domingo, janeiro 16, 2005

A Sopa 04/26

Reflexões.

Uma das poucas certezas que temos na vida é que ela, além de ser pouco mais que histórias para contar, é também uma sucessão de despedidas. Somos obrigados, desde a mais tenra idade, a nos despedirmos.

Nos mais variados graus, obviamente, e não sem protestos. Desde as crianças chorando na porta das escolas pela sua mãe que as deixou ali, “abandonadas”, com a impressão irracional de que nunca vão voltar, até adultos que se desesperam perante a certeza de que certos entes queridos não vão realmente voltar, estamos sempre nos despedindo. Muitas vezes nos arrependemos de não ter dito o que sentíamos a tempo, e aí é tarde.

Muitos dos traumas relacionados à morte talvez estejam relacionados a isso, ao remorso de não termos dito o que sentíamos para aquela pessoa que não está mais entre nós. Por que não passamos mais tempo juntos, por que não fomos mais carinhosos? É necessário perder alguém para nos darmos conta que as coisas podem e devem ser diferentes em termos de expressarmos o que sentimos?

Há um bom tempo percebi que não. Talvez por ter uma visão um pouco diferente das coisas desde que tive a minha própria experiência de quase morte, há alguns anos descobri que precisava dizer às pessoas o que eu sentia por elas. Até porque nem sempre elas percebem ou mesmo porque às vezes ela precisam ouvir, como forma de conforto ou segurança. E é impressionante o retorno positivo que isso traz, como uma corrente positiva.

Mas eu falava de despedidas, e o último ano foi um ano de despedidas, quando me mudei para Toronto, “deixando” em Porto Alegre praticamente todas as pessoas importantes na minha vida, vindo sozinho. Não sei se falei de como foi a despedida lá, mas – em resumo – foi gratificante e dolorosa. Gratificante porque vi o quanto as pessoas que eu considero importantes me consideram importante, e doloroso porque deixar um lugar onde se é feliz nunca é fácil.

Mas isso foi há alguns meses, já voltei (mas não pude rever todos os que gostaria de ter revisto) e parti de novo. Mas desta vez não saí sozinho: fomos encontrar a família na casa do meu irmão e, depois do ano novo, a Jacque e eu viemos para a casa de Toronto, que depois da sua passagem aqui está muito mais casa que antes, principalmente porque agora eu tenho lembranças dela aqui. E fotos, muitas fotos.

Sexta-feira foi novamente dia de despedida, com ela voltando para o Brasil. Despedidas são dolorosas, como já disse, principalmente quando o tempo que passamos juntos é tão bom quanto sempre quando estamos juntos. E é também a hora em que me pergunto se realmente vale à pena passar por todo esse sacrifício, ficar longe de todos que amo em nome da carreira.

Vale, e vou fazer valer muito mais. E logo estarei de volta, afinal o tempo passa muito, mas muito rápido.

Um comentário:

Anônimo disse...

É Marcelo, eu odeio despedidas, mas como vc disse: desde pequeno na escola a despedida faz parte de nossa rotina. Nem imagino o que deve ser pra vc ficar esse tempo todo sem a Jacque, pelo menos o computador dá uma ajudinha. abraço,