quinta-feira, dezembro 29, 2022

A Sopa (a Retrospectiva 3)

Em 2022 eu fiz uma tatuagem. 

Sempre havia a vontade, já por muitos anos, mas nunca houvera a motivação, a razão para fazer. Não que haja a necessidade de haver uma razão outra que não a vontade, mas pessoalmente eu sabia que precisava de uma.

 

Quando, em setembro de 2021, meu pai internou no hospital pela primeira vez, ficando por quatro dias internado na emergência mesmo, um local sem janelas, com uma luz fluorescente acesa o tempo todo, e, em frente a ele, no seu campo de visão, um relógio de parede que não funcionava, o que o desorientou como desorientaria qualquer um, foi ali que decidi que – no dia em que ele não estivesse mais entre nós, e que eu esperava que ainda levasse muito tempo -  eu faria uma tatuagem em sua homenagem. E sabia o que tatuaria em meu antebraço direito.

 

O símbolo do Superman.

 

A partir daí, não precisaria explicar mais nada, e mesmo assim ele já sabia que era isso o que ele representava para mim, afinal há alguns anos eu o havia presenteado com um boneco do Super-Homem, e havia ressaltado a simbologia do presente, o seu significado. Porque eu aprendi em algum momento que as pessoas precisam saber (ou eu preciso dizer a elas) o quanto são importantes para mim e o quão grato eu sou por tê-las em minha vida.

 

Desde o momento em que decidi que um dia eu faria até realmente fazê-la, passou menos de um ano, infelizmente. Em 27 de agosto passado, exatamente um mês após a despedida dele, eu fiz a tatuagem, cumpri minha promessa, mantive minha palavra. Foi uma forma de homenagear um homem que – sim – tinha seus defeitos (como todos nós, aliás) mas que foi, sem dúvidas, um grande cara, um baita contador de histórias e que me ensinou muito. Minhas referências, ele junto com minha mãe.

 

Morreu dia 26 de julho à tarde.

 

Na manhã deste dia, já sabendo que era uma questão de algumas poucas horas, ainda pude passar um tempo junto a ele me despedindo, algo que já vinha fazendo nos últimos dias da internação. Pude encostar minha cabeça em seu peito, sentir seu coração ainda batendo rápido, mas já com a respiração fraca. Ali, agradeci por tudo, e prometi honrar a memória dele. Suas últimas palavras, em um dos seus últimos momento de lucidez, haviam sido ainda na UTI, quando falei que havia melhorado e que iria para o quarto: “É hora de levantar acampamento”.

 

E assim foi. Poucos dias mais tarde, com uma febre persistente e já sedado para não sentir nenhum tipo de desconforto, foi apagando, o final de um processo que lentamente se desenrolava por ao menos dois anos. Levantou acampamento definitivamente.

 

A despedida foi emocionante no sentido em que pude ver como ele era querido por muitos, que estiveram lá, mas não só isso: pude ver como a minha mãe, meu irmão e eu também somos, pelas pessoas que estiveram lá por nossa causa, para estarem lá conosco naquele momento difícil, o mais difícil até aquele momento em minha vida. Foi uma cerimônia simples, e bonita.

 

Eu estava sentindo um misto de emoções, naturalmente. A tristeza por perder meu pai, e a sensação reconfortante de me sentir abraçado por todos. No final, abracei meu irmão e minha mãe e disse que a melhor forma de homenagear meu pai era seguirmos juntos e vivermos nossa vida da melhor forma possível.

 

É o que venho tentando fazer.

 

Até. 

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