sábado, dezembro 31, 2022

A Sopa (a Retrospectiva 4)

 Está terminando mais um ano.

Algo que vem me chamando a atenção nos últimos anos é a tendência de muitos a considerar que o ano que estamos vivendo é pior que os anteriores. Como se na virada do ano tudo o que passou fosse esquecido, fosse zerado, e – no decorrer do período seguinte – as inevitabilidades da vida o tornassem, o caracterizassem, como – digamos – mas pesado, mais difícil. “Esse ano está difícil”, dizem.

 

O que é e não é verdade.

 

O ponto aqui é a necessidade de se olhar em perspectiva, olhar o todo, e não apenas um ou outro fato isolado. Todos os anos tem coisa boas, outras ruins, algumas ótimas e outras péssima. É assim. Sempre foi e sempre será. O importante é colocar em contexto, olhar o todo.

 

Dois mil  e vinte e dois foi um bom ano.

 

Há algum tempo, desenvolvi a crença de que os “anos pares” eram melhores que os anos ímpares. Acreditei nisso e – convenientemente – fui reunindo evidências que confirmassem minha teoria e, mesmo que de maneira inconsciente, desconsiderando qualquer fato que pudesse desmentir isso. Tinha como verdade inquestionável.

 

Não era verdade.

 

Assim como a crença de que agosto é um mês que dá azar, ou que ser familiar de médico é algum tipo de fator de risco para complicações médicas, ou se usar sempre a mesma cueca ao assistir futebol fará meu time ganhar. Pensamento mágico. 

 

Então eu dizia que 2022 foi um bom ano, mesmo com as coisas ruins que aconteceram. No final das contas, o balanço é positivo. Como sempre, algumas metas não foram alcançadas, por diferentes razões, mas estou tranquilo quanto a isso. Faltaram alguns churrascos, alguns encontros com amigos, algumas leituras a mais que gostaria de ter feito. Por outro lado, e como sempre, algumas portas se abriram e entrei, meio tímido ainda, mas avançando.

Fiz o melhor que podia devido às circunstâncias que se apresentaram. Melhorei em alguns aspectos, em outros posso melhorar ainda. A ideia é a evolução constante. Novas ideias, projetos.

 

Seguir andando. Sempre.

 

Até. 

quinta-feira, dezembro 29, 2022

A Sopa (a Retrospectiva 3)

Em 2022 eu fiz uma tatuagem. 

Sempre havia a vontade, já por muitos anos, mas nunca houvera a motivação, a razão para fazer. Não que haja a necessidade de haver uma razão outra que não a vontade, mas pessoalmente eu sabia que precisava de uma.

 

Quando, em setembro de 2021, meu pai internou no hospital pela primeira vez, ficando por quatro dias internado na emergência mesmo, um local sem janelas, com uma luz fluorescente acesa o tempo todo, e, em frente a ele, no seu campo de visão, um relógio de parede que não funcionava, o que o desorientou como desorientaria qualquer um, foi ali que decidi que – no dia em que ele não estivesse mais entre nós, e que eu esperava que ainda levasse muito tempo -  eu faria uma tatuagem em sua homenagem. E sabia o que tatuaria em meu antebraço direito.

 

O símbolo do Superman.

 

A partir daí, não precisaria explicar mais nada, e mesmo assim ele já sabia que era isso o que ele representava para mim, afinal há alguns anos eu o havia presenteado com um boneco do Super-Homem, e havia ressaltado a simbologia do presente, o seu significado. Porque eu aprendi em algum momento que as pessoas precisam saber (ou eu preciso dizer a elas) o quanto são importantes para mim e o quão grato eu sou por tê-las em minha vida.

 

Desde o momento em que decidi que um dia eu faria até realmente fazê-la, passou menos de um ano, infelizmente. Em 27 de agosto passado, exatamente um mês após a despedida dele, eu fiz a tatuagem, cumpri minha promessa, mantive minha palavra. Foi uma forma de homenagear um homem que – sim – tinha seus defeitos (como todos nós, aliás) mas que foi, sem dúvidas, um grande cara, um baita contador de histórias e que me ensinou muito. Minhas referências, ele junto com minha mãe.

 

Morreu dia 26 de julho à tarde.

 

Na manhã deste dia, já sabendo que era uma questão de algumas poucas horas, ainda pude passar um tempo junto a ele me despedindo, algo que já vinha fazendo nos últimos dias da internação. Pude encostar minha cabeça em seu peito, sentir seu coração ainda batendo rápido, mas já com a respiração fraca. Ali, agradeci por tudo, e prometi honrar a memória dele. Suas últimas palavras, em um dos seus últimos momento de lucidez, haviam sido ainda na UTI, quando falei que havia melhorado e que iria para o quarto: “É hora de levantar acampamento”.

 

E assim foi. Poucos dias mais tarde, com uma febre persistente e já sedado para não sentir nenhum tipo de desconforto, foi apagando, o final de um processo que lentamente se desenrolava por ao menos dois anos. Levantou acampamento definitivamente.

 

A despedida foi emocionante no sentido em que pude ver como ele era querido por muitos, que estiveram lá, mas não só isso: pude ver como a minha mãe, meu irmão e eu também somos, pelas pessoas que estiveram lá por nossa causa, para estarem lá conosco naquele momento difícil, o mais difícil até aquele momento em minha vida. Foi uma cerimônia simples, e bonita.

 

Eu estava sentindo um misto de emoções, naturalmente. A tristeza por perder meu pai, e a sensação reconfortante de me sentir abraçado por todos. No final, abracei meu irmão e minha mãe e disse que a melhor forma de homenagear meu pai era seguirmos juntos e vivermos nossa vida da melhor forma possível.

 

É o que venho tentando fazer.

 

Até. 

terça-feira, dezembro 27, 2022

A Sopa (a Retrospectiva 2)

A vida é a arte do encontro. 

Vinícius de Moraes declarou isso em seu magistral ‘Samba da Benção’, que compôs em 1967 junto com Baden Powel, letra citada até pelo Papa Francisco em uma de suas encíclicas, de nome Fratelli Tutti.  Além disso, Vinícius acrescentou que, apesar de ser a arte do encontro, há muito desencontro pela vida. Acredito nisso, de verdade. Acho que a vida que vale a pena ser vivida é a que é compartilhada, vivida em grupo. Sou, definitivamente um ser social. 

 

Uma das ideias que não se realizou em 2022 foi a de um podcast que eu faria e que tinha relação com isso, com pessoas e suas histórias de vida. Quem sabe no próximo ano? Quem sabe...

 

Ao longo da vida, o acaso nos proporciona encontros com pessoas das mais diversas origens, com histórias únicas, que em grande parte das vezes acabamos não conhecendo, e circunstâncias na maior parte dos casos alheias à nossa vontade é que vão determinar se esses encontros ao acaso resultarão em algum tipo de relação além desse ponto.  

 

Sim, continuo falando de música, do meu ano musical e do que a volta (emocional) a esse ambiente me proporcionou. Conhecer novas pessoas, criar relações a partir da afinidade comum, viver a música. Tudo foi ganho, tudo tornou meu ano melhor.

 

Se tivesse que personificar, dar um nome que representasse tudo isso, essa nova perspectiva, esse novo mundo que se abriu diante dos meus olhos quando passei a frequentar o ambiente de uma escola de música cujo foco principal é o rock, se tivesse que homenagear uma pessoa (vou falar de duas, na verdade) seria, sem discussões, o de Luís Henrique Tchê Gomes.

 

Tchê Gomes.

 

Guitarrista e cantor, foi integrante do TNT, banda fundamental do rock gaúcho.  Atualmente, é parte da Gaby Ferreira e Banda Polainas, em que toca junto com sua esposa, a Gaby. O Tchê é o diretor musical da School of Rock Benjamin POA, local onde Marina e eu somos alunos. Além das aulas individuais de guitarra que tenho com ele, ele também é o responsável pelos ensaios das bandas. 

 

Além de um talento e uma dedicação gigantescos, é um cara de uma generosidade maior ainda. Um cara espetacular. Nossas aulas, além da parte técnica, dos aprendizados referentes à guitarra, ainda são terapêuticos, no sentido em que conversamos sobre a vida, contamos histórias, compartilhamos experiências.

 

Se tornou um amigo a quem quero muito bem.

 

Mas homenagear uma só pessoa seria de uma injustiça imensa, e eu disse que não iria fazer.

 

Tenho que falar da School of Rock Benjamin POA, e de seu mentor, o diretor, o empreendedor que trouxe a franquia ao Rio Grande do Sul, o agora também amigo Thiago Vitola. Ele é, junto com o Tchê, a alma da escola: é por ele, também que passa o ambiente familiar, onde quase todos se sentem em casa, se conhecem e convivem, também um local seguro, onde a Marina e os outros da idade dela até mais novos circulam como se realmente estivessem em casa. A parceria tem sido muito boa, e em crescimento. Nosso último churrasco, no dia do último ensaio do ano, terminou perto das duas da manhã. 

 

Comentei com o Thiago mais de uma vez, agradeci acima de tudo, do quão importante foi a School of Rock (as pessoas, evidentemente) em 2022. Eles estiveram junto ao longo do ano, inclusive no pior momento de todos.

 

A morte do meu pai.

 

Continua.

Até.   

domingo, dezembro 25, 2022

A Sopa (a Retrospectiva)

O Ano dos Extremos.

 

Em 1991 foi publicada a primeira edição de “Era dos Extremos”, do historiador Eric Hobsbawm, livro que analisa o século XX, em suas relações sociais, políticas, econômicas e culturais. Sabemos que foi um século marcado por uma série de conflitos, mudanças e transformações que impactaram a sociedade global. Se o século XX foi de extremos, o que dizer do século XXI e suas bolhas, seus conflitos políticos e de visões de mundo, virtuais e reais? Certamente a era dos extremos se estendeu e se intensificou, podemos dizer.

 

Mas, evidentemente, não quero falar do mundo, ou de política, ou de internet, muito menos de redes sociais, vocês já devem imaginar. Porque aqui eu falo de mim, meus pensamentos, minhas reflexões, da minha vida, afinal de contas. E sigo.

 

Dois mil e vinte e dois, definitivamente o Ano dos Extremos.

 

Dizendo de outra maneira, o ano como uma montanha-russa, daquelas radicais, com grandes subidas, descidas abruptas seguidas de novas ascensões rumo ao que parece ser o espaço, para então descer de novo, nos deixando a sensação de que o coração sairá pela boca. Uma loucura como, na verdade, são todos os anos, como é a vida.

 

O ano em que fiz cinquenta anos. Em que perdi meu pai. Em que fiz uma tatuagem. Em que a música voltou a fazer parte da minha vida de maneira intensa. Em que larguei um emprego de professor universitário para voltar a ser profissional liberal e começar um novo projeto em um novo/antigo hospital. Em que vi a Marina crescer muito como vocalista. Em que ela participou de um musical. Em que tocamos no Sgt. Peppers e no Opinião. Em que tornamos a School of Rock parte de nossas vidas quase diárias e – por que não? – da nossa família.

 

Muita coisa aconteceu, num ritmo intenso.

 

Fevereiro, mês de férias, fizemos – depois de um hiato – uma viagem em família, de carro, como fazemos há muito tempo, tipo Perdidos na Espace, na verdade ‘Los Perdiditos’, como nomeamos a viagem. Foi um momento de desacelerar, e foi quando me dei conta de como a pandemia havia afetado meu estado de espírito, de quanto havia me cansado.

 

A viagem começou comigo ainda de certa forma tenso, sisudo, circunspecto, mas – conforme avançávamos geograficamente para longe de Porto Alegre e da vida diária – fui relaxando, me conectando com quem eu era (ou achava que era), e realmente aproveitando as férias e as pessoas que estavam comigo. Foi tão bom que virou um longo relato de viagem publicado nesse blog. Voltei das férias descansado como há muito não acontecia, mesmo que tenho passado boa a maior parte da viagem com dores devido a uma hérnia de disco cervical, que seria descoberta apenas depois de ter voltado.

 

A volta das férias coincidiu com o show de temporada da School of Rock na praia, e foi outro momento de felicidade plena participar do processo, chegando cedo, vendo a montagem do equipamento, a passagem de som, a convivência com o pessoal e, claro, o show em si. No meio do show, vendo a Marina, tive a epifania: era aquilo que eu queria para mim também. Queria fazer parte daquilo, precisava retomar a música. Era o sinal de que havia passado muito tempo longe da música e era hora de voltar.

 

Ato contínuo, me matriculei em aulas de guitarra e comecei em março na School of Rock (tudo por influência da Marina, a quem pedi autorização para entrar no que era o mundo dela). Foi como entrar em um novo mundo: conhecer novas pessoas, conviver intensamente com elas. A cada semana, uma hora de aula individual e mais de duas horas de ensaio com banda, sem falar nas vezes que ia lá por causa da Marina.

 

Música passou a ser estudo também. Passei a ouvir com mais atenção, mais cuidado. A criar novas referências, ao seguir orientações e dicas dadas por quem conhece. O mundo se ampliou, como já havia acontecido com a Marina. Méritos para os responsáveis. 

 

O ano foi, então, marcado pela música? 

 

Sim, também.

 

Subimos no palco algumas vezes para mostrar o resultado de nosso trabalho. Tocamos na rua, numa noite fria de maio, dez dias antes do show da temporada Beatles no Sgt Peppers, lendário pub com temática Beatles de Porto Alegre, lugar aonde a Jacque e eu fomos na primeira vez que saímos juntos. Assistimos nossa filha cantar nesse lugar vinte e sete anos depois dessa primeira vez. Mágico.

 

Depois, em julho, no Dia do Rock, tocamos numa loja de instrumentos musicais num shopping de Porto Alegre, outra experiência muito legal, mas que ocorreu no mesmo dia em que havíamos internado de urgência meu pai no hospital, de onde não sairia, no que certamente foi o episódio mais triste da minha vida até aqui. Falo disso mais adiante, contudo. O foco ainda é o que a música me (nos) proporcionou em 2022.

 

Agosto, o mês de aniversário da Marina, foi um mês em que estivemos envolvidos com a música quase todo final de semana, entre aulas, ensaios, apresentações na própria escola, incluindo o aniversário de quatorze anos dela. Foi memorável. Nos divertimos, tocamos e cantamos juntos, amigos estiveram reunidos. Mais uma vez, mágico. O mês ainda terminou com um show na Expointer, tocando o repertório que trabalhávamos na época, Rolling Stones.

 

Que foi o nosso show de temporada do final de outubro, no Bar Opinião, outro momento daqueles para não esquecer nunca. Estrutura profissional, grande plateia, som e luzes. Sensacional.

 

Poderia (e talvez devesse) falar mais de música.

 

Mais adiante, mais adiante.

 

Continua.

Até.  

sábado, dezembro 24, 2022

segunda-feira, dezembro 19, 2022

A Sopa

Avalanche.

 

Sem desculpas, apenas tenho estado ausente por esses dias porque a vida tem acontecido como sempre aconteceu, com situações e eventos que assoberbam, em ondas, como um tsunami de emoções e eventos que mal dão tempo para respirarmos, quanto mais pensarmos.

 

Vou voltar com calma, como tenho voltado há mais de dez anos.

 

Por enquanto, começo a preparar a minha retrospectiva pessoal de 2022, um ano inesquecível em todos os aspectos. Vai levar um tempo, ainda, para entender tudo o que foi esse ano.

 

Chego lá.


Até. 

sábado, dezembro 03, 2022

Sábado (e uma foto antiga de viagem 14)

 

Outubro/2009

              Dieppe, Normandia.
              Perdidos na Espace.

             Bom sábado a todos.

              Até.