sexta-feira, julho 26, 2024

Dois Anos

Passou o tempo.


Hoje, vinte e seis de julho de dois mil e vinte a quatro, completa-se o segundo aniversário de morte do meu pai. Era terça-feira, estávamos saindo de um velório quando recebemos a ligação do hospital comunicando o desfecho já esperado há alguns dias. Era agora oficial o que já sabíamos que iria acontecer a qualquer momento.

 

Ficou internado por treze dias antes de morrer, e seu último momento de lucidez foi quando o comuniquei que havia melhorado e que estava em condições de sair da UTI – onde estivera até entubado uns dias antes - e ir para um quarto de enfermaria, e me disse que “era hora de levantar acampamento”. Foi premonitório?

 

‘Levantar acampamento’ poderia simplesmente significar sair de UTI e ir para o quarto, para seguir o tratamento, mas também ser uma despedida, dizendo que estava finalmente na hora de descansar, de parar de sofrer, de não ter mais limitações e nem dores, não depender de ajuda para as menores atividades. De não ser mais independente e dono de si como fora em toda sua vida, e que – por mais que tenha aceitado externamente as limitações - nunca mais havia sido o mesmo. 

 

‘É fácil comandar homens livres, basta mostrar o caminho do dever’ era um de seus mantras, repetido incontáveis vezes ao longo de sua vida, mas sabemos que, nos últimos anos, ele era tudo, menos livre. As limitações que dificultaram sua mobilidade, a audição que foi diminuindo e que se recusava a usar aparelho para auxiliá-lo, foram tornando-o progressivamente dependente. Aquele pai que sempre fora a (minha) referência já não estava lá, infelizmente. 

 

É da vida, eu sabia, nós sabíamos.

 

A vida continuou, como sempre continua e continuará, independente de nossas situações, por maiores e mais graves que sejam. Aprendemos a viver sem sua figura protetora por perto, sem a quem recorrer quando precisasse, quando tivesse dúvidas sobre as coisas. Ainda bem que ele e minha mãe me prepararam para a vida, sempre digo.

 

Quarta-feira que passou foi o momento de uma nova despedida. Foi quando decidimos que era hora de espalhar as cinzas dele como forma de homenagem. Escolhemos um momento em que estávamos juntos, a Mãe, meu irmão e eu (além das netas Olivia e Marina e da Jacque) e um lugar que era importante para ele. Foi no rio, no Veleiros do Sul, clube que frequentou por quarenta anos. Era final de tarde, o sol se pondo num céu azul e temperatura agradável. 

 

Ele teria gostado.


Até. 

quinta-feira, julho 25, 2024

O Silêncio

O ano era 2018, fevereiro.

 

Estávamos em viagem em Portugal e visitávamos Évora, no Alentejo, quase no final da viagem, de onde iríamos para o Algarve antes de voltar ao Brasil. É lá que fica a Cartuxa, vinícola da Fundação Eugênio Almeida, famosa pelos vinhos ‘Cartuxa’ e ‘Pera Manca’. 

 

A visita ocorria em uma manhã de um dia de meio de semana, e havia poucos visitantes além de nós, Marina, Jacque, Pedro, Maria José e eu, os viajantes. Caminhávamos pela propriedade, e o silêncio da manhã dominava tudo. A Marina, com nove anos de idade, estava fazendo alguns vídeos da viagem no celular da Jacque. Gravando lá, ela falou que tínhamos que observar o som mais bonito de todos (ou algo assim), ‘o som do silêncio”.

 

The Sounds of Silence.

 

Lembrei direto da música da dupla Simon and Garfunkel, cujo registro ao vivo do show no Central Park, em Nova York, é belíssimo, e que ela não conhecia então. Foi um momento de sintonia com o Universo...

 

O silêncio.

 

Em um mundo de ruídos constantes, cada vez mais valorizo o silêncio, o ficar quieto. Mesmo que meus dias tenham se tornado muito mais musicais, por motivos óbvios, mas talvez também por isso, é que em silêncio que tenho ficado em alguns momentos do meu dia.

 

Talvez por paz, ou talvez para ouvir meus próprios pensamentos.

 

Até. 

quarta-feira, julho 24, 2024

Mais sobre o tempo e o escrever

Sobre o tempo.


O tempo, ou sua passagem, certamente é o tema de maior recorrência entre meus escritos. Pensar a vida, refletir sobre o que aconteceu e acontece é, também, um de meus passatempos prediletos. Assim como é terapêutico para mim.

 

Seguindo a linha terapêutica do falar para lidar com esse tipo de questão, ou com todo tipo de questão, é falando que lido com minhas ansiedades e encucações. Escrever é uma outra forma de falar, de expressar o que sinto e penso, de organizar as ideias até para conseguir entendê-las. 

 

Falando / escrevendo é que aprofundo a minha compreensão das coisas, do mundo e do tempo, e o passado é está entre elas. Esse processo é o caminho para eu digerir e ficar em paz com o que passou.

 

Um dia após o outro.

 

Até. 

terça-feira, julho 23, 2024

Uma terça-feira

O sol brilha, ainda tímido, ‘vencendo’ a neblina de mais cedo, em uma mudança com relação aos últimos dois meses, quando os dias cinzentos, as chuvas e a umidade predominaram aqui no Sul do Mundo. O ânimo muda, ficamos mais leves para continuar a reconstrução do que foi impactado pela inundação.

 

Boa parte das escolas está de férias de meio de ano, e muitas famílias tiram esse período para descansar junto, algumas viajam. As meninas, em casa, estão de recesso essa semana, descansando. Por ser apenas essa semana, a Marina nem chama de férias, por isso chamei de recesso.

 

Sigo trabalhando, afinal a época é quando a demanda por pneumologistas aumenta muito, ainda mais esse ano, em que tosses, secreções, resfriados e até pneumonias têm sido mais frequentes. Ainda assim, mesmo com muito trabalho no consultório/hospital, sinto um clima diferente, como se estivesse em férias enquanto trabalho (mais que do que normal), o que é estranho.

 

E não só como médico.

 

Os projetos paralelos seguem, alguns em planejamento e outros quase saindo do papel, em início de execução. Alguns são modestos, pé no chão, como se diz. Outros, porém, são gigantes. 

 

Seguimos.


Até.   

segunda-feira, julho 22, 2024

Limites

Assim como a rotina, os limites são importantes na vida.

 

Existe a natural tendência de aceitarmos, ou tolerarmos, situações que não são as melhores para nós em troca de aceitação a determinados grupos sociais. Isso tanto em termos pessoais como profissionais. 

 

Quando estamos nos primeiros passos em nossa profissão, e falo de medicina porque é a minha, somos “coagidos” a aceitar situações, e podem ser trabalhos, tarefas ou ambientes que não são os mais saudáveis do ponto de vista emocional. Era natural, no tempo em que comecei como médico, há quase trinta anos, trabalharmos em locais que estavam longe do ideal, em condições longe das ideais, muitas vezes quase imprudentemente. Além de mal remunerados. Era parte do crescimento, diziam, ou o “pedágio” a pagar para conseguirmos nos colocar – com o tempo – em lugares considerados melhores.

 

Não sei como é hoje.

 

O princípio era abraçar o que fosse possível e depois ir selecionando aquilo que fosse melhor, que tivesse mais a ver com o nosso “plano maior”. Foi o que fiz.

 

Mesmo agora, anos e anos depois, ainda é importante manter-me atento às tentativas de me empurrarem para situações às quais não gostaria de estar envolvido. De novo, tanto em termos de trabalho quanto pessoais. Por isso a importância do dizer ‘não’, de impor limites. É o que tenho tentado fazer.

 

Cada vez mais, digo não às roubadas em que querem me envolver, e me afasto de pessoas negativas, ou tóxicas, como dizem.

 

Dizer 'não' é libertador.

 

E uma luta diária.


Até.

domingo, julho 21, 2024

A Sopa

Continua a polêmica em casa.

 

Sobre o jejum.

 

Como escrevi por aqui há alguns dias, desde que decidi me abster de comer entre as refeições e comuniquei isso para a Jacque dizendo que eu estava fazendo jejum intermitente, o assunto virou motivo de discussão entre nós. E ambos temos razão, apesar de ela não admitir.

 

Não só isso, na última sexta-feira ela pediu reforço. Em um almoço em que estavam na mesma mesa que nós uma nutricionista, uma fisioterapeuta, uma enfermeira e um cirurgião (que não se envolveu no assunto), ela expôs e eu expliquei o que eu estava fazendo. Ficaram “do lado da Jacque”, mesmo eu sabendo que ela tem razão no que pensa, mas que eu também estou certo (!).

 

É simples.

 

Semanticamente falando, jejum é o ato de ficar sem comer. Ponto. Simples. E intermitente quer dizer não contínuo, intervalado, descontínuo. Logo, se eu fico sem comer entre o café da manhã e o almoço, tecnicamente (linguisticamente, poderia dizer?) eu estou fazendo jejum. E, como esse jejum não é contínuo, ocorrendo apenas entre a refeições, ele é – sim – intermitente. Então, tecnicamente eu faço jejum intermitente, certo?

 

É evidente que eu sei que o que faço não é a dieta (que é quase um estilo de vida) do jejum intermitente, que tem inúmeras variações e vertentes, com formas diversas de fazer, desde a dieta do 1:1 (um dia normal e um de jejum, comendo até 500 calorias), ou a 5:2 (come normal cinco dias e faz dois dias de restrição), ou a que faz apenas duas refeições diárias, etc. Não é isso que faço, e nem pretendo fazer. 

 

Controlar o peso, meu objetivo, incluindo aí perder alguns quilos, requer (para mim, para mim), um aumento significativo do gasto energético e uma redução na ingesta calórica. Comecei pela segunda parte, evitando comer bobagens nos intervalos das refeições, e em um segundo momento vou aumentar a frequência e intensidade da atividade física.

 

Simples assim, sem polêmica.

 

Até.