Uma das boas lembranças que tenho do tempo da vida juliana (a saber, vida militar, caserna) além dos colegas, e de fatos aparentemente desagradáveis que na época – e muito mais agora – me divertiam porque eu sabia que iam virar boas histórias, eram as aulas de instrução, especificamente de hinos. Foi um dos poucos elogios que recebi naqueles primeiros setenta dias de treinamento militar antes de começar a trabalhar como médico no Hospital da Aeronáutica de Canoas/RS (HACO).
Eu nunca tive o perfil para ser militar, mas foi uma boa opção para quando terminei a residência médica. Bom salário, horário reduzido, bom ambiente de trabalho. Eu entrei na aeronáutica para trabalhar na UTI do HACO. Só que não existia uma UTI no HACO! Ela ia ser construída, mas entrei para ser do efetivo da UTI. Enquanto não era construída, ficaria atendendo como pneumologista, minha especialidade, aliás…
Bom, mas para ser médico da aeronáutica eu teria que ser militar. Seria segundo tenente. Para isso, era preciso treinamento militar, setenta dias vivendo a vida de soldado, marchando, cantando os hinos, aprendendo os códigos e regras, fazendo treino de tiro e o famoso campo. No final do período, seria um militar… e médico. Acima de tudo, militar.
Foram umas grandes férias, no final das contas. Os primeiros dez dias passamos sem sair do quartel, de quarentena, para adquirirmos espírito de grupo. Tínhamos aulas de manhã, de tarde e uma instrução teórica à noite. Mas também as aulas de ordem unida, aprendendo a marchar, a identificar os toques de corneta. Bom não precisar pensar em outras coisas, ou mesmo nem pensar em nada, porque era simples questão de seguir instruções e comandos. No início, tudo bem, mas aos poucos foi ficando chato, repetitivo. E surgiam situações que beiravam o ridículo de tão absurdas e que – óbvio – tinham um enorme potencial para virarem histórias que vou contar para sempre.
Como quando estávamos no campo (três dias em que acampamos e temos treinamentos militares, entres eles missões noturnas) em nossa última noite. Depois da instrução noturna, fomos divididos em grupos para ficar “de guarda” do acampamento. O meu turno foi algo tipo das 4h até as 5h. Cumpri o meu serviço e voltei para a grande barraca onde dormiam uns vinte, pelo menos. Àquela altura, decidi dormir como estava, sem nem ao menos tirar o coturno. Deitei quase na entrada da barraca, o capacete servindo de travesseiro, e fiquei ali, esperando o tempo passar.
O dia amanhecia, e eu acordado, quando vi vultos caminhando em volta da barraca. Algo estava para acontecer, e eu podia apostar que eram os mais “antigos” aprontando para nós, os aspirantes. Não deu outra: um dos “vultos” apareceu na entrada da barraca, eu de olhos semi-cerrados fingindo dormir, e ele jogou para dentro um daquelas bombas de fumaça… na hora rolei para for a da barraca e me livrei da brincadeira.
Mais tarde, estávamos todos formados em fila aguardando o café da manhã, quando me voltei para o colega de trás da fila e comentei “Puxa, SUPER-LEGAL isso de ser acordado com bombinhas…”. Nisso virei para o lado e estava o major que era nosso comandante maior ouvindo a conversa. “Como?”, perguntou. “Nada não, senhor”, respondi, no que ele me mandou “pagar dez”. Sem relutar, comecei a fazer flexões, mas sem contar em voz alta, como manda a regra. Ele disse que não estava valendo porque eu não estava contando. Respondi que estava só aquecendo, e ele me mandou “pagar” o dobro…
Mas a melhor de todas (no meu humilde ponto de vista) foi a da vez em que tivemos que apresentar uma aula para os colegas como treinamento para “falar em público”. Como eles queriam avaliar a técnica de apresentação de aulas, nos deixaram com o assunto livre. Lembro que um ia apresentar sobre Florianópolis e outro sobre uísques. Pensei, pensei, e nada vinha, não tinha nenhuma idéia de sobre o que falar. Tinha que ser um assunto que eu dominasse e não fosse muito trabalhoso de preparar. Qual seria o assunto, me angustiava, até que veio a luz: eu falaria sobre a pessoa que eu mais conhecia no mundo!
No dia, na minha vez, anunciei o meu assunto: “Eu – Visão Histórica e Perspectiva Atual”. E falei vinte minutos sobre mim. Começava desde o início “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus…”. E da leitura de um trecho inicial do Evangelho de João, eu pulava muito no tempo e falava um pouco no time do Inter da década de quarenta, conhecido como Rolo Compressor, e daí 1972, ano em que nasci. Foi uma grande viagem, mas com técnica de exposição adequada, fala pausada, tudo conforme o figurino. No final, meus colegas me aplaudiram de pé, mas isso não impediu de ser chamado na sala do comandante e ser ameaçado de prisão por desrespeito… Dava para ver, eu não nasci para ser militar…
Por que lembrei disso? Volto a falar das aulas de hinos e a um dos poucos elogios que recebi neste período. Como era boa as aulas de hinos, e como são legais os hinos, não só os militares, mas os da Pátria. Eu cantava – mesmo desafinado – com empolgação verdadeira. A sargento (Aparecida era o seu nome, acho) não pode deixar de se admirar com a empolgação com que eu cantava. Os hinos são legais.
De todas as armas, o da aeronáutica é o mais fraquinho (“Contato, companheiros, ao vento sobranceiros, lancemos o roncar, da hélice a girar…”). O do exército é legal (“Nós somos da pátria a guarda, fiéis soldados, por ela amados…”), mas o hino mais bonito entre as armas é o da marinha, o Cisne Branco (“Qual cisne branco em noite de lua, vai navegando no mar azul…). E quanto aos nacionais, o mais belo de todos é o Hino da Bandeira (“… Recebe o afeto que se encerra em nosso peito juvenil, querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil…”). Sempre achei muito legais os hinos.
Não, não é saudades do Brasil. É que a Jacque me mandou por email algumas músicas em MP3 e, entre elas e a meu pedido, os hinos.
Cada vez me impressiono mais com a tecnologia, mas vou falar mais disso outra hora, aguardem.
§
Volto a publicar, esta semana, um texto da querida amiga Lúcia, a mesma que nos divertiu e emocionou com suas “Stories About Australia”, do período que esteve “num exílio” australiano. O texto “O Fundo” é outro daqueles que nos emociona pela poesia contida, poesia essa que ela parece viver agora em sua vida pessoal, mas que não vou comentar aqui, exceto que talvez um dia desses eu escreva a sua história.
Lúcia, espere que continues colaborando com A Sopa, pois o acréscimo de qualidade com tua literatura é imenso. Ah, sem falar que isso também é uma homenagem pelo teu aniversário, domingo 31/10. Vai, e sê feliz… Quem manda o beijo é o Dindo…
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O Fundo - Lucia Stenzel
“Parece mentira, eu aqui, um homem de 95 anos sofrendo com a perda de minha amada”. Poderia ser a frase de um famoso e romântico poeta, mas é do meu avô. Um homem de muita idade, muitos cabelos brancos e muita lucidez. Enfrentar com tamanha consciência a velhice, e a morte da amada, deve doer fundo. Um fundo o qual meu avô nunca temeu.
Lembro pouco da minha infância, mas sei que eu nunca conheceria o fundo do mar se não fosse por ele. Que paciência tinha este homem enquanto se enfileiravam os quatorze netos berrando e brigando por quem seria o próximo para conhecer o fundo. “Vô, me leva pro fundo?”, perguntava eu. “Claro minha filha, mas tem que ser um por um. Espera um pouquinho que eu já te levo”.
Eu sentava na beira da praia e assistia atenta ao trajeto que logo se repetiria comigo. Ele tirava o boné, que escondia uma camada grossa de hipoglós no nariz, e la se ia o senhor de cabelos brancos, de mãos dadas com o próximo da fila. Pulávamos uma onda, outra e mais outra. Alguns truques para prender a respiração, e finalmente, logo ali depois da arrebentação, estavamos nós, no fundo.
No fundo, no fundo, nem ele dava pé. Mas quem disse que a gente percebia? Só o vô enfrentava o fundo. Poderia ser bandeira branca, amarela ou vermelha. Não tinha cor que impedisse o meu avô de repetir o ritual matinal com os netos. E depois de uma maratona cansativa, que o levava ao fundo mais de mil vezes, ele o enfrentava sozinho, com coragem e bravura. Da beira da praia só se enxergava aquele pontinho branco entre as ondas. Levado pelo repuxo ele boiava sem medo, para onde o mar quizesse o levar.
Hoje não vamos mais a praia, mas ele segue enfrentando o fundo. Quem dera eu, meu querido avô, poder lhe dar a mão e dizer para não te preocupares. Mas aqui, da beira da praia sigo te acompanhando com o olhar e te vendo boiar. Segues, com toda esta idade, nos ensinando a enfrentar o mar.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
domingo, outubro 31, 2004
sábado, outubro 30, 2004
Perdidos Capa
Capa do livro "Perdidos na Espace", narrando a viagem dos Perdidos em 1999. Estou começando a publicar o livro completo - no futuro com fotos - no blog Perdidos na Espace. Espero que vocês gostem e visitem...
Sábado (9)
Quando acordei hoje, por volta das 9:00 AM, olhei pela janela e não vi nada, apenas uma neblina densa, pesada, que parecia poder ser cortada com faca. Depois do café da manhã, desci até o subsolo para levar o lixo reciclável (um local para as garrafas e latas, outro para jornais e demais papéis e papelões, e um último para os plásticos) e, ao entrar no elevador para subir de volta, encontrei uma vizinha chegando com seu carrinho de compras.
"Chove?", perguntei, e a sua resposta foi definitiva, dizendo que estava um daqueles dias úmidos, com aquela chuvinha fina, irritante, que parece que não molha mas quando percebemos estamos completamente molhados. "Chuva de molhar bobo", é a melhor tradução para esta chuva, usando uma expressão que conhecemos bem no Brasil, no Rio Grande do Sul ao menos. Perfeito para ficar em casa, segundo ela.
"Pronto, já tenho programa para o sábado...", pensei, com certo grau de frustração, pois planejava alguns passeios com fotos. Bom deixa para lá, tenho trabalho a fazer em casa, estudos, escrever, etc. Talvez eu saia à tarde para ir ao supermercado. Talvez.
§
Estou ainda aprendendo a lidar com esta "coisa" de manter um blog. Por isso, visito muitos outros e procuro maneiras de "incrementar" o meu. Outra coisa, é que ainda não sei bem as "regras de etiqueta" de quem mantém um blog (já explico).
Entre as melhorias (modestas, eu sei), desde o contador do número de visitas, também aprendi a colocar links para outros blogs e sites (obrigado Luly) e, desde ontem, acrescentei a temperatura e previsão do tempo em Toronto e Porto Alegre. Ah, também tem como saber quantas pessoas estão online (visitando o blog) ao mesmo tempo. Em breve devo aprender mais coisas, tudo como - digamos - preparação para no futuro ter o meu próprio site...
Com relação às "Regras de Etiqueta" de um blog, ainda não sei bem se devo responder a todos os comentários que fazem nele, e como. No próprio blog, ou talvez pro email? Talvez vocês possam me ajudar nesta dúvida. O que preferem?
Bom sábado a todos.
"Chove?", perguntei, e a sua resposta foi definitiva, dizendo que estava um daqueles dias úmidos, com aquela chuvinha fina, irritante, que parece que não molha mas quando percebemos estamos completamente molhados. "Chuva de molhar bobo", é a melhor tradução para esta chuva, usando uma expressão que conhecemos bem no Brasil, no Rio Grande do Sul ao menos. Perfeito para ficar em casa, segundo ela.
"Pronto, já tenho programa para o sábado...", pensei, com certo grau de frustração, pois planejava alguns passeios com fotos. Bom deixa para lá, tenho trabalho a fazer em casa, estudos, escrever, etc. Talvez eu saia à tarde para ir ao supermercado. Talvez.
§
Estou ainda aprendendo a lidar com esta "coisa" de manter um blog. Por isso, visito muitos outros e procuro maneiras de "incrementar" o meu. Outra coisa, é que ainda não sei bem as "regras de etiqueta" de quem mantém um blog (já explico).
Entre as melhorias (modestas, eu sei), desde o contador do número de visitas, também aprendi a colocar links para outros blogs e sites (obrigado Luly) e, desde ontem, acrescentei a temperatura e previsão do tempo em Toronto e Porto Alegre. Ah, também tem como saber quantas pessoas estão online (visitando o blog) ao mesmo tempo. Em breve devo aprender mais coisas, tudo como - digamos - preparação para no futuro ter o meu próprio site...
Com relação às "Regras de Etiqueta" de um blog, ainda não sei bem se devo responder a todos os comentários que fazem nele, e como. No próprio blog, ou talvez pro email? Talvez vocês possam me ajudar nesta dúvida. O que preferem?
Bom sábado a todos.
quarta-feira, outubro 27, 2004
Além da Imaginação...
Demorei para perceber, mas um dia foi inevitável. E aí surgiu a dúvida:
Por que é que aqui no Canadá a seção de rações do supercercado não tem aquele odor nauseabundo que as mesmas seções têm no Brasil? O que é que as rações canadenses têm (ou não têm) que as do Brasil não (ou têm )??
Mais um pergunta sem resposta que não me deixa dormir...
Por que é que aqui no Canadá a seção de rações do supercercado não tem aquele odor nauseabundo que as mesmas seções têm no Brasil? O que é que as rações canadenses têm (ou não têm) que as do Brasil não (ou têm )??
Mais um pergunta sem resposta que não me deixa dormir...
segunda-feira, outubro 25, 2004
Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás
Primeira parte de um série de ficção histórica que provavelmente não tenha continuação...
Perdido no Dilúvio
Admito que o pessoal estava exagerando. O comentário geral por todos os lados era de que não se respeitava mais ninguém, e de que “isso não vai acabar bem”. Mas a maioria nem dava bola para aqueles que, tementes, avisavam que “um dia desses Deus se cansa de tanta maldade junta e nos pune”.
Eu, no meu canto, procurava evitar incomodações. Não me indispunha com os “caras maus” nem deixava de ouvir os alertas dos mais velhos. Ficava em cima do muro, se preferirem assim. Mas não me sentia à vontade em meio aquela bandalheira que havia se tornado nosso povoado, mais um entre muitos onde a corrupção, a violência e as más condutas eram agora a regra. Não podia dar em coisa boa mesmo.
De vez em quando, sem ser notado, saía do centro e me afastava do movimento, indo ver o trabalho do velho Noé, que estava construindo uma grande embarcação. Ele não tinha muita experiência no assunto, indústria naval, mas trabalhava com uma convicção de veterano. E pressa. Dava a impressão de que ele corria contra o tempo. Vez e outra, seus filhos o auxiliavam, mas quase sempre trabalhava sozinho, de sol a sol, sem esmorecer e com uma energia impressionante, visto sua idade.
Naquela época, tinha – com certeza – quinhentos anos de idade. Não surpreende, conhecendo-se sua família. Noé, filho de Lameque, era neto de Matusalém, o homem que mais viveu, contavam os livros de história. Eu, com os meus trinta e dois, já ficaria feliz se vivesse, digamos, uns setenta anos, desde que tivesse saúde. Se conseguisse ainda me tornar carpinteiro e construir um barco do tamanho desse que Noé estava construindo, ficaria mais que satisfeito. Porque vocês sabem, Noé era lavrador, e essa mudança de ofício na idade dele era surpreendente. Por outro lado, se eu vivesse tanto, também era capaz de mudar de profissão. Imagina fazer a mesma coisa por quase meio milênio! Tinha mais é que mudar mesmo, ninguém teria coragem de chamá-lo de inconstante, afinal de contas.
Conforme passavam os dias, o barco ia tomando forma, e se revelava uma grande arca. Não tinha mastro, e me perguntava como ele ia resolver o problema da propulsão da embarcação. Será que usaria remos? Não dava a impressão, e mesmo que - para movimentar tamanha arca – seria preciso de muita gente. Ele devia ter alguma carta na manga, algo que eu ainda não conhecia. Teria que esperar um pouco mais para descobrir. Eu? Entendia um pouco do assunto, sim, mas conhecia o Noé só de vista, assim de nos encontrarmos no mercado e nos saudarmos de longe, nada mais, e não me sentia muito à vontade para perguntar.
O verão terminara, o outono já estava encontrando suas temperaturas típicas, noites e manhãs mais frias e temperaturas agradáveis durante a maior parte do dia. A arca estava quase pronta, e os boatos era de que Noé sabia mais do que a maioria de nós, comuns mortais. Boatos sobre a razão da construção da arca era o que mais tinha. Falavam de tudo. Até que Noé ia fundar uma igreja, algo como “Igreja da Arca da Salvação”. Eu não acreditava, afinal de contas ele era conhecido pela sua retidão de caráter e senso de justiça.
Mais ou menos na mesma época em que a arca ficou pronta, todas as previsões eram de que estava por chegar uma frente de baixa pressão com um linha de instabilidade significativa. Ia chover por vários dias. Na taverna que eu freqüentava, ouvi alguns fazendo graça e lembrando que não se podia confiar nas previsões do tempo. Eu tinha aprendido com o tempo não se brincava, e achei que era melhor dar uma conferida com mais atenção no que estava por vir. Saí para a rua, olhei o céu. Algumas nuvens negras no horizonte, soprando um vento quente que vinha do sul. O sol havia nascido bem vermelho naquele dia, lembrei de quando fui logo cedo pegar água no poço e o sol recém despontava no horizonte, indicando chuva.
Dali, decidi ir direto ver como estavam as coisas com o Noé. No caminho, começou a chover, primeiro uma chuva fina que logo aumentou em intensidade – até granizo caiu nesta hora. Chegando próximo à casa dele, notei um estranho movimento...
Ao perceber o que estava acontecendo, não pude acreditar. Em meio à chuva, que começava a formar poças nas ruas, estava lá – pronta – a arca, e nela embarcavam… animais?!. Um casal de cada espécie, me parecia. Também em frente à ponte de embarque, estavam Noé, sua esposa, seus filhos e noras, controlando a entrada, verificando item por item tudo o que devia ser embarcado. Pareciam se preparar para uma longa viagem. Como assim? O que eles sabiam que eu não sabia?
A chuva não parava nem diminuia em intensidade, e agora já estava em minhas canelas. Quando todos os animais já haviam sido embarcados, a chuva acumulada já quase fazia a arca flutuar, e estava na altura da minha cintura. Já tinha me dado conta que a coisa estava ficando complicada para mim, e talvez para todos que não estivessem em lugares altos ou dentro de um barco. “Noé já sabia que isso ia acontecer!”, não pude deixar de pensar, ao ver a grande arca – com seus familiares e um grande zoológico dentro – começar a ter sua ponte de embarque içada pelos filhos de Noé.
Foi neste instante que – com dificulades pelo volume de água – avancei e me fiz ser visto. Notei que Noé cochichou por alguns instantes com sua esposa, logo depois mandou descerem a ponte de embarque e disse:
- Sobe, enquanto há tempo…
- Para onde estais indo? - perguntei, mas já subindo.
- Para onde, só Deus sabe, pois foi determinação dele que viéssemos. Mas podes estar certo de que – fora da arca – as coisas vão ficar bem molhadas…
Embarquei junto com a família de Noé e com um casal de animais de cada espécie para uma viagem para a qual não tinha me preparado (Vamos parar em praias? Será que cruzeiro não é muito entediante?) e sem ter idéia onde estava indo nem quanto tempo ela duraria. Ao menos estava seco e protegido.
Uma coisa era certa, contudo: teria muitas histórias para contar.
Perdido no Dilúvio
Admito que o pessoal estava exagerando. O comentário geral por todos os lados era de que não se respeitava mais ninguém, e de que “isso não vai acabar bem”. Mas a maioria nem dava bola para aqueles que, tementes, avisavam que “um dia desses Deus se cansa de tanta maldade junta e nos pune”.
Eu, no meu canto, procurava evitar incomodações. Não me indispunha com os “caras maus” nem deixava de ouvir os alertas dos mais velhos. Ficava em cima do muro, se preferirem assim. Mas não me sentia à vontade em meio aquela bandalheira que havia se tornado nosso povoado, mais um entre muitos onde a corrupção, a violência e as más condutas eram agora a regra. Não podia dar em coisa boa mesmo.
De vez em quando, sem ser notado, saía do centro e me afastava do movimento, indo ver o trabalho do velho Noé, que estava construindo uma grande embarcação. Ele não tinha muita experiência no assunto, indústria naval, mas trabalhava com uma convicção de veterano. E pressa. Dava a impressão de que ele corria contra o tempo. Vez e outra, seus filhos o auxiliavam, mas quase sempre trabalhava sozinho, de sol a sol, sem esmorecer e com uma energia impressionante, visto sua idade.
Naquela época, tinha – com certeza – quinhentos anos de idade. Não surpreende, conhecendo-se sua família. Noé, filho de Lameque, era neto de Matusalém, o homem que mais viveu, contavam os livros de história. Eu, com os meus trinta e dois, já ficaria feliz se vivesse, digamos, uns setenta anos, desde que tivesse saúde. Se conseguisse ainda me tornar carpinteiro e construir um barco do tamanho desse que Noé estava construindo, ficaria mais que satisfeito. Porque vocês sabem, Noé era lavrador, e essa mudança de ofício na idade dele era surpreendente. Por outro lado, se eu vivesse tanto, também era capaz de mudar de profissão. Imagina fazer a mesma coisa por quase meio milênio! Tinha mais é que mudar mesmo, ninguém teria coragem de chamá-lo de inconstante, afinal de contas.
Conforme passavam os dias, o barco ia tomando forma, e se revelava uma grande arca. Não tinha mastro, e me perguntava como ele ia resolver o problema da propulsão da embarcação. Será que usaria remos? Não dava a impressão, e mesmo que - para movimentar tamanha arca – seria preciso de muita gente. Ele devia ter alguma carta na manga, algo que eu ainda não conhecia. Teria que esperar um pouco mais para descobrir. Eu? Entendia um pouco do assunto, sim, mas conhecia o Noé só de vista, assim de nos encontrarmos no mercado e nos saudarmos de longe, nada mais, e não me sentia muito à vontade para perguntar.
O verão terminara, o outono já estava encontrando suas temperaturas típicas, noites e manhãs mais frias e temperaturas agradáveis durante a maior parte do dia. A arca estava quase pronta, e os boatos era de que Noé sabia mais do que a maioria de nós, comuns mortais. Boatos sobre a razão da construção da arca era o que mais tinha. Falavam de tudo. Até que Noé ia fundar uma igreja, algo como “Igreja da Arca da Salvação”. Eu não acreditava, afinal de contas ele era conhecido pela sua retidão de caráter e senso de justiça.
Mais ou menos na mesma época em que a arca ficou pronta, todas as previsões eram de que estava por chegar uma frente de baixa pressão com um linha de instabilidade significativa. Ia chover por vários dias. Na taverna que eu freqüentava, ouvi alguns fazendo graça e lembrando que não se podia confiar nas previsões do tempo. Eu tinha aprendido com o tempo não se brincava, e achei que era melhor dar uma conferida com mais atenção no que estava por vir. Saí para a rua, olhei o céu. Algumas nuvens negras no horizonte, soprando um vento quente que vinha do sul. O sol havia nascido bem vermelho naquele dia, lembrei de quando fui logo cedo pegar água no poço e o sol recém despontava no horizonte, indicando chuva.
Dali, decidi ir direto ver como estavam as coisas com o Noé. No caminho, começou a chover, primeiro uma chuva fina que logo aumentou em intensidade – até granizo caiu nesta hora. Chegando próximo à casa dele, notei um estranho movimento...
Ao perceber o que estava acontecendo, não pude acreditar. Em meio à chuva, que começava a formar poças nas ruas, estava lá – pronta – a arca, e nela embarcavam… animais?!. Um casal de cada espécie, me parecia. Também em frente à ponte de embarque, estavam Noé, sua esposa, seus filhos e noras, controlando a entrada, verificando item por item tudo o que devia ser embarcado. Pareciam se preparar para uma longa viagem. Como assim? O que eles sabiam que eu não sabia?
A chuva não parava nem diminuia em intensidade, e agora já estava em minhas canelas. Quando todos os animais já haviam sido embarcados, a chuva acumulada já quase fazia a arca flutuar, e estava na altura da minha cintura. Já tinha me dado conta que a coisa estava ficando complicada para mim, e talvez para todos que não estivessem em lugares altos ou dentro de um barco. “Noé já sabia que isso ia acontecer!”, não pude deixar de pensar, ao ver a grande arca – com seus familiares e um grande zoológico dentro – começar a ter sua ponte de embarque içada pelos filhos de Noé.
Foi neste instante que – com dificulades pelo volume de água – avancei e me fiz ser visto. Notei que Noé cochichou por alguns instantes com sua esposa, logo depois mandou descerem a ponte de embarque e disse:
- Sobe, enquanto há tempo…
- Para onde estais indo? - perguntei, mas já subindo.
- Para onde, só Deus sabe, pois foi determinação dele que viéssemos. Mas podes estar certo de que – fora da arca – as coisas vão ficar bem molhadas…
Embarquei junto com a família de Noé e com um casal de animais de cada espécie para uma viagem para a qual não tinha me preparado (Vamos parar em praias? Será que cruzeiro não é muito entediante?) e sem ter idéia onde estava indo nem quanto tempo ela duraria. Ao menos estava seco e protegido.
Uma coisa era certa, contudo: teria muitas histórias para contar.
domingo, outubro 24, 2004
A Sopa 04/14
Lembranças de viagem.
Quando planejávamos nossa viagem para a Europa em 2002, uma das idéias era conhecer a região francesa de Rhône-Alps, que tem Lyon como sua cidade principal. O plano era visitar Lyon, sair em direção aos Alpes, e daí cruzá-los para a Itália, para depois retornar à França para ir até a simpática Annecy, sugestão dos amigos Diovanne e Maria Cristina.
Após algumas pesquisas, decidimos que cruzaríamos os Alpes pelo Túnel de Frèjus, que liga França e a Itália, na região do Piemonte, próximo à Turin, e que voltaríamos à França pelo Túnel do Mont Blanc, que aquela época deveria estar reaberto. O túnel havia sido fechado em 1999 devido a um acidente com incêndio em seu interior. Tudo tranqüilo, planos perfeitos.
Em fevereiro de 2002, tudo correu bem conforme os planos: visitamos Lyon, Aix-les-Bains e, pelo Túnel de Frèjus, entramos na Itália. Ficamos em Turin, depois fomos até Aosta (surpresa extremamente agradável, a Roma dos Alpes). A partir daí, o destino seguinte era cruzar o Mont Blanc e voltar para a França, passando em Chamonix e depois Annecy. Mas não foi bem isso o que aconteceu.
Saímos de Aosta e fomos até Courmayer, cidade separada de Chamonix pelo Mont Blanc e ligada pelo túnel. Em Courmayer, a notícia: o túnel continuava fechado. Deveríamos encontrar uma via alternativa. A Jacque , a navegadora, fez rápida pesquisa no excelente Michelin Europe Tourist and Motoring Atlas e descobriu o nosso caminho alternativo: o Túnel de San Bernardo, na passagem de Gran San Bernardo, ligando a Itália com a Suiça. A única coisa que deveríamos fazer era retornar até Aosta e dali só seguir as indicações até o túnel. Se não fosse inverno, poderíamos até pensar em fazer a travessia pela passagem de San Bernardo, mas – entre outubro e junho – a neve não permite.
Foi uma das melhores coisas que poderíamos ter feito. As paisagens que tivemos a oportunidade de ver nesse trajeto estão entre as mais bonitas que já vi na vida. Neve, muita neve. Um espetáculo para não ser esquecido, de tão belo.
Justamente nessa região, próximo à passagem de San Bernardo, é que cerca de 2000 viajantes, nos últimos 200 anos, foram regastados pelos cães que levam o nome da passagem. São famosas as histórias (e até desenhos animados) em que aparecem os São Bernardos salvando pessoas em dificuldades na neve. Eles e seu indefectível barril pendurado no pescoço (em Bariloche, na Argentina, esses cães são atrações turísticas e são treinados para só olhar para ti quando os donos – que vendem as fotos – ordenam). Pois é, mas os tempos mudam.
Notícias vindas de Genebra – via Associated Press – informam que os São Bernardos estão perdendo sua utilidade no salvamento de pessoas, superados pelos helicópteros e sensores de calor, mais rápidos e mais precisos. Por isso, a Congregação dos Cânones de Gran São Bernardo está colocando a venda seus cães, 18 adultos e 16 filhotes.
Grande e pesado, um São Bernardo adulto pode pesar mais de 100kg, e come até 2kg de carne por dia. Eles também requerem muita atenção e energia, afirmou o Irmão Frederic, um dos cinco monges que vivem no famoso mosteiro na passagem de São Bernardo. Os monges fundaram o mosteiro do topo na passagem – 2470 metros acima do nível do mar – no século 11 como refúgio para viajantes. Os grandes cães fazem parte da vida do mosteiro desde a metade do século 17, servindo de companhia e proteção aos monges e sendo empregados no resgate de viajantes perdidos na neve e na neblina.
Barry, o São Bernardo mais famoso, viveu no mosteiro entre 1800 e 1812, e auxiliou no salvamento de mais de 40 pessoas. Até hoje, pelo menos um dos cães no mosteiro é sempre chamado de Barry em homenagem ao lendário cão.
Histórias. Eu gosto.
Quando planejávamos nossa viagem para a Europa em 2002, uma das idéias era conhecer a região francesa de Rhône-Alps, que tem Lyon como sua cidade principal. O plano era visitar Lyon, sair em direção aos Alpes, e daí cruzá-los para a Itália, para depois retornar à França para ir até a simpática Annecy, sugestão dos amigos Diovanne e Maria Cristina.
Após algumas pesquisas, decidimos que cruzaríamos os Alpes pelo Túnel de Frèjus, que liga França e a Itália, na região do Piemonte, próximo à Turin, e que voltaríamos à França pelo Túnel do Mont Blanc, que aquela época deveria estar reaberto. O túnel havia sido fechado em 1999 devido a um acidente com incêndio em seu interior. Tudo tranqüilo, planos perfeitos.
Em fevereiro de 2002, tudo correu bem conforme os planos: visitamos Lyon, Aix-les-Bains e, pelo Túnel de Frèjus, entramos na Itália. Ficamos em Turin, depois fomos até Aosta (surpresa extremamente agradável, a Roma dos Alpes). A partir daí, o destino seguinte era cruzar o Mont Blanc e voltar para a França, passando em Chamonix e depois Annecy. Mas não foi bem isso o que aconteceu.
Saímos de Aosta e fomos até Courmayer, cidade separada de Chamonix pelo Mont Blanc e ligada pelo túnel. Em Courmayer, a notícia: o túnel continuava fechado. Deveríamos encontrar uma via alternativa. A Jacque , a navegadora, fez rápida pesquisa no excelente Michelin Europe Tourist and Motoring Atlas e descobriu o nosso caminho alternativo: o Túnel de San Bernardo, na passagem de Gran San Bernardo, ligando a Itália com a Suiça. A única coisa que deveríamos fazer era retornar até Aosta e dali só seguir as indicações até o túnel. Se não fosse inverno, poderíamos até pensar em fazer a travessia pela passagem de San Bernardo, mas – entre outubro e junho – a neve não permite.
Foi uma das melhores coisas que poderíamos ter feito. As paisagens que tivemos a oportunidade de ver nesse trajeto estão entre as mais bonitas que já vi na vida. Neve, muita neve. Um espetáculo para não ser esquecido, de tão belo.
Justamente nessa região, próximo à passagem de San Bernardo, é que cerca de 2000 viajantes, nos últimos 200 anos, foram regastados pelos cães que levam o nome da passagem. São famosas as histórias (e até desenhos animados) em que aparecem os São Bernardos salvando pessoas em dificuldades na neve. Eles e seu indefectível barril pendurado no pescoço (em Bariloche, na Argentina, esses cães são atrações turísticas e são treinados para só olhar para ti quando os donos – que vendem as fotos – ordenam). Pois é, mas os tempos mudam.
Notícias vindas de Genebra – via Associated Press – informam que os São Bernardos estão perdendo sua utilidade no salvamento de pessoas, superados pelos helicópteros e sensores de calor, mais rápidos e mais precisos. Por isso, a Congregação dos Cânones de Gran São Bernardo está colocando a venda seus cães, 18 adultos e 16 filhotes.
Grande e pesado, um São Bernardo adulto pode pesar mais de 100kg, e come até 2kg de carne por dia. Eles também requerem muita atenção e energia, afirmou o Irmão Frederic, um dos cinco monges que vivem no famoso mosteiro na passagem de São Bernardo. Os monges fundaram o mosteiro do topo na passagem – 2470 metros acima do nível do mar – no século 11 como refúgio para viajantes. Os grandes cães fazem parte da vida do mosteiro desde a metade do século 17, servindo de companhia e proteção aos monges e sendo empregados no resgate de viajantes perdidos na neve e na neblina.
Barry, o São Bernardo mais famoso, viveu no mosteiro entre 1800 e 1812, e auxiliou no salvamento de mais de 40 pessoas. Até hoje, pelo menos um dos cães no mosteiro é sempre chamado de Barry em homenagem ao lendário cão.
Histórias. Eu gosto.
sábado, outubro 23, 2004
Sábado (8)
Sábado de manhã, já digo há tempos, é o melhor momento da semana. De sol, então, melhor ainda. Depois de muitos dias que foram insistentemente de cor cinza e muitas nuvens, agora há sol. Vamos para a rua!
Sábado também é dia de poesia...
Drummond, quem mais?
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Sábado também é dia de poesia...
Drummond, quem mais?
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
quinta-feira, outubro 21, 2004
Dormir
Dizem que foi Benjamin Franklin quem disse que "Early to bed and early to rise, makes a man healthy and wise" (dormir e acordar cedo faz o homem saudável e sábio), que é mais ou menos semelhante ao "Deus ajuda a quem cedo madruga". A mensagem sempre foi essa: acordar cedo é melhor. Bom, parece que não tem nada a ver.
Hoje de manhã, como não teria atendimento no Centro de Asma - meu supervisor está viajando para dar uma aula -, pude assistir ao Grand Round da medicina interna no Toronto General Hospital. O assunto, novas perspectivas em pesquisa em cardiologia. Mas o que "acordar cedo" tem a ver com isso?
Não, não foi porque pude dormir mais, até porque não pude.
As novas perspectivas de pesquisa a que a palestra se referia tinha relação também com sono. E foi muito interessante. Falou-se sobre um conceito que é velho conhecido dos médicos, o ritmo circadiano. O que quer dizer isso?
Existem funções no nosso organismo que funcionam como se fossem reguladas por um relógio. Determinados hormônios são liberados mais pela manhã, nossa pressão arterial é maior logo cedo, etc. Mesmo a função pulmonar é menor no final da noite e começo da manhã, por isso as crises são mais freqüentes nestes horários. Assim como acontecem mais infartos de manhã. Mesmo o sono respeita um ciclo assim: tem um pico por volta das duas da manhã e outro, não tão intenso, mais ou menos às duas da tarde, o que é uma justificativa mais do que razoável para as "sestas" e para todas as vezes que eu peguei no sono nas aulas de patologia às 13h30...
Bom, as pesquisas mostram que o coração é um órgão geneticamente diferente durante o dia comparado com a noite. Responde a medicações de forma diferente, tudo. Isso tem muitas implicações da prática médica, mas não vou me extender na parte técnica, afinal este é um blog leigo... (mas quem quiser saber mais detalhes,só me escrever.,,).
Que coisa.
Fiquei pensando nas possibilidades literárias de termos um coração de dia diferente do da noite. Se é assim, o problema não seria de dupla personalidade, mas de corações diferentes. Amaríamos duas pessoas, uma de dia e outra de noite? Seria então, uma questão de genética, e não de - sei lá - caráter, ou cultural, ter duas famílias? Será que alguns planos que fazemos à noite e que pela manhã parecem ruins, só o são porque quem está avaliando é outro coração, outra pessoa?
Que coisa.
E o Benjamin Franklin? Bom, fizeram um estudo para testar se a teoria dele sobre dormir e acordar cedo estava certa. Não está, foi provado. O importante é dormir mesmo.
Mas não pode ser pouco nem muito. Estudos mostraram que quem dorme menos de seis horas ou mais de nove horas por noite tem mais doenças e vive menos do que quem dorme entre sete e oito horas.
Boa noite.
Hoje de manhã, como não teria atendimento no Centro de Asma - meu supervisor está viajando para dar uma aula -, pude assistir ao Grand Round da medicina interna no Toronto General Hospital. O assunto, novas perspectivas em pesquisa em cardiologia. Mas o que "acordar cedo" tem a ver com isso?
Não, não foi porque pude dormir mais, até porque não pude.
As novas perspectivas de pesquisa a que a palestra se referia tinha relação também com sono. E foi muito interessante. Falou-se sobre um conceito que é velho conhecido dos médicos, o ritmo circadiano. O que quer dizer isso?
Existem funções no nosso organismo que funcionam como se fossem reguladas por um relógio. Determinados hormônios são liberados mais pela manhã, nossa pressão arterial é maior logo cedo, etc. Mesmo a função pulmonar é menor no final da noite e começo da manhã, por isso as crises são mais freqüentes nestes horários. Assim como acontecem mais infartos de manhã. Mesmo o sono respeita um ciclo assim: tem um pico por volta das duas da manhã e outro, não tão intenso, mais ou menos às duas da tarde, o que é uma justificativa mais do que razoável para as "sestas" e para todas as vezes que eu peguei no sono nas aulas de patologia às 13h30...
Bom, as pesquisas mostram que o coração é um órgão geneticamente diferente durante o dia comparado com a noite. Responde a medicações de forma diferente, tudo. Isso tem muitas implicações da prática médica, mas não vou me extender na parte técnica, afinal este é um blog leigo... (mas quem quiser saber mais detalhes,só me escrever.,,).
Que coisa.
Fiquei pensando nas possibilidades literárias de termos um coração de dia diferente do da noite. Se é assim, o problema não seria de dupla personalidade, mas de corações diferentes. Amaríamos duas pessoas, uma de dia e outra de noite? Seria então, uma questão de genética, e não de - sei lá - caráter, ou cultural, ter duas famílias? Será que alguns planos que fazemos à noite e que pela manhã parecem ruins, só o são porque quem está avaliando é outro coração, outra pessoa?
Que coisa.
E o Benjamin Franklin? Bom, fizeram um estudo para testar se a teoria dele sobre dormir e acordar cedo estava certa. Não está, foi provado. O importante é dormir mesmo.
Mas não pode ser pouco nem muito. Estudos mostraram que quem dorme menos de seis horas ou mais de nove horas por noite tem mais doenças e vive menos do que quem dorme entre sete e oito horas.
Boa noite.
quarta-feira, outubro 20, 2004
Muito ocupado
Estou trabalhando muito na tese, que está quase pronta, e o tempo está escasso para escrever aqui.
Logo, logo, escrevo com mais calma.
Mas para não dizer que não falei de flores...
Toronto está nos últimos dias do jeito que imaginei que seria antes de vir para cá e pegar os belos dias de final de verão: cinza, úmida e escura. Mas como eu disse alguns posts atrás, como estou bem comigo mesmo, o aspecto sombrio de fora é realmente só por fora...
Até.
Logo, logo, escrevo com mais calma.
Mas para não dizer que não falei de flores...
Toronto está nos últimos dias do jeito que imaginei que seria antes de vir para cá e pegar os belos dias de final de verão: cinza, úmida e escura. Mas como eu disse alguns posts atrás, como estou bem comigo mesmo, o aspecto sombrio de fora é realmente só por fora...
Até.
terça-feira, outubro 19, 2004
Por que o tempo parece acelerar?
Tudo a ver com o que eu escrevi no post anterior.
Durante minhas andanças por blogs diversos, descobri o 'Marmota', do André, jornalista gaúcho de São Paulo, e colorado. O blog é MUITO bom. Lendo os arquivos com textos antigos, encontrei esse post de abril de 2004. Tomei a liberdade de publicá-lo aqui, pois achei que realmente valia a pena.
“12 de Abril de 2004
Comecei o ano cheio de planos e idéias. De repente… Estamos em abril. Pior: desloquei parte do tempo deste mês em modificações neste espaço e, quando me dei conta, já estava no meio dele. Por que diabos temos esta sensação horrível de “perda", se o ritmo dos relógios é o mesmo desde que foram inventados?
Bom, talvez a explicação (longa, porém didática e interessante) fornecida por Airton Luiz Mendonça seja válida. Tire suas próprias conclusões e, se puder, tome uma atitude.
'O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio… Você começará a perder a noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea. Então… Quando tempo suficiente houver passado, você perderá completamente a noção das horas, dos dias… Ou anos. Estou exagerando para efeito didático, mas em essência é o que ocorreria.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Se alguém tirar estes sinais sensoriais da nossa vida, simplesmente perdemos a noção da passagem do tempo.
Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia. Para que não fiquemos loucos, o cérebro faz parecer que nós não vimos, não sentimos e não vivenciamos aqueles pensamentos automáticos, repetidos, iguais.
Por isso, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e “apagando” as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.
Quando começamos a dirigir, tudo parece muito complicado, o câmbio, os espelhos, os outros veículos… Nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular (proibido no Brasil), ao mesmo tempo. E você usa apenas uma pequena “área” da atenção para isso.
Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente).
O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência). Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa… São apagados de sua noção de passagem do tempo… Porque estou explicando isso? Que relação tem isso com a aparente aceleração do tempo? Tudo.
A primeira vez que isso me ocorreu foi quando passei três meses nas florestas de New Hampshire, Estados Unidos, morando em uma cabana. Era tudo tão diferente, as pessoas, a paisagem, a língua, que eu tinha dores de cabeça sempre que viajava em uma estrada, porque meu cérebro ficava lendo todas as placas (eu lia mesmo, pois era tudo novidade, para mim). Foram somente três meses, mas ao final do segundo mês eu já me sentia como se estivesse há um ano longe do Brasil. Foi quando comecei a pesquisar a razão dessa diferença de percepção.
Bastou eu voltar ao Brasil e o tempo voltou a “acelerar". Pelo menos, assim parecia. Veja, quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir - as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações… Enfim, as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a… ROTINA.
Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.
Felizmente há um antídoto: Mude e Marque. Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia); Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe da formatura de sua turma, visite parentes distantes, vá a uma final de campeonato, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, ou faça os enfeites com frutas da região e a participação das crianças, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.
Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor - faça diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente.
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos… Em outras palavras: VIVA. Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais vivo do que a maioria dos livros da vida que existem por aí. Se você não tiver mais a esposa, ou o marido, cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.'
Prometo que vou tentar. Ou melhor, fazer: ouvi certa vez que “tentar” significa “achar que pode falhar"…”
Valeu a pena, não?
Durante minhas andanças por blogs diversos, descobri o 'Marmota', do André, jornalista gaúcho de São Paulo, e colorado. O blog é MUITO bom. Lendo os arquivos com textos antigos, encontrei esse post de abril de 2004. Tomei a liberdade de publicá-lo aqui, pois achei que realmente valia a pena.
“12 de Abril de 2004
Comecei o ano cheio de planos e idéias. De repente… Estamos em abril. Pior: desloquei parte do tempo deste mês em modificações neste espaço e, quando me dei conta, já estava no meio dele. Por que diabos temos esta sensação horrível de “perda", se o ritmo dos relógios é o mesmo desde que foram inventados?
Bom, talvez a explicação (longa, porém didática e interessante) fornecida por Airton Luiz Mendonça seja válida. Tire suas próprias conclusões e, se puder, tome uma atitude.
'O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio… Você começará a perder a noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea. Então… Quando tempo suficiente houver passado, você perderá completamente a noção das horas, dos dias… Ou anos. Estou exagerando para efeito didático, mas em essência é o que ocorreria.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Se alguém tirar estes sinais sensoriais da nossa vida, simplesmente perdemos a noção da passagem do tempo.
Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia. Para que não fiquemos loucos, o cérebro faz parecer que nós não vimos, não sentimos e não vivenciamos aqueles pensamentos automáticos, repetidos, iguais.
Por isso, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e “apagando” as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.
Quando começamos a dirigir, tudo parece muito complicado, o câmbio, os espelhos, os outros veículos… Nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular (proibido no Brasil), ao mesmo tempo. E você usa apenas uma pequena “área” da atenção para isso.
Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente).
O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência). Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa… São apagados de sua noção de passagem do tempo… Porque estou explicando isso? Que relação tem isso com a aparente aceleração do tempo? Tudo.
A primeira vez que isso me ocorreu foi quando passei três meses nas florestas de New Hampshire, Estados Unidos, morando em uma cabana. Era tudo tão diferente, as pessoas, a paisagem, a língua, que eu tinha dores de cabeça sempre que viajava em uma estrada, porque meu cérebro ficava lendo todas as placas (eu lia mesmo, pois era tudo novidade, para mim). Foram somente três meses, mas ao final do segundo mês eu já me sentia como se estivesse há um ano longe do Brasil. Foi quando comecei a pesquisar a razão dessa diferença de percepção.
Bastou eu voltar ao Brasil e o tempo voltou a “acelerar". Pelo menos, assim parecia. Veja, quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir - as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações… Enfim, as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a… ROTINA.
Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.
Felizmente há um antídoto: Mude e Marque. Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia); Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe da formatura de sua turma, visite parentes distantes, vá a uma final de campeonato, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, ou faça os enfeites com frutas da região e a participação das crianças, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.
Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor - faça diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente.
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos… Em outras palavras: VIVA. Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais vivo do que a maioria dos livros da vida que existem por aí. Se você não tiver mais a esposa, ou o marido, cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.'
Prometo que vou tentar. Ou melhor, fazer: ouvi certa vez que “tentar” significa “achar que pode falhar"…”
Valeu a pena, não?
Dois Meses
O tempo passa logo, todos sabemos, mas algumas vezes nos surpreendemos com esse fato. Estou há dois meses no Canadá. Ou, para ser mais específico, fazem dois meses que deixei Porto Alegre.
É tão pouco tempo, mas ao mesmo tempo é muito tempo. A primeira semana, de angústia, saudades, expectativas e até frustrações, por que não, estão bem distantes agora. Parece que foi há muito, muito tempo.
Muita coisa aconteceu desde então, aqui em Toronto e em Porto Alegre, ainda a minha referência e porto seguro, onde estão as coisas mais importantes que tenho e conquistei na vida: a Jacque, a família e os amigos. Isso é o que eu mais valorizo, as amizades, os laços de afeição criados, as muitas histórias vividas. Essas são o que não têm preço, para todas as outras... Já não sou mais um estranho aqui, me sinto parte da cidade, que não parece tão sombria e cinza como no dia que cheguei, mesmo que hoje esteja sombria, cinza e fria. Mas é só a meteorologia... não o meu estado de espírito.
A experiência de viver e trabalhar aqui, está valendo cada dia mais. Ainda é uma experiência também de silêncio, de leituras, de músicas ouvidas no walkman, que toca a trilha de uma nova fase de vida. Ainda é uma fase de introspecção e concentração, mas também de grandes perspectivas e projetos.
Sinto tanta ou mais falta de todos quanto sentia no início, mas agora é bem mais fácil de saber e sentir que estou aqui atrás de um objetivo maior, e que o "sacrifício" (morar no Canadá e só estudar...) está e vai valer muito a pena.
Ainda tenho que terminar algumas coisas - em termos profissionais - em Porto Alegre, o que vou fazer quase com certeza no começo de dezembro, o que também é um fator de motivação: vou rever todos em cerca de 45 dias.
Falta tanto tempo... mas é tão pouco...
É tão pouco tempo, mas ao mesmo tempo é muito tempo. A primeira semana, de angústia, saudades, expectativas e até frustrações, por que não, estão bem distantes agora. Parece que foi há muito, muito tempo.
Muita coisa aconteceu desde então, aqui em Toronto e em Porto Alegre, ainda a minha referência e porto seguro, onde estão as coisas mais importantes que tenho e conquistei na vida: a Jacque, a família e os amigos. Isso é o que eu mais valorizo, as amizades, os laços de afeição criados, as muitas histórias vividas. Essas são o que não têm preço, para todas as outras... Já não sou mais um estranho aqui, me sinto parte da cidade, que não parece tão sombria e cinza como no dia que cheguei, mesmo que hoje esteja sombria, cinza e fria. Mas é só a meteorologia... não o meu estado de espírito.
A experiência de viver e trabalhar aqui, está valendo cada dia mais. Ainda é uma experiência também de silêncio, de leituras, de músicas ouvidas no walkman, que toca a trilha de uma nova fase de vida. Ainda é uma fase de introspecção e concentração, mas também de grandes perspectivas e projetos.
Sinto tanta ou mais falta de todos quanto sentia no início, mas agora é bem mais fácil de saber e sentir que estou aqui atrás de um objetivo maior, e que o "sacrifício" (morar no Canadá e só estudar...) está e vai valer muito a pena.
Ainda tenho que terminar algumas coisas - em termos profissionais - em Porto Alegre, o que vou fazer quase com certeza no começo de dezembro, o que também é um fator de motivação: vou rever todos em cerca de 45 dias.
Falta tanto tempo... mas é tão pouco...
domingo, outubro 17, 2004
A Sopa 04/13
O que é a tecnologia…
Sexta-feira que passou, houve uma reunião da ‘Confraria da Sexta-feira’, pela primeira vez em mais de um ano. E estavam todos presentes. Todos.
A ‘Confraria da Sexta-feira’ surgiu no final de julho do ano passado, da reunião entre a Jacque, a Lúcia, o Magno e eu. Foi assim: a Lúcia estava nos preparativos finais para sua viagem para a Austrália, e decidimos que sairíamos para conversar e tomar chopp todas as sextas antes da viagem. E assim fizemos até seu embarque.
Conhecíamos a Lúcia já há tempo, por ligações familiares que haviam se desfeito, mas havíamos mantido a amizade e os contatos, que se tornaram freqüentes desde que ela havia começado a trabalhar junto com o grupo que a Jacque faz parte no Hospital da PUC. O Magno a conheceu através de nós, logo quando formamos a ‘Confraria’.
Desde seu início, sabíamos que a Confraria teria vida curta antes da separação temporária: a ‘diáspora’, como chamamos, começou com a Lúcia indo para a Austrália, depois o Magno indo para Ribeirão Preto e, finalmente, eu vindo para Toronto. A próxima reunião da Confraria seria provavelmente em anos… Mas não. Foi na sexta que passou.
Passou um ano desde que a Lúcia foi para a Austrália e ela voltou. Mas aí eu já tinha ido, e o Magno continua – agora mais do que nunca – na ponte aérea Ribeirão Preto–Porto Alegre. E a Jacque, firme, segurando a onda em Porto Alegre. Nessas andanças pelo mundo, a Lúcia e o Magno se encontraram (um dia escrevo a história deles) e estão juntos…
Pois então, sexta-feira nos reunimos todos para jantar lá em casa, na André Puente. Claro, eles três lá e eu aqui. Eu como convidado virtual, na webcam, conversando online e os vendo. Em determinado momento, alguém disse “Por um instante, até esqueci que o Marcelo não está aqui”, porque a conversa (entre os quatro) fluiu naturalmente, rimos das piadas que um e outro contavam, contamos histórias. O brinde é que foi virtual, afinal não pude fazer “tintim” com eles, assim como foi virtual o brinde que combinamos de fazer, há exatamente um ano, quinze de outubro de 2003, o Magno em Porto Alegre, a Lúcia na Austrália e a Jacque e eu na Alemanha.
A tecnologia diminuiu as distâncias, sem dúvida. E traz alguns paradoxos, também: estou muito mais próximo de algumas pessoas agora, em Toronto ou, melhor, me aproximei muito mais, do que quando estava em Porto Alegre.
Por esses dias, quando a Jacque diz que vai em algum lugar (como aconteceu na quinta numa janta com o Pedro e a Zeca na casa deles) e diz que vai me levar junto, ela chega com o computador e webcam embaixo do braço…
Me tornei temporariamente um marido virtual…
Sexta-feira que passou, houve uma reunião da ‘Confraria da Sexta-feira’, pela primeira vez em mais de um ano. E estavam todos presentes. Todos.
A ‘Confraria da Sexta-feira’ surgiu no final de julho do ano passado, da reunião entre a Jacque, a Lúcia, o Magno e eu. Foi assim: a Lúcia estava nos preparativos finais para sua viagem para a Austrália, e decidimos que sairíamos para conversar e tomar chopp todas as sextas antes da viagem. E assim fizemos até seu embarque.
Conhecíamos a Lúcia já há tempo, por ligações familiares que haviam se desfeito, mas havíamos mantido a amizade e os contatos, que se tornaram freqüentes desde que ela havia começado a trabalhar junto com o grupo que a Jacque faz parte no Hospital da PUC. O Magno a conheceu através de nós, logo quando formamos a ‘Confraria’.
Desde seu início, sabíamos que a Confraria teria vida curta antes da separação temporária: a ‘diáspora’, como chamamos, começou com a Lúcia indo para a Austrália, depois o Magno indo para Ribeirão Preto e, finalmente, eu vindo para Toronto. A próxima reunião da Confraria seria provavelmente em anos… Mas não. Foi na sexta que passou.
Passou um ano desde que a Lúcia foi para a Austrália e ela voltou. Mas aí eu já tinha ido, e o Magno continua – agora mais do que nunca – na ponte aérea Ribeirão Preto–Porto Alegre. E a Jacque, firme, segurando a onda em Porto Alegre. Nessas andanças pelo mundo, a Lúcia e o Magno se encontraram (um dia escrevo a história deles) e estão juntos…
Pois então, sexta-feira nos reunimos todos para jantar lá em casa, na André Puente. Claro, eles três lá e eu aqui. Eu como convidado virtual, na webcam, conversando online e os vendo. Em determinado momento, alguém disse “Por um instante, até esqueci que o Marcelo não está aqui”, porque a conversa (entre os quatro) fluiu naturalmente, rimos das piadas que um e outro contavam, contamos histórias. O brinde é que foi virtual, afinal não pude fazer “tintim” com eles, assim como foi virtual o brinde que combinamos de fazer, há exatamente um ano, quinze de outubro de 2003, o Magno em Porto Alegre, a Lúcia na Austrália e a Jacque e eu na Alemanha.
A tecnologia diminuiu as distâncias, sem dúvida. E traz alguns paradoxos, também: estou muito mais próximo de algumas pessoas agora, em Toronto ou, melhor, me aproximei muito mais, do que quando estava em Porto Alegre.
Por esses dias, quando a Jacque diz que vai em algum lugar (como aconteceu na quinta numa janta com o Pedro e a Zeca na casa deles) e diz que vai me levar junto, ela chega com o computador e webcam embaixo do braço…
Me tornei temporariamente um marido virtual…
sábado, outubro 16, 2004
Sábado (7)
Sábado - além de tudo - também é dia de poesia.
Carlos Drummnond de Andrade.
Mundo grande
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
Carlos Drummnond de Andrade.
Mundo grande
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
sexta-feira, outubro 15, 2004
A cidade
Estou há muito pouco tempo aqui, não conheço quase nada. O básico, sim, eu domino bem, mas tenho MUITO o que aprender. Hoje, por exemplo, voltando do hospital, decidi - antes de ir para casa - passar numa livraria aqui perto para talvez comprar um livro para ler no final de semana que se anuncia chuvoso.
Em vez de descer na estação High Park e só atravessar a rua para estar em casa, segui mais e desci na estação seguinte, a Runnymede. Saindo da estação, estou em pleno Bloor West Village, região cheia de restaurantes, pubs e lojas, aqui perto de casa. Caminhei um pouco até a livraria Book City para escolher e comprar o livro, mas não estava inspirado. Não comprei nada, e fui voltando a pé. No caminho, olhando para o outro lado da rua, identifiquei o que parecia num primeiro momento ser uma loja de roupas, mas que depois, olhando direito, vi que era uma livraria. Claro que tinha que conhecê-la.
Para que não me conhece, vou confessar uma compulsão: livros. Houve uma época em que não podia entrar numa livraria que acabava comprando um livro. Levou tempo até conseguir me controlar.
Pois é, entrei e qual não foi minha surpresa quando percebi que a livraria fica onde antes havia um teatro (ou foi feito como um teatro). Com exceção das cadeiras, todo o resto é de um teatro: palco, cortinas, mezanino, tudo. E a trilha sonora, nota dez! Entrei quando estava tocando 'As Time Goes By', e depois ainda tocou 'When you wish upon a star".
Claro que fiquei um tempo perdido entre livros, enebriado com a descoberta de um novo tesouro. Um país com muitas bibliotecas públicas e muitas livrarias só pode ser um país desenvolvido.
É isso.
Ah, estou cada dia mais escuro quando acordo. Só falta o frio...
Em vez de descer na estação High Park e só atravessar a rua para estar em casa, segui mais e desci na estação seguinte, a Runnymede. Saindo da estação, estou em pleno Bloor West Village, região cheia de restaurantes, pubs e lojas, aqui perto de casa. Caminhei um pouco até a livraria Book City para escolher e comprar o livro, mas não estava inspirado. Não comprei nada, e fui voltando a pé. No caminho, olhando para o outro lado da rua, identifiquei o que parecia num primeiro momento ser uma loja de roupas, mas que depois, olhando direito, vi que era uma livraria. Claro que tinha que conhecê-la.
Para que não me conhece, vou confessar uma compulsão: livros. Houve uma época em que não podia entrar numa livraria que acabava comprando um livro. Levou tempo até conseguir me controlar.
Pois é, entrei e qual não foi minha surpresa quando percebi que a livraria fica onde antes havia um teatro (ou foi feito como um teatro). Com exceção das cadeiras, todo o resto é de um teatro: palco, cortinas, mezanino, tudo. E a trilha sonora, nota dez! Entrei quando estava tocando 'As Time Goes By', e depois ainda tocou 'When you wish upon a star".
Claro que fiquei um tempo perdido entre livros, enebriado com a descoberta de um novo tesouro. Um país com muitas bibliotecas públicas e muitas livrarias só pode ser um país desenvolvido.
É isso.
Ah, estou cada dia mais escuro quando acordo. Só falta o frio...
quinta-feira, outubro 14, 2004
Porto Alegre
Estou me dando conta que é uma sorte eu estar longe de Porto Alegre nesta época pré-segundo turno. Mas também é um enorme azar.
A sorte é que não preciso ficar exposto o tempo todo a - ao menos para mim - entediante discussão entre os eleitores do PT e os "não-eleitores do PT", entre os primeiros incluídos os "esquerdinhas festivos e teóricos" entre os últimos os anti-PT radicais. Por outro lado, por estar distante, procuro me manter informado pela internet e grupos de discussão, em particular o Orkut. O que acaba sendo um azar...
Neste, faço parte de uma comunidade chamada 'Porto Alegre', que nas últimas semanas foi invadinda por brigas (brigas, não debates de idéias, que seriam benvindos) entre eleitores do Raul Pont e do José Fogaça, candidatos no segundo turno nas eleições para prefeito de Porto Alegre. É irritante.
Se fossem discussões relacionadas a projetos de governo, propostas, ideologias até, tudo bem. O problema é que os "debates" giram em torno quem não fez isso, quem mente, quem tem apoio da midia e do empresariado. Teorias conspiratórias saltitam nestes fóruns de discussão.
Uns, por um lado, acham que o PT tem que ser retirado do comando da cidade porque é o PT, e se é PT é ruim. Quase posso ver alguém dizer que eles são comunistas, e comunistas comem criancinhas, uma inverdade, quando todos sabem que quem faz isso é o Micheal Jackson...
Outros, parecem acreditar que Porto Alegre não existia antes do PT, que as coisas boas da cidade são única e exclusivamente responsabilidade do partido dos trabalhadores, e se o outro partido ganhar a eleição, será o caos e tudo piorará. Estou esperando aparecer algum artista famoso na televisão dizendo que tem medo do que Porto Alegre pode se transformar se o PT não ganhar.
Me pergunto se eles realmente acreditam no que estão dizendo / escrevendo / discutindo.
Não pode ser sério.
A sorte é que não preciso ficar exposto o tempo todo a - ao menos para mim - entediante discussão entre os eleitores do PT e os "não-eleitores do PT", entre os primeiros incluídos os "esquerdinhas festivos e teóricos" entre os últimos os anti-PT radicais. Por outro lado, por estar distante, procuro me manter informado pela internet e grupos de discussão, em particular o Orkut. O que acaba sendo um azar...
Neste, faço parte de uma comunidade chamada 'Porto Alegre', que nas últimas semanas foi invadinda por brigas (brigas, não debates de idéias, que seriam benvindos) entre eleitores do Raul Pont e do José Fogaça, candidatos no segundo turno nas eleições para prefeito de Porto Alegre. É irritante.
Se fossem discussões relacionadas a projetos de governo, propostas, ideologias até, tudo bem. O problema é que os "debates" giram em torno quem não fez isso, quem mente, quem tem apoio da midia e do empresariado. Teorias conspiratórias saltitam nestes fóruns de discussão.
Uns, por um lado, acham que o PT tem que ser retirado do comando da cidade porque é o PT, e se é PT é ruim. Quase posso ver alguém dizer que eles são comunistas, e comunistas comem criancinhas, uma inverdade, quando todos sabem que quem faz isso é o Micheal Jackson...
Outros, parecem acreditar que Porto Alegre não existia antes do PT, que as coisas boas da cidade são única e exclusivamente responsabilidade do partido dos trabalhadores, e se o outro partido ganhar a eleição, será o caos e tudo piorará. Estou esperando aparecer algum artista famoso na televisão dizendo que tem medo do que Porto Alegre pode se transformar se o PT não ganhar.
Me pergunto se eles realmente acreditam no que estão dizendo / escrevendo / discutindo.
Não pode ser sério.
quarta-feira, outubro 13, 2004
O Último
Recebi pelo correio encomenda enviada pela Jacque: um cd, um medicamento, um kit de costura e uma carta. A carta, de amor, óbvio. E o cd, do Lulu Santos, era o que faltava na minha coleção de cds para enfrentar o meu exílio canadense.
Deixa eu falar um pouco dele. O Lulu Santos é um fenômeno da música brasileira. Vem se mantendo "popular" (com todos os perigos que esta palavra comporta) já há uns bons vinte anos. Sempre se renova, lança novidades, mas tem o seus clássicos que embalaram mais de um geração. Desde o clássico praiano 'De Repente Califórnia' ("Garota eu vou pra Califórnia / Viver a vida sobre as ondas / Vou ser artista de cinema / O meu destino é ser star...") até o suíngue irresistível de 'Aviso aos Navegantes' ("Se tem alguém na linha / Se tem alguém no ar / Por favor, responda agora / Não me faça esperar..."), ele nunca ficou muito tempo longe de nossos ouvidos.
É uma qualidade ímpar, essa de conhecer o gosto do público e fazer música de qualidade que vá de encontro a isso. Podem até não gostar de sua postura e mesmo de suas músicas, mas não se pode negar seu talento. Eu gosto, e suas músicas têm e fazem parte da minha história.
De todas elas, uma tem me acompanhado por já no mínimo 15 anos. Passou por várias fases da minha vida, várias transições e mudanças, a agora não poderia ser diferente. Aos 32 anos, ainda estou atrás de "...fazer da minha vida sempre o meu passeio público, e ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único...".
Último Romântico
Faltava abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito coca-cola
Fazer da minha vida
Sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela
O meu caminho só, único
Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir a zona norte à zona sul
Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul
Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar
Me dá um beijo, então
Aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura
Vem viver
Pelo coração,
Se é loucura então melhor não ter razão
Deixa eu falar um pouco dele. O Lulu Santos é um fenômeno da música brasileira. Vem se mantendo "popular" (com todos os perigos que esta palavra comporta) já há uns bons vinte anos. Sempre se renova, lança novidades, mas tem o seus clássicos que embalaram mais de um geração. Desde o clássico praiano 'De Repente Califórnia' ("Garota eu vou pra Califórnia / Viver a vida sobre as ondas / Vou ser artista de cinema / O meu destino é ser star...") até o suíngue irresistível de 'Aviso aos Navegantes' ("Se tem alguém na linha / Se tem alguém no ar / Por favor, responda agora / Não me faça esperar..."), ele nunca ficou muito tempo longe de nossos ouvidos.
É uma qualidade ímpar, essa de conhecer o gosto do público e fazer música de qualidade que vá de encontro a isso. Podem até não gostar de sua postura e mesmo de suas músicas, mas não se pode negar seu talento. Eu gosto, e suas músicas têm e fazem parte da minha história.
De todas elas, uma tem me acompanhado por já no mínimo 15 anos. Passou por várias fases da minha vida, várias transições e mudanças, a agora não poderia ser diferente. Aos 32 anos, ainda estou atrás de "...fazer da minha vida sempre o meu passeio público, e ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único...".
Último Romântico
Faltava abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito coca-cola
Fazer da minha vida
Sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela
O meu caminho só, único
Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir a zona norte à zona sul
Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul
Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar
Me dá um beijo, então
Aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura
Vem viver
Pelo coração,
Se é loucura então melhor não ter razão
terça-feira, outubro 12, 2004
Outono em Toronto (2)
Dias de céu azul intenso (não o da foto, claro...) e temperaturas agradavelmente baixas.
Como não tive nem vou ter primavera este ano, vamos curtir dois outonos...
Como não tive nem vou ter primavera este ano, vamos curtir dois outonos...
segunda-feira, outubro 11, 2004
domingo, outubro 10, 2004
Aniversário
Eu anunciei durante a semana que passou, durante o drama que foi a minha ida ou não à Porto Alegre, que hoje (domingo, 10 de outubro) é aniversário da Jacque. Não podia, então, deixar de celebrar isso aqui nest`A Sopa.
Pensei em contar como tudo começou, ou um pouco antes, quando eu tinha um namoro que estava desmoronando em meio a um carnaval na praia e sonhei com ela. No meio da noite, sentei na cama e pensei: “Será que vou viver essa história?”. Como todos sabem, vivi. E tem sido muito bom, estes anos todos.
O que sou hoje, em parte devo a ti, Jacque. Foi juntos que crescemos muito como casal e individualmente nestes nove anos e meio que já estamos unidos. Foi você quem me ajudou a resgatar o cara que eu tinho sido uma vez e que, quando começamos, estava perdido em algum ponto do meu passado, meio escondido em meio a algumas decepções que eu tinha vivido.
Foi com tua ajuda que me tornei o cara que criou (e sem teu apoio nada teria acontecido) a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que levou à formação da Banda da Sopa e a este semanário. Voltei a escrever, a minha vocação primeira…
Não é sem uma grande frustração que passo este teu aniversário longe de ti, mas nós sabemos que é por um objetivo maior, e é por isso que estou (estamos) agüentando viver longe, tu em nossa casa em Porto Alegre e eu em Toronto. Ano passado, estávamos em Paris no teu aniversário, uma comemoração à altura, e também aproveitando para ficarmos juntos antes de eu vir para cá.
Quem sabe onde estaremos – juntos - ano que vem?
Feliz aniversário.
Te amo.
Pensei em contar como tudo começou, ou um pouco antes, quando eu tinha um namoro que estava desmoronando em meio a um carnaval na praia e sonhei com ela. No meio da noite, sentei na cama e pensei: “Será que vou viver essa história?”. Como todos sabem, vivi. E tem sido muito bom, estes anos todos.
O que sou hoje, em parte devo a ti, Jacque. Foi juntos que crescemos muito como casal e individualmente nestes nove anos e meio que já estamos unidos. Foi você quem me ajudou a resgatar o cara que eu tinho sido uma vez e que, quando começamos, estava perdido em algum ponto do meu passado, meio escondido em meio a algumas decepções que eu tinha vivido.
Foi com tua ajuda que me tornei o cara que criou (e sem teu apoio nada teria acontecido) a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que levou à formação da Banda da Sopa e a este semanário. Voltei a escrever, a minha vocação primeira…
Não é sem uma grande frustração que passo este teu aniversário longe de ti, mas nós sabemos que é por um objetivo maior, e é por isso que estou (estamos) agüentando viver longe, tu em nossa casa em Porto Alegre e eu em Toronto. Ano passado, estávamos em Paris no teu aniversário, uma comemoração à altura, e também aproveitando para ficarmos juntos antes de eu vir para cá.
Quem sabe onde estaremos – juntos - ano que vem?
Feliz aniversário.
Te amo.
A Sopa 04/12
Um
Fato 1: este ano, o verão aqui em Toronto foi decepcionante, em termos meteorológicos, todos dizem. As temperaturas não foram elevadas, choveu bastante. Desde o final de agosto, o tempo melhorou, choveu pouco, temperaturas subiram (para agora, paulatinamente começarem a baixar). O que aconteceu no final de agosto? Eu me mudei para cá.
Fato 2: este ano, o tempo foi diferente em Ribeirão Preto. Nunca fez tanto calor no verão e tanto frio na inverno. Todos ainda estão impressionados com os extremos meteorológicos. O que aconteceu este ano em Ribeirão Preto? O Magno (grande parceiro, co-fundador das quartas-feiras filosóficas, vocalista da Banda da Sopa e botador de pilha como eu) se mudou para lá.
Teoria (idéia original do Magno): nós alteramos o tempo.
Viagem: vamos extorquir dinheiro dos governos do mundo para não irmos para o Polo Norte e causar o derretimento rápido de todo Círculo Polar Ártico.
Conclusão: que bobagem…
Dois
Sou um romântico incurável.
Eu sou daqueles que acredita em amor à primeira vista, em amor surgido na distância, em cartas (ou mesmo e-mails) de amor, em esperar o reencontro e em almas gêmeas. Pode parecer tolice, algo que não acontece na vida real, só em filmes. Mas não. Acontece, no mundo dos vivos mesmo. E é mais legal quando as pessoas que se encontram são pessoas próximas a mim e com as quais ainda vou compartilhar muitas histórias.
Sejam felizes.
Três
A experiência de estar morando fora do Brasil tem me proporcionado os mais diferentes sentimentos. Está sendo um experiência muito rica. Estou tendo a oportunidade de repensar toda a minha vida, quem fui, quem sou e quem quero ser daqui para a frente. E isso, sem dúvida, é muito bom.
Conselho de uma grande amiga e mestre:
“…aproveites a oportunidade para um mergulho dentro de ti mesmo, pois certos momentos vão parecer como privação sensorial. Te despoja da imagem que cuidadosamente esculpistes e revisa tudo…”
É isso o que estou tentando fazer.
Fato 1: este ano, o verão aqui em Toronto foi decepcionante, em termos meteorológicos, todos dizem. As temperaturas não foram elevadas, choveu bastante. Desde o final de agosto, o tempo melhorou, choveu pouco, temperaturas subiram (para agora, paulatinamente começarem a baixar). O que aconteceu no final de agosto? Eu me mudei para cá.
Fato 2: este ano, o tempo foi diferente em Ribeirão Preto. Nunca fez tanto calor no verão e tanto frio na inverno. Todos ainda estão impressionados com os extremos meteorológicos. O que aconteceu este ano em Ribeirão Preto? O Magno (grande parceiro, co-fundador das quartas-feiras filosóficas, vocalista da Banda da Sopa e botador de pilha como eu) se mudou para lá.
Teoria (idéia original do Magno): nós alteramos o tempo.
Viagem: vamos extorquir dinheiro dos governos do mundo para não irmos para o Polo Norte e causar o derretimento rápido de todo Círculo Polar Ártico.
Conclusão: que bobagem…
Dois
Sou um romântico incurável.
Eu sou daqueles que acredita em amor à primeira vista, em amor surgido na distância, em cartas (ou mesmo e-mails) de amor, em esperar o reencontro e em almas gêmeas. Pode parecer tolice, algo que não acontece na vida real, só em filmes. Mas não. Acontece, no mundo dos vivos mesmo. E é mais legal quando as pessoas que se encontram são pessoas próximas a mim e com as quais ainda vou compartilhar muitas histórias.
Sejam felizes.
Três
A experiência de estar morando fora do Brasil tem me proporcionado os mais diferentes sentimentos. Está sendo um experiência muito rica. Estou tendo a oportunidade de repensar toda a minha vida, quem fui, quem sou e quem quero ser daqui para a frente. E isso, sem dúvida, é muito bom.
Conselho de uma grande amiga e mestre:
“…aproveites a oportunidade para um mergulho dentro de ti mesmo, pois certos momentos vão parecer como privação sensorial. Te despoja da imagem que cuidadosamente esculpistes e revisa tudo…”
É isso o que estou tentando fazer.
sábado, outubro 09, 2004
Sábado (6)
Ao contrário do usual de quando escrevo aos sábados, desta vez escrevo à noite. Foi um dia cheio.
Como acontece desde que me mudei para o Canadá, o que significa morar sozinho, o sábado tem sido o dia das lides domésticas: lavar roupa, faxina na casa, supermercado. O dia de hoje foi isso e um pouco mais.
Acordei por volta das oito horas (nunca consigo dormir até mais tarde) e, quando ainda me inteirava das coisas, tempo, temperatura e notícias no rádio, tocou o telefone e eram os entregadores avisando que em dois minutos chegariam. Disse que tudo bem, já desceria.
Eram as minhas compras para a casa chegando. Havia ido, na sexta-feira à tarde, na Ikea (rede de lojas de origem sueca espalhadas pelo mundo, com tudo para casa, especialmente móveis com preços razoáveis)e comprado um sofá-cama e uma mesa com quatro cadeiras. Era isso que iam entregar.
O detalhe da Ikea é que os móveis vem desmontados, e quem monta é o comprador. Eles vêm em caixas, com todos os itens e instruções detalhadas de como montar. Foi o que fiz boa parte da manhã: montei as cadeiras, a mesa e o sofá. Depois disso, é que fui para o trabalho pesado, o faxinão.
Depois de tudo limpo, nova disposição dos móveis na sala, a cama finalmente no quarto, roupas lavadas, a agradável sensação de que não estava mais acampando. Agora sim, o apartamento estava com cara de casa. Então senti falta de uma TV. E fui atrás dela.
De metrô, fui até um shopping onde tem uma loja do Wal Mart, cujos preços são mais em conta que nas outras lojas. Olhei, olhei, e fiquei em dúvida sobre qual TV comprar, mas antes disso fui olhar o móvel para colocá-la em cima. Não tinha. Pensei, e decidi não comprar. Pode esperar um pouco mais. Quem já está há 72 dias sem ver televisão pode ficar mais uns dez ou vinte dias sem problemas…
Já que não tinha comprado a TV, decidi ir ao supermercado ali mesmo. Compras para a semana e de volta para casa. Que boa a sensação de não estar mais acampando!
Para celebrar, fiz janta, que comi numa mesa pela primeira vez desde que saí do Brasil. Agora já posso estudar sem precisar ficar com o notebook no colo.
Só faltam algumas gavetas…
Como acontece desde que me mudei para o Canadá, o que significa morar sozinho, o sábado tem sido o dia das lides domésticas: lavar roupa, faxina na casa, supermercado. O dia de hoje foi isso e um pouco mais.
Acordei por volta das oito horas (nunca consigo dormir até mais tarde) e, quando ainda me inteirava das coisas, tempo, temperatura e notícias no rádio, tocou o telefone e eram os entregadores avisando que em dois minutos chegariam. Disse que tudo bem, já desceria.
Eram as minhas compras para a casa chegando. Havia ido, na sexta-feira à tarde, na Ikea (rede de lojas de origem sueca espalhadas pelo mundo, com tudo para casa, especialmente móveis com preços razoáveis)e comprado um sofá-cama e uma mesa com quatro cadeiras. Era isso que iam entregar.
O detalhe da Ikea é que os móveis vem desmontados, e quem monta é o comprador. Eles vêm em caixas, com todos os itens e instruções detalhadas de como montar. Foi o que fiz boa parte da manhã: montei as cadeiras, a mesa e o sofá. Depois disso, é que fui para o trabalho pesado, o faxinão.
Depois de tudo limpo, nova disposição dos móveis na sala, a cama finalmente no quarto, roupas lavadas, a agradável sensação de que não estava mais acampando. Agora sim, o apartamento estava com cara de casa. Então senti falta de uma TV. E fui atrás dela.
De metrô, fui até um shopping onde tem uma loja do Wal Mart, cujos preços são mais em conta que nas outras lojas. Olhei, olhei, e fiquei em dúvida sobre qual TV comprar, mas antes disso fui olhar o móvel para colocá-la em cima. Não tinha. Pensei, e decidi não comprar. Pode esperar um pouco mais. Quem já está há 72 dias sem ver televisão pode ficar mais uns dez ou vinte dias sem problemas…
Já que não tinha comprado a TV, decidi ir ao supermercado ali mesmo. Compras para a semana e de volta para casa. Que boa a sensação de não estar mais acampando!
Para celebrar, fiz janta, que comi numa mesa pela primeira vez desde que saí do Brasil. Agora já posso estudar sem precisar ficar com o notebook no colo.
Só faltam algumas gavetas…
quinta-feira, outubro 07, 2004
Livros
Quando, há algumas semanas, comentei sobre o livro "Angels & Demons" do escritor americano Dan Brown, entre os comentários que recebi estava o da querida amiga Aline Swarowski, que dizia que tinha lido críticas sobre o livro "Código Da Vinci" e que estavam afirmando que o autor era o "Paulo Coelho americano". Pensei sobre o assunto. E fui ler o Código Da Vinci.
Assim como na primeira aventura do professor Robert Langdon, Código Da Vinci transita por uma linha que certamente traria críticas generalizadas: religião. Sabemos que uma das verdades mais certas da vida é que não se deve discutir política, futebol e religião, porque invariavelmente vai gerar debates acalorados e - algumas vezes - sérias brigas.
Como no primeiro livro, Código da Vinci também gira em torno de história e religião, mais especificamente a religião católica e seus dogmas. A ação gira em torno de histórias que todos conhecemos, mitos, lendas.
Mas é um livro de ação (me pergunto quando é que vão virar filme), e bem escrito. Segue a mesma fórmula de Angels & Demons, situando a ação basicamente numa cidade européia e - especificamente - em locais conhecidos, fatos policiais, conspirações, sociedades secretas, reviravoltas. Enfim, tudo o que se espera de um livro (ou um filme) de ação.
Não entendo a comparação com o Paulo Coelho, exceto pela questão de marketing que, convenhamos, até eu queria para divulgar meus escritos. Em nenhum momento ele lança mensagens, dá lições de moral, toma partido de algo ou alguém. Ele não faz referência a si mesmo em nenhum momento.
O que ele faz, sim, é contar uma história coerente, bem fundamentada em fatos históricos (se bem que a crítica diz que ele se confundiu em datas) que soam plausíveis ao menos à primeira vista. Não fui para nenhum livro de história para conferir as suas afirmações. Sem dúvida, é um ótimo passatempo.
No fim, ele é um bom contador de histórias.
Que mais nós, escritores, podemos querer, além de conseguir contar boas histórias?
Ser lidos, eu acho.
Assim como na primeira aventura do professor Robert Langdon, Código Da Vinci transita por uma linha que certamente traria críticas generalizadas: religião. Sabemos que uma das verdades mais certas da vida é que não se deve discutir política, futebol e religião, porque invariavelmente vai gerar debates acalorados e - algumas vezes - sérias brigas.
Como no primeiro livro, Código da Vinci também gira em torno de história e religião, mais especificamente a religião católica e seus dogmas. A ação gira em torno de histórias que todos conhecemos, mitos, lendas.
Mas é um livro de ação (me pergunto quando é que vão virar filme), e bem escrito. Segue a mesma fórmula de Angels & Demons, situando a ação basicamente numa cidade européia e - especificamente - em locais conhecidos, fatos policiais, conspirações, sociedades secretas, reviravoltas. Enfim, tudo o que se espera de um livro (ou um filme) de ação.
Não entendo a comparação com o Paulo Coelho, exceto pela questão de marketing que, convenhamos, até eu queria para divulgar meus escritos. Em nenhum momento ele lança mensagens, dá lições de moral, toma partido de algo ou alguém. Ele não faz referência a si mesmo em nenhum momento.
O que ele faz, sim, é contar uma história coerente, bem fundamentada em fatos históricos (se bem que a crítica diz que ele se confundiu em datas) que soam plausíveis ao menos à primeira vista. Não fui para nenhum livro de história para conferir as suas afirmações. Sem dúvida, é um ótimo passatempo.
No fim, ele é um bom contador de histórias.
Que mais nós, escritores, podemos querer, além de conseguir contar boas histórias?
Ser lidos, eu acho.
quarta-feira, outubro 06, 2004
Stress (2)
Como eu dizia, segunda foi um dia tenso. Eu queria ir ao Brasil para o aniversário da Jacque e – aproveitando que estaria lá mesmo – cortar o cabelo.
Você pode estar se perguntando “Que cabelo?”, e eu digo, vá procurar sua turma, palhaço... Mas o fato é que cortar o cabelo havia se tornado numa fonte de stress para mim, por algumas peculiaridades que lhes conto agora. Primeiro, porque não há muitas opções de cortes para o meu tipo e quantidade de cabelos. O que seria uma facilidade, pode se tornar um problema. Eu não gosto de volume nas laterais da cabeça, naquela parte acima da orelha, e também não gosto que o corte fique arredondado, dando um aspecto de cotonete ao todo… É um corte quase militar, na verdade.
Enquanto em Porto Alegre, nada disso era problema, afinal eu cortava o cabelo há dez anos no mesmo lugar, com a mesma pessoa. Tranqüilo, já nem precisava falar nada, só concordava que era para fazer o mesmo de sempre. A não ser na vez que cortei tudo, era sempre “o de sempre”. Nestes dez anos, na única vez em que tive que cortar em outro lugar, ouvi a última coisa que alguém que está cortando o cabelo quer ou deve ouvir: “Agora é tarde…”.
Já há quase dois meses em Toronto, ainda não havia tido coragem de cortá-lo, com medo do que poderiam fazer. Lembrem-se, a pessoa é o seu cabelo. O cabelo também é o nosso cartão de visitas. Pois é, dois meses sem cortar, o cabelo crescendo e eu parecendo cada vez mais careca (num dos paradoxos da existência), tinha que fazer alguma coisa: cortá-lo.
Que momento mais apropriado para fazer isso que numa ida à Porto Alegre?
Pois é, estava cheio de razões – e das boas – para viajar.
Mas a contra-revolução foi mais forte, e me conveceram a não cometer esta loucura. E o meu cabelo, que quanto mais crescia, caía?
O jeito era tomar uma atitude. E foi o que eu fiz, resoluto.
As opções que eu tinha eram comprar uma máquina e cortar eu mesmo, procurar um cabelereiro ou – como homem que sou – ir a um barbeiro. Decidi pela última alternativa. Com uma indicação de um colega, próximo ao hospital, fui num barbeiro. Italiano.
Joe, mais ou menos sessenta anos, o barbeiro arquetípico. Pense num barbeiro italiano: esse é o Joe. Só faltou cantar o Barbeiro de Sevilha (mas aí teria que ser o Pernalonga, lembram do desenho? Um clássico).
Conversamos durante o corte. Eu falava de lugares na Itália e ele me perguntava sobre o Brasil. Inglês com forte sotaque italiano, e eu com o meu sotaque latino. Dei instruções, sugeri que cortasse mais aqui, ali, inclusive sugeri que passasse a máquina nos lados… Estava esperando que ele me entregasse a tesoura e dissesse que eu devia ser melhor barbeiro do ele, ou me expulsasse dali aos gritos de “Cáspita!”, ou pegasse a navalha e cortasse minha garganta para que eu parasse de falar...
Mas foi tudo bem. Mês que vem eu volto, menos estressado.
Ou vou à Porto Alegre.
Você pode estar se perguntando “Que cabelo?”, e eu digo, vá procurar sua turma, palhaço... Mas o fato é que cortar o cabelo havia se tornado numa fonte de stress para mim, por algumas peculiaridades que lhes conto agora. Primeiro, porque não há muitas opções de cortes para o meu tipo e quantidade de cabelos. O que seria uma facilidade, pode se tornar um problema. Eu não gosto de volume nas laterais da cabeça, naquela parte acima da orelha, e também não gosto que o corte fique arredondado, dando um aspecto de cotonete ao todo… É um corte quase militar, na verdade.
Enquanto em Porto Alegre, nada disso era problema, afinal eu cortava o cabelo há dez anos no mesmo lugar, com a mesma pessoa. Tranqüilo, já nem precisava falar nada, só concordava que era para fazer o mesmo de sempre. A não ser na vez que cortei tudo, era sempre “o de sempre”. Nestes dez anos, na única vez em que tive que cortar em outro lugar, ouvi a última coisa que alguém que está cortando o cabelo quer ou deve ouvir: “Agora é tarde…”.
Já há quase dois meses em Toronto, ainda não havia tido coragem de cortá-lo, com medo do que poderiam fazer. Lembrem-se, a pessoa é o seu cabelo. O cabelo também é o nosso cartão de visitas. Pois é, dois meses sem cortar, o cabelo crescendo e eu parecendo cada vez mais careca (num dos paradoxos da existência), tinha que fazer alguma coisa: cortá-lo.
Que momento mais apropriado para fazer isso que numa ida à Porto Alegre?
Pois é, estava cheio de razões – e das boas – para viajar.
Mas a contra-revolução foi mais forte, e me conveceram a não cometer esta loucura. E o meu cabelo, que quanto mais crescia, caía?
O jeito era tomar uma atitude. E foi o que eu fiz, resoluto.
As opções que eu tinha eram comprar uma máquina e cortar eu mesmo, procurar um cabelereiro ou – como homem que sou – ir a um barbeiro. Decidi pela última alternativa. Com uma indicação de um colega, próximo ao hospital, fui num barbeiro. Italiano.
Joe, mais ou menos sessenta anos, o barbeiro arquetípico. Pense num barbeiro italiano: esse é o Joe. Só faltou cantar o Barbeiro de Sevilha (mas aí teria que ser o Pernalonga, lembram do desenho? Um clássico).
Conversamos durante o corte. Eu falava de lugares na Itália e ele me perguntava sobre o Brasil. Inglês com forte sotaque italiano, e eu com o meu sotaque latino. Dei instruções, sugeri que cortasse mais aqui, ali, inclusive sugeri que passasse a máquina nos lados… Estava esperando que ele me entregasse a tesoura e dissesse que eu devia ser melhor barbeiro do ele, ou me expulsasse dali aos gritos de “Cáspita!”, ou pegasse a navalha e cortasse minha garganta para que eu parasse de falar...
Mas foi tudo bem. Mês que vem eu volto, menos estressado.
Ou vou à Porto Alegre.
terça-feira, outubro 05, 2004
Stress
Ontem foi um dia tenso.
Logo de manhã cedo, fiquei sabendo que o meu supervisor, que viajaria para a Europa na quinta-feira, tinha mudado de planos e viajaria - para outro compromisso - na quarta-feira. Como segunda que vem é feriado de Ação de Graças no Canadá, teria quase uma semana de horários reduzidos no hospital. Sem pensar muito, decidi "Vou para Porto Alegre passar o aniversário da Jacque com ela".
Desencadeei uma operação de guerra em prol de conseguir uma passagem por preço acessível para embarcar ontem mesmo, hoje ou, na pior das hipóteses, na quarta-feira à noite. Incontáveis sites de viagem foram consultados, mas os valores eram altíssimos.
Ao mesmo tempo, em Porto Alegre, acontecia uma outra operação, para tentar me demover da idéia, afinal TODOS achavam que era um absurdo gastar uma quantia grande numa passagem para só ficar 6 dias em casa, e - além do mais - em cerca de dois meses devo ir a Porto Alegre para defender minha tese de doutorado, que corro contra o tempo para terminar. Em várias frentes, todos tentavam me dissuadir.
No meio da tarde de segunda, encontrei uma passagem por um valor não exorbitante (mas ainda mais caro que ir daqui a Londres, por exemplo). Estava decidido: eu ia para Porto Alegre. Saindo do hospital, fui até uma agência de viagens e reservei a passagem. Confesso que vacilei e não comprei. Deixei para comprar hoje, e embarcar amanhã. Ainda teria a noite para convencer TODA a minha família de que era razoável ir passar seis dias e voltar, para dali a um mês e meio viajar de novo à capital dos gaúchos.
Foi uma noite de teleconferências. Conversei longamente com a Jacque e com a minha Mãe. Com o pai, havia falado à tarde e ele, depois de dizer que se eu não estava segurando a barra eu devia voltar, disse que essa era uma decisão minha de foro intímo. Argumentei que estava tudo bem, que eu apenas queria ir visitar a minha esposa no seu aniversário, coisa e tal.
Mas eu estava mentindo.
Eu não estava segurando a onda, tenho que confessar. Eu queria ir porque eu estava desesperado, precisando muito ir para o Brasil, para o Rio Grande do Sul, para Porto Alegre. E não podia esperar muito.
Eu precisava cortar o cabelo.
(continua)
Logo de manhã cedo, fiquei sabendo que o meu supervisor, que viajaria para a Europa na quinta-feira, tinha mudado de planos e viajaria - para outro compromisso - na quarta-feira. Como segunda que vem é feriado de Ação de Graças no Canadá, teria quase uma semana de horários reduzidos no hospital. Sem pensar muito, decidi "Vou para Porto Alegre passar o aniversário da Jacque com ela".
Desencadeei uma operação de guerra em prol de conseguir uma passagem por preço acessível para embarcar ontem mesmo, hoje ou, na pior das hipóteses, na quarta-feira à noite. Incontáveis sites de viagem foram consultados, mas os valores eram altíssimos.
Ao mesmo tempo, em Porto Alegre, acontecia uma outra operação, para tentar me demover da idéia, afinal TODOS achavam que era um absurdo gastar uma quantia grande numa passagem para só ficar 6 dias em casa, e - além do mais - em cerca de dois meses devo ir a Porto Alegre para defender minha tese de doutorado, que corro contra o tempo para terminar. Em várias frentes, todos tentavam me dissuadir.
No meio da tarde de segunda, encontrei uma passagem por um valor não exorbitante (mas ainda mais caro que ir daqui a Londres, por exemplo). Estava decidido: eu ia para Porto Alegre. Saindo do hospital, fui até uma agência de viagens e reservei a passagem. Confesso que vacilei e não comprei. Deixei para comprar hoje, e embarcar amanhã. Ainda teria a noite para convencer TODA a minha família de que era razoável ir passar seis dias e voltar, para dali a um mês e meio viajar de novo à capital dos gaúchos.
Foi uma noite de teleconferências. Conversei longamente com a Jacque e com a minha Mãe. Com o pai, havia falado à tarde e ele, depois de dizer que se eu não estava segurando a barra eu devia voltar, disse que essa era uma decisão minha de foro intímo. Argumentei que estava tudo bem, que eu apenas queria ir visitar a minha esposa no seu aniversário, coisa e tal.
Mas eu estava mentindo.
Eu não estava segurando a onda, tenho que confessar. Eu queria ir porque eu estava desesperado, precisando muito ir para o Brasil, para o Rio Grande do Sul, para Porto Alegre. E não podia esperar muito.
Eu precisava cortar o cabelo.
(continua)
segunda-feira, outubro 04, 2004
As Sem Razões do Amor
Algumas coisas que fazemos em nome do amor às vezes parecem sem sentido, ou mesmo irracionais e irresponsáveis.
Mas o que seria do mundo se não fossem os poetas?
Mas o que seria do mundo se não fossem os poetas?
domingo, outubro 03, 2004
A Sopa 04/11
Amenidades de um domingo de sol.
Nem tudo é o que parece ser. Algumas vezes, somo traídos por essas situações, ou melhor, fatos em seqüência que aparentemente têm relação mas que, em realidade, não estão conectados.
Num dos posts no Blog da semana que passou falei que estava visitando e lendo vários blogs, e que alguns apresentavam visões distorcidas da realidade, que mostravam intolerância, etc e tal. Eu me referia, especificamente, a um determinado blog de um garoto (dezoito anos, se não me engano) que escreve barbaridades preconceituosas sobre o Brasil em geral, e ataca pessoas que pensam diferente dele. Não citei o nome (e nem vou) para não dar publicidade a quem não merece.
O que acontece é que escrevi isso logo depois de ter visitado e feito um comentário num outro blog, o C.A.N.A.D.I.A.N.D.O., http://canadiando.zip.net do Maurício V. Almeida, (mais) um brasileiro que se mudou para o Canadá. No dia em que li, ele falava da sua partida para cá, e “se queixava” da Air Canada. Quando comentei no blog dele, disse que minha experiência com esta companhia aérea era boa, ao contrário dele. Até aí, nada demais.
Só que ao ler o meu comentário em seu blog, o Maurício foi conhecer o meu blog, e se deparou com o meu texto sobre os blogs com verdades definitivas e o fato de eu estar aprendendo que as coisas não eram bem assim (de novo, me referindo a um outro blog, não o dele). Naturalmente, ele fez a associação e achou que o comentário fosse para ele… Não era, podem estar certos.
§
Domingo de eleições no Brasil.
Por ter saído do Brasil justamente na hora em que ia começar a campanha eleitoral, fiquei de fora do processo e, por isso, não comentei o assunto aqui nest’A Sopa. Mas como eu escrevo até sobre filmes que não vi, não poderia me furtar de um pequeno comentário.
Eu acho que democracia é alternância de poder. Pronto, falei. Quem me conhece, entendeu.
§
Falando em cinema, este final de semana em Porto Alegre foi de pré-estréias de Kill Bill 2, do Tarantino. Aqui em Toronto já passou, e inclusive já foi lançado em DVD. Planejo assistir o filme em breve. Se for tão bom quanto o primeiro, vai ser um ótimo programa.
§
Consegui colocar no blog um contador de visitas, novamente. O problema é que tive que zerar o anterior (que já não funcionava desde agosto). Comecei do zero, a partir de hoje. Conto com suas visitas… Por último, ainda não sei como colocar links no blog. Se alguém souber, por favor me dê a dica de como fazer…
§
Próximo domingo, dia 10, é aniversário da Jacque. Vai ser meio que feriadão, afinal na terça, 12, é feriado nacional no Brasil. Dia 11, segunda-feira, aqui no Canadá, é feriado de Ação de Graças. Pensei seriamente em ir de surpresa para Porto Alegre passar o feriado e aniversário da Jacque. Rápida olhada nos preços das passagens pela internet, e a constatação: gastaria MUITO para ficar só quatro dias no Brasil. Na verdade, poderia mobiliar todo o meu apartamente aqui com esse dinheiro. Como vou ter que ir à Porto Alegre em sessenta dias a negócios, decidi ficar aqui e continuar “acampado”, mas sem gastar muito…
Nem tudo é o que parece ser. Algumas vezes, somo traídos por essas situações, ou melhor, fatos em seqüência que aparentemente têm relação mas que, em realidade, não estão conectados.
Num dos posts no Blog da semana que passou falei que estava visitando e lendo vários blogs, e que alguns apresentavam visões distorcidas da realidade, que mostravam intolerância, etc e tal. Eu me referia, especificamente, a um determinado blog de um garoto (dezoito anos, se não me engano) que escreve barbaridades preconceituosas sobre o Brasil em geral, e ataca pessoas que pensam diferente dele. Não citei o nome (e nem vou) para não dar publicidade a quem não merece.
O que acontece é que escrevi isso logo depois de ter visitado e feito um comentário num outro blog, o C.A.N.A.D.I.A.N.D.O., http://canadiando.zip.net do Maurício V. Almeida, (mais) um brasileiro que se mudou para o Canadá. No dia em que li, ele falava da sua partida para cá, e “se queixava” da Air Canada. Quando comentei no blog dele, disse que minha experiência com esta companhia aérea era boa, ao contrário dele. Até aí, nada demais.
Só que ao ler o meu comentário em seu blog, o Maurício foi conhecer o meu blog, e se deparou com o meu texto sobre os blogs com verdades definitivas e o fato de eu estar aprendendo que as coisas não eram bem assim (de novo, me referindo a um outro blog, não o dele). Naturalmente, ele fez a associação e achou que o comentário fosse para ele… Não era, podem estar certos.
§
Domingo de eleições no Brasil.
Por ter saído do Brasil justamente na hora em que ia começar a campanha eleitoral, fiquei de fora do processo e, por isso, não comentei o assunto aqui nest’A Sopa. Mas como eu escrevo até sobre filmes que não vi, não poderia me furtar de um pequeno comentário.
Eu acho que democracia é alternância de poder. Pronto, falei. Quem me conhece, entendeu.
§
Falando em cinema, este final de semana em Porto Alegre foi de pré-estréias de Kill Bill 2, do Tarantino. Aqui em Toronto já passou, e inclusive já foi lançado em DVD. Planejo assistir o filme em breve. Se for tão bom quanto o primeiro, vai ser um ótimo programa.
§
Consegui colocar no blog um contador de visitas, novamente. O problema é que tive que zerar o anterior (que já não funcionava desde agosto). Comecei do zero, a partir de hoje. Conto com suas visitas… Por último, ainda não sei como colocar links no blog. Se alguém souber, por favor me dê a dica de como fazer…
§
Próximo domingo, dia 10, é aniversário da Jacque. Vai ser meio que feriadão, afinal na terça, 12, é feriado nacional no Brasil. Dia 11, segunda-feira, aqui no Canadá, é feriado de Ação de Graças. Pensei seriamente em ir de surpresa para Porto Alegre passar o feriado e aniversário da Jacque. Rápida olhada nos preços das passagens pela internet, e a constatação: gastaria MUITO para ficar só quatro dias no Brasil. Na verdade, poderia mobiliar todo o meu apartamente aqui com esse dinheiro. Como vou ter que ir à Porto Alegre em sessenta dias a negócios, decidi ficar aqui e continuar “acampado”, mas sem gastar muito…
sábado, outubro 02, 2004
Sábado (5)
Hoje eu ia escrever sobre as estações do ano.
Pretendia falar sobre a beleza do outono no Canadá, sobre o azul profundo do céu e o tom vermelho das folhas que caem. Ia compará-lo com a beleza do outono em Porto Alegre, a estação mais bonita do ano. Assim como a primavera, que sempre foi a minha estação preferida, por todos os seus significados de ressurgimento da vida, do final de inverno. Lembrei então que 2004 não vai ter primavera para mim. 2004, houve uma vez dois outonos...
Mas está chovendo.
Lembro de um poema (só não lembro do autor) que li quando estava no segundo grau, há 17 anos:
"Chove.
Um goteira canta de mágoa.
Canta, monótona e sonora,
a balada do pingo d'água
Chovia quando foste embora..."
Bom sábado a todos.
Pretendia falar sobre a beleza do outono no Canadá, sobre o azul profundo do céu e o tom vermelho das folhas que caem. Ia compará-lo com a beleza do outono em Porto Alegre, a estação mais bonita do ano. Assim como a primavera, que sempre foi a minha estação preferida, por todos os seus significados de ressurgimento da vida, do final de inverno. Lembrei então que 2004 não vai ter primavera para mim. 2004, houve uma vez dois outonos...
Mas está chovendo.
Lembro de um poema (só não lembro do autor) que li quando estava no segundo grau, há 17 anos:
"Chove.
Um goteira canta de mágoa.
Canta, monótona e sonora,
a balada do pingo d'água
Chovia quando foste embora..."
Bom sábado a todos.
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