domingo, julho 13, 2025

A Sopa

De tempos em tempos, o algoritmo da vida faz com que eu veja ou leia o (ao menos para mim) famoso Harvard Study of Adult Development, um chamado estudo de coorte que vem acompanhando, há mais de 80 anos, a vida de um grupo inicial de mais de setecentas pessoas de diferentes origens e extratos sociais e seus descendentes, em busca de responder, entre outras coisas, à pergunta: o que faz a vida satisfatória? Confesso que sou fascinado pelo estudo (tem até uma apresentação do TED sobre ele) e pelo tema. 

 

Inicialmente, eram dois grupos separados estudados, um de alunos do segundo ano de Harvard, e outro grupo de pessoas de áreas de baixa renda de Boston, de maior vulnerabilidade. A pesquisa tem acompanhado esse grupo, e seus descendentes, desde então, em busca de identificar os determinantes de uma boa vida. E um dos resultados encontrados, que é muito interessante, não é uma novidade para mim, alguém que sempre foi (é) um ‘botador de pilhas’. O importante, o que determina uma vida satisfatória e boa, não são as condições socioeconômicas, não é o emprego ou os bens adquiridos, não é a fama.

 

São os relacionamentos.

 

Relacionamentos fortes e de apoio foram identificados como preditores muito melhores de uma vida longa e feliz do que fatores como status social, QI ou até mesmo genética. Isso significa que a presença de conexões significativas e de confiança com outras pessoas é fundamental para o bem-estar geral.

 

Em outras palavras, ter alguém com quem contar durante os altos e baixos da vida é crucial para o bem-estar geral. Os participantes que relataram ter relacionamentos de qualidade, como amizades próximas, laços familiares fortes ou um parceiro amoroso confiável, tendiam a ser mais felizes e saudáveis ao longo do tempo. É como sempre pensei: a importância dos relacionamentos não pode ser subestimada quando se trata de promover uma vida longa e satisfatória.

 

Por esse conhecimento, inicialmente empírico, mas agora baseado em dados científicos, que procuro manter as amizades, as parcerias, as confrarias, os grupos de convívio próximos. Por isso a importância dos churrascos, aos quais nunca digo não a um convite. Por isso fazer parte de grupos sempre foi fundamental para mim, e a sensação de (possível ou real) exclusão é bem ruim.

 

De tempos em tempos, deveríamos pensar em quem chamaríamos se tivéssemos um problema no meio da noite e precisássemos de ajuda. Quem não hesitaria em nos ajudar.

 

Esses são os de fé.


Até. 

sábado, julho 12, 2025

Sábado (que vem, na verdade)


O lançamento do meu novo livro será no próximo sábado, 19/07.
Editora Bestiário.

Na rua mais bonita do mundo, segundo os porto-alegrenses...

Nina Café de Casa. Rua Gonçalo de Carvalho, 129. 

Vai ser bem legal.

Até.


sexta-feira, julho 11, 2025

Sexta-feira

Ainda sobre as comparações.

 

Não interessa se a grama do vizinho parece mais verde que a nossa. Aliás, nem devemos olhar para a grama do vizinho. Estava lendo esses dias alguém que escreveu algo como ‘não devemos olhar para o caminho que não percorremos”. Esse deve ser o princípio.

 

Ficar preso no ‘E se...’, nas possibilidades de desfechos diferentes em caso de escolhas que não as que fizemos é – além de um exercício estéril – injusto para conosco. Quase sempre o que não vivemos parecerá melhor do que vivemos agora, porque está no campo das possibilidades, das probabilidades. O mundo ideal seria aquele que não escolhemos, e não o que estamos agora, fruto de todas as nossas decisões prévias.

 

Não é verdade.

 

Prefiro acreditar que onde estamos hoje, agora, e que é resultado de tudo o que fomos e vivemos até hoje, é o melhor, levando em conta que estamos fazendo o melhor possível a cada o momento, a cada escolha. Claro que o resultado nem sempre (ou quase nunca) depende exclusivamente de nós, mas – se estamos fazendo nossa parte – prefiro acreditar no melhor desfecho possível.

 

É certo, também, que erramos de tempos em tempos. 

 

Quando isso acontece, o melhor é fazer como quando se pega um trem errado: o melhor é descer na primeira estação (oportunidade), porque quanto mais longe formos no caminho errado, maior o custo de retomar o caminho correto.


Até. 

quinta-feira, julho 10, 2025

Apenas

Que triste isso.

 

Estava conversando com um professor de música por esses dias e ele me contou que dava aulas para um médico há algum tempo, e esse aluno médico, que fazia aulas de canto, disse que não poderia se apresentar em público porque era médico e, afinal, “vidas estavam em suas mãos diariamente”.

 

Teria uma imagem a preservar, não queria ser mal interpretado, provavelmente parecer menos “sério” do que realmente era, ou algo assim. Que sua atividade era muito importante, que ele era muito importante, imagino, para que tivesse sua imagem associada à outra atividade que não fosse o ‘sacerdócio médico’.

 

Fiquei pensativo, logo após lamentar por ele. 

 

Sim, lamento profundamente essa visão – em minha opinião, claro – estreita da vida e do mundo, associada a um grau elevado de arrogância. A atividade médica é importante, claro, como são importantes quase todas as atividades humanas, em maior ou menos grau, e não compete a mim e nem a ninguém julgar a sua atividade ou a dos outros dessa forma. Ele é médico. Bom para ele, parabéns. 

 

E daí?

 

Esse fato específico, ser médico, o torna melhor ou pior do que alguém? Evidentemente que não. Todos os anos de formação e treinamento, toda dedicação, finais de semana perdidos em estudo e trabalho apenas o tornam melhor que sua versão anterior, que vai ser inferior – se tudo correr bem – à sua própria versão do futuro, digamos assim.

 

Além disso, não acredito que devemos ser definidos apenas pela nossa ocupação. Que triste isso, de alguém se considerar ou definir por sua profissão. Somos muito mais que ‘apenas’ médicos, advogados, engenheiros ou artistas. Sempre acreditei que podemos ser (e somos) muitos. E lembro Raul Seixas que, além de Metamorfose Ambulante, escreveu:

 

Ah!
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador


Vamos viver tudo que há para viver.

 

Até.

quarta-feira, julho 09, 2025

Sobre ser coadjuvante da própria vida

Disciplina.

 

Entre todas as valências humanas, talvez uma das mais subestimadas seja a disciplina. Mesmo já tendo sido cantada em prosa e verso ('Disciplina é liberdade', cantou a Legião Urbana) tenho a sensação, e é sensação, impressão mesmo, de que normalmente não é valorizada como deveria.

 

Valoriza-se muito mais o improviso, a rebeldia, a falta de método. O “gênio” seria alguém que, em arroubos ou espasmos de criatividade ou engenhosidade, criaria algo fora de série. Até acontece aqui e ali, mas são casos anedóticos, como se diz. O progresso humano é baseado em disciplina e constância, conceitos um pouco diferentes, mas relacionados.

 

Terminamos nossos projetos, alcançamos nossos objetivos, chegamos ao fim de caminhadas apenas com disciplina. Da mesma forma, nos tornamos excelentes no que fazemos apenas com dedicação e constância, com a disciplina que não nos deixa abandonar o que não está pronto.

 

Esse sempre foi um dos meus medos no passado.

 

Temia que eu fosse alguém que não terminasse o que havia começado, ou que nem começasse para não ter que ir até o final. Que fosse alguém que ficasse apenas no plano das ideias, vivendo em um mundo de sonho, ou fantasia, onde as coisas dariam certo até de manhã, quando eu acordasse para uma possível vida medíocre, onde vivesse uma vida que não era que eu havia imaginado, e que eu não houvesse feito nada para que fosse diferente. Que eu fosse um personagem coadjuvante em minha própria história.

 

Procuro diariamente evitar isso.


Até. 

terça-feira, julho 08, 2025

Educação Musical

Há muito passou o tempo em que, enquanto levava a Marina de um lugar a outro, inventávamos jogos para passar o tempo. Nada mais natural, afinal ela está prestes a completar dezessete anos. Houve a fase em que conversávamos e ouvíamos música, as que eu escolhia, afinal meu carro, minhas regras. E era também educativo, pois eu seguia apresentando a ela sons que eu achava que ela deveria conhecer e ouvir.

 

Depois, passamos a ouvir também músicas que ela sugeria, pois também passou a ter sons que queria me apresentar, nada mais natural. Em outros momentos, com fones de ouvido, ela ouvia / ouve o que está com vontade naquele momento. De umas semanas para cá, acabamos voltando a jogar, em mais uma forma de nos conectar através da música.

 

É um jogo de conhecimento musical.

 

Funciona assim: seleciono uma playlist no Spotify, ela fecha os olhos, e deve reconhecer a música que começa a tocar, por nome e de quem é. 

 

Tem sido muito legal.

 

Ontem, para orgulho do pai, a sequência de músicas que ela reconheceu foi de Another Brick in the Wall (Pink Floyd), além de Immigrant Song (Led Zeppelin),Back in Black (AC/DC), Three Little Birds (Bob Marley), Song 2 (Blur), entre outras do Nirvana, Rolling Stones, Fleewood Mac e Animals, entre outras. Sem falar que está atualmente cantando The Weight (The Band), uma das músicas da minha vida.

 

Que orgulho.

 

A Jacque, a School of Rock e eu temos feito um grande trabalho em termos de educação musical.

 

Até.

segunda-feira, julho 07, 2025

Amanheceu, e tem neblina

Começo a semana assim, pouco inspirado.

 

Poderia chamar de preguiça mental, ou é efeito da neblina, que esconde parte da cidade ao clarear o dia? Não sei, mas vejo a semana pela frente e reafirmo a preguiça, agora também física, e sinto o ombro direito, que desde a madrugada de sábado para domingo dói como se tivesse feito um esforço que não fiz, porque no sábado fiquei mais tempo na cama ao invés de ir até a academia antes da quermesse da escola da Marina, que vamos não por causa dela, mas porque gostamos da festa, e além de tudo tinha show do Elton Saldanha, que lembra que somos do Sul, a nossa terra tem o céu azul, é só olhar e ver....

 

Passamos da metade do ano, e seguimos.

 

Nem tudo planejado aconteceu, como sempre, afinal a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos, e está tudo certo, está tudo bem. Vamos nos adaptando, vamos ajustando.

 

Boa semana para nós.


Até. 

domingo, julho 06, 2025

A Sopa

Escolhas e renúncias.

 

Ao longo do tempo, venho definindo, descobrindo, aprendendo, quais são minhas prioridades, aquilo que é importante para minha vida, e quais caminhos são os que considero mais certos que eu percorra. A partir dessas definições, da definição do que quero, tenho procurado ajustar a vida, através também de mudanças da rotina, de alguns hábitos e renunciando a outros, a esses objetivos os quais defini e sigo definindo. É um trabalho diário, esse da disciplina da mudança de hábitos.

 

De tempos em tempos, por razões diversas, podem ocorrer deslizes – digamos assim – e recaímos por um tempo a hábitos que não nos servem mais. O importante é reconhecer esses desvios do caminho e voltar à rota original. 

 

Importante, também, é a noção de que as pessoas não precisam entender o caminho que escolhes, porque quase nunca elas terão como saber de forma completa as razões de nossas escolhas. Porque o que elas conhecem de nós sempre é uma parte do todo, um frame, uma ‘captura de tela’ de quem somos. E esperam que vivamos de acordo com sua expectativa baseada nessa parte do todo. Nem sempre será assim, nem sempre seremos o que esperam de nós porque somos muito mais que isso, muito mais que a superfície que elas veem.

 

Parte do crescimento – e entendo a ironia de alguém com mais de cinquenta anos falando em crescimento e amadurecimento quando eu imaginava já ter todas as respostas com essa idade – significa reconhecer e mostrar aos outros (ao mundo) que somos mais do que aquilo que todos veem na vitrine de nossas vidas, ou na vitrine da rede social, por exemplo. 

 

Eu, como disse, tenho procurado fazer isso.

 

Reconheço, também, que cada escolha implica em renúncias, em abandonar, sendo extremo, uma vida que não faz mais sentido a quem somos hoje, renunciando também a potenciais benefícios envolvidos com o caminho do qual abrimos mão. É outro aprendizado. Mesmo que estejamos convictos de para onde estamos indo, às vezes olhar para aquilo de que abrimos mão pode nos fazer pensativos. É temporária, essa sensação de exclusão (e a sensação de ser excluído é das piores para mim), mas é preciso estar certo e tranquilo com o caminho e seguir.

 

Eu estou.


Até. 

sábado, julho 05, 2025

sexta-feira, julho 04, 2025

A Casa da Praia

Tenho alguns sonhos recorrentes.

 

Essa noite, depois de um certo tempo, sonhei com a casa da praia, a do Imbé, onde passei os verões de minha infância e adolescência. Fazia tempo que não sonhava com a casa.

 

Era para ser um feriado, e a casa ao lado, à esquerda de quem olha de frente, tinha muitos carros em frente e estava sendo limpa para receber pessoas. Estávamos na casa dos fundos, meio improvisados, e a casa da frente estava fechada. 

 

Em algum momento do sonho decidi abri-la, pois estava fechada provavelmente desde o verão, e teríamos que abrir janelas e limpá-la para ficarmos lá. Só que as luzes não acendiam, e fui ao quadro de disjuntores para verificar. Liguei e desliguei alguns deles até que percebi que o quadro estava em lugar que não era o habitual. Foi quando me dei conta, lembrei.

 

A casa não era mais nossa.

 

Estava (de novo) na nossa casa da praia que já não era nossa, e não deveria estar ali. Lembrei que havíamos vendido a casa em dois mil e quatorze (!). E que sigo sonhando de tempos em tempos com a casa, e sempre tenho percebido durante o sonho que não deveria estar mais ali, pois já não é o nosso lugar.

 

Não têm mais os verões e sábados de manhã de sol em que a música que toca é (de um vinil) ‘Cúmplice’, do Cazuza, que diz:

 

‘Hoje eu acordei querendo encrenca
escrevi teu nome no ar
bati três vezes na madeira
senti você me chamar

 

Na verdade uma carta em braile
me deu uma certeza cega
Você estava de volta ao bairro
em alguma esquina á minha espera’...

 

 

Em alguns dos sonhos, meu pai também aparece, e sei que ele não está mais lá. As pessoas que eram importantes para a casa da praia não estão lá.

 

A casa da praia continua em mim, e sigo, mesmo que não mais frequente a praia de outros tempos. Existem outras praias e outras casas, mas nenhuma como a (minha) casa da praia.

 

É vida.

 

Até.

quinta-feira, julho 03, 2025

Está Saindo

Livros.

 

Quando decidi – há cerca de um ano e meio – que era hora de começar a publicar minhas crônicas, hora de transformar em livro o trabalho de mais de uma década de escritos meus, estabeleci uma ideia inicial de três livros, a serem publicados em anos consecutivos, a partir do ano passado. Tudo correu bem, e mais rápido que imaginava. Em 2024, publiquei, pela Editora Bestiário, o ‘A Sopa no Exílio’. Fiz três lançamentos, e autografei ele na Feira do Livro de Porto Alegre, o que era um desejo/sonho meu de muitos anos.

 

Tinha à época, um segundo livro praticamente pronto, que prudentemente deixei para o ano seguinte, para – com tempo – revisar as crônicas e ainda acrescentar novas. Foi o que fiz, a partir de abril desse ano, e o resultado será lançado no próximo dia 19 de julho, um sábado à tarde (o local divulgo em breve).

 

‘Eu Pai, Eu Filho’.

 

Crônicas pessoais a respeito do tema paternidade. Como o título diz, escrevo como pai e como filho. Crônicas que vão desde antes de ser pai, o esperar, as expectativas com relação à paternidade, e depois a paternidade em si, crônicas de um pai encantado com o ser pai. Também falo de ser filho, e estão ali algumas crônicas em que falo do meu pai, e de como senti sua perda e como vejo a vida desde que ele se foi.

 

Gostei do resultado, mas sou suspeito.

 

Espero que vocês gostem.

 

Até.

quarta-feira, julho 02, 2025

Seicentos

Logo após o número quinhentos e noventa e nove, o número seiscentos talvez não tenha significados ocultos da mesma forma que tem o famoso seiscentos e sessenta e seis, o ‘número da besta’, que vem da Bíblia, do livro do Apocalipse e que diz: ‘Quem tiver discernimento, calcule o número da besta, pois é número de homem, e seu número é 666’. Estaria, então, esse número, o seiscentos e sessenta e seis associado ao mal, ao demônio.  

 

É uma teoria.

 

Acredita-se, contudo, que esse número seja um código, em que cada letra da palavra teria um número e a soma desses números correspondesse ao resultado, e 666 seria a soma resultante, no alfabeto hebraico, do nome do imperador Nero Cesar, conhecido por perseguir cristãos e, portanto, não ser muito ‘admirado’ por eles. Daí a citação do número no texto bíblico.

 

Seiscentos, e não seiscentos e sessenta e seis, também foi o nome de um bar em Porto Alegre, entre os anos 80 e 90, na Av. Goethe, que frequentei algumas vezes. Também pode ser um código, ou um bordão, não sei.

 

Seiscentos. Mil.

 

Acordei com esse número da cabeça, e não sei o porquê.

 

Vou pensar.


Até. 

terça-feira, julho 01, 2025

Palavras ao Vento

Saudades sem ação são como palavras ao vento.

 

Quando morei no Canadá, há vinte anos, de tempos em tempos acontecia de sentir saudades de alguém em especial, familiar ou amigo. De pronto, eu ligava para essa pessoa, ou enviava uma mensagem, um e-mail. Não havia como estar presente fisicamente, então arranjava um jeito de estar virtualmente, ao menos.

 

Existem situações em que as saudades vão bater e não teremos como resolver de maneira definitiva, pois a morte, angústia de quem vive, como disse Vinícius de Moraes, estará entre nós e de quem sentimos falta. Essa talvez seja a única situação em que não temos como fazer nada, e a forma de suprir essa ausência é com as memórias, as lembranças dos momentos que vivemos.

 

Para todas as outras situações, há o que fazer, existem soluções. Ligação de áudio, de vídeo, mensagem, cafés, encontros, churrascos. Não há por que sentir falta de alguém e não fazer nada.

 

Assim como em outras situações da vida, não devemos complicar o que é simples. Se realmente quisermos, na maior parte das vezes há o que fazer, há como ligar, como encontrar. Se parece difícil demais, se parece impossível até, talvez sejamos nós que não estamos sentindo tanta falta assim. Talvez nosso interesse não seja tão grande assim.

 

Quando sinto saudades, e é alguém que está mais ou menos próximo, a um telefonema ou uma mensagem de distância que seja, eu tomo uma atitude, procuro passar para a ação. Porque se for “deixando para quando der”, pode ser que chegue um momento em que não será mais possível, não haverá mais como. Como eu disse, saudades sem ação são como palavras ao vento.

 

E não há nada pior do que o arrependimento de não ter falado, de não ter feito.


Até. 

segunda-feira, junho 30, 2025

Inadequado

Esses dias, assisti, por curiosidade, a um vídeo sobre ‘O Que um Homem de Mais de 50 anos Não Deve Vestir’. Talvez não fosse esse o título, mas a ideia era exatamente essa. O que era adequado ou não para compor o visual de um homem de mais de cinquenta anos de idade, categoria a qual me encaixo atualmente.

 

Gabaritei o vídeo.

 

Nada, ou quase nada, do meu guarda-roupa é adequado, ou compatível, com o que deveria ser – segundo esse vídeo – aquilo que um homem de mais de cinquenta anos deveria usar. Estou fora de moda. Mais uma vez.

 

O que mostra coerência de minha parte.

 

Nunca, em toda minha vida, até onde lembro, estive “na moda”. Desde me vestir como um ‘sem-terra’, brincadeira (ou não) feita pela querida Maria Helena Andrade, eleita Rainha do Rádio em 1957 aos 15 anos, e que trabalhava no hospital quando eu era médico residente, até ser ‘chamado à atenção’ por usar calças jeans quando trabalhava no mundo corporativo, nunca me importei muito com essas convenções. Sempre me vesti como me sentia confortável para o momento.

 

Continuo inadequado até hoje, segundo padrões estabelecidos seja lá por quem for.

 

E não estou nem aí...


Até. 

domingo, junho 29, 2025

A Sopa

Parece que quando eu acordo pouco inspirado, eu acabo escrevendo sobre o tempo. O Tempo, você sabe, aquele que passa inexoravelmente, que sinaliza nossa caminhada pela vida. Ou esse tema é tipo uma obsessão minha, pouco importa.

 

Talvez um pouco dos dois, admito. Ou não.

 

De qualquer forma, por esses dias – confesso que não lembro onde – vi, li ou ouvi algo associado a pessoas que não valorizam, não respeitam ou mesmo desprezam o seu passado, e falo em termos de fatos, lugares e/ou pessoas. O sentimento que essa constatação, e não sei se esse é o melhor termo, me causou foi de estranheza. Porque é muito diferente de mim.

 

Pensei em quem, por circunstâncias quaisquer da vida, por caminhos diferentes seguidos, acabou se afastando de alguém ou algum grupo, fato corriqueiro, habitual. Pessoas mudam, lugares mudam, tudo muda o tempo todo no mundo, é o curso natural da vida, é como as coisas são, e está tudo bem.  O que me causa estranheza é quem, por essas mudanças naturais, “renega” (renegar, negar novamente, duplamente) o passado: quem foi, o que fez, e quem esteve junto nesses momentos.

 

Eu não sou assim.

 

Sim, eu mudei e continuo mudando. Não, não fazem mais sentido determinadas relações que antes faziam, assim como lugares não tem mais razão de serem frequentados. Nada mais natural. Mesmo assim, apesar disso, eu tenho profundo respeito e consideração por quem compartilhou comigo esse período ou trecho da caminhada. Quem teve uma conexão e agora não tem mais, por uma razão ou outra. Já superei a fase de querer retomar determinadas conexões que não fazem mais sentido para nenhum dos envolvidos. 

 

Tirando um deslize aqui e outro ali, a que todos estamos sujeitos ao longo da vida, não rejeito quem fui porque quem fui foi a preparação para quem sou hoje. 

 

Até.

sábado, junho 28, 2025

Sábado (e a primeira vez na Europa)

Bruges (em foto escaneada)


Perdidos na Espace.
Maio de 1999.
Bélgica, o começo da viagem.

Bom sábado a todos.

Até.

 

sexta-feira, junho 27, 2025

Chinelos e Meias

Esses dias, enquanto atendia um paciente no consultório, ao me preparar para examiná-lo, não pude deixar de notar que ele estava usando uma calça de abrigo, meias brancas e chinelos de dedo. Qualquer fiscal de estilo alheio teria ficado horrorizado, certamente.

 

Eu achei o máximo.

 

E lembrei dos adolescentes nas escolas hoje em dia, pelo menos a pequena amostra que tenho próximo a mim. Eles também costumam ir para suas aulas com roupas confortáveis, muitas vezes com esses chinelos tipo Rider e meias, como se não precisassem provar nada para ninguém, como se estivesse totalmente em paz com seu jeito próprio, com o ser e não com o parecer, o que é sensacional. 


Diferente da lembrança que tenho de quando eu era adolescente, e que sentia (sentíamos?) que precisava provar algo, mostrar ao mundo quem eu era e o modo que me vestia deveria refletir isso. E daí nos vestíamos parecidos, e já falei do All Star preto que nos identificava como grupo.

 

Depois, com o passar do tempo, surgiram outras formas de identificação com outros grupos, também para aceitação, ou ao menos se pensava isso. O tipo de roupa, a marca aquela famosa, entre outras características. Com o tempo, e a maturidade, vamos sendo cada vez mais quem somos, e nos diferenciando, mostrando o que nos é único. É parte do processo.

 

Por isso achei o máximo o paciente com meias brancas e chinelos de dedo em uma manhã fria no consultório. Parecia uma declaração de princípios. 


Ou não, poderia ser falta de estilo mesmo.

 

Não importa.

 

Até.

quinta-feira, junho 26, 2025

Escadas e Outros Perigos

Descer escadas com as mãos no bolso.

 

Não se faz, evidentemente. É perigoso, corre-se o risco de, em uma queda, não conseguir proteger o rosto, por exemplo. Uma medida simples, e óbvia, assim como não estar ao celular quando em escadas. Todos deveriam ter esses cuidados. Eu tenho esses cuidados.

 

E, mais, com o tempo e a experiência, progressivamente novos cuidados são acrescentados aos já habituais. Como o fato do uso corrimão para aumentar a segurança de uma descida ou subida de escada. Ou colocar ou retirar as meias sentado. E o uso de óculos para leitura, do qual não (tenho como) abro mão. Pequenos ajustes à rotina que melhoram a vida. 

 

O que significa aceitar e se adaptar às progressivas mudanças que ocorrem na vida. Nem sempre fácil, mas sábia atitude. Quando não somos mais tão jovens, devemos ‘dançar conforme a música’. É o jeito.

 

Da mesma forma que temos que nos adaptar às mudanças e limitações que ocorrem com aqueles que nos são próximos e queridos. Uma vez mais, nem sempre é fácil, mas não temos opção melhor.

 

A grande dica vem de velejar: ajustar as velas conforme o vento, para uma navegação mais suave.


Até. 

quarta-feira, junho 25, 2025

As Fotos e Eu

Costumo olhar fotos antigas.

 

Antes do surgimento das fotos digitais e, ainda mais, dos telefones com grande capacidade de armazenamento que tiram fotos cada vez melhores, no tempo das fotos que eram reveladas em laboratórios a partir de filmes de 12, 24 ou 36 poses e de negativos, o volume de fotos tiradas evidentemente era muito menor do que atualmente, em que usamos fotos até para dar uma verificada em nosso visual do dia a dia. Revelar os filmes era caro, então registar algo em foto era algo criterioso. Não era qualquer fato ou situação que justificava um registro fotográfico.

 

Claro que hoje mudou tudo. Perdemos, inclusive, o hábito de ter as fotos fisicamente, montar álbuns de viagens, por exemplo. Imprimimos em casa aquelas muito especiais, que justificam ter sua versão impressa.

 

Para mim, tudo mudou em 2002, quando comprei minha primeira câmera digital, uma Nikon E995, que comprei online diretamente da loja em Nova York, a B&H, e que foi entregue pelo correio em casa, com impostos pagos em um tempo em que o dólar era MUITO menos que hoje. Chegou próximo ao meu aniversário de trinta anos. Tinha cartões de memória de capacidade pequena, e as fotos, apesar de boas, ainda eram de resolução muito menor do que hoje. 

 

Quando viajamos, a Jacque e eu, para a Europa em outubro de 2003, ainda levamos junto a máquina analógica (é assim que chama?). Em Paris, comprei um cartão de memória para a minha Nikon que, um pouco depois, quando estávamos em Heidelberg, Alemanha, estragou. Foi um estresse até conseguir recuperar as fotos e baixar as do outro cartão para liberar espaço. Outros tempos, outra vida.

 

Quando morava no Canadá, e aí já estamos em 2006, alguns meses antes de voltar ao Brasil, e após a minha querida Nikon E995 ter sofrido um pequeno acidente e ter sido danificada irremediavelmente, realizei um desejo antigo e comprei um Nikon D50, uma DSLR com uma lente 18-55 mm (depois comprei também uma lente 55-200 mm). Foi (mais) uma mudança de vida. O nível das fotos mudou muito para melhor. Uns anos depois fiz um upgrade para uma D7000, que tenho até hoje.

 

A evolução (para mim, para mim) seguinte foi o telefone celular, o iPhone e suas fotos de cada vez melhor resolução, e a praticidade de andar com ele no bolso, estar sempre pronto para uma fotografia, sem falar na capacidade de armazenamento. O ano de 2023 foi minha primeira viagem registrada exclusivamente pelo iPhone.

 

Mas eu dizia que gosto de olhar fotos antigas. É verdade. Além dos álbuns de viagem, dos livros de fotos (dos quais nem falei) das fotos que escaneei para ter salvas digitalmente, até os últimos anos, em que o volume de fotos cresceu muito pelas razões que falei. Sempre que posso, e ainda mais agora em que estou publicando uma foto ao dia em meu Instagram, revejo essas fotos. 

 

Lembro de momentos passados, de quem e como eu era e de que quem e como sou hoje em dia. É quase uma auditoria diária de quem tenho sido a partir de quem fui. E quem fez e faz parte dessa trajetória.

 

Tenho gostado do que vejo, devo confessar.


Até. 

terça-feira, junho 24, 2025

Manhã de Inverno

Sensação térmica de -6ºC ao acordar.

 

Definitivamente, eu prefiro o verão. E sei que boa parte das pessoas que moram no Rio Grande do Sul, ou pelo menos uma parcela daquelas que convivem comigo, vai dizer – com argumentos razoáveis – que preferem o inverno. Tradicionalmente eu diria que vocês têm direito a ter uma opinião, mas que eu teria compromisso com a verdade, mas não vou dizer.

 

Não dessa vez, não hoje.

 

Não me importa o que vocês pensam. De verdade, na boa. Cada um com suas preferências. Vocês se consideram certos, eu também, mesmo que tenhamos visões opostas, e está tudo bem, tudo certo. Sejam felizes.

 

Um dos problemas dos dias de hoje, entre muitos, é que não se tolera mais opiniões divergentes, não há debate. Seja qual for o tema em questão, todos pretendem impor sua verdade como a única, como a definitiva. 

 

Eu não, não mais. 

 

Minha abordagem com relação a isso é a mesma que tenho com o glúten e com a lactose: sou tolerante. Enquanto as pessoas discutem política, guerras, conflitos religiosos e tudo o mais, eu só quero ficar na minha, no meu canto, em silêncio, com uma boa música ao fundo, na paz de uma tarde de férias no verão.


Que espero com ansiedade.


Até. 

segunda-feira, junho 23, 2025

Caindo na Real

Hoje cedo, ainda antes de despertar o relógio, acordei e planejei utilizar as primeiras horas do dia para tocar, após o café da manhã e a leitura das notícias. Aproveitar bem a manhã, quem sabe escrever um pouco.

 

Foi quando me dei conta que hoje era segunda-feira.

 

Que essa semana não tem feriado.

 

E que não tem mais nenhum feriado até dezembro.

 

É isso. Vamos à semana de inverno, que inicia sem chuva e com frio, que vai intensificar nos próximos dias.

 

Seguimos.


Até 

domingo, junho 22, 2025

A Sopa

‘A vida não examinada não vale ser vivida’.

 

A afirmação, atribuída a Sócrates no julgamento em que seria condenado à morte, tem sido – mesmo antes de eu saber dela, a frase – um tipo de norte para mim. Tenho, e não escondo de ninguém, o hábito, costume ou obsessão por pensar a vida, refletir sobre o que se passa comigo e com o mundo ao meu redor.

 

Os caminhos escolhidos e as decisões tomadas em minha vida sempre são alvo de análise, que é feita idealmente (mas nem sempre) antes ou – talvez mais frequentemente – depois do acontecido. Penso muito, logo muitas vezes sou ansioso, algo com que aprendi a conviver, mas nunca paralisado por dúvidas ou temores.

 

Penso, então, em viagens e seu processo.

 

Uma viagem, aprendi cedo, é composta de três partes igualmente importantes. Existe a preparação, etapa de tempo variável, com detalhamento também variável, que consiste em desde a escolha do destino, em termos gerais, orçamento geral, meio de transporte até e no destino, hospedagem, até itens específicos como passeios no local e ingressos de atrações, por exemplo.  Esse período de preparação, seja em uma viagem individual, em família ou em grupo, é – mais uma vez – variável, e esse tempo já é parte da viagem.

 

Temos a viagem em si, da qual não é preciso falar muito. Como chegamos no destino, onde ficaremos, como nos hospedaremos, o que visitaremos, e por aí vai. De destino único ou múltiplos destinos, essa é a parte que todos consideram a mais importante, e de certa forma é, porque é nela em que vivemos as experiências que vamos guardar conosco, as histórias que vamos contar.

 

A terceira parte de uma viagem é a volta, e que – ao contrário do que muitos pensam – não é o final. É apenas o início da importante e mais longa parte: o depois. Justamente as lembranças que teremos para sempre, as histórias que contaremos, as fotos que veremos de tempos em tempos, e mesmo as situações inusitadas e talvez tensas virarão as melhores histórias das viagens.

 

Como a vida.

 

Tudo o que vivemos tem um antes (as circunstâncias que levaram a ele), um durante (o evento em si) e um longo depois, em que refletiremos e contaremos para nós mesmos ou para outros o que aconteceu e como vimos o que aconteceu, o que aprendemos, quem esteve conosco e que continua conosco.

 

Por isso conto e reflito as (minhas) estórias. 

 

Porque é o que nos faz vivos de verdade, o que faz valer à pena estar vivo.


Até. 

sábado, junho 21, 2025

Sábado (e começou o inverno)

Toronto, inverno de 2005


Não é a (minha) melhor época do ano.
Mas também é bem boa.

Bom final de semana a todos.

Até.

 

sexta-feira, junho 20, 2025

Ritual

“Pra que sonhar

 A vida é tão desconhecida e mágica

Que dorme às vezes do teu lado

CaladaCalada

 

Tenho trabalhado por esses dias em um projeto – literário – pessoal que talvez avance ou não, não importa. Junto a isso, como forma talvez de inspiração, tenho mergulhado novamente na música do Cazuza, desde os tempos do Barão Vermelho até depois, em sua carreira solo.

 

É um tipo de viagem sentimental, posso dizer. Um resgate de um tempo passado. É, entre tantas outras, parte da trilha sonora da minha vida. E, vocês sabem, eu tenho um grande respeito pelo meu passado. Que já é passado, está lá atrás, não (mais) interfere no presente, fatos e pessoas.

 

Então, cada vez que começo a ouvir essas músicas, claramente volto ao passado, volto a me sentir exatamente como me sentia quando determinadas músicas estavam relevantes para fatos que aconteciam naquele momento. Volto mais de trinta anos no tempo assim, em um piscar de olhos. É muito louco.

 

Sempre preciso de alguns momentos para voltar ao presente e retomar o trabalho. Pode parecer que me atrapalha, mas não é verdade.

 

É reconfortante.

 

"Ah, pra que chorarA vida é bela e cruel, despidaTão desprevenida e exataQue um dia acaba".

 

Até.

 

quinta-feira, junho 19, 2025

Déficit de Atenção

Não é um diagnóstico que se aplica a mim.

 

Nunca foi um problema em minha vida, apesar de muitas vezes eu me ressentir pela eventual falta de foco e, mais, persistência e disciplina em diferentes atividades a que deveria ou gostaria de me dedicar mais. Ao longo do tempo fui aprendendo e conquistando, digamos assim, essa coisa de disciplina.

 

O que poderia talvez parecer para alguém uma dificuldade em focar em um único tema, ou a ausência de concentração, não é isso realmente. Tenho, sim, múltiplos interesses que ocupam meu tempo, digamos assim, e que requerem minha (rá!) atenção, muitas vezes simultaneamente. Mas realmente nada a ver com déficit de atenção.

 

Quanto aos meus múltiplos interesses, bom, esses só aumentam e podem dar a impressão ou a sensação de que não me dedico a nada, o que não é verdade. E tenho pensado nisso principalmente com relação ao meu ofício de médico. Recorrentemente me preocupa que os colegas me vejam como alguém menos dedicado ao trabalho médico do que deveria porque tenho outros interesses e/ou atividades, o que - mais uma vez - não é verdade.

 

Mas é o preço que (acho) tenho que “pagar” por minhas escolhas. Ou não. Sei lá.

 

Até.

quarta-feira, junho 18, 2025

O Ex

Não sou velho.

 

Partindo do conceito – acho que quem escreveu isso ou, ao menos, eu li escrito por ele, foi o Domenico de Masi, sociólogo italiano criador do conceito do 'ócio criativo' - de que ficamos velhos dois anos antes de morrer, definitivamente não sou velho. Mas progressivamente me torno um 'Ex'. Voluntariamente, devo dizer.

 

Já fui professor de cursos de medicina, não sou mais. Virei ex-professor (existe isso?). Sou ex-presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul. Sou ex-coordenador do Ambulatório de Fibrose Cística de Adultos do Hospital da PUCRS, do qual optei por deixar de ser recentemente. Assim como fui Coordenador de um Serviço de Pneumologia de um grande hospital de Porto Alegre do qual também optei por me desvincular. Fui especialista médico de uma empresa do setor farmacêutico e deixei de ser antes da pandemia. Já fui funcionário de carteira assinada de hospitais, o que já não sou.

 

Não falo isso de modo melancólico.

 

Quase todos esses movimentos foram voluntários e pensados, foram opções, ou decisões, que tomei conscientemente, conhecedor de suas (potenciais) consequências. Movimentos pensados, baseados em uma ideia de vida que, como tudo, tem seus prós e contras. Algumas vezes, contudo, por mais que tenham sido planejadas e antecipadas as mudanças de rota, demoro (demoramos) a me (nos) acostumar com ela. Sei também que faz parte, é um processo.

 

Quanto mais o tempo passa, menos bagagem tento carregar, mais leve procuro andar. Por isso o deixar pelo caminho o que não está bem alinhado com aquilo que quero para mim. Procuro a serenidade de saber aquilo que preciso e o que não preciso – e isso vale para atividades e pessoas – em minha vida.

 

E assim seguimos, aprendendo a cada dia.


Até. 

terça-feira, junho 17, 2025

O Que Ela Vai Fazer da Vida?

A Marina está no segundo ano do ensino médio.

 

Já há algum tempo, as pessoas perguntam e assumem como verdade que ela provavelmente cursaria Medicina, afinal tem mãe e pai médicos. Tem uma certa lógica, concordo. E mais, as pessoas imaginam, ou imaginavam, que é o que gostaríamos que ela fosse. Que a medicina seria um caminho natural a ela. E que tentaríamos influenciá-la para tornar-se médica.

 

Nada mais longe da verdade.


Nunca, de forma alguma, pensei em influenciar a escolha da profissão da minha filha. Nunca dei nenhum palpite, e menos ainda com relação à medicina. Sempre pensei, e ainda penso, que a escolha deve ser totalmente dela, sem nenhum tipo de pressão minha ou de quem quer que seja. Esse é um “problema” dela.

 

Mais importante ainda, é que ela tenha a noção de que a decisão que tomar na hora em que for necessária essa decisão não é necessariamente definitiva, sem volta. Até pode ser, se ela gostar e quiser seguir pelo caminho de sua primeira escolha, mas sempre é possível revisar rumos e rotas.

 

Entendo que, em geral, a escolha de um caminho profissional tem um peso importante entre nossas escolhas de vida, mas – reforço – procuro criar um ambiente doméstico em que todos, a Marina, saibam que têm a liberdade e autonomia para escolher sem nenhum tipo de pressão de minha parte. 

 

Que saiba que vou apoiá-la em sua decisão, seja ela qual for.

 

Até.

segunda-feira, junho 16, 2025

Sobre o Caminho

Abdicar.

 

Toda decisão tem suas consequências. Todo caminho que tomamos, todo rumo que seguimos, toda opção que fazemos, sempre implica em abrir mão de possibilidades. Toda decisão é, também, uma renúncia. Temos que ter a sabedoria de saber lidar com esse fato.

 

Independente do quão certa uma decisão é para nós, sempre que decidimos algo, seguimos por um caminho, estamos renunciando às outras opções possíveis, fechamos uma porta a tudo que aquela rota não tomada potencialmente nos proporcionaria. Mesmo que tranquilos e certos do nosso caminho, ainda assim estamos “perdendo” algo.

 

Por isso é que nem sempre, ou quase nunca, é fácil se decidir. Temos que escolher uma rota e abrir mão de todas as outras possíveis. Esperar que o caminho que tomamos tenha menos obstáculos que aquele que não escolhemos, ou que seja aquele que nos leva aonde realmente queremos chegar.

 

Mas também devemos saber, e entender, que quase nada na vida é definitivo. Que sempre podemos repensar e reajustar o rumo, refazer caminhos, rever pessoas, corrigir. Virtualmente nenhuma opção que fazemos não pode ser alterada ou modificada.  

 

Levei tempo para aprender/entender isso.

 

E hoje em dia tento ensinar isso para os que estão à minha volta.


Até.