domingo, dezembro 29, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 07)

Retrospectiva (2).

Um aprendizado interessante, podemos dizer assim, mas podemos nos perguntar também se não são todos os aprendizados interessantes por si só, pelo crescimento que nos proporcionam, pelos diferentes pontos de vista que se abrem, pelo próprio fato de que quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos, ou o ipse se nihil scire id unum sciat (“só sei que nada sei”) atribuído a Sócrates, o filósofo. Como dizia, um aprendizado interessante é que tudo o que acontece em nossas vidas, os fatos, as histórias, independente de (em tese) boas ou não, elas são simplesmente a forma como as vemos/vivemos. Em outras palavras, elas são como vamos contá-las.

A narrativa.

A realidade é ditada por quem conta a história.

Poderia traçar um paralelo com o que acontece no Brasil nos últimos vinte anos, mas – como já disse – esses escritos, salvo quando claramente anunciado, são sobre mim. Sobre como eu vejo o que acontece comigo, como vejo o mundo.

Voltando à retrospectiva pessoal do ano que ora termina, os eventos em parte determinantes de 2019 iniciaram ainda nos estertores de 2018, com uma constatação íntima, pessoal: eu não terminaria esse ano como terminara os últimos dois anos.

Explico.

Dentre as muitas atividades profissionais em que estava envolvido, desde o último trimestre de 2016 eu era médico contratado de uma multinacional da indústria farmacêutica.  Médico especialista, com a função de trabalhar com educação médica continuada, consultoria científica. Regime de trabalho parcial, boa parte em home office, mantinha minhas atividades na Universidade e consultório. Claro, como envolvia viagens quase semanais, consultório ficou em segundo plano.

Era um trabalho muito bom, em termos de ambiente de trabalho, do grupo com que trabalhava, e – claro – salário e benefícios envolvidos. Estava muito satisfeito. Houve, contudo, um momento, depois de dois anos na função, em que senti que a perspectiva de continuar com esse trabalho estava com os dias contados. Encerrei o ano de 2018 com a tranquila certeza de que não terminaria 2019 trabalhando ali. Estava pronto para pensar em novas possibilidades, me preparar para quando saísse, o que pretendia fazer até o final desse ano.

Os fatos se desenrolaram mais rápido que eu havia imaginado. Na metade de fevereiro fui chamado para uma reunião. Fui com a certeza do que aconteceria, e que se confirmou: por questões de readequação financeira, redução de custos, reengenharia, a minha posição seria terminada e, por isso, fui desligado da empresa. Mundo corporativo, nada pessoal.

Simples assim, e foi tranquilo. 

Lamentei, claro, a perda da convivência com os ótimos colegas (e, não vou negar, o salário e os benefícios, mas ofereceram um pacote de rescisão muito bom.). Poderia parecer algo muito ruim, afinal ainda na metade do ano anterior eu havia me desligado da Universidade por dificuldade em compatibilizar os dois trabalhos (e por estar cansado da estrada, 300km toda terça-feira, por mais gratificante que fosse a tarefa de ser professor). No espaço de tempo de seis meses, eu havia encerrado dois contratos de trabalho, com carteira assinada e tudo mais. Poderia ser devastador.

Mas foi libertador.

Como falei, o que aconteceu – ruim sob diferentes aspectos que se olhe – foi o determinante para tudo o que aconteceu no resto do ano, que foi muito bom. O fato em si não é o mais importante, mas sim como vi e vivi o que aconteceu.  

Porque fui eu quem escrevi a história, a narrativa é minha.

Conto mais sobre isso, sobre o ano que termina, adiante, na sequência musical.

Até.

terça-feira, dezembro 24, 2019

domingo, dezembro 22, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 06)

Retrospectiva.

Tradicionalmente, ao final do ano, e como essa Sopa é sobre mim, o que vejo, sinto, penso e repenso, além – é claro – de uma ficção ocasional, todo final de ano eu fazia uma retrospectiva pessoal do ano que terminava, compartilhava com os (poucos) leitores o que tinha se passado comigo, e como eu tinha visto/sentido o que se passara comigo. Nesse momento de (tentativa de) retomada desses escritos regulares que eu havia perdido enquanto corria em perseguição à cenoura (como a história do burro que puxa a carroça cujo dono está balançando uma cenoura em frente ao seu nariz, o dono podendo saber onde está indo, mas o burro perseguindo uma ilusão). 

Não faço aqui crítica (ou julgamento) a ninguém, pessoas ou locais de trabalho.

Falo de mim, do meu umbigo, e de como nos últimos anos acumulei diversas atividades e funções de trabalho, associativas e – de certa forma – políticas. É a teoria da porta que se abre: seguia o caminho e – à medida em que andava – ia entrando nas portas (possibilidades) que se abriam (surgiam). Foi muito bom, profissionalmente falando.  E também em termos financeiros, claro.  Mas todo bônus tem um ônus. E a corrida do dia-a-dia, trabalho e trabalho, cobra um preço que não pode ser mensurado, e não pode ser recuperado.

Tempo.

Por uma questão de prioridades temporárias, de urgências da rotina, houve a necessidade de deixar de lado algumas atividades, digamos assim, que me eram caras. Normal, parte da vida. Sabemos que existem momentos em que devemos priorizar determinadas ações/atividades em detrimento de outras em função da situação de vida em que estamos. 

Como quando voltei do Canadá.

Voltar foi uma retomada da vida, um reinício profissional, hora de “agarrar” todas as oportunidades, entrar em todas as portas que se abrissem. Consultório, Santa Casa, Centro Clínico Gaúcho, depois a Universidade, o concurso para Prefeitura de Porto Alegre, além das atividades associativas, primeiro como Diretor e depois Presidente da Sociedade de Pneumologia do RS. Fui acumulando atividades, que traziam algum retorno financeiro e algum reconhecimento profissional.

Nessa corrida, deixei de escrever. 

E continuei correndo,  a cenoura ali na frente mas que não chegava nunca.

E fui assumindo mais funções.

A melhor de todas, evidentemente, de pai da Marina. Mas ainda outras.

Mas falo disso mais adiante.

Até.

domingo, dezembro 15, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 05)

Post hoc ergo propter hoc.

Falácia lógica, ou correlação coincidente, consiste na ideia de que dois eventos que ocorram em sequência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. Esse é um tipo de erro muito comum quando se discute assuntos de saúde, por exemplo, mas claro que não restrito a essa área. Um exemplo desse tipo de erro ocorre com vacinas.

Vacinas não são questão de crença ou fé.

Simples assim. 

Da mesma forma que a Terra não é plana, vacinas funcionam e são fundamentais. Quem diz ou pensa em contrário, está errado. Ponto. Não tenho paciência para discutir o assunto.

De tempos em tempos, aparece no consultório um paciente que – ao ser perguntado com relação à vacinação para a gripe – diz que “não acredita em vacinas”. Assim, como se fosse questão de opinião pessoal, ou gosto. Como se fosse o mesmo que dizer que não gosta coco ralado, ou de comida japonesa.

Durante um tempo, até argumentava pacientemente sobre o assunto, apresentava argumentos racionais, dados e estudos científicos que comprovam a eficiência e segurança das vacinas, mas cansei. Não consigo mais. Mudei de estratégia. Atualmente, reajo diferente quando o paciente diz não acreditar em vacinas.

Respiro fundo e digo que ele tem todo o direito de acreditar ou não em duendes, unicórnios e até elefantes voadores, mas que esse não é o caso das vacinas. Estamos lidando com fatos, com dados que foram extensamente estudados. Que a vacina da gripe NÃO causa gripe. 

“Mas eu sei de gente que tomou a vacina e no dia seguinte teve um gripão”, muitos rebatem, e eu tenho que explicar que não, não funciona assim. Que isso é uma falácia lógica. 

Que, se um dia eu sair de casa de chapéu e chover, não quer dizer que choveu porque eu saí de chapéu... Que a pessoa provavelmente já estava infectada e desenvolveu os sintomas (estava em período de incubação quando fez a vacina). E que gripe é diferente de resfriado. Gripe é coisa séria, pode matar. Por isso a necessidade de fazer a vacina anualmente.

Ainda assim, mesmo com todos os argumentos possíveis, alguns pacientes associam ter feito a vacina e terem adoecido logo depois, como se fosse relação de causa e efeito, como se chovesse quando eu saio de casa de chapéu. 

Assim como as pessoas que afirmam que a Terra é plana, ou que querem salvar o planeta mas não arrumam a própria cama.

Uns chatos.

Até.

segunda-feira, dezembro 09, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 04)

Tenho algumas implicâncias.

Antes de mais nada, devo dizer que – sim – sou a favor de que cada um cuide de sua própria vida, que – desde que não cause prejuízo real a outras pessoas (a liberdade de um termina onde começa a do outro) – cada um viva sua vida da forma que achar melhor. Que trabalhe naquilo que quiser e puder, que se vista como der na telha, que case com quem se apaixonar, ou não se case, tanto faz, desde que seja sua escolha e esteja feliz com isso.

Sou a favor da liberdade individual. 

Não é o governo, nem a religião, e muito menos outras pessoas que vão determinar como cada um deve viver sua vida. Desde que, enfatizo, todos sejam respeitados, e ninguém cause prejuízo (e para isso existem regras de convivência) a outros.

Mas, confesso, tenho implicâncias. E não vou falar dos vegetarianos, muito menos dos veganos. Não dessa vez, não hoje.

Pessoas que tomam cerveja no supermercado, enquanto fazem compras.

Todo mundo já presenciou a cena. Meio da tarde de uma quarta-feira, ou sábado de manhã, por acaso estamos no supermercado fazendo algumas compras de última hora, ou mesmo as compras semanais, não importa, estamos lá abastecendo o carrinho com provimentos, leite, carne, pão, entre outros produtos, e passa por nós, tranquilamente, indivíduo (não é exclusivo de gênero) com uma long neck na mão, a outra empurrando o carrinho de compras, tomando cerveja durante as compras. Acho isso errado em muitos sentidos.

Não estamos em casa, ou em uma festa, ou mesmo na praia, para circularmos de forma tão informal. Ingerindo álcool no meio da tarde (ou de manhã, ou mesmo à noite, que seja) em pleno supermercado dá ideia da necessidade urgente de satisfação imediata, da incapacidade de esperar pelo momento mais adequado para consumir. Precisa ser aqui e agora. É infantil, como quando levamos uma criança pequena conosco e ela está com fome. Aí até justifica-se permitir que ela consuma algo ainda dentro do supermercado. Mas não um adulto com idade suficiente para comprar e ingerir álcool. Nada justifica isso.

E, ao sair do supermercado, como levará as compras para casa?

De táxi, Uber, Cabify ou outro transporte, mas esperamos que não dirigindo, porque seria pior ainda. Mas não duvido...

E não estou nem entrando no mérito daqueles que consomem algo (e aí não precisa ser cerveja) e deixam a embalagem em qualquer local, saindo sem pagar por ela. Porque aí é o fim da civilização.

Mas, como eu disse, cada um sabe de si.

E eu não tenho nada a ver com isso.

Até.

sábado, dezembro 07, 2019

domingo, dezembro 01, 2019

A Sopa

(Ano 19, Número 03)


Sobre o tempo.

Assunto recorrente em meus pensamentos e reflexões. Mas quem me conhece já sabe disso...

A passagem do tempo ainda me fascina. Pode parecer que não me conformo até hoje por ter crescido, mas não é isso, podem ficar tranquilos.

O tempo ainda me encanta. Um encantamento juvenil, ingênuo, sincero. 

E, também, eventualmente, esquisito.

Estamos às portas de 2020, e ainda acho estranho quando escrevo o ano em que vivemos. E isso acontece desde 1986. Qualquer ano depois disso parece... digamos... errado, fake, para usar um termo atual. Não faz nenhum sentido, entendo, e não sei explicar.

Assim como as viagens no tempo proporcionadas pela música.

Cada vez mais, e quanto mais passa o tempo, quanto mais passado tenho, mais fascinante é o efeito de voltar no tempo que determinadas músicas têm em mim. Impressionante como me vejo em lugares e situações de muitos anos passados ao ouvir músicas que marcaram esses momentos. Muito mais para o bem que para o mal.

E é uma sensação muito real, essa de se sentir de volta no tempo ao ouvir certas músicas.

Situações e pessoas, boas lembranças.

Até.