veja ou leia o (ao menos para mim) famoso Harvard Study of Adult Development, um chamado estudo de coorte que vem acompanhando, há mais de 80 anos, a vida de um grupo inicial de mais de setecentas pessoas de diferentes origens e extratos sociais e seus descendentes, em busca de responder, entre outras coisas, à pergunta: o que faz a vida satisfatória? Confesso que sou fascinado pelo estudo (tem até uma apresentação do TED sobre ele) e pelo tema. 

 

Inicialmente, eram dois grupos separados estudados, um de alunos do segundo ano de Harvard, e outro grupo de pessoas de áreas de baixa renda de Boston, de maior vulnerabilidade. A pesquisa tem acompanhado esse grupo, e seus descendentes, desde então, em busca de identificar os determinantes de uma boa vida. E um dos resultados encontrados, que é muito interessante, não é uma novidade para mim, alguém que sempre foi (é) um ‘botador de pilhas’. O importante, o que determina uma vida satisfatória e boa, não são as condições socioeconômicas, não é o emprego ou os bens adquiridos, não é a fama.

 

São os relacionamentos.

 

Relacionamentos fortes e de apoio foram identificados como preditores muito melhores de uma vida longa e feliz do que fatores como status social, QI ou até mesmo genética. Isso significa que a presença de conexões significativas e de confiança com outras pessoas é fundamental para o bem-estar geral.

 

Em outras palavras, ter alguém com quem contar durante os altos e baixos da vida é crucial para o bem-estar geral. Os participantes que relataram ter relacionamentos de qualidade, como amizades próximas, laços familiares fortes ou um parceiro amoroso confiável, tendiam a ser mais felizes e saudáveis ao longo do tempo. É como sempre pensei: a importância dos relacionamentos não pode ser subestimada quando se trata de promover uma vida longa e satisfatória.

 

Por esse conhecimento, inicialmente empírico, mas agora baseado em dados científicos, que procuro manter as amizades, as parcerias, as confrarias, os grupos de convívio próximos. Por isso a importância dos churrascos, aos quais nunca digo não a um convite. Por isso fazer parte de grupos sempre foi fundamental para mim, e a sensação de (possível ou real) exclusão é bem ruim.

 

De tempos em tempos, deveríamos pensar em quem chamaríamos se tivéssemos um problema no meio da noite e precisássemos de ajuda. Quem não hesitaria em nos ajudar.

 

Esses são os de fé.


Até. 

sábado, julho 12, 2025

Sábado (que vem, na verdade)


O lançamento do meu novo livro será no próximo sábado, 19/07.
Editora Bestiário.

Na rua mais bonita do mundo, segundo os porto-alegrenses...

Nina Café de Casa. Rua Gonçalo de Carvalho, 129. 

Vai ser bem legal.

Até.


sexta-feira, julho 11, 2025

Sexta-feira

Ainda sobre as comparações.

 

Não interessa se a grama do vizinho parece mais verde que a nossa. Aliás, nem devemos olhar para a grama do vizinho. Estava lendo esses dias alguém que escreveu algo como ‘não devemos olhar para o caminho que não percorremos”. Esse deve ser o princípio.

 

Ficar preso no ‘E se...’, nas possibilidades de desfechos diferentes em caso de escolhas que não as que fizemos é – além de um exercício estéril – injusto para conosco. Quase sempre o que não vivemos parecerá melhor do que vivemos agora, porque está no campo das possibilidades, das probabilidades. O mundo ideal seria aquele que não escolhemos, e não o que estamos agora, fruto de todas as nossas decisões prévias.

 

Não é verdade.

 

Prefiro acreditar que onde estamos hoje, agora, e que é resultado de tudo o que fomos e vivemos até hoje, é o melhor, levando em conta que estamos fazendo o melhor possível a cada o momento, a cada escolha. Claro que o resultado nem sempre (ou quase nunca) depende exclusivamente de nós, mas – se estamos fazendo nossa parte – prefiro acreditar no melhor desfecho possível.

 

É certo, também, que erramos de tempos em tempos. 

 

Quando isso acontece, o melhor é fazer como quando se pega um trem errado: o melhor é descer na primeira estação (oportunidade), porque quanto mais longe formos no caminho errado, maior o custo de retomar o caminho correto.


Até. 

quinta-feira, julho 10, 2025

Apenas

Que triste isso.

 

Estava conversando com um professor de música por esses dias e ele me contou que dava aulas para um médico há algum tempo, e esse aluno médico, que fazia aulas de canto, disse que não poderia se apresentar em público porque era médico e, afinal, “vidas estavam em suas mãos diariamente”.

 

Teria uma imagem a preservar, não queria ser mal interpretado, provavelmente parecer menos “sério” do que realmente era, ou algo assim. Que sua atividade era muito importante, que ele era muito importante, imagino, para que tivesse sua imagem associada à outra atividade que não fosse o ‘sacerdócio médico’.

 

Fiquei pensativo, logo após lamentar por ele. 

 

Sim, lamento profundamente essa visão – em minha opinião, claro – estreita da vida e do mundo, associada a um grau elevado de arrogância. A atividade médica é importante, claro, como são importantes quase todas as atividades humanas, em maior ou menos grau, e não compete a mim e nem a ninguém julgar a sua atividade ou a dos outros dessa forma. Ele é médico. Bom para ele, parabéns. 

 

E daí?

 

Esse fato específico, ser médico, o torna melhor ou pior do que alguém? Evidentemente que não. Todos os anos de formação e treinamento, toda dedicação, finais de semana perdidos em estudo e trabalho apenas o tornam melhor que sua versão anterior, que vai ser inferior – se tudo correr bem – à sua própria versão do futuro, digamos assim.

 

Além disso, não acredito que devemos ser definidos apenas pela nossa ocupação. Que triste isso, de alguém se considerar ou definir por sua profissão. Somos muito mais que ‘apenas’ médicos, advogados, engenheiros ou artistas. Sempre acreditei que podemos ser (e somos) muitos. E lembro Raul Seixas que, além de Metamorfose Ambulante, escreveu:

 

Ah!
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador


Vamos viver tudo que há para viver.

 

Até.

quarta-feira, julho 09, 2025

Sobre ser coadjuvante da própria vida

Disciplina.

 

Entre todas as valências humanas, talvez uma das mais subestimadas seja a disciplina. Mesmo já tendo sido cantada em prosa e verso ('Disciplina é liberdade', cantou a Legião Urbana) tenho a sensação, e é sensação, impressão mesmo, de que normalmente não é valorizada como deveria.

 

Valoriza-se muito mais o improviso, a rebeldia, a falta de método. O “gênio” seria alguém que, em arroubos ou espasmos de criatividade ou engenhosidade, criaria algo fora de série. Até acontece aqui e ali, mas são casos anedóticos, como se diz. O progresso humano é baseado em disciplina e constância, conceitos um pouco diferentes, mas relacionados.

 

Terminamos nossos projetos, alcançamos nossos objetivos, chegamos ao fim de caminhadas apenas com disciplina. Da mesma forma, nos tornamos excelentes no que fazemos apenas com dedicação e constância, com a disciplina que não nos deixa abandonar o que não está pronto.

 

Esse sempre foi um dos meus medos no passado.

 

Temia que eu fosse alguém que não terminasse o que havia começado, ou que nem começasse para não ter que ir até o final. Que fosse alguém que ficasse apenas no plano das ideias, vivendo em um mundo de sonho, ou fantasia, onde as coisas dariam certo até de manhã, quando eu acordasse para uma possível vida medíocre, onde vivesse uma vida que não era que eu havia imaginado, e que eu não houvesse feito nada para que fosse diferente. Que eu fosse um personagem coadjuvante em minha própria história.

 

Procuro diariamente evitar isso.


Até. 

terça-feira, julho 08, 2025

Educação Musical

Há muito passou o tempo em que, enquanto levava a Marina de um lugar a outro, inventávamos jogos para passar o tempo. Nada mais natural, afinal ela está prestes a completar dezessete anos. Houve a fase em que conversávamos e ouvíamos música, as que eu escolhia, afinal meu carro, minhas regras. E era também educativo, pois eu seguia apresentando a ela sons que eu achava que ela deveria conhecer e ouvir.

 

Depois, passamos a ouvir também músicas que ela sugeria, pois também passou a ter sons que queria me apresentar, nada mais natural. Em outros momentos, com fones de ouvido, ela ouvia / ouve o que está com vontade naquele momento. De umas semanas para cá, acabamos voltando a jogar, em mais uma forma de nos conectar através da música.

 

É um jogo de conhecimento musical.

 

Funciona assim: seleciono uma playlist no Spotify, ela fecha os olhos, e deve reconhecer a música que começa a tocar, por nome e de quem é. 

 

Tem sido muito legal.

 

Ontem, para orgulho do pai, a sequência de músicas que ela reconheceu foi de Another Brick in the Wall (Pink Floyd), além de Immigrant Song (Led Zeppelin),Back in Black (AC/DC), Three Little Birds (Bob Marley), Song 2 (Blur), entre outras do Nirvana, Rolling Stones, Fleewood Mac e Animals, entre outras. Sem falar que está atualmente cantando The Weight (The Band), uma das músicas da minha vida.

 

Que orgulho.

 

A Jacque, a School of Rock e eu temos feito um grande trabalho em termos de educação musical.

 

Até.

segunda-feira, julho 07, 2025

Amanheceu, e tem neblina

Começo a semana assim, pouco inspirado.

 

Poderia chamar de preguiça mental, ou é efeito da neblina, que esconde parte da cidade ao clarear o dia? Não sei, mas vejo a semana pela frente e reafirmo a preguiça, agora também física, e sinto o ombro direito, que desde a madrugada de sábado para domingo dói como se tivesse feito um esforço que não fiz, porque no sábado fiquei mais tempo na cama ao invés de ir até a academia antes da quermesse da escola da Marina, que vamos não por causa dela, mas porque gostamos da festa, e além de tudo tinha show do Elton Saldanha, que lembra que somos do Sul, a nossa terra tem o céu azul, é só olhar e ver....

 

Passamos da metade do ano, e seguimos.

 

Nem tudo planejado aconteceu, como sempre, afinal a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos, e está tudo certo, está tudo bem. Vamos nos adaptando, vamos ajustando.

 

Boa semana para nós.


Até.