domingo, agosto 29, 2010

A Sopa 10/05

(Uma Sopa de cinco anos atrás, porque estou muito cansado... Ah, hoje é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Não se fume.)

Viajar é uma experiência única.

Assim como uma pessoa nunca cruza duas vezes o mesmo rio (porque o rio não é mais mesmo assim como pessoa também não é mais a mesma), duas pessoas visitando um mesmo lugar ao mesmo tempo não estarão vendo a mesma coisa, ou sentindo as mesmas sensações. Existem quase que infinitas versões de Paris, ou New York, assim como é o número de pessoas multiplicado pelo número de vezes em que estiveram lá, e cada um, cada vez, visitou uma cidade diferente.

Mas diferente em parte, claro. A torre Eiffel ou o Central Park serão essencialmente os mesmos. Talvez com pequenas alterações, restaurações ou manutenções, mas no seu cerne, manter-se-ão os mesmos. Assim como nós, que mudados, ou em circunstâncias diferentes de vida, seremos diferentes, mas no fundo os mesmos. A essência.

Isso torna mais interessante visitar mais de uma vez os mesmos lugares, cidades ou países, não importa. Porque iremos ver com olhos “atualizados” o nosso destino de viagem, e atualizaremos nossa impressão sobre o mesmo. É o ponto positivo de visitar pela segunda (ou terceira, ou quarta) um mesmo local: renovar as sensações. Ou conhecer mais do mesmo, que sempre é um acréscimo, uma virtude a mais. Não ter a obrigação de visitar determinadas “atrações” é um prazer tão grande quanto o de visitá-las pela primeira vez. Ou ainda ver sob outros ângulos aquilo que já parecia bem conhecido.

Sentir-se livre para andar sem pressa, olhando muito para os lados, para as pessoas, algumas vezes ter o prazer de ser confundido com um local, com alguém que faz parte daquele contexto, daquela intricada rede de relações que chamamos de cidades. É o que diferencia o viajante do turista (ou não): a não obrigação de ver tudo em pouco tempo, não ser regido pela ampulheta que determina onde, quando e por quanto tempo ir aos lugares.

Penso isso nessa manhã nublada de domingo. Já choveu um pouco, e o meu plano de me deitar na grama do Central Park e ficar lá, olhos fechados, sentindo o calor do sol do final do verão, vai ser adiado. Lembro, então, que estive aqui há um ano, ainda nos meus primeiros dias de exílio, a sensação de desajustamento e de ter sido “arrancado” do mundo que vivia para um outro, desconhecido, eram bem fortes. Lembro que vim para cá para estar com família, me sentir novamente parte de algo.

Um ano depois, de volta, agora que tudo isso, o norte, já é parte de mim, e faço parte dele, vejo uma outra cidade. Muito melhor, muito mais viva e cheia de vida (ou sou eu que estou assim?). Não tão boa quanto o foi em dezembro, quando a Jacque estava aqui, mas definitivamente um espetáculo de cidade.

Até.

sábado, agosto 28, 2010

Sábado (e falando no rádio)

Marcelo Pop Rock
Leandro e eu falando sobre o Dia Nacional de Combate ao Fumo
27/08/2010
Programa Cafezinho
Rádio Pop Rock FM 107.1

sexta-feira, agosto 27, 2010

No twitter

A campanha Não se fume, parceria da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do RS (SPTRS) com a Rádio Pop Rock 107.1 e a Paim Comunicação, está sendo lançada. Em breve, estará nas ruas.

Por enquanto, já estão ativos os twitters da campanha.

Visita lá e nos sigam:

@naosefume

@pulmaopreto

E o da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do RS: @spt_rs

Até.

quarta-feira, agosto 25, 2010

A Baleia

Louvável, e até comovente, o esforço para devolver a baleia jubarte ao mar depois de ela ter encalhado no praia de Capão Novo/RS. Horas depois, novo encalhe.

A pergunta que fica: ela está morrendo porque encalhou ou encalhou para morrer?

Será que os esforços para devolvê-la a mar estão indo contra o desfecho inevitável da natureza? Ouvi um biólogo falando que - ao se encontrar uma baleia encalhada na areia e sem saber se ela tem algum problema - o que se faz é para que retorne ao mar.

Se volta, é porque não está bem.

MAis sobre o caso aqui.

segunda-feira, agosto 23, 2010

As coisas que acontecem comigo...

... e nem fico sabendo


"A explosão veio por cima de nós", conta mulher queimada na Redenção. No final da tarde, ela seguia internada no Hospital de Pronto Socorro

Nos finais de semana de tempo bom, como ontem, a analista financeira Carla Cristina Appel Brum, 33 anos, costuma passear pelo Parque da Redenção em companhia do marido, Marcelo Rodrigues, 33 anos, e da enteada Brenda, cinco anos. No começo da tarde de ontem, porém, o programa familiar foi interrompido pela explosão que provocou queimaduras nos três.

No final da tarde, Carla e Brenda seguiam internadas no Hospital de Pronto Socorro em estado regular, e Marcelo havia sido transferido para o Cristo Redentor. Nenhum corria risco de vida. Por telefone celular, deitada em um leito sob efeito de morfina para aplacar as dores, Carla falou com ZH:


Mais aqui.

E Deus criou o Rio Grande do Sul...

Recebi por e-mail e reproduzo.

Deus, numa segunda-feira, criou o Rio Grande do Sul.

Pelo menos assim pensam os gaúchos. Com muitas indústrias, muitos carros importados, muito topete e gente devagar no trânsito. E achou monótona.

Então, na terça-feira, criou o inverno.

Com sua brancura, cachecóis e um bom vinho, para os gaúchos se acharem europeus. Mas achou o frio muito triste.

E, na quarta-feira, criou a primavera, florida e colorida para enfeitar os poucos parques e praças dos europeus... quer dizer, gaúchos.

Porém...

Deus a achou bucólica demais e, na quinta-feira, criou o verão, alegre e saudável para fazer a gauchada sorrir.

Mas o achou seco demais e, na sexta-feira, criou o outono. Farto e ameno para se confortarem.

Então...

Deus achou tudo muito distante e, no sábado, misturou tudo. Fez o inverno, a primavera, o verão e o outono reinarem no mesmo dia no Rio Grande do Sul, para que tudo tivesse seu tempo e sua vida.

E, no domingo, Deus descansou.

Na verdade, caiu de cama, pois não sabia que tinha acabado de criar a GRIPE, a RINITE e o RESFRIADO, a ASMA, a PNEUMONIA, etc.

domingo, agosto 22, 2010

A Sopa 10/04

Noite de quarta-feira passada, dezenove de agosto.

Final do primeiro tempo e o Inter perde o jogo por um a zero para o Chivas em pleno Beira-Rio lotado de torcedores. Todos parecem estar no estádio, e até mesmo o Pelé está assistindo à final da Libertadores ao vivo, in loco.

Menos eu.

Estou sentado sozinho na sala de casa, em frente à televisão, vestido com a camiseta do Inter e o mesmo casaco vermelho com a inscrição ‘Canadá’ que usei na final de 2006 contra o São Paulo. Não sou supersticioso, non creo en brujas, pero que las hay... A Marina já está dormindo e a Jacque lê um livro no quarto, já quase dormindo. É um momento solitário, esse de assistir a um jogo dessa grandeza. Mesmo que estivesse no estádio, com outros cinqüenta mil colorados, cantando junto com eles, seria um momento solitário, de introspecção, de silêncio.

Começa o segundo tempo.

O Inter joga melhor, mas o gol de empate – suficiente para sermos campeões – demora a ocorrer. Quando ocorre, a paz cai sobre o mundo: tudo está no seu lugar. No momento do gol da virada, vou até o armário e pego uma calça, um tênis e aviso a Jacque que vou circular pela cidade após o jogo, para ver a celebração. Vem o terceiro, termina o jogo e a festa começa em Porto Alegre.

Não levanto do sofá, afinal quero assistir a entrega da taça, a celebração no estádio, algumas entrevistas. Planejo sair depois, afinal a noite será longa, e a manhã de quinta-feira está tranqüila. Assisto a tudo, em melhor posição do que se estivesse no estádio.

Os jogadores correm pelo gramado comemorando, a torcida começa a deixar o estádio. Mais de uma e trinta da madrugada. Olho as calças e o tênis prontos para eu sair. Olho a tevê, olho o relógio e, de novo, para as calças e o tênis. Decido ir dormir. Amanhã eu comemoro.

E em Abu Dhabi, quem sabe em Abu Dhabi.

Até.

quinta-feira, agosto 19, 2010

quarta-feira, agosto 18, 2010

Sobre as Eleições (1)

Recebi por e-mail e reproduzo. O original pode ser encontrado aqui.

A ESCOLHA DE SOFIA

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam." (Arnold Toynbee)

"A escolha de Sofia" é a história que acontece no campo de concentração nazista de Auschwitz, vivida por uma mãe judia, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha - qual seria executado e qual seria poupado.

Se ela se recusasse a escolher, os dois seriam mortos. Ela escolhe o menino, que é mais forte e tem mais chances de sobreviver, porém nunca mais tem notícias dele.

A questão é tão terrível que o título se converteu em sinônimo de "decisão quase impossível de ser tomada".

O artigo a seguir foi escrito no final de 2009, pelo economista Rodrigo Constantino - autor de 5 livros. Ele assina a coluna "Eu e Investimentos", do jornal Valor Econômico; também é colunista do jornal O Globo; além de ser Membro-fundador do Instituto Millenium; e vencedor do prêmio Libertas em 2009, no XII Forum da Liberdade. Seu curriculum vai muito além do que está listado acima, é extenso e respeitável. Segue seu artigo:

" Serra ou Dilma? A Escolha de Sofia."
(por Rodrigo Constantino )

"Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam." (Edmund Burke)

Agora, praticamente é oficial: José Serra e Dilma Rousseff são as duas opções viáveis nas próximas eleições. Em quem votar? Esse é um artigo que eu não gostaria de ter que escrever, mas me sinto na obrigação de fazê-lo.

Os antigos atenienses tinham razão ao dizerem que assumir qualquer lado é melhor do que não assumir nenhum?

Mas existem momentos tão delicados e extremos, onde o que resta das liberdades individuais está pendurado por um fio, que talvez essa postura idealista e de longo prazo não seja razoável.

Será que não valeria à pena ter fechado o nariz e eliminado o Partido dos Trabalhadores Nacional - Socialista, em 1933, na Alemanha, antes que Hitler pudesse chegar ao poder? Será que o fim de eliminar Hugo Chávez justificaria o meio deplorável de eleger um candidato horrível, mas menos louco e autoritário? São questões filosóficas complexas. Confesso ficar angustiado quando penso nisso.

Voltando à realidade brasileira, temos um verdadeiro monopólio da esquerda na política nacional. PT e PSDB cada vez mais se parecem. Mas também existem algumas diferenças importantes.

O PT tem mais ranço ideológico, mais sede pelo poder absoluto, mais disposição para adotar quaisquer meios, os mais abjetos, para tal meta.
O PSDB parece ter mais limites éticos quanto a isso.

O PT associou-se aos mais nefastos ditadores, defende abertamente grupos terroristas, carrega em seu âmago o DNA socialista.
O PSDB não chega a tanto.

Além disso, há um fator relevante de curto prazo: o governo Lula aparelhou a máquina estatal toda, desde os três poderes, passando pelo Itamaraty, STF, Polícia Federal, ONGs, estatais, agências reguladoras, tudo!

O projeto de poder do PT é aquele seguido por Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; Rafael Correa, no Equador. Enfim, todos os comparsas do Foro de São Paulo. Se o avanço rumo ao socialismo não foi maior no Brasil, isso se deve aos freios institucionais, mais sólidos aqui, e não ao desejo do próprio governo. A simbiose entre Estado e governo na gestão Lula foi enorme.

O estrago será duradouro.

Mas quanto antes for abortado, melhor será: haverá menos sofrimento no processo de ajuste.

Justamente por isso acredito que os liberais devem olhar para este aspecto fundamental, e ignorar um pouco as semelhanças entre Serra e Dilma. Uma continuação da gestão petista através de Dilma, é um tiro certo rumo ao pior.

Dilma é tão autoritária ou mais que Serra, com o agravante de ter sido uma terrorista na juventude comunista, lutando não contra a ditadura, mas sim por outra ainda pior, aquela existente em Cuba ainda hoje.

Ela nunca se arrependeu de seu passado vergonhoso; pelo contrário, sente orgulho. Seu grupo Colina planejou diversos assaltos.

Como anular o voto sabendo que esta senhora poderá ser nossa próxima presidente?!


Como virar a cara sabendo que isso pode significar passos mais acelerados em direção ao socialismo bolivariano?

Entendo que para os defensores da liberdade individual, escolher entre Dilma e Serra é como uma escolha de Sofia.

Mas anular o voto, desta vez, pode significar o triunfo definitivo do mal.

Em vez de soco na cara ou no estômago, podemos acabar com um tiro na nuca.

Dito isso, assumo que votarei em Serra.
Meu voto é anti-PT acima de qualquer coisa.
Meu voto é contra o Lula, contra o Chávez, que já declarou abertamente apoio à Dilma.
Meu voto não é a favor de Serra.

No dia seguinte da eleição, já serei um crítico tão duro do governo Serra, como sou hoje do governo Lula. Mas, antes é preciso retirar a corja que está no poder. Antes é preciso desarmar a quadrilha que tomou conta de Brasília.

Só o desaparelhamento de petistas do Estado já seria um ganho para a liberdade, ainda que momentâneo.

Respeito meus colegas liberais, que discordam de mim e pretendem anular o voto. Mas espero ter sido convicente de que o momento pede um pacto temporário com a barbárie, como única chance de salvar o que resta da civilização - o que não é muito, mas é o que hoje devemos e podemos fazer!

domingo, agosto 15, 2010

A Sopa 10/03

A semana tem tudo para ser vermelha.

Como qualquer pessoa com mínimo interesse em futebol – além de todo o Rio Grande do Sul – sabe, na próxima quarta-feira ocorre o segundo jogo da final da Copa Libertadores da América, mais importante competição sul-americana de futebol, justamente no estádio do Internacional de Porto Alegre, o Beira-Rio. O primeiro jogo, realizado uma semana antes em Guadalajara, México, terminou com vitória colorada sobre o Chivas por dois a um, de virada. Quarta-feira, Porto Alegre – e parte do Rio Grande - vai parar.

Pode ser (assim espero) a segunda conquista deste título pelo Inter. A primeira vez, em dois mil e seis, foi contra o São Paulo, segundo jogo aqui em Porto Alegre, um mês e meio depois de eu ter voltado do Canadá. Consegui ir ao jogo, com a carteira de sócio de um grande amigo que não podia ir por questões de trabalho. Testemunhei a conquista da América pela Inter. Assistiria a conquista do mundo, frente ao Barcelona, pela tevê, de casa. Na hora do gol da vitória, passei mal: hiperventilei, fiquei taquicárdico, pálido, sudorético.

Quatro anos depois, o Inter pode ser bicampeão da América.

Se realmente ocorrer, e no momento as maiores chances são mesmo do Inter, será um duro golpe no coração dos gremistas, que por muitos anos cantavam vantagem primeiro por terem sido campeões da América e do equivalente da época ao campeonato mundial em 1983 e o Inter não. E realmente parecia que nunca seria, ainda mais depois de 1989, quando o Inter perdeu a semifinal para o Olímpia, em casa, nos pênaltis, após ter vencido o primeiro jogo no Paraguai. Quando o Inter foi campeão em 2006, o Grêmio já era bi da América, mas perdera o segundo título mundial para o Ajax da Holanda, no Japão.

Dessa forma, ainda lembravam que eram duas vezes campeões sul-americanos, em 1983 e 1995, e havia a esperança de muitos de que o título do Inter houvesse sido acaso, do tipo “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Mas, se quiserem continuar no tema, raios caem mais de uma vez no mesmo lugar. Apenas quatro anos depois da conquista colorada, surge novamente a possibilidade – ainda é apenas possibilidade, nada mais – de o colorado ganhar pela segunda vez a Libertadores. E, pior para o imaginário tricolor, já está certo que vai jogar o Mundial em Abu Dhabi, em dezembro. Seria, aí assim, mortal para os azuis, se o Inter fosse duas vezes campeão do mundo.

Mas como todos sabemos, tudo pode acontecer, e o que é sucesso e vitória hoje pode se tornar fracasso e derrota depois. Esta aí a história que não me deixa mentir.

Torcer é o que nos resta.

Até.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Há 20 Anos, Morri (Parte 3)

Depois de treze dias em coma na UTI do Hospital São Lucas da PUCRS, eu havia acordado, num sábado de manhã. Entre a hora da visita da tarde de sábado e domingo, quando recebi alta para o quarto, não posso precisar bem o que aconteceu. Lembro de tentar tomar água (ou suco) de um copo e virar tudo sobre mim.

Saí da UTI no domingo à tarde, para um quarto do oitavo andar, e minha mãe ficou para passar a noite comigo. Tenho uma lembrança muito ruim da janta daquela noite: a dieta era pastosa, vários “creminhos” com cores diversas cuja única diferença era essa, a cor. Foi isso o que tornou a minha primeira noite fora da UTI uma tortura, para mim e para a mãe: FOME.

Depois de dormir mais de dez dias, eu tinha fome, muita fome. Como a janta tinha sido ‘pastosa’, passei toda a noite esperando o amanhecer e, com ele, o café. De tempos em tempos, eu acordava e perguntava: “Já está na hora do café?”. Minha mãe dizia que não e eu me queixava de fome. Mesmo sem autorização médica, me deu maçã para comer, na tentativa de aplacar o meu ímpeto por comida. Foi uma noite bem longa.

Quando finalmente amanheceu e trouxeram o café, foi uma visão do paraíso. No afã de comer logo, enquanto a mãe tentava preparar um pão com manteiga para eu comer, eu comia o que estava à disposição, inclusive a manteiga que ela tinha aberto para passar no pão. Junto com o café, chegou o colega de faculdade Maurício Rieger, trazendo um pedaço da torta de morango que comprara para a comemoração do seu aniversário: comi tudo, rapidamente.

Passado esse episódio inicial, fiquei mais tranqüilo. Foi quando começaram as visitas. Ao contrário de quando estava na UTI, onde só podia entrar uma pessoa por vez, o meu quarto virou uma grande festa. Além das pessoas que vinham de fora me visitar (eram muitas), os meus colegas de faculdade (não todos, óbvio) saíam das poucas aulas que estavam tendo (lembrem-se: a PUC estava em greve desde a tarde anterior ao acidente) e se reuniam no meu quarto. Tornava-se uma balbúrdia só, todos falando ao mesmo tempo, uma gritaria. Eu só olhava, sem dizer quase nada.

O que todos logo notaram foi que, além de falar pouco, eu também não ria. Bem estranho para quem estava acostumado comigo. Não sei explicar o por quê desse fenômeno. Talvez ainda meio sem saber bem o que tinha se passado, a magnitude da coisa, não sei. Não era falta de humor, isso eu sei. Lembro que, na primeira vez que o Márcio e o Radica – amigos desde o segundo grau e até hoje – foram me visitar depois que eu acordei, uma das primeiras coisas que disseram foi que tinham ficado sabendo que depois do acidente, eu ficaria “inútil” da cintura para baixo. Sem nenhum vacilo, respondi que as funções “da cintura para baixo” foram as primeiras que descobri que estavam em ordem. Mesmo assim, não ria muito nestes dias.

Comecei a rir bem depois quando já estava em casa, mas isso é motivo para outra crônica numa outra Sopa. Acabei ficando, depois de ter alta da UTI, mais doze dias no hospital por conta de uma febre que os médicos não sabiam localizar. Coletaram hemoculturas e fui submetido até a uma punção lombar, para coletar líquido cefalorraquidiano, na suspeita até de meningite. Mas era apenas uma amigdalite. Tive alta do hospital no dia seis de setembro de mil novecentos e noventa, véspera do feriado da independência.

Há 20 Anos, Morri (Parte 2)

Recordando: na madrugada de 12 de agosto de 1990, após uma noite de festa com amigos, eu vinha de carona com um colega de faculdade e acho que nós dois pegamos no sono. Como ele estava dirigindo, as conseqüências foram ruins. Batemos com o carro em outro que estava estacionado, bem do meu lado. Resultado, traumatismo craniano em mim e treze dias em coma na UTI do hospital da PUC. Agora, em frente.

Desde que entrei na faculdade de medicina, e tive contato com o ambiente hospitalar, um das situações que mais me causava mal estar era assistir às enfermeiras passarem sondas nos pacientes. A pior delas, na minha curta experiência de estudante que acompanhava as aulas práticas de cuidados gerais com pacientes, era a sonda nasogástrica, que entrava pelo nariz e ia até o estômago. Tinha uma variante, mais fina, que ia até logo após o estômago, no duodeno, que servia para alimentar os pacientes.

Por isso, logo após acordar e me inteirar de onde eu estava (sim, era um hospital e, não, não era o Ernesto Dornelles) e ainda sem saber bem o que tinha acontecido, veio a primeira boa notícia: eu estava em uma UTI e não tinha nenhuma sonda em mim. Eu respirava com tranqüilidade, urinava em um recipiente chamado de ‘papagaio’ e – apesar de ficar com os pés para fora da cama – parecia inteiro. Internado na UTI do Hospital da PUC, o que teria acontecido? A única sensação que eu tinha era a de ter dormido muito, ainda sem saber que o muito significavam 13 dias inteiros, do dia 12 ao dia 25 de agosto de 1990. Esperava um café na cama ou algo assim. Aliás, onde estava a minha mãe?

Ao acordar daquilo que – ficaria sabendo mais tarde – havia sido um período de treze dias em coma, as primeiras pessoas que eu vi era conhecidas: Alexandre Magno e Luciano Ery, colegas da faculdade de medicina. Estavam em um sábado de manhã no hospital, em um estágio na traumatologia, e resolveram ir dar uma “olhada” no colega na UTI. Por coincidência, me viram acordar. Acho que isso deveria ser por voltas das 10h30min da manhã, e ainda tive de esperar até à 13h para o horário da visita. Estava bem sonolento ainda, lembro de pouca coisa dessas 2h30 até começarem a entrar pessoas para me ver acordado, novamente. Não sabia, mas havia uma vigília na sala de espera da UTI, no terceiro andar do Hospital São Lucas, que tinha iniciado no dia do acidente e tinha sido permanente nestes longos (principalmente para quem não estava dormindo, como eu) dias em que se perguntavam se eu iria acordar e, se acordasse, como eu estaria. Mas isso é história para outra crônica. Voltemos ao sábado, 25 de agosto de 1990, logo após sair do coma.

A hora da visita foi uma festa, até porque o Luciano e o Magno já haviam contado a todos que eu acordara. Na meia hora regulamentar do horário de visitas, entraram para me ver talvez uma dezena de pessoas conhecidas, entre os meus pais, irmão, tios, e amigos. Como tinham pouco tempo, falavam pouco e rápido e tinham que sair para o próximo poder entrar. Todos sorridentes e felizes de me verem novamente acordado.

Eu estava de volta ao jogo, mas a recuperação de verdade recém iria iniciar.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Há 20 Anos, Morri

No ano de 1990, o dia 12 de agosto caiu num domingo, dia dos pais.

Pena que meu pai não tem lembranças agradáveis daquele domingo, quando foi acordado por volta das seis horas da manhã com o telefone tocando e a notícia de que seu filho mais velho – eu – com dezoito anos, estava internado no Hospital de Pronto Socorro vítima de um acidente automobilístico. Um péssimo dia dos pais aquele 12 de agosto de 1990.

Tudo começara na noite anterior, quando eu tinha saído de casa para fazer festa com uma turma. O meu colega de faculdade que tinha carro à disposição me pegara em casa e fomos em direção ao bairro Moinhos de Vento onde haveria a festa em questão. Paralelamente a isso, eu sabia que uma parte da minha turma da praia (já citada algumas vezes neste semanário) estaria nesta mesma festa e combinamos de sairmos todos juntos. Chegando ao local, por alguma razão que o tempo já tornou um mistério, decidimos – todos – ir a um bar na Av Vinte e Quatro de Outubro, em Porto Alegre, de nome “Bat-Bat”.

Lá chegando, houve um mal-entendido e acabamos – eu, o colega que havia me dado carona e uma colega e ex-namorada minha – ficando em mesas separadas, e eu junto com a minha turma da praia e os dois sozinhos. Achei estranho eles dois não sentarem junto comigo e o resto do pessoal conhecido, mas como era festa, deixei para lá. Algumas vezes fiz sinal para que eles dois se juntassem a nós, mas preferiram não fazê-lo. Isso durou toda a noite, até a hora de ir embora.

Como eu estava de carona com este meu colega, certamente que eu iria voltar para casa com ele, e também a colega e ex-namorada e dois dos meus companheiros da turma da praia, conforme previamente combinado. Quando fomos sair, notei que o colega dono do carro havia bebido um pouco além do recomendado, e me ofereci para ir dirigindo, proposta recusada pelo dono do carro. Parênteses. Eu também havia bebido, claro, mas infinitamente menos que ele, pois eu não tinha o hábito de beber muito, com exceção de alguns carnavais do bloco Perversa, mas isso é história para outro dia. Fecha parênteses. Nosso roteiro de volta para a zona sul e deixando os caroneiros em casa iniciava pela zona norte, onde morava a nossa colega (e minha ex-namorada). Eu era o último que seria deixado em casa, pois morava na zona sul.

Logo na primeira parte, notamos que o motorista estava com sua percepção alterada pelo álcool, e quando paramos para largar a primeira passageira, decidi que eu iria dirigir de qualquer jeito. Ele desceu do carro para acompanhá-la até em casa e eu assumi o volante. Ele havia levado a chave e disse que ele é quem dirigiria. Então eu resolvi que iria de ônibus. Detalhe: 5h15 da madrugada, tendo que atravessar a cidade de ônibus (que nem haviam começado a circular ainda) ou a pé. Saí caminhando pela rua em direção a uma ponto de ônibus.

Ele veio atrás de carro e se comprometeu a dirigir com cuidado. Aceitei a proposta e seguimos. Largamos o segundo e fomos até a frente da casa do último antes de seguir para a zona sul. Quando o penúltimo a descer desceu, deu a dica: colocar o cinto de segurança (naquela época ainda não era costume nem lei usá-lo). Acho que fiz isso, não lembro bem. O que aconteceu depois, me contaram: na Av Ipiranga, grande avenida que corta Porto Alegre de leste a oeste, provavelmente após pegarmos no sono, ele bateu com o carro num outro estacionado, no lado direito da rua, e justamente no lado em que eu estava dormindo, tranqüilo.

Retirado das ferragens pelos bombeiros, traumatismo crânio-encefálico, coma Glasgow 4 (bem ruim). Internação no HPS com posterior transferência para o Hospital São Lucas da PUCRS, onde eu estudava medicina e trabalho até hoje. Treze dias em coma e quatorze na UTI. No quarto, após sair da UTI, fiquei mais dez dias, com febre e uma maldita amigdalite. Não perdi o semestre na faculdade porque – providencialmente – naquele mesmo sábado, véspera do dia dos pais, os professores da PUCRS tinham entrado em greve, que durou até bem depois de eu voltar a assistir aula, cambaleante e sem firmeza ao andar.

Não lembro muita coisa daqueles dias do coma, apenas a sensação, quando acordei, de que havia dormido mais do que deveria. O engraçado é que eu sabia que estava num hospital, mas achava que era outro e tinha a impressão de que estava num quarto com uma grande janela de vidro que dava para um campo com uma colina ao fundo, um grande gramado verde e dias de sol intenso. Não tive vontade de caminhar por este campo nem seguir em direção à luz nenhuma. Acordei com uma vontade enorme de ver minha mãe.

Em 12 de agosto de 1990, morri.

Como não era minha hora, voltei. Colocar a cabeça em ordem depois disso não foi fácil, levou tempo, mas tudo terminou bem.

Há exatos vinte anos.

Até.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Falta pouco

Chivas 1 x 2 Inter

Em uma semana, um empate basta para o Bi da América.

Nada está ganho ainda, mas agora é só não levar gol que somos campeões.

Até.

segunda-feira, agosto 09, 2010

O milagre do dia dos pais

Não acredito em milagres.

Dito isso, devo contar um fato ocorrido com esse que vos escreve, caro leitor, no dia de ontem, justamente o dia dos pais. Para situar todos da situação, volto no tempo algumas semanas quando - ao sair do carro ao chegar no trabalho - percebi que não estava com meus óculos escuros. Rapidamente o procurei no local onde o guardo no carro e não encontrei.

Devo dizer que não eram uns óculos quaisquer. Eram óculos Ray-Ban, referência RB3269, que eu havia comprado para repor um anterior que eu tinha ganho de presente da Jacque há um tempo atrás e que havia esquecido sobre o carro quando fui sair do hospital um dia à tarde. Tinha, esse que recém descobrira ter perdido, pouco mais de cinco meses de existência. Por isso, pelo pouco tempo de uso, e por não ser um acessório dos mais baratos,fiquei bem frustrado com a possível perda.

Procurei com calma no carro, sem sucesso.

Como não lembrava exatamente quando tinha sido a última vez que eu o usara, circunstância do inverno chuvoso no sul do Brasil, resolvi procurar em todos os locais em que trabalho: consultório, posto de saúde, universidade em Santa Cruz do Sul, Santa Casa de Porto Alegre, Associação dos Médicos do Hospital da PUCRS. Perguntei em todos.

Nada.

Procurei em casa, nos bolsos de casacos, em gavetas.

Nada, nada.

Até alarme falso houve. Na associação dos médicos, da qual sou tesoureiro, comentaram que um médico havia dito ter perdido os seus óculos e ela haviam encontrado justamente uns óculos. Ray-Ban! Paranóico, pensei em perguntar ao colega se por acaso ele havia encontrado os meus óculos.

Não fui adiante, claro.

Mandei lavar o carro e prometi um bônus se os óculos fossem encontrados.

Nada.

De raiva, até parei de usar lentes de contato e passei a usar óculos, e prometi a mim mesmo que só compraria óculos novamente no verão, quando fosse imperioso. Mas confesso que mantinha uma ponta de esperança que eu o achasse jogado em algum lugar em casa.

Evidentemente, nunca o encontrei em casa.

Ontem, domingo, dia dos pais, fomos almoçar com o meu pai e o pai da Jacque no restaurante do Veleiros do Sul que agora é no Jangadeiros (longa história), que carinhosamente chamamos de almoçar "nas gurias", devido ao ótimo relacionamento que temos com as donas/administradoras , Rose e Maristela. Ao chegar lá, estacionei o carro e, ao pegar as coisas da Marina no banco de trás, misteriosamente os óculos apareceram jogados justamente sobre o banco. Inexplicavelmente sobre o banco.

Recuperei os óculos perdidos.

E não tenho a menor idéia de como aconteceu.

Até.

domingo, agosto 08, 2010

A Sopa 10/02

Sou um cara de convicções.

Como já falei aqui em algum momento do passado, temos que ter convicções na vida, algumas posições firmes que estabeleçam, sem sombra de dúvidas, quem somos e o que as pessoas podem (ou não) esperar de nós. Como o sagu, a melhor sobremesa do mundo. Mas isso não é sobre o que quero falar. Falo sobre convicções.

Desde muito cedo, por exemplo, eu sabia que eu era ‘para casar’. Enquanto amigos, colegas de aula, previam que só casariam depois dos quarenta anos, pois tinham “muito que aproveitar”, eu pensava (não dizia, para não criar discussões) que eu casaria na hora em que tivesse que casar. Poderia ser até aos quarenta, assim como poderia ser aos trinta ou aos vinte anos. Tudo dependeria das coisas que viriam. Uma obviedade, certamente, mas que poucos colegas na minha idade na época conseguiam ainda enxergar. Acabei casando com vinte e quatro anos, e não me arrependo nem por um minuto sequer.

A mesma coisa com relação a ter filhos.

Sempre soube que queria ter filhos, ser pai. Mesmo antes de casar, já sabia disso. Demoramos, a Jacque e eu, uns bons anos até concordarmos que já era hora de tentarmos, e aproveitamos muito esse tempo antes dos filhos. Viajamos muito, conhecemos lugares, até passei um tempo no Canadá fazendo o meu pós-doutorado enquanto ela ficou aqui, tocando a vida. Até esse período nos fez bem e fez amadurecer para quando ela engravidou e veio a Marina.

Ser pai põe a vida numa perspectiva diferente. Nada é tão importante quanto a família. Nada é melhor do que o tempo que passas com tua filha. Nada emociona mais que ela dizer ‘papai’.

Nesse dia dos pais, só posso dizer que é um honra poder se pai. E uma sorte. Uma maravilha, enfim.

Até.

domingo, agosto 01, 2010

A Sopa 10/01

Nem tudo está perdido.

Você entende o que quero dizer, estimado leitor. Falo do mundo em geral. Aquele que todos os dias vemos sendo agredido pela mão do homem, que utiliza os recursos naturais indiscriminadamente e não se preocupa com a preservação desses recursos que são finitos. O efeito estufa, as alterações climáticas devido à ação do homem, o aumento da temperatura global, os terremotos, as enchentes. Parece que todas as catástrofes da natureza seriam algum tipo de reação ao que temos feito com o planeta. Isso sem falar no que o homem faz a si mesmo, diretamente.

Podemos pensar em guerras, nos crimes do dia-a-dia que ainda deveriam nos horrorizar, nos malditos pedófilos, nas injustiças sociais, na fome. Homens matando iguais pelas mais variadas razões e, muitas vezes, sem razão, sem sentido nenhum. Já declararam que somos uma espécie que não deu certo, e estamos condenados à extinção, que inevitavelmente virá, mais cedo ou mais tarde.

Tudo ruim, você pode pensar.

E pode se perguntar como alguém pode ainda pensar em ter filhos, em meio a essa selvageria, essa barbárie toda. Pois é.

Aí então você leva a sua (seu) filha (o) até um parque ou uma pracinha. E você a embala no balanço, brinca na gangorra, ela (e) desce no escorregador. Só que vocês não estão sozinhos, outros pais e mães estão com seus filhos (as) na mesma praça brincando. E ocorre o milagre.

Vocês, totais estranhos, de origem e profissões as mais diversas, mas que tem em comum filhos ou filhas pequenas que brincam ali, naquele momento, percebem que na verdade não são estranhos, e compartilham histórias e experiências, num momento de – podemos dizer – comunhão, em que o que liga vocês é isso, ser humano.

Enquanto houver crianças e parquinhos o mundo não acaba.

Até.