segunda-feira, fevereiro 14, 2022

Perdiditos en Uruguay

Uma história de viagem. 

 

De uma viagem.

 

Ao Uruguai, verão de 2022.



 

Há muito o que falar dessa viagem que terminou no final da semana passada, e que pretendo contar por aqui nos próximos tempos, sem ser de uma forma atabalhoada, mas sem enrolar demais também. Como toda e qualquer história, contudo, esse começa muito tempo antes ainda dos acontecimentos a serem narrados, e suas consequências se estendem por um tempo além do final da viagem em si. Essa não poderia ser diferente.

 

Uma viagem é composta de – ao menos – três partes igualmente importantes, a saber: a preparação, a viagem em si e o depois, as histórias, memórias, fotos e vídeos. Geralmente, a parte mais curta de todas é a própria viagem, e a mais longa é – obviamente – o depois. Voltar é fundamental, e é tão bom quanto sair, porque afinal de contas não somos nômades.

 

Essa viagem que vou lhes contar em breve, e em partes, foi importante em diferentes dimensões que não se aplicam apenas a mim. Pensando de certa forma, foi a melhor e mais importante viagem dos últimos muitos anos, mesmo sabendo que todas foram ótimas e importantes, em diferentes aspectos. 

 

A última grande viagem (da Jacque e minha) havia sido ainda antes da pandemia, em outubro de 2019, no aniversário dela, para a Costa Leste do Canadá, Nova Scotia e Prince Edward Island, uma viagem maravilhosa, a primeira que fizemos apenas nós dois desde o nascimento da Marina. Além de lugares e paisagens belíssimas, foi um momento de (talvez) reconexão, após quase vinte cinco anos de casados. Confirmamos que vibramos na mesma sintonia, e que isso não mudou nesse tempo todo.

 

O dia em que a terra parou, quando da pandemia que ainda vivemos, todos os potenciais planos de viagem ficaram por óbvio suspensos, sem estresse (ou com estresse, claro). A última coisa que eu pensava era em pegar um avião para passear. Além disso, fronteiras terrestres fechadas. Não era hora de viajar, evidentemente (falo de mim).

 

Em 2021, no verão, quando a pandemia deu uma “folga” por aqui logo antes do horror que foi março do ano passado, ainda demos uma saída de alguns dias até a Praia do Rosa e Garopaba (que eu não conhecia!) e passamos uns dias com amigos queridos em Canela, na Serra Gaúcha. Algum final de semana na serra ou na praia, mas nada muito mais que isso. Viajar longe, nem pensar.

 

À medida que avançou a vacinação, e a situação começou a melhorar, a notícia de que o Uruguai abriria sua fronteira no verão, surgiu a intenção de fazer uma viagem para lá nas férias de verão. Isso, claro, antes da ômicron... Tínhamos pensado em fazer com amigos, porém no feriado de doze de outubro, quando estávamos em Canela/RS em família, surgiu a ideia de fazermos justamente em família, a Jacque, a Marina, a Karina, a Roberta, o Gabriel e eu.

 

Confesso que fiquei reticente. Primeiro porque teriam de ser dois carros, o que acabou não se confirmando, saberão vocês depois, mas – principal e muito mais importante – por causa da preocupação com a saúde do meu pai. 

 

Com oitenta anos, com uma alteração na coluna que o faz ter importantes limitações físicas, com dificuldade de mobilização, e uma cardiopatia que - se não é grave – também não é leve. Havia estado internado em setembro por uns dias na emergência por perda de função renal, e ainda estava, digamos assim, mais ou menos. E a minha mãe cuidando dele diariamente e eu funcionando como backup, como rede apoio para caso eles precisassem de qualquer coisa. Poderia não saber o que fazer, mas certamente conheceria quem soubesse. 

 

Então me sentia preocupado e bem culpado em planejar férias e deixar os dois sozinhos, devo confessar. Isso, somado à incerteza de como evoluiria a pandemia com o surgimento da nova variante, me deixou “pouco entusiasmado” com o planejamento. Isso se refletiu de alguma forma no grupo, que achava por um tempo que eu não queria era viajar com eles.

 

Nada a ver.

 

Com o passar do tempo, a situação do meu pai se estabilizou, ele ficou muito melhor clinicamente, dentro das limitações físicas que fazem parte da vida dele agora, e pude começar a entrar no espírito da viagem. Já havíamos definido mais ou menos os nossos planos, em termos de datas e roteiro. Começaríamos a viagem no domingo, 30 de janeiro de 2022, e chegaríamos de volta na sexta-feira 11 de fevereiro.

 

Por que começar num domingo?

 

Porque a Marina teria um show em que se apresentaria com a banda em que canta no sábado à noite em Xangrilá, litoral norte gaúcho. Voltaríamos de madrugada para Porto Alegre e sairíamos para o Uruguai no domingo final da manhã.

 

Por que terminar na sexta-feira?

 

Porque teríamos o final de semana para nos organizar, rever as famílias, descansar da estrada para recomeçar o trabalho na segunda-feira. Simples assim.

 

O roteiro começaria com o trecho Porto Alegre – São Lourenço do Sul, onde visitaríamos o Tio Beto e a Tia Édila, e os primos Augusto e Rodrigo, que moram e são proprietários de um hotel lá. Teríamos a oportunidade de visitá-los depois de dois anos de pandemia e – esperava – tocar fogo na churrasqueira dele, que vive no lugar em que chamo carinhosamente de “churrascolândia”. Essa foi a primeira condição que impus para a viagem: começaria e encerraria com uma escala em São Lourenço do Sul.

 

De lá, seguiríamos para o Chuí, por onde entraríamos no Uruguai, e visitaríamos, em princípio, Punta del Diablo, Punta del Este, Montevideo e Colônia del Sacramento, de onde voltaríamos para o Brasil, com uma parada no meio do caminho.

 

Mas ainda não falei das diferentes dimensões e significados que a viagem teve para mim e (mesmo que não tivessem ou tenham noção disso) para os outros. Para isso, vou precisar voltar no tempo, para o milênio passado, para ser mais exato.

 

Para 1999. 

 

Conto adiante.

 

Até.

Um comentário:

Edila Santos disse...

Que chique!! Fui citada no blog do Marcelo! Sou a tia Édila, muito feliz com a visita dos parentes!😊