domingo, dezembro 25, 2022

A Sopa (a Retrospectiva)

O Ano dos Extremos.

 

Em 1991 foi publicada a primeira edição de “Era dos Extremos”, do historiador Eric Hobsbawm, livro que analisa o século XX, em suas relações sociais, políticas, econômicas e culturais. Sabemos que foi um século marcado por uma série de conflitos, mudanças e transformações que impactaram a sociedade global. Se o século XX foi de extremos, o que dizer do século XXI e suas bolhas, seus conflitos políticos e de visões de mundo, virtuais e reais? Certamente a era dos extremos se estendeu e se intensificou, podemos dizer.

 

Mas, evidentemente, não quero falar do mundo, ou de política, ou de internet, muito menos de redes sociais, vocês já devem imaginar. Porque aqui eu falo de mim, meus pensamentos, minhas reflexões, da minha vida, afinal de contas. E sigo.

 

Dois mil e vinte e dois, definitivamente o Ano dos Extremos.

 

Dizendo de outra maneira, o ano como uma montanha-russa, daquelas radicais, com grandes subidas, descidas abruptas seguidas de novas ascensões rumo ao que parece ser o espaço, para então descer de novo, nos deixando a sensação de que o coração sairá pela boca. Uma loucura como, na verdade, são todos os anos, como é a vida.

 

O ano em que fiz cinquenta anos. Em que perdi meu pai. Em que fiz uma tatuagem. Em que a música voltou a fazer parte da minha vida de maneira intensa. Em que larguei um emprego de professor universitário para voltar a ser profissional liberal e começar um novo projeto em um novo/antigo hospital. Em que vi a Marina crescer muito como vocalista. Em que ela participou de um musical. Em que tocamos no Sgt. Peppers e no Opinião. Em que tornamos a School of Rock parte de nossas vidas quase diárias e – por que não? – da nossa família.

 

Muita coisa aconteceu, num ritmo intenso.

 

Fevereiro, mês de férias, fizemos – depois de um hiato – uma viagem em família, de carro, como fazemos há muito tempo, tipo Perdidos na Espace, na verdade ‘Los Perdiditos’, como nomeamos a viagem. Foi um momento de desacelerar, e foi quando me dei conta de como a pandemia havia afetado meu estado de espírito, de quanto havia me cansado.

 

A viagem começou comigo ainda de certa forma tenso, sisudo, circunspecto, mas – conforme avançávamos geograficamente para longe de Porto Alegre e da vida diária – fui relaxando, me conectando com quem eu era (ou achava que era), e realmente aproveitando as férias e as pessoas que estavam comigo. Foi tão bom que virou um longo relato de viagem publicado nesse blog. Voltei das férias descansado como há muito não acontecia, mesmo que tenho passado boa a maior parte da viagem com dores devido a uma hérnia de disco cervical, que seria descoberta apenas depois de ter voltado.

 

A volta das férias coincidiu com o show de temporada da School of Rock na praia, e foi outro momento de felicidade plena participar do processo, chegando cedo, vendo a montagem do equipamento, a passagem de som, a convivência com o pessoal e, claro, o show em si. No meio do show, vendo a Marina, tive a epifania: era aquilo que eu queria para mim também. Queria fazer parte daquilo, precisava retomar a música. Era o sinal de que havia passado muito tempo longe da música e era hora de voltar.

 

Ato contínuo, me matriculei em aulas de guitarra e comecei em março na School of Rock (tudo por influência da Marina, a quem pedi autorização para entrar no que era o mundo dela). Foi como entrar em um novo mundo: conhecer novas pessoas, conviver intensamente com elas. A cada semana, uma hora de aula individual e mais de duas horas de ensaio com banda, sem falar nas vezes que ia lá por causa da Marina.

 

Música passou a ser estudo também. Passei a ouvir com mais atenção, mais cuidado. A criar novas referências, ao seguir orientações e dicas dadas por quem conhece. O mundo se ampliou, como já havia acontecido com a Marina. Méritos para os responsáveis. 

 

O ano foi, então, marcado pela música? 

 

Sim, também.

 

Subimos no palco algumas vezes para mostrar o resultado de nosso trabalho. Tocamos na rua, numa noite fria de maio, dez dias antes do show da temporada Beatles no Sgt Peppers, lendário pub com temática Beatles de Porto Alegre, lugar aonde a Jacque e eu fomos na primeira vez que saímos juntos. Assistimos nossa filha cantar nesse lugar vinte e sete anos depois dessa primeira vez. Mágico.

 

Depois, em julho, no Dia do Rock, tocamos numa loja de instrumentos musicais num shopping de Porto Alegre, outra experiência muito legal, mas que ocorreu no mesmo dia em que havíamos internado de urgência meu pai no hospital, de onde não sairia, no que certamente foi o episódio mais triste da minha vida até aqui. Falo disso mais adiante, contudo. O foco ainda é o que a música me (nos) proporcionou em 2022.

 

Agosto, o mês de aniversário da Marina, foi um mês em que estivemos envolvidos com a música quase todo final de semana, entre aulas, ensaios, apresentações na própria escola, incluindo o aniversário de quatorze anos dela. Foi memorável. Nos divertimos, tocamos e cantamos juntos, amigos estiveram reunidos. Mais uma vez, mágico. O mês ainda terminou com um show na Expointer, tocando o repertório que trabalhávamos na época, Rolling Stones.

 

Que foi o nosso show de temporada do final de outubro, no Bar Opinião, outro momento daqueles para não esquecer nunca. Estrutura profissional, grande plateia, som e luzes. Sensacional.

 

Poderia (e talvez devesse) falar mais de música.

 

Mais adiante, mais adiante.

 

Continua.

Até.  

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