domingo, maio 31, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Septuagésimo Sétimo Dia)

Uma Sopa antiga, dos primeiros meses em que estava em Toronto, em 2004, mas com uma reflexão (para mim, para mim) que vale para esse período de incertezas e inseguranças.

O tempo passa e a vida continua mesmo eu não estando perto. 

Óbvia constatação, e verdadeira. 

Houve um tempo, contudo, em que não tínhamos essa certeza toda. Lembro de uma carta que o Radica me escreveu há muitos anos que falava sobre isso. Sobre aquela impressão de que tudo era um grande teatro armado para nós e, mesmo que às vezes olhássemos para trás subitamente, na tentativa de surpreender e vermos por trás do palco, os atores esperando para entrar em cena, nunca éramos rápidos o bastante, e tudo estava lá, todos estavam prontos. Também nunca consegui flagrar a armação, por mais que tenha tentado.

Pois é.
 
A vida continua, então, longe do nosso olhar, da nossa atenção. Agora, por estes dias, tenho a impressão de que ocorre o inverso: o tempo, os fatos, acontecem mais e mais rapidamente agora que estou longe. Que talvez a minha presença fosse importante para dar cadência, segurar o passo, puxar os arreios para o mundo não sair em desabalada carreira lomba abaixo.

Impressões, apenas. 

De qualquer forma, muita coisa tem acontecido. Boas e ruins. Casais que se encontram, outros que se separam, casamentos, nascimentos, pessoas queridas que se vão, outras que estão a caminho. A vida segue seu curso, independente de qualquer coisa. 

Antes de eu ir, a certeza de que eu voltaria diferente de quando parti, o que é inevitável que aconteça. Mas uma obviedade que não tinha passado pela minha cabeça: tudo vai estar diferente de quando fui embora. Exceto as pessoas fundamentais. A essas sou ligado por algo imutável. A essência. E essa não muda nunca. 

E assim seguimos em meio à pandemia...

Até.

sábado, maio 30, 2020

Sábado (de novo, no sol...)


                      Sábado de manhã, sol, o melhor momento da semana.

                      Até.

domingo, maio 24, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Septuagésimo Dia)


Situações extremas requerem medidas extremas.

Antes, porém, deixa eu falar de onde eu moro. Antigos leitores desse blog talvez lembrem de, há muito tempo, eu ter falado de onde eu moro há quase vinte e cinco anos. 

Moro na transição entre os bairros Independência e Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, num prédio de apartamentos construído nos anos oitenta. Naquela época, ao contrário de hoje em dia, não era fundamental que os apartamentos viessem com churrasqueiras.

Vivo, então, há quase um quarto de século, num apartamento que não tem churrasqueira. Logo eu, fã incondicional de churrascos, principalmente com amigos, acabei por morar num local em que não tem como fazer churrasco. 

Karma, deve ser. Vai saber. 

E as sacadas, vocês podem se perguntar.

Pois é, não tem sacadas.

Mais essa...

O prédio tem sacadas, para ser honesto, mas até o sexto andar. Moro no sétimo. Acima, a cobertura. Vivo no único andar em que não é possível usar uma churrasqueira na sacada.

Já lutei contra isso. Há quase seis anos, quando reformamos o apartamento pela última vez, levei à reunião de condomínio o pedido para que eu pudesse colocar uma churrasqueira no apartamento. Teria que ser autorizada, para isso, que subisse uma chaminé pela lateral do prédio até acima da cobertura. Meu pedido foi negado. Continuei sem churrasqueira em casa.

Já argumentaram comigo que – caso tivesse a maldita churrasqueira em casa – eu nunca, ou quase nunca, faria churrascos. Injusta inverdade. Mesmo que nunca fizesse, porém, valeria à pena porque o que eu queria de verdade era ter a possibilidade de fazer o churrasco quando quisesse. Não interessa se eu não fizesse. Interessa mesmo era eu poder fazer, caso quisesse. Entende?

Esse assunto ficou adormecido em uma gaveta do meu inconsciente por um longo tempo, uma lembrança remota, complexo reprimido, um trauma esquecido. Vivia bem com a situação e comigo mesmo.

Foi quando surgiu o coronavírus.

E o mundo caiu de joelhos perante a pandemia, com precauções extremas iniciais como o distanciamento/isolamento social horizontal – compreensíveis e até corretas frente ao desconhecido – e um medo crescente inflado por informações contraditórias, nesse momento chegando às raias da histeria coletiva. Mas não é esse o foco do quero dizer por aqui. Aqui não é lugar para isso. Hoje, pelo menos, não.

Falava de quando começou o distanciamento.

Comércio fechado, restaurantes idem, pessoas em casa. Distância física da família, dos amigos. Rotina alterada. Mesmo que – por ser médico pneumologista – não tenha parado de atender, os pacientes sumiram em meio ao medo de adoecer, mesmo tendo outras condições que precisavam/precisam de tratamento. Enfim, mesmo levando bem esse período, a falta do convívio social, dos churrascos, cobra um preço. Passados quase setenta dias, não aguentei e – confesso – cometi um desatino.

Comprei uma churrasqueira.

Daquelas que, em tese, não fazem fumaça, para serem utilizadas dentro de apartamentos. Pelo Mercado Livre. Para vir de São Paulo. 

Ainda não chegou (atrasou, óbvio).

Estou curioso para ver como será.  

Até.

sábado, maio 23, 2020

Sábado (e por aí, distanciamento...)



                     Sozinho, no sol, de máscara...

                      Bom sábado a todos.

                       Até.

quarta-feira, maio 20, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Sexagésimo Sexto Dia


Eu não entro em esquemas de pirâmide.

E não costumo jogar em loterias. Quase nunca.

Quase.

Isso porque sei que jogar em loterias, e falo agora especificamente da Mega Sena, é como jogar dinheiro fora, pois as chances de ganhar são virtualmente nulas. Algo como uma chance em cinquenta milhões. Praticamente impossível.

Praticamente, mas não impossível.

E é isso o que move, imagino, as pessoas a jogar semanalmente. Por mais que infinitesimal, existe a possiblidade de ganhar. E a esperança se nutre disso. Entendo, e compartilho o sentimento. Mas, como eu disse, eu quase nunca jogo, do que se pode concluir que algumas vezes eu o faço. 

Quando? Como?

Nesse momento lembro das histórias de pessoas que ganharam na loteria e algum tempo perderam tudo. Vítimas de aproveitadores, más escolhas, investimentos errados, são diversas as causas que levam esses novos milionários à bancarrota. Tudo, no fim, se resume a não estar preparado para ganhar. E eu me pergunto: como – se jogam todas as semanas – não estão preparados para ganhar? Pois é...

A dica inicial, então, é estar preparado para isso.

Eu, por exemplo, sei o que fazer caso ganhe numa loteria. Se, porventura, eu ganhar (ou quem sabe eu até já tenha ganho) na Mega Sena, ninguém vai ficar sabendo, porque eu estou preparado para isso. Você, que costuma jogar em loterias, tenha um plano de como lidar com o fato de ter ganho. Isso deve diminuir a chance de perder o dinheiro ganho. Então confessei, afinal de contas, que jogo. Mas não jogo sempre. Com relação isso, optei por um método: se é para ganhar “pouco”, nem jogo.

Se provavelmente vou perder o dinheiro da aposta, já que a chance de ganhar é mínima, vou jogar apenas quando o prêmio é grande. Defini que só jogo quanto o prêmio é maior que cem milhões (e, às vezes, nem assim). Abaixo disso, nem pensar. E ocorre, então, um fenômeno interessante, que vamos de chamar de ‘Aposta de Schrödinger’.

Explico.

Inspirado no Paradoxo do Gato de Schrödinger da mecânica quântica, a partir do momento em que o jogo é feito (normalmente faço online) e o sorteio, e às vezes até o dia seguinte quando vou conferir o resultado, eu tanto ganhei quanto não ganhei, e posso pensar no que aconteceria e o que eu faria caso não ganhasse (vida continuaria normal) e caso eu ganhasse (o plano, o plano).

Jogos mentais em tempos de distanciamento social.

Fica a dica.

Até.

segunda-feira, maio 18, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Sexagésimo Quarto Dia


Saudades.

Há algumas semanas, já durante o período de distanciamento social (que parece estar por aqui há muito tempo), entrei em um seminário via Zoom do grupo de Cirurgia Bariátrica do qual faço parte há cerca de quatorze anos. Quem apresentava a aula era a Jacque, que estava sentada bem à minha frente, em nossa sala. Foi engraçado: eu a ouvia falando em minha frente e, com pequeno delay, ouvia no fone de ouvido.  

Mas não era disso o que eu queria falar.

É que ainda antes de eu entrar na reunião, olhando por cima do ombro da Jacque os participantes da reunião, entre eles cirurgiões, endocrinologista, gastroenterologista e residentes de cirurgia, um rosto me chamou a atenção, por conhecido. Demorou poucos instantes e me dei conta: era uma ex-aluna minha, de quando fui professor na Universidade de Santa Cruz do Sul.

Corta para hoje.

Fui até o hospital pela manhã para uma rápida reunião, e – já quando saía – de máscara, pelo corredor mais ou menos vazio, passou por mim – distância segura – também de máscara, um colega que me acenou – de longe, só para deixar claro – e me saudou como ‘Professor’. Outro ex-aluno da UNISC. Como vários que encontro pelos hospitais em que trabalho (alguns até ex-residentes, vejam só, de pneumologia). Fiquei feliz com o encontro, e - confesso - foi a primeira vez em quase dois anos que tive saudades de ser professor.

Como sabem, fui Professor de Pneumologia de Universidade de Santa Cruz do Sul durante quase dez anos, até o final de junho de 2018, quando me exonerei/pedi demissão por uma série de fatores, entre os quais cansaço da estrada (eram 300km toda terça-feira), as próprias condições da estrada, a crescente dificuldade de conciliar a Universidade com o tempo que me era exigido no meu trabalho de Especialista Médico na indústria farmacêutica (da qual eu sairia oito meses depois, mas isso é outra história, já contada por aqui). Eu estava cansado, naquele momento. Os finais e inícios de ano eram mais estressantes por conta de relatórios e projetos cada vez mais burocráticos, e que mudavam toda hora.

Talvez não mudassem, apenas eu que estivesse com tolerância baixa.

De qualquer forma, sempre gostei muito mesmo de dar aulas, do convívio com os alunos, que eu via como colegas mais novos, com menos experiência que eu, e que obviamente com o passar do tempo a diferença de idade foi ficando cada vez maior. Até hoje sou “amigo” de muitos em redes sociais, acompanho suas vidas e torço pelo seu sucesso, como um irmão mais velho.

Dizia eu, então, que tive saudades de ser professor, de dar aulas.

Pode ser que esse sentimento, essa vontade de estar com as pessoas, seja pelo fato de estarmos nessa fase de distanciamento social, de reclusão, podemos dizer. Estaria eu pensando em voltar a ser professor por carência?

Acho que não.

Eu gosto de pessoas, de conviver com elas.

Mas, por outro lado, estou gostando muito mais da fase que vivo no último ano e pouco, de independência, de mente tranquila, de paz interior.

E isso vale mais que qualquer outra coisa.

Até.

domingo, maio 17, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Sexagésimo Terceiro Dia)


Tenho problemas com álcool.

Já falarei disso, prometo.

Antes, contudo, deixe-me transitar por outras searas, talvez por outros mundos. Ou não. Digo, vou permanecer um pouco ainda em assuntos do mundo real, dando até a impressão de que não consigo me afastar da dura realidade que vivemos, de que não consigo abstrair, uma inverdade, mas não preciso provar isso a você, fiel leitor. Mas, sim, vou falar um pouco de coronavírus e da pandemia, de quarentena e distanciamento social.

Tudo que sei é que nada sei.

Volto ao Paradoxo Socrático com o objetivo de dizer que – quanto mais sei – mais sei que tenho que aprender. Que nada é tão simples quanto possa parecer, e reconhecer esse fato é, sim, um ato de humildade, de reconhecimento de que há muito a ser aprendido. 

Esse sou eu, um cara humilde.

As verdades unânimes que temos visto por aí tem me deixado algo desconfortável, devo confessar. Mas fico ainda mais incomodado com a não aceitação de qualquer tipo de questionamento, ou da possibilidade de contraponto. Com uma falta geral de – sim – senso crítico na forma que estão lidando com o momento atual da pandemia. E não vou entrar em política.

Há dois meses, quando iniciou esse período de isolamento/distanciamento social, o discurso era de que tínhamos de fazer isso com o objetivo de ‘achatar’ a curva de infecção para não sobrecarregar o sistema de saúde, para que não entrasse em colapso. Tem funcionado. Com efeitos colaterais importantes, admitamos, mas tem funcionado. Hospitais vazios, pessoas com medo de sair de casa, até pessoas morrendo em casa com medo de procurar atendimento quando necessário pelo medo de se infectarem no hospital. 

Mas aqui no Sul do Mundo, no final do Brasil, quase um Uruguai do Norte, a pandemia não foi (ainda?) o tsunami que esperávamos. Talvez pela localização geográfica, pela pouca circulação de turistas, não sei, mas o fato é que não chegou com tudo como se esperava. Mas vem o inverno por aí, vai ser quando tudo vai piorar, vai ser um horror, dizem. Na metade abril, disseram. Na primeira quinzena de maio, reafirmaram. Daqui a duas ou três semanas, podem esperar, foi o que ouvi ontem.

E é o que temos feito, esperado, a postos, pelo inimigo.

Contam o número de infectados, que cresce – obviamente – e soam alarmes quanto a isso. Vamos ter muitos infectados, os alarmistas gritam por aí. E eu aqui, no meu canto, me pergunto em que momento mudou a forma como se vê o que está acontecendo. O distanciamento era para “achatar” a curva. O que significa isso? Que as pessoas iriam se infectar numa velocidade menor, que não sobrecarregasse/colapsasse o sistema de saúde, não que as pessoas nunca iriam se infectar. Até porque se sabe – até aqui – que a grande maioria dos infectados vai ficar bem, e que a parcela que vai precisar de atendimento, e de UTI, é bem menor. 

A dúvida que surge agora é até quando vamos nos manter assim. Mais, esta é uma estratégia que está funcionando? Aparentemente, sim. O que fazer agora, afrouxar a estratégia mantendo protegidos aqueles de risco, liberar o resto? Não sei, e não queria estar no papel de quem deve decidir.  

O que eu sei, contudo, é que o assunto deve ser discutido, e todos os pontos de vista e evidências devem ser ouvidos e analisados. Porque ciência é isso: para ser verdade, uma hipótese deve ser testável e reprodutível, e vai permanecer válida até que surja um novo conhecimento que a altere.

É isso.

E o álcool?

Outro dia, não sei exatamente onde, li alguém que declarou que a “quarentena” deveria acabar logo porque, ao ficar em casa, só o que restava era beber. E muitos outros por aí que afirmam o mesmo.

Que triste isso, pensei.

Excluindo o exagero nestas afirmações, ainda assim, lá no fundo, sabemos que em boa parte dos casos é verdade, e isso é trágico. Depender de um embotamento dos sentidos, mesmo que mínimo, para encarar a realidade, para passar os dias, é algo que não entendo. E digo isso sem julgamento, sem juízo de valor, porque não tenho como saber o que se passa com cada um, quais suas razões.

Mas não é para mim, não é esse tipo de relação que tenho com o consumo de álcool, e confesso que fico um pouco incomodado com a glamourização que fazem com relação a seu consumo.

Fazer o quê?

Até.

domingo, maio 10, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Quinquagésimo Sexto Dia)


Dia das Mães.


Depois de muitos anos, é a primeira vez – por motivos óbvios – que o almoço reunindo toda a família – os pais da Jacque e os meus – não foi aqui em casa. Tanto que a Jacque estranhou que não foi para a cozinha para preparar o almoço especial. 


Acordamos no horário habitual de domingo, pouco antes das 8h. 


Decidi que não iria pedalar hoje, mesmo com o tempo bom, de céu azul sem nuvens. Seria o primeiro dia sem atividade física em quarenta dias. Descanso e comemorar o dia das mães.


Fiz panquecas no café da manhã.


O almoço, apesar de não ter sido com todos reunidos, foi especial.


Como não poderíamos estar juntos, a Jacque planejou uma surpresa para as famílias: preparou lasanhas para todos (pais, sogros, Karina e para nós) ontem pela manhã e, à tarde, entregamos a todos, como lembrança/presente de Dia das Mães. Fizemos as entregas e visitas (da porta, com a distância adequada). Além disso, como era aniversário do meu pai, ainda fizemos pequena comemoração (também da porta) para ele.


Todos ficamos claramente emocionados.


Os dias tem sido assim, de espera, incerteza e momentos de emoção. 


Até.

domingo, maio 03, 2020

A Sopa

(Crônicas de uma Pandemia – Quadragésimo Nono Dia)


O normal.

O conceito de normal, de normalidade, é um conceito estatístico: aquilo que é mais comum, mais frequente. Não tem nenhuma relação com os conceitos de certo ou errado. Não é um conceito moral.

Ser normal é ser comum, seguir a norma, a regra, ser o que a maioria é. Loucura, por outro lado, é o fugir da normalidade, o diferente. É – e lembro das aulas de Medicina Social – quem foge do padrão normal, do estatisticamente mais comum. O ‘louco’ é aquele que não segue os padrões normais. E nem sempre não ser normal é ruim.

É o que dia a música do Raul Seixas, ‘Maluco Beleza’: 

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real

Além disso, existem muitos comportamentos, por exemplo, que antes eram considerados normais, por comuns, e por isso mesmo socialmente aceitos que hoje não fazem sentido nenhum, de absurdos que eram e são, e ainda assim ocorrem, mesmo não sendo mais normais e inclusive sendo considerados criminosos. Como homofobia, e racismo.

Por isso que quando se fala em voltar ao normal após a pandemia do coronavírus, temos que nos perguntar qual normal queremos, e falo no sentido mais individual, mais íntimo. A vida sempre muda, fato inexorável, e estará diferente após nossa libertação do confinamento. Como será?

Não sei.

Imagino, contudo, que certos comportamentos não vão mudar, porque definem o que somos. A proximidade entre as pessoas, não no sentido estritamente físico, mas as relações, não devem mudar. Somos seres sociais. Precisamos de outras pessoas para a vida fazer sentido. Isso vai continuar. Devemos repensar nossas prioridades, em termos gerais. Tenho pensado muito nisso, no que realmente é importante para mim. Outros hábitos e comportamentos, por outro lado, se forem deixados de lado não farão falta.

Mas falava de normalidade.

Os últimos dias foram de alguns lampejos da antiga normalidade de antes do vírus que parou o mundo. Quinta-feira passada, atendi no consultório pela manhã, equipamento de proteção completo, máscara, face shield, álcool gel em abundância, mas ficou uma paciente que só poderia ser atendida no início da tarde, então fiquei no consultório para almoçar por lá. O restaurante em que almoço às segundas, terças, quintas e sextas-feiras, e que tem a mesa do nosso grupo reservada, está fechado devido à pandemia. Como não havia reservado comida no café do hospital, almocei um sanduíche na Associação dos Médicos. E foi lá esse momento de quase normalidade. Diversos colegas passaram por lá, e pudemos conversar amenidades (além – claro – de Covid-19) e descontrair um pouco.

O feriado, sexta-feira, começou com quarenta quilômetros de bicicleta, sozinho, de bandana como máscara, por Porto Alegre. No final do dia, recebemos a visita da Karina e da Roberta, que vieram nos trazer álcool 70 que haviam comprado para nós e ficaram para jantar. Sapatos na porta de casa, mantendo distanciamento mínimo. Conversamos bastante, jantamos, vimos fotos antigas de viagens. Pouco se falou de vírus e suas consequências. Foi como se nunca tivéssemos ficado esses quarenta e poucos dias sem nos encontrarmos.

Foi leve.

Todos precisamos de leveza.

Ah, tudo vai passar, e espero que logo.

Até.