sábado, novembro 30, 2019

quarta-feira, novembro 27, 2019

Não vou falar (uma declaração de princípios)


Não tenho vontade de falar de atualidades.

Falar de política, sociedade, esportes, religião. Não quero falar de ideologia de gênero, de direita, esquerda, centro, Brexit, Trump ou Bolsonaro. Mudanças climáticas ou terra plana. Nem da Venezuela, Bolívia, Chile ou Equador. Ou do Flamengo. Muito menos da Ucrânia.

Estou sem paciência.

Quero falar de mim.

Do que penso, do que sinto. De quem é importante no meu mundo que, afinal de contas, é o que importa. 

Claro que estou inserido no mundo (impossível não estar), e muitas vezes, para falar de mim, vou falar de atualidades, do mundo, das pessoas, política, religião, esportes. Talvez até de mudança climática, mas não de ideologia de gênero nem de terra plana, porque são bobagens, mas não é hora de entrar em polêmicas.

Ainda.

Além de falar de mim, de emitir opiniões (não tenho e não almejo ter opiniões sobre tudo) pretendo (desejo) fazer ficção nesse espaço. Ou voltar a fazer. Crônicas do cotidiano. Gostaria de voltar a ver poesia no dia-a-dia. Transformar o tédio em melodia, com diria Cazuza.

Ideias, planos.

Escrita, artesanato.

Até.

domingo, novembro 24, 2019

A Sopa


(Ano 19, Número 02)

Confissão.

Assim que me formei em medicina, lá no século passado, após uns poucos dias de férias, iniciei a residência médica em Clínica Médica/Pneumologia. Naquela época, a residência (pós-graduação, especialização) começava logo após o ano novo, no dia 02 de janeiro. Assim foi, e logo no primeiro dia fui sorteado para estar de plantão naquele mesmo dia. Comecei a residência numa segunda-feira, já de plantão.

O primeiro momento de folga foi no final da semana, sábado à tarde, depois de ter visto os pacientes no hospital pela manhã. Cheguei em casa, almocei, parei um pouco e pensei:

“Terminei a primeira semana. Como é que não descobriram até agora que eu não sei nada, que sou uma fraude?”. 

Essa sensação, esse sentimento, tem um nome, um diagnóstico (mesmo que não oficial): Síndrome do Impostor. Naquela época, eu não sabia disso, e nem sabia que era bem comum. Por isso, nunca comentei com ninguém.

O tempo passou, essa sensação inicial arrefeceu, a confiança e tranquilidade aumentaram, mas – de tempos em tempos – retornava. Aquela sensação de que o local em que eu estava não era aquele em que eu deveria estar, de que estava “enganando”, de que em algum momento seria desmascarado. Era um sentimento passageiro, mas incomodava. Durante o período em que durava, era como se eu estivesse acuado num canto de um ringue de boxe, apenas na defensiva.

Só que não tinha ninguém mais no ringue!

Eu a chamava Síndrome da Luta de Boxe.

A Síndrome do Impostor, a ideia de que o seu sucesso decorre apenas de sorte, e não por causa do seu talento, de suas qualificações, foi primeiro descrita em 1978 pelos psicólogos Pauline Rose Clance e Suzanne Imes. Inicialmente pensou-se que afetava apenas mulheres, mas posteriormente viu-se que afeta igualmente homens e mulheres. Sabe-se hoje que essa síndrome ocorre com qualquer um que não é capaz de internalizar suas próprias conquistas. O que pode gerar estresse, ansiedade e depressão. Existe toda uma literatura abordando o assunto, especificando diferentes tipos (características) da Síndrome, e como lidar com ela, quando se é afetado por, ou quando ocorre em pessoas que estão sob seu treinamento e/ou supervisão. Admitir e existência e conversar sobre isso é um bom início.

Voltando ao meu caso...

Como disse, eu me sentia na defensiva contra um inimigo imaginário. Minhas inseguranças estavam me atacando. Eu era meu próprio inimigo.

Isso não me impediu, contudo, de seguir em frente, de avançar.

Mas isso é outra história, para outro dia.

Até.

quarta-feira, novembro 20, 2019

O mundo anda tão complicado


Dias difíceis, esses que vivemos.

Falo de um modo genérico, da cidade, do estado, do país e do mundo. E falo também das pessoas e suas relações, virtuais e reais, de redes sociais, da natureza e nossa relação com ela. Basicamente, uma crise de entendimento e empatia, ou falta de.

Política, no seu conceito amplo e genérico, de relações pessoais.

Diferentes assuntos, mas que – nem tão no fundo assim – tem o mesmo ponto central, que é a visão do mundo que temos.

O Brasil, por exemplo.

Sim, eu votei no Bolsonaro. Não, ele não era o meu preferido.

Votei porque não era mais possível ter a esquerda (e o PT, em especial) governando o país. O estrago feito foi gigantesco, e todos sofremos com isso. Os anos Lula e Dilma foi um período em que uma organização criminosa governou o país, se locupletou, financiou ditaduras periféricas, dividiu o país entre nós e eles, criou conflitos e uma grave crise econômica, até agora insolúveis.

Descobertos os seus crimes, o seu líder maior, o pior (no sentido de caráter) governante da história desse país, foi processado, condenado (em mais de uma instância), passou a cumprir pena com inexplicáveis regalias, onde ficou até o STF mudar o entendimento da lei para beneficiá-lo, mas com isso criando um precedente perigosíssimo. Sabemos que quem tem dinheiro para recorrer em muitas instâncias não será preso nunca, enquanto os outros, de poucas posses, vão para a cadeia. Nós brasileiros não somos todos iguais perante a lei...

Isso tudo em meio a um governo novo que tenta colocar o país no rumo novamente, principalmente em termos de economia, e tem de lidar com a maior oposição já vista no país: partidos de esquerda, o Centrão, a grande imprensa, e “aliados” que se elegeram pelo mesmo partido e com as mesmas bandeiras e – uma vez eleitos – viraram as costas e tratam de seus próprios e nem sempre republicanos interesses. 

Todos parecem não querer que o país melhore. Apostam no já batido “quanto pior, melhor”. Que, por sinal, é uma característica das esquerdas brasileiras que vem de longe (lembram, foram contra o Plano Real, não assinaram a Constituição de 1988, etc.). Eu, por outro lado, sempre quero que o país avance, independente do governo.  

E também tem a questão dos filhos do Presidente e sua relação com as redes sociais, que mais atrapalham do que ajudam. O grande problema do atual governo é – sem dúvida – a comunicação. Ao menos, enquanto uns falam, discutem e criam polêmicas, o governo trabalha e o país avança, vide reforma da previdência.

Uma grande confusão, tudo isso.

Não sabemos mais em quem confiar, a grande imprensa se tornou não confiável, por um viés político claro. A maioria não se posiciona politicamente, se diz isenta, mas - claramente - é oposição ao governo por questões de ideologia. E manipulam, mentem e distorcem os fatos. Generalizo, eu sei, nem todos são assim, como em tudo existem os bons e os maus, os honestos e os desonestos, mas boa parte da imprensa está contaminada por esse viés ideológico.

Fica difícil saber se devemos acreditar no que lemos e/ou ouvimos.

Está muito complicado mesmo.

Até.

domingo, novembro 17, 2019

A Sopa


(Ano 19, Número 01)


O Ponto.


Já escrevi sobre isso, em algum momento do passado.

Da busca ancestral, milenar, heroica até, daquele momento de perfeição num dos momentos mais sublimes da experiência humana: o churrasco. Milhares de anos se passaram, vidas foram perdidas, guerra travadas, muitas fogueiras foram acesas e brasas pereceram, tudo em busca desse, podemos dizer sem medo de errar, nirvana culinário. Do ápice da evolução humana.

O Ponto.

E escrevo assim, em letras maiúsculas, por sinal de respeito e reverência. Porque devemos nos curvar e homenagear aqueles que dedicaram suas vidas em busca d’O Ponto, aquele exato estágio em que a carne se faz canção, e o churrasco vira poesia. Em que nos deparamos com a beleza da criação em seu estado mais perfeito.

O problema é que as pessoas confundem tudo.

Chegam e saem dizendo “Prefiro carne mal passada”, ou “Só como bem passada”. Uma heresia, claro, mas elas não sabem o que dizem. Elas pensam que gostam desse ou daquele jeito quando na verdade querem a carne n’O Ponto. Pecam por não saber, o que talvez pudesse atenuar a culpa, mas isso ainda é questão de debate. Alguns consideram isso como imperdoável.

O que penso, como me posiciono, perante essa questão? 

Não é importante, no momento.

Importante, de verdade, é informar, trazer conhecimento para todos.

O Ponto é definitivo, não passível de discussão.

Mas, e sempre tem um mas na vida, existem nuances, mitos e filosofia envolvidos nessa discussão. 

O Ponto muda conforme mudam as pessoas, conforme muda o mundo. O Ponto é como o rio de Heráclito, que nunca cruzamos duas vezes, pois já não é o mesmo rio e não somos os mesmos de antes.

Fazer churrasco não é um ato banal, comum. É um ritual, em que o churrasqueiro se coloca na posição de sacerdote. Enquanto faz o churrasco, ele entra em conexão, em sintonia, com o Universo. Naquele momento, ele é como um Mestre Jedi, e essa conexão é a Força. Quanto mais conectado com o Universo, com a Força, melhor é o churrasco e mais perfeito é O Ponto. O Ponto é a Força.

Chega um momento em que o Mestre pode fazer churrasco de olhos fechados, deixando apenas a energia do Universo fluir através dele. Ele como um meio de ligação com o infinito.

Churrasco é coisa séria.

Até.

quarta-feira, novembro 13, 2019

Uma Sopa, uma Volta



Depois de um longo inverno, cá estou eu.

Inverno, nesse caso, e de certo modo, existencial, quero dizer.

Falo de estar aqui com frequência, escrevendo, que é o estágio final de reflexões, de pensamentos que pretendem me levar a algum lugar, sabendo onde tudo começa e sem ter a menor ideia onde vai parar. Como quando reformamos a nossa casa (no sentido literal).

Quando começamos, até podemos ter um plano, uma ideia do que queremos e de como queremos, mas nunca sabemos onde (e nem por quanto) vai terminar. É dinâmico, fluido (e muitas vezes caro).

O mundo, a vida, tudo mudou muito desde quando escrevia aqui com regularidade. Até porque faz muito tempo. De quando estava no Exílio que não era exílio, de quando a Sopa ainda era anual e fazia sentido (não sei se faz hoje em dia, se não deve permanecer no passado, como uma lembrança boa de um tempo diferente). 

Eu mudei, óbvio.

Fui e voltei.

O que quero dizer é que prioridades diferentes se sobrepuseram à atividade de escrever como resultado final de reflexões à cerca da vida, do mundo em geral, e da minha em particular. O foco foi outro, o que é lícito e justo. Sem ressentimentos.

Corri atrás de objetivos, entrei numa engrenagem de trabalho que – sim – consumia, exigia parte substancial do meu tempo e energia, mas que dava satisfação pessoal e reconhecimento.

Por circunstâncias planejadas e outras alheias à minha vontade, fiz um caminho – de certa maneira – de volta a um lugar de onde nunca planejara sair. Visto de outra forma, reencontrei (estou reencontrando, na verdade) o caminho, o rumo. Para onde?

Este é outro papo, para uma outra Sopa.

Até.