Há um certo de tempo, por razões variadas, eu perdi o hábito da leitura, uma atividade que sempre foi um prazer para mim. Em uma das tentativas passadas de recuperá-lo, o hábito, “engatei” a leitura de uma série de livros e, quando terminei, ao escolher o próximo, encontrei, entre os livros que eu tinha ganho de presente, uma biografia de Dante Alighieri, escritor florentino, autor de ‘A Divina Comédia’.
Pois bem...
Virtualmente nunca conversava sobre leituras e literatura com ninguém, não era esse um assunto do meu dia a dia, o que mudou desde que publiquei o meu primeiro livro, mas – justamente quando estava lendo a biografia de Dante – calhou de eu atender uma escritora e poeta (poetisa, eu sei o correto) e enquanto conversávamos ela perguntou justamente o que eu estava lendo. A resposta, citando o que eu estava lendo, pareceu – até para mim, que realmente estava lendo – pedante
(adjetivo que se refere a alguém que se expressa de forma formalista ou detalhista, exibindo conhecimentos que não possui), mesmo que não fosse.
Ao interromper minhas curtas férias de verão para vir à Porto Alegre para ensaiar ontem à noite, e voltar hoje pela manhã, em meio ao calor escaldante destes primeiros dias de fevereiro, estive em casa por um tempo, e parei para ler um pouco enquanto o ar-condicionado amenizava o calor. Enquanto lia ‘Sobre a Amizade’ de Marco Túlio Cícero, em edição bilingue de 2006 da Editora Nova Alexandria, em português e latim (!), (parece pedante, eu sei) que fala sobre a imortalidade da alma, e defende que a amizade verdadeira sobrepuja a morte, pois ela tem a tem a capacidade de perpetuar a memória daqueles que se foram, enquanto lia esse livro recebi a mensagem de que o pai de um grande amigo, em uma amizade de quase quarenta anos, havia morrido.
Havíamos conversado sobre isso, a passagem do tempo e a mortalidade, nossa e de nossos entres queridos, quando nos encontramos a última vez, no mês passado.
É parte da vida, mas nunca é fácil.
Como amigo, tenho que estar próximo, e nem preciso dizer nada.
Ele sabe, nós sabemos.