domingo, abril 12, 2009

A Sopa 08/36

Sou humilde, confesso.

Para ser mais exato, o que quero dizer é que tenho baixas expectativas a meu respeito e fico feliz com pequenas conquistas, ou com detalhes que podem até parecer insignificantes de um processo que as pessoas consideram maior. Vou dar exemplos ocorridos já há algum tempo, mas que exemplificam bem o que quero dizer, porque sei que até aqui eu não disse nada. O primeiro exemplo escolhido talvez não seja o mais adequado. Azar, vai assim mesmo.

Quando fui aceito no doutorado, e já se vão nove anos, além da felicidade de ter sido aprovado para a pós-graduação, a minha preocupação foi, “puxa vida, fui aceito, agora vou ter de ir até o final, não posso abandonar no meio”. Não, isso não é um detalhe, eu sei, é parte fundamental do todo, mas a preocupação que eu tinha era de não deixar incompleto, de não desistir na metade. Talvez seja isso, quando quis dizer que tenho baixas expectativas a meu respeito, eu me referia a uma sensação de que não vou ir até o fim, de que não vou persistir atrás de um objetivo, o que reflete certa baixa auto-estima.

Bobagem.

Não tenho baixa auto-estima, mas como explicar essa impressão de que não vou ir até o fim quando inicio um projeto, tenho um objetivo? Não sei, mas lembro do outro exemplo que queria usar, o da minha ida para o Canadá, há quase cinco anos atrás.

A oportunidade de ir para lá mais ou menos caiu no meu colo, e sabia desde o primeiro momento que não poderia dizer não a uma chance dessas, como não o fiz. Mas o processo desde ser sondado se gostaria de ir fazer o fellow, pedir setenta e duas horas para pensar e dizer que sim vinte e quatro horas depois, até chegar em Toronto, levou cerca de um ano e meio. Não por minha causa, claro. Houve a SARS, pessoas morreram, hospitais ficaram fechados, houve cortes de orçamento, o que levou um tempo maior para tudo estar pronto para eu ir, além da burocracia.

Para receber o visto de trabalho, ser aceito pela universidade e ter a licença de médico lá no Canadá, foi necessário um longo processo. Recebi em casa um caderno de requisitos, solicitando documentos, exames médicos, comprovações, testes de inglês. Uma maratona, enfim. Enquanto corria para cumprir prazos e ter exames, jamais me preocupei com o que faria lá, como seria o trabalho, se estaria à altura da coisa. O que me preocupava era onde eu iria morar.

E a maior satisfação que eu tive foi quando enviei pelo correio para o conselho de medicina de Ontário os documentos solicitados para ter minha licença. Pude comemorar que não havia desistido no meio do caminho. Claro que aquela era a parte mais simples de tudo, e que não estava completa porque alguns dos documentos eu só conseguiria quando chegasse lá, mas talvez tenha sido a minha maior satisfação nesse processo de ir para o Canadá.

Um detalhe, eu sei.

Mas é de detalhes que é feito o todo.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu levei 4 anos pensando..(1 ano e meio so com o processo)

Resolvi e aportei no Canada na parte oeste, ao lado do oceano pacifico.

Foi bom ? Tem sido excelente, mas se eu nao levasse este tempo todo me preparando psicologicamente, teria voltado no meu segundo ano..so pelo fato de nao ser meu Pais, ja justifica tudo..(qdo chegamos adultos, temos q aprender tudo de novo, e isto nao eh para qquer um) Aprender a dirigir de novo, aprender a falar, conversar, discutir, discordar. Fazer amigos novos, conhecer professores e gerentes, se relacionar com vizinhos, compreender a religiao em outra lingua.Conhecer a nova familia" por lei". Simpatizar ou nao.Ter um ambiente de trabalho parecido com o que vc tinha ou nao. E muitas e outras coisas...
Foi e esta sendo um aprendizado e uma licao de vida..
abs
Marilia