segunda-feira, março 24, 2025

Finitude

Tenho pensado na finitude.

 

Pode ser a proximidade com o meu aniversário, ou motivado por eventos recentes em que conhecidos de mesma idade, ou até mais jovens que eu, morreram subitamente, mas a noção de que tudo terá um fim em algum momento e que – na maior parte das vezes - não conseguimos prever o quando, tem, sim, me deixado mais reflexivo. Não é um pensamento novo, esse da finitude e mortalidade, afinal passei por esse tipo de experiência (quase morrer) bem jovem, aos dezoitos anos.

 

O que sempre me faz pensar em como tenho vivido.

 

Se as escolhas que faço no meu dia a dia estão alinhadas com o que quero para minha vida, com os meus objetivos de longo prazo. Se tenho vivido o presente de verdade, sem estar preso ao passado ou a espera de um possível futuro. Se tenho feito esse balanço, entre o viver e o me cuidar, que não são opostos, aprendi há um tempo.

 

Se tenho dito para as pessoas importantes para mim que elas são importantes para mim. Se tenho estado presente enquanto estou com elas, não perdido olhando para o celular. Se tenho dado atenção às pessoas que merecem minha atenção, pois hoje em dia dar atenção é a maior prova de amor.

 

Se cuido de mim, de minha saúde e de meus pensamentos, porque cuidar de mim é também uma prova de amor às pessoas que são importantes para mim, assim como cuidar delas, estar disponível quando precisarem de mim. Se tenho sido tolerante com quem merece minha tolerância. Se tenho sido amigo, como deveria.

 

Como um veleiro no mar, de tempos em tempos ajusto às velas conforme as variações do vento, sempre com o pensamento em onde e com quem quero chegar.

 

Até.

domingo, março 23, 2025

A Sopa

Domingo de manhã.

 

Por volta de sete horas, abro os olhos. A claridade da rua invade o quarto vencendo o obstáculo propositalmente criado pela cortina. Olho o teto, e o peso do meu corpo parece infinitas vezes maior que do realmente é. Sinto dificuldade em me movimentar. Tudo está mais pesado.

 

As meninas dormem. Com esforço, alcanço o celular e, após olhar a hora, vejo o quanto dormi: mais de sete horas. Foi uma boa noite de sono, e o dia já pode começar. Desde que consiga me mexer, claro. Vai ser agora ou nunca. Conto cinco, quatro, três, dois, um e saio da cama. A sensação de que um caminhão passou por cima de mim durante a noite é forte.

 

Primeira vitória do dia.

 

Enquanto tomo um rápido café e como uma fruta e um pão integral, leio o jornal de ontem com notícias de anteontem. Vamos para o segundo desafio do dia: troco de roupa, preparo uma garrafa com água, reúno meu ‘equipamento’, e rumo à garagem de casa. Ao fechar a porta de casa atrás de mim, segunda vitória.

 

Desço até a garagem, pego a bicicleta, e subo a rampa do estacionamento para a rua já pedalando. Paro, ajeito o fone de ouvido e estabeleço a trilha sonora da manhã (Innervisions, do Steve Wonder), aciono o aplicativo de exercício do meu relógio, e saio pedalando pela André Puente, entro à direita na Ramiro Barcelos e à direita novamente na Av. Independência em direção centro. Pedalo de leve, sem forçar muito. Passo em frente ao local onde ficava o antigo Teatro da OSPA, onde caí há um ano e cinco meses, quando quebrei o braço, e sigo até a Garibaldi, onde rumo em direção à Av. Farrapos. Terceira vitória.

 

Dali, passo pela rodoviária, e sigo pela Av. Mauá até próximo ao Mercado Público, onde o trânsito está interrompido por uma corrida de rua. Desvio para o Centro, e de lá até a Usina do Gasômetro e a Orla, com grande movimento mesmo ainda antes das nove horas da manhã.

 

O objetivo do dia, vinte quilômetros, é alcançado setecentos metros antes de chegar em casa. Dever cumprido. Cansado, dolorido.

 

Quarta vitória.

 

E assim é que tem que ser.

 

De pequena vitória em pequena vitória, o objetivo de melhora do preparo físico e manutenção da saúde vão sendo alcançados, lentamente.


Até. 

sábado, março 22, 2025

Sábado (e é Outono)

Pelas ruas de Porto Alegre
 


Não são apenas folhas que caem no Outono em Porto Alegre...

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, março 21, 2025

Zoltar e os Pequenos Momentos da Vida

Confesso.

 

Como vocês notaram, esse é – antes de mais nada – um espaço de reflexão minha e um tipo de confessionário. Uso a sua atenção, prezado leitor, para muitas vezes lidar com minhas angústias e ansiedades. Me utilizo dos potenciais leitores para dividir algumas de minhas preocupações, mas também meus encantamentos com a vida, e com o mundo.

 

Então, como em um daqueles filmes em que – por mágica, após um pedido feito para Zoltar, mesma máquina de fliperama de ‘Quero Ser Grande’, com o Tom Hanks, e que encontrei (a máquina) há anos em uma galeria em Banff, no Canadá – uma criança aparece no corpo de um adulto, com todas as implicações disso, eu me vejo volta e meia surpreso com o mundo. Ontem aconteceu, por exemplo, em um supermercado.

 

Nada mais banal, corriqueiro e sem importância do que fazer compras no supermercado e eu lá, pai de família, mais de cinquenta anos de idade, parado, entre surpreso e feliz, pensando com meus botões, ‘veja só, que legal eu estar aqui’. Sou assim, também. Fico feliz com pequenas coisas. 

 

Ou, quando estou paz comigo, ressignifico esses momentos de maneiras diferentes. Preciso de pouco para estar feliz, em paz.

 

Mas quero muito.

 

Até.

quinta-feira, março 20, 2025

Vinte de Março

Outono no Sul do mundo.

 

Começou, hoje mais cedo, o outono do hemisfério sul, e agora as temperaturas devem se tornar mais amenas com o passar dos dias, enquanto esses se tornam mais curtos e as noites mais longas. As cores do outono começam a aparecer.

 

Não é como no Canadá, claro, onde a mudança de estação do verão para o outono é marcada pelo espetáculo da mudança de cor e posterior quedas das folhas, antecipando o longo, cinza e frio inverno, do qual lembro muito bem, apesar de passados vinte anos desde que morei lá. Aqui essa transição é mais sutil boa parte das vezes, nem sempre tão marcada, mas ainda assim bela.

 

Os dias claros, a luz dourada do sol ameno, que ainda aquece enquanto ilumina, o verde que vai se transformando em outras cores indicando a lenta mudança para o inverno, estação do recolhimento, da introspecção e dos pensamentos profundos. Quanto mais marcada a transição das estações, maior a conscientização da (inevitável) passagem do tempo.

 

Há quase três anos, quando completei cinquenta anos, meu pai ainda estava por aqui, e a vida aparentemente não era muito diferente do que é hoje, mesmo que muito tenha mudado desde então. O que é uma história que todos vivemos, de uma maneira o outra. Nunca perco de vista a noção de que minha história é – no geral – igual a de muitos outros, apesar de ser única.

 

E procuro fazê-la valer à pena todos os dias.


Até.   

quarta-feira, março 19, 2025

As Dores do (Meu) Mundo

Já tenho por verdade indiscutível que no dia em que eu acordar sem nenhuma dor será sinal de que morri. Ou de que (ainda) não trocamos o colchão que já deveria ter sido trocado... Simples assim. 

 

Não exatamente, claro.

 

Não acordo SEMPRE com dores pelo corpo. Mas recentemente tenho sido alvo de dor lombar e no ombro esquerdo com mais frequência que gostaria. A gravidade tem sido mais intensa nas manhãs de dias úteis, e tem sido mais difícil iniciar o dia. Por outro lado, nas manhãs dos finais de semana, quando seria o momento de “recuperar” o déficit de sono (que, na verdade, não existe) eu acabo acordando cedo e com muita disposição.

 

Vai saber.

 

Sigo, então, com meu propósito de me manter fisicamente ativo, o que já faço com boa regularidade há quase seis anos consecutivos, entre musculação, bicicleta, caminhadas e corridas. Há cerca de um ano, contudo, não consigo mais acordar às seis da manhã para ir para academia, então tive que reorganizar meus horários para encaixar essa atividade na rotina.

 

Com ou sem dor, o importante é me manter ativo.

 

Disso eu não abro mão.


Até. 

terça-feira, março 18, 2025

Tenho pressa?

O quanto corremos.


Lembro de um dia, há vinte anos, em que – saindo de uma livraria - parei para atravessar uma rua sem movimento, sem carros vindo, mas que o sinal para pedestres estava fechado (para mim, que era jovem) e aguardei para atravessar na faixa de segurança apenas quando o sinal permitisse. Calma e tranquilamente.

 

Foi quando percebi que o tempo andava mais devagar, e eu observava as pessoas que passavam, cada uma preocupada com sua vida, com seus problemas. Atravessar a rua no momento adequado, lentamente, observando também a paisagem à minha volta, eu como parte do todo, no (meu) ritmo do Universo.

 

Era 2005, e eu estava em Toronto.

 

Caminhava pela Bloor Street W, e saía de uma livraria que ficava em um antigo teatro e que hoje é uma farmácia, e eu estava morando lá durante o meu pós-doutorado. Morava não longe dali, bem próximo ao High Park. Aquela era uma região em que eu costumava caminhar quando o tempo estava agradável. 

 

Estava lá apenas para estudar e trabalhar, não fazia plantões, e o horário de trabalho era civilizado. Tinha, então, tempo para – além de cumprir meus deveres profissionais - observar o tempo passar, olhar o mundo com calma. Auxiliava o fato de eu me deslocar de bonde, metrô e, muito, a pé. 

 

Vinte anos depois, penso em qual velocidade vivo a vida atualmente, em meio às muitas atividades. Houve um momento, há alguns anos, em que trabalhava – remunerado ou em atividades associativas – em mais de cinco lugares diferentes, sem falar no período em que viajava semanalmente para dar aulas, na Universidade e para a indústria farmacêutica. Não via a semana passar, não via a vida passar, confesso.

 

Sigo com atividades múltiplas.

 

Diferente de quando corria sem pensar, em busca de um objetivo que não era muito claro, hoje corro com propósito. Sei o que estou fazendo, para onde quero ir, e – sim – tenho conseguido olhar e apreciar a paisagem, curtir o caminho.

 

Até.

segunda-feira, março 17, 2025

Vital

Ontem, domingo, fomos no Theatro São Pedro ao ‘Vital – O Musical dos Paralamas’ às 18h, mesmo tempo em que encerrava o GRENAL que sagrou o Inter como campeão gaúcho de 2025. Por um descuido meu, havíamos comprado os ingressos para o dia da final. Paciência.

 

Valeu à pena.

 

Apesar de eu não ser ‘louco por musicais’, como o são a Marina e a Jacque, eu também gosto, sim. Confesso que não sabia exatamente o que esperar de ‘Vital’, e foi uma ótima surpresa. Muito bom mesmo. Uma viagem no tempo, também.

 

A história bem contada, com as músicas encaixadas perfeitamente no roteiro, os momentos cômicos e os emocionantes, tudo estava perfeito. O ator que faz o Herbert Vianna impressiona pela semelhança e pelo tom de voz (ao fechar os olhos, não se tinha dúvida de que quem estava falando e cantando era o próprio.

 

O teatro lotado, o público cantando junto, só músicas conhecidas e boas. Uma catarse.

 

(e o Inter, lá fora do teatro, Campeão).

 

Que domingo, meus amigos!


Até. 

domingo, março 16, 2025

A Sopa

O nosso amor a gente inventa.

 

Quando eu estava no Canadá, há vinte anos, entre os meus escritos e projetos de escrita estava uma série de crônicas falando sobre relacionamentos meus antigos e as músicas que eu associava a essas relações. Acabei nunca escrevendo, e o tempo passou.

 

Essa associação entre música e momentos marcantes, em maior ou menor grau, da vida, é um dos temas que me interessam muito. A memória afetiva, assim como acontece com comidas ou determinados perfumes que nos remetem a determinada época ou situação vivida. A sopa que minha Vó fazia, e que a minha mãe faz e que me ensinou, por exemplo.

 

Quando pensei em escrever as histórias de relacionamentos antigos, o plano inicial eram três crônicas, inicialmente. A primeira, em uma música, contaria – sem citar nomes – a história. A segunda, em duas canções. E a terceira, finalmente, em três. Não sei quantas seriam, mas a o encerramento seria sobre a Jacque, e ‘todas as canções’, ou a canção definitiva. Mas, como eu, disse, não foi adiante a ideia de escrever.

 

Então...

 

Uma das histórias seria toda ela com músicas do Cazuza. Começaria com ‘Faz Parte do Meu Show’, tocada em uma televisão em um bar no litoral norte do RS em uma noite de inverno, teria o seu primeiro final com ‘Obrigado (Por ter se mandado)’, e após um curto retorno teria seu final definitivo com ‘O Nosso Amor a Gente Inventa (Estória Romântica)’. Uma história em três atos, ocorrida há quase quarenta anos.

 

Sempre gostei muito dessa música, que diz que ‘o teu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer’, e, também, ‘te ver não é mais tão bacana, quanto a semana passada’. Como o subtítulo diz, conta uma estória romântica. E o poder que ela tem de me transportar ao passado, olhar para trás e ver o caminho que percorri até aqui e a pessoa que me tornei,  torna ela ainda mais especial. E, de tempos em tempos,  passo alguns dias a ouvindo e/ou tocando.

 

Por isso foi mais um momento especial ter cantado ela junto com o Thiago, meu sócio na School of Rock, na última quinta-feira, quando fomos os responsáveis pelo ‘Ora Felice’, o happy hour do restaurante Peppo Cucina.

 

A vida vai bem, obrigado.


Até. 

sábado, março 15, 2025

Sábado (e eu DJ)

Ora Felice, no Peppo Cucina
 

Registro da última quinta-feira, em que o Thiago e eu fomos responsáveis pelo som da Ora Felice, happy hour do Peppo Cucina, em Porto Alegre.

Foi divertido.

Bom sábado a todos. 

Até. 

sexta-feira, março 14, 2025

Fraude

Eu sou uma fraude, um impostor.

 

Não, não sou.

 

Quando, ao longo de minha trajetória, eu pensava isso, que eu estava enganando as pessoas e elas em breve descobririam que eu não sabia o que estava fazendo, eu estava apenas manifestando sintomas da Síndrome do Impostor, da qual já falei muitas vezes. E eu estava enganado.

 

Ninguém consegue enganar tanta gente por tanto tempo. Trinta anos de profissão mostram que eu não era uma enganação. Tinha, isso sim, assim como tenho até hoje – felizmente – muito o que aprender, e isso é o que é legal na vida. Estar – proposital e conscientemente – sempre aprendendo é sensacional.

 

Dizia que ninguém engana tanta gente por tanto tempo, e você pode estar pensando em alguns políticos brasileiros que estão até hoje por aí, apesar de dizerem o que dizem e fazerem o que fazem. Independente de serem esquerda ou direita. Mas aí não estão enganando ninguém: quem os apoia é cúmplice. Simples assim.

 

Quando, então, ocorre (episódios raros hoje em dia) de subitamente ser acometido por essa sensação de ser um impostor, a primeira coisa que me condicionei a pensar é exatamente isso: “ninguém engana tanta gente tanto tempo”. O que é tranquilizador.

 

Assim posso transitar pelos vários ambientes em que transito em paz.


Até. 

quinta-feira, março 13, 2025

Fora do Armário

Escrevo regularmente, contos e crônicas, em maior ou menor frequência, há mais de vinte anos, com toda certeza. Então, me considero um escritor (um contador de histórias) há, no mínimo, esse tempo. Só fui me assumir publicamente, dizer para as pessoas em geral, que eu era um escritor, somente quando foi publicado o meu primeiro livro de crônicas.

 

Eu me sabia escritor, mas não havia assumido publicamente antes da materialidade, antes de ter em mãos o produto físico do meu trabalho, mesmo que publicasse online há esse tempo todo. Só “saí do armário” quando tinha algo a mostrar (o livro, no caso).

 

Parece que necessitava de validação externa.

 

O que não seria uma novidade em minha vida, admito. E recorro ao assunto da influência da opinião alheia da vida das pessoas (no caso, a minha), que é algo que venho tentando (e lentamente conseguindo) superar.

 

Lembrei disso quando fui escrever o press release para o evento de hoje no Peppo Cucina, o Ora Felice, em que o Thiago Vitola (meu sócio na School of Rock Benjamin) e eu vamos fazer, colocando som e – talvez – tocando algo. Vai ser bem legal, aliás. Todos convidados.

 

Me defini, ao escrever, como médico, escritor, empreendedor e músico amador, que é o que sou, ou me considero. Recebi, por mensagem, uma corneta positiva: eu deveria dizer que sou ‘músico’, não ‘músico amador’. 

 

Pois é.

 

Não sei, na verdade. Sou um aprendiz, ainda e sempre, não sou músico profissional, certamente, e sei que tenho muito o que aprender e praticar. Estou tranquilo com isso. E satisfeito. 

 

O próximo passo da evolução é, passar de 'músico amador', para ‘músico (amador)’. Só depois de um tempo sinto que poderei retirar o que está entre parênteses.


Com calma, sem pressa.


Se é que vai acontecer algum dia.


Não importa.


Até. 

quarta-feira, março 12, 2025

O Meus Erros

Sempre digo que – se pudesse voltar ao passado e refazer caminhos – eu faria tudo o que fiz da forma que fiz por medo de, caso mudasse algo, não estar onde estou hoje. Não estaria disposto, nessa improvável viagem no tempo, a correr o risco de, alterando o passado, viver em um presente diferente do que vivo. Que é, óbvio, resultado de minhas escolhas, ações e até, por que não, de minhas omissões.

 

Porque, sim, errei muitas vezes e – vergonha – me omiti em algumas situações em que não gostaria de, olhando retrospectivamente, ter silenciado. Sinto que já decepcionei pessoas que não queria decepcionar, e - às vezes - esse pensamento e essa frustração ressurgem em meus pensamentos.

 

Faz parte, eu sei.

 

Somos resultado de tudo isso, e mesmo os erros que cometemos servem para nos mostrar o que é certo, o que é errado, o que queremos para nós e o que não queremos. Servem para depurar a vida, desde que aprendamos com eles. Por isso tenho por costume, digamos assim, voltar a esses momentos e avaliar o que poderia ter sido feito, ou dito, de forma diferente (em sua maior parte, é involuntário, não consigo evitar). 

 

Falar (escrever) sobre isso é terapêutico para mim.


Até. 

terça-feira, março 11, 2025

Realidade Paralela

Cada vez mais tenho a noção de que as pessoas vivem em suas próprias realidades paralelas, em seus mundinhos, em suas – vamos lá – bolhas. Algumas vezes essa realidade em que vivem se choca com o mundo real e nós, quando testemunhamos esses eventos, ficamos surpresos, embasbacados, pode-se dizer.

 

Você pode argumentar que eu falo isso de dentro da minha própria realidade, do meu mundinho, e terá razão ao dizer isso. Não podemos deixar de interpretar o mundo a partir do que vivemos no momento e, também, de nossas experiências prévias. Porém, não deveríamos ficar cegos à possibilidade de interpretações diferentes de acontecimentos que avaliamos de determinada maneira, que vimos de um jeito.

 

Não podemos, então, deixar de reconhecer ou, ao menos, considerar outros pontos de vista sobre os fatos, mesmo – e principalmente – que questionem nossas crenças. É saudável. O pensamento crítico, e o estar aberto a ouvir de verdade, são pontos fundamentais para o crescimento. 

 

O que não quer dizer aceitar qualquer coisa que dizem como verdade. Devemos ser críticos com relação a opiniões tendenciosas e enviesadas.

 

Falo de futebol, claro.


Até. 

segunda-feira, março 10, 2025

Segunda-feira, Março

O trânsito de Porto Alegre voltou ao normal, passado o período de verão, a volta às aulas e o carnaval. O tempo de deslocamento aumentou entre os lugares, e voltou a ter um efeito terapêutico, ao menos para mim.

 

Explico.

 

Transitar por Porto Alegre é também uma constante provação. A cada dia, devo (devemos) exercitar a humildade, reconhecer que somos uma pequena, quase ínfima, parte do todo, de um plano maior, e que nem tudo ou, mais especificamente, virtualmente nada é pessoal, é sobre mim (nós). Entender isso torna as coisas mais leves.

 

As pessoas não estão agindo da forma que agem porque estão contra mim (contra nós). Elas fazem justamente porque estão pensando EXCLUSIVAMENTE nelas, sem se importar com a vida em sociedade, com a civilidade. Cabe a mim (a nós) entender isso, e não me (nos) estressar por isso. Por isso, o meu atual mantra no trânsito é “Não é sobre mim”.

 

Dessa forma, não fico ansioso ou com raiva.

 

Mesmo que quem esteja circulando por aí seja um tremendo FILHO DA PUTA, egoísta e barbeiro. Me cuido, sou gentil, não dou bola, como eu disse.

 

Não é sobre mim.

 

Até.

domingo, março 09, 2025

A Sopa

Chove desde a madrugada em Porto Alegre.

 

A temperatura caiu, e está agradável deixar a janela aberta para que o calor de dentro da casa diminua. Depois de tantos dias de sol e calor intenso, o cinza do céu e as calçadas molhadas são como uma benção.

 

Passado os meses de verão, janeiro e fevereiro, e o carnaval, que esse ano invadiu março, aqui no Sul do mundo tudo volta à velocidade habitual, e projetos e planos devem destravar a partir de agora. “Descansamos” no verão para isso.

 

Por aqui, no meu canto do mundo, olho para a rua, vejo a chuva cair e, enquanto escrevo essa Sopa de domingo à tarde, planejo a semana que virá, já cheia de compromissos, e – ainda sob efeito da passagem dos trinta anos que estamos juntos, a Jacque e eu – penso no que passei, no que passamos. Penso nos amigos que ficaram pelo caminho, naqueles que sempre estiveram e estarão por perto, e em como são importantes para mim, para eu entender quem sou.

 

Penso nas viagens que fizemos, e nas que ainda vamos fazer. Penso nos churrascos prometidos, naqueles que (ainda) não conseguimos organizar. Não deve ser complicado, e nem difícil.

 

Tenho que fazer umas ligações.

 

Até.

sábado, março 08, 2025

Sábado (e lá se vão 30 anos)

Oito de março de 1995
 

Trinta anos e muitas histórias depois, 
continuamos juntos e felizes.

Bom final de semana a todos.

Até.

sexta-feira, março 07, 2025

Antes de dormir

Ontem tive uma crise de pânico.

 

Não, não tive. 

 

Mas poderia ter tido, e estaria tudo certo. Aconteceu de, ao ir dormir, após o momento de leitura que melhora a qualidade do meu sono, ao apagar a luz, entrei em uma espiral de pensamentos – talvez até influenciado pelo livro que estou lendo, ‘Uma Breve História do Cristianismo’- que me levaram a pensar na morte.

 

Começou pela lembrança de que há exatos trinta anos era colocada uma pá de cal em um relacionamento com uma menina que durara pouco mais de sete meses, havia sido interrompido por um mês e meio e ocorrera uma tentativa de volta em pleno carnaval (?!) que não dera certo. Era segunda-feira e conversamos, e vimos que não tinha volta, não fazia sentido. 

 

Decidi, então, que meu momento seria de apenas dedicação ao trabalho, à profissão de médico que estava em seu início, começando o terceiro mês de residência. Um bom plano. Dois dias depois, em oito de março de mil novecentos e noventa e cinco, a Jacque e eu ficamos juntos pela primeira vez, e estamos até hoje, trinta anos depois. Trinta anos, que loucura.

 

Pensei nisso, em como passa o tempo, e pessoas já não estão mais entre nós, e temos saudades e as boas lembranças de quando estavam presentes. E inevitavelmente pensei que já percorri boa parte de minha vida, e que tenho menos tempo pela frente do que tenho de vida vivida, e que não sei o que virá depois. Ou mesmo se há um depois.

 

Pensei naquilo que é importante, afinal de contas, para mim. Em quem é importante, e que quero em minha vida.

 

E que tenho – sim – essa urgência de viver.


Até. 

quinta-feira, março 06, 2025

Acumuladores

Sou um acumulador.

 

Não consigo evitar esse comportamento, tenho que admitir, e sei que ele é prejudicial em muitos momentos. A minha dificuldade em me desfazer vem de longo tempo, mas pretendo começar a mudar essa realidade, e reconhecer o problema é o início da cura, eu espero. Eu acumulo, sim. Afetos.

 

E tenho dificuldade de me desfazer deles.

 

Ao longo do tempo, tive (temos) relações de diferentes tipos, amizades feitas no trabalho e baseadas apenas nesse ambiente, colegas de aula, desde a escola fundamental até o curso universitário e a pós-graduação, amigos de amigos, pais de amigos da filha, entre outras. Cada relação teve sua importância em algum momento da (minha) vida, em maior ou menor grau. E, fato natural, em algum momento elas podem mudar, no sentido de aproximação ou afastamento, ou ainda aproximação com posterior afastamento.

 

Tudo como parte da vida, afinal as pessoas mudam, seus interesses se tornam diferentes, a sintonia que tivemos pode não mais existir. Entendo isso de forma racional, obviamente, mas tenho dificuldades – muitas vezes – de aceitar isso com tranquilidade.

 

Mesmo sabendo que é o curso natural da vida, existem pessoas com as quais eu gostaria manter uma relação próxima, ou retomar uma proximidade perdida, mas que não é possível, até por ter passado o tempo e não fazer mais sentido. Sinto que às vezes eu forço, quando talvez não devesse ou não precisasse, até que percebo e me recolho, volto para o meu canto. Sim, sei que tenho que desapegar daquilo que não faz mais sentido.

 

E sempre lembro da letra de ‘Tendo a Lua’, dos Paralamas:

 

‘Eu hoje joguei tanta coisa fora

 Eu vi o meu passado passar por mim

Cartas e fotografias, gente que foi embora

 A casa fica bem melhor assim' 

 

Até.

quarta-feira, março 05, 2025

Somos Quem Podemos Ser

O que os outros pensam de mim (de nós)?

 

Durante um longo tempo de nossas vidas, nos moldamos para sermos aceitos e pertencermos a determinados grupos. Comportamento, modo de vestir, tudo com o objetivo de ser incluído, de ser parte. Comigo, ao menos, foi assim.

 

Sempre admirei, por outro lado, os – podemos dizer – outsiders, aqueles que eram eles mesmos sem máscaras, autênticos, aparentemente autoconfiantes a ponto de não se preocuparem demais em se adaptarem para serem aceitos. Que não se importavam com o que os outros estivessem pensando.

 

Nunca fui assim, porque a necessidade de fazer parte, e a preocupação com o que os outros pudessem vir a pensar de mim, sempre estiveram presentes. Foi bom, por um lado, e ruim, por outro, como tudo na vida. Cada vez menos, contudo, o que as pessoas vão pensar pesa em minhas decisões, até porque o que elas falam e pensam de mim diz mais a respeito delas do que de mim.

 

Sim, eu sei que esse é (mais) um dos assuntos recorrentes por aqui. Acontece que, à medida que penso no assunto, estimulado por leituras ou o que escuto em minhas andanças por aí, ele retorna à pauta, com maior ou menos frequência.


Somos quem podemos ser, no fim.


Até. 

terça-feira, março 04, 2025

Mais uma de Carnaval

Não sinto falta do carnaval, exceto como feriado...

 
Mas já tive, sim, o meu tempo de “folião”. O último baile (isso mesmo, baile) de carnaval que fomos, a Jacque e eu, e não contando os divertidos bailes de carnaval infantil da SOGIPA, em Porto Alegre, em que levamos a Marina junto com a turma da escola nos tempos do jardim de infância, foi há mais de vinte anos, na SAT (Sociedade de Amigos de Tramandaí), em Tramandaí, litoral do Rio Grande do Sul. Em grupo. Não um bloco, mas uma turma. E foi bem legal, ficamos no baile até as cinco horas da manhã e depois terminamos a noite comendo um xis no Pica-Pau Lanches, local que nem existe mais, assim como não existem mais os bailes de carnaval das sociedades de praia...


Ainda antes participei apenas de um bloco de carnaval nos tempos de folião assíduo. Foi o ‘Perversa’, em Imbé, no carnaval de rua na Av. Rio Grande, que hoje se chama Nilza Godoy.

 

Lá no início dos anos noventa, época em que Imbé era o centro da noite do litoral gaúcho, e a Av. Rio Grande era o centro da agitação com seus bares com música ao vivo, decidiram fazer um carnaval de rua que, na verdade, era em um terreno ao lado de um dos bares. Nós, como bloco, fomos para lá. 


No início, o pessoal ficava restrito ao terreno, enquanto carros passavam na avenida. Com o decorrer da noite, e num daqueles ‘trenzinhos’ característicos, que vai aumentando de tamanho à medida que vai passando e mais pessoas vão se juntando, começamos a atravessar a rua e a entrar em outros bares, chamando mais pessoas. E foi uma bola de neve, até que toda a rua foi invadida e carros não passavam mais. Nas noites seguintes e nos anos seguintes, a polícia antecipadamente bloqueava o espaço aos carros.


O evento aumentou em proporções com o passar dos anos, o que implicou – pelo fato de ser de rua e de livre acesso – na presença de grupos dispostos a “esculhambar” muito mais que brincar. Assaltos e brigas foram o último estágio antes de o Imbé perder o posto de centro da noite no litoral para Atlântida, que desde então tem a principal noite do litoral gaúcho. Mas, nessa última fase, já não passávamos o carnaval lá. Nesta fase, já tínhamos nos mudado para os bailes de carnaval da SAT (a mesma que fomos, o Pedro, a Zeca, Jacque e eu, há mais de vinte anos). 


Como costumo falar, sempre fui fã dos carnavais de antigamente, aqueles que não vivi. Os carnavais das marchinhas. Não essas festas de carnaval em que toca música eletrônica e – horror – funk. Sempre pensei que carnaval tem que ter música de carnaval, para o resto do ano temos as outras músicas, menos o funk, que nunca deveria ser ouvido. 

Falando em música, a música de hoje, novamente do Chico Buarque, é outra obra-prima da música popular brasileira, composta em 1966. 


Quem Te Viu, Quem Te Vê
(Chico Buarque)

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer 

 

Até. 

segunda-feira, março 03, 2025

Segunda-feira, carnaval

Pois é.

 

Enquanto passo o carnaval por aí, longe do que chamam de ‘folia’, lembro que já fui bem mais entusiasmado com relação a esse período. Uma fase, que foi divertida e teve seu momento, que – evidentemente – passou.

 

Mesmo durante esse tempo, os carnavais que tinham minha predileção eram os de um tempo em que não vivi, eram os carnavais do passado, das marchinhas e dos bailes de salão, muito bem representados em uma música que serviu, sim, de estopim para essa nostalgia.

 

‘Noite dos Mascarados’, do Chico Buarque, lançada em 1967, em dueto com a cantora Jane Moraes.


 

Noite Dos Mascarados

Quem é você?
Adivinha se gosta de mim
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim

Quem é você?, diga logo
Que eu quero saber o seu jogo
Que eu quero morrer no seu bloco
Que eu quero me arder no seu fogo

Eu sou ceresteiro, poeta e cantor
O meu tempo inteiro só penso no amor
Eu tenho um pandeiro
Só quero um violão
Eu nado em dinheiro
Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
Eu, modéstia à parte, nasci para sambar
Eu sou tão menina
Meu tempo passou
Eu sou Colombina
Eu sou Pierrot

Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
E você me quer
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for

Seja o que Deus quiser


Até. 

domingo, março 02, 2025

A Sopa

A Sopa

 

Domingo de carnaval.

 

Estamos longe de casa, mais ou menos isolados, próximos à natureza, em um lugar em que o calor não é um problema, com boa companhia, boa comida e longe de música ruim. Talvez eu fique por aqui.

 

Brincadeira, claro, assim como quando eu vou visitar alguns lugares, próximos ou distantes, e percebo que poderia viver naquele local. Existem alguns lugares, em especial, em que essa vontade é maior e muito intensa, mas isso é assunto para outro dia.

 

Aproveito, mesmo que involuntariamente, esses dias de descanso e retiro para refletir sobre a vida (ainda mais que o normal, devo dizer). Especificamente sobre as opções que fazemos e as consequências delas, lembrando que – algumas vezes – ficamos desapontados ao obter o resultado que procurávamos, aqueles pelos quais torcíamos. É um paradoxo, eu sei, mas é humano.

 

Temos que viver com as consequências de nossas escolhas, e não deveríamos delegar “a culpa” dos acontecimentos a ninguém. Somos os responsáveis pelo que nos acontece. Sei, e você sabe disso também.

 

É natural, e provavelmente comum, acontecer de nos sentirmos frustrados no momento que conseguimos o que imaginávamos querer. Porque tudo vem com um preço, tudo requer que algum tipo de sacrifício seja feito por nós. E a pergunta que nunca podemos deixar de nos fazer é: quando é que o preço a se pagar é alto demais? Onde colocamos o limite? Saber o quê queremos e do que abriremos mão para conseguir é fundamental.

 

Eu estou tranquilo com as opções que fiz e com os caminhos que tenho trilhado, mas não consigo evitar de – vez que outra – olhar para o lado, para a vida que optei por não mais viver (e que era boa também, mas não era exatamente o que eu queria) e pensar como estaria sendo. Apenas por uns momentos, contudo.

 

Porque estou onde queria estar.

 

Até.

sábado, março 01, 2025

Pense
 


Nesse carnaval, pense fora da caixa, mas não saia da casinha...

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

Laialaiá

Ninho vazio.

 

Depois de completar a leitura de ‘Cidade em Chamas’, como suas mil e quarenta páginas (sim, estou me exibindo), ontem foi um dia, como dizem, off. Não comecei nenhum livro novo, fiquei de bobeira entra uma série um pouco de rede social. Foi estranho, depois de quase quatro meses em que emendei um livro no outro. 

 

Ontem, então, tirei uma folga.

 

E confesso que me senti perdido, como se faltasse algo...

 

Mas hoje começa o carnaval, e – à tarde – farei algo que não faço há anos, que é pegar a estrada para o litoral norte em plena sexta-feira início de feriadão. Vou para a praia e volto logo depois, porque vou apenas para levar a Marina e amigas até lá. Eles ficarão, eu volto...

 

Sábado, então, pegamos a estrada, a Jacque e eu, em vamos para uma gincana: após uma hora e meia de viagem, vamos até o posto de gasolina que é o último ponto em que há sinal de Internet, avisamos que passaremos a ‘voar às cegas’. Alguns quilômetros após, entramos na estrada de chão à direita. Passamos pela aldeia dos índios, à direita novamente quando chegarmos a uma propriedade de universidade, seguimos, cruzamos a porteira de uma madeireira, passamos pelo cemitério, e – quando a estrada virar apenas uma trilha entre a mata fechada, é só seguir os postes de luz (ou as aranhas, não lembro bem...).

 

Se demorarmos muito neste trajeto, o resgate está pronto para vir em nossa direção. Vai dar certo.

 

Isolados do mundo, onde a música ruim não vai nos alcançar.

 

Até.

  

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Livros

Completei.

 

Quando retomei, depois de muito tempo, o hábito da leitura – literatura, e livros físicos – procurei estabelecer uma rotina de um mínimo de páginas lidas por dia. Deveria conseguir incluir ler livros entre as atividades do meu dia, aquelas úteis e as que me faziam perder tempo, como o tempo de tela, de redes sociais, minha atual preocupação. Para isso, dois pré-requisitos precisavam ser preenchidos: tinha que ser algo interessante, para me manter estimulado a continuar, e não poderia interferir com nada que fosse realmente importante.

 

O começo, como já contei aqui, foi impulsionado pelo projeto de clube de leitura que estávamos para lançar lá na School of Rock Benjamin POA, e que foi adiado por questões alheias à nossa vontade, mas não abandonado.  Os primeiros livros que li nessa retomada foram relacionados ao clube, os que seriam os primeiros livros que seriam discutidos: ‘Só Garotos’, da Patti Smith, ‘Alta Fidelidade’, do Nick Hornby, e ‘A Sonata a Kreutzer’, do Tolstói. Todos relacionados, de alguma forma, com a música. Os três entre novembro e dezembro. Li ainda, bem nos últimos momentos de 2024, ‘A Coragem de Ser Você Mesmo’, da Brené Brown.  

 

Empolgado com o ritmo de leitura que eu conseguira estabelecer, comecei o ano com ‘Nexus’, do Yuval Harari, de quem já havia lido ‘Sapiens’, ‘Homo Deus’ e ‘21 Lições para o Século 21’. Depois dele, o desafio real desse começo de ano, e que terminei ontem.

 

Cidade em Chamas, de Garth Hallberg.

 

Um livraço, em todos os sentidos. São 1040 (!!) páginas de uma história que te prende desde o início. Se passa em Nova York nos anos setenta, em uma fase complicada para a cidade e período do punk. E consegue te fazer sentir o espírito da cidade na época, a densidade ou não das relações, a falta de esperança do período pós-hippie.


Assim como quando li o ‘Só Garotos’, da Patti Smith, que se passa em parte nesse período, foi como se eu estivesse reencontrando personagens e de volta a um lugar onde estivera antes, como se tivesse vivido naquele tempo e convivido com aquelas pessoas. Uma estranha (e boa) familiaridade, como se eu tivesse voltado para casa, para um mundo em que pertenci, mesmo que uma impossibilidade temporal e geográfica.

 

Sei lá.

 

Até. 

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

O Conforto e a Bolha

Não fico confortável quando as pessoas criticam a ‘Zona de Conforto’. Fico incomodado, aliás, com todo tipo de afirmação referente a sair da zona de conforto para podermos evoluir, que ela significaria estagnação. 

 

O que é zona de conforto, afinal?

 

Zona de conforto seria um estado psicológico em que uma pessoa se sente segura, à vontade e em controle de seu ambiente. É um lugar onde não haveria medo, ansiedade ou risco. Por isso, poderia limitar o crescimento pessoal e profissional, impedir que pessoas explorem novas habilidades e oportunidades, que alcançassem seu pleno potencial. Mais, seriam sinais de que se está na zona de conforto a pessoa ser “insegura, estagnada, ser procrastinadora, não conversar com estranhos” (?). E, a partir desses conceitos, coachs dão diferentes dicas e orientações de como sair dessa zona de conforto e progredir, evoluir.

 

Bullshit.

 

Não poderiam estar mais errados.

 

Volto a dizer, a Zona de Conforto é uma coisa boa. Como o nome diz – e sei que já falei isso – é confortável. No inverno, é quentinha e, no verão, refrescante. Somos felizes na zona de conforto. Por que, então, querer sair dela por qualquer razão? Não faz sentido para mim.

 

Entendo, contudo, o risco de estagnação que o conceito tem embutido em si. Se está bom dormir, por que sair da cama? Como, então, lidar com esses conceitos aparentemente contraditórios? Evoluir sem sair da Zona de Conforto. É possível?

 

Sim.

 

Vejo a Zona de Conforto como uma bolha em que estamos e nos sentimos bem, estamos tranquilos. Nada a ver (será?) com o conceito de viver em uma bolha em que todos concordam contigo, em que o mundo valida suas opiniões. Eu vejo como uma bolha pensando em um espaço delimitado, com limites. E evoluímos, sim, evoluímos, expandindo os limites de nossa bolha. 

 

Essa bolha (a nossa zona de conforto) deve crescer, ampliar suas dimensões. Sim, significa correr riscos e alguma ansiedade, mas estarmos preparados para isso. Não sairíamos da zona de conforto, apenas expandiríamos suas fronteiras.

 

Esse é um conceito que me agrada.


Até. 

terça-feira, fevereiro 25, 2025

Nas Ruas

Porto Alegre voltou ao normal.

 

Depois do período de férias escolares de verão, desde a semana passada, e em muito maior intensidade desde ontem, tudo voltou ao seu habitual na capital do Rio Grande do Sul. E voltamos a necessitar exercitar nossa tolerância e paciência.

 

Falo, evidentemente, do trânsito.

 

Além do expressivo aumento de carros circulando pela cidade, principalmente no início da manhã e final da tarde, parece que os imprudentes e os imperitos estão de volta às ruas da cidade. Sei que eles nunca nos abandonaram, mas - com menor circulação de carros - eles até passavam despercebidos. Não mais. 

 

Estacionamento em locais não permitidos, mudanças de faixa onde não poderiam, conversões irregulares, paradas em fila dupla, tudo voltou às ruas de maneira bem intensa. Bem em frente a nós, sem nenhum pudor. Potencial irritante máximo.

 

Uns selvagens.

 

Vivo outra fase, contudo. 

 

Há um tempo, por prudência, concluí que era melhor ficar quieto e não reclamar ostensivamente sobre essas irregularidades testemunhadas, afinal não era minha função, mesmo que atrapalhem a vida em sociedade, no caso a circulação pelas ruas. Vai que eu reclamasse de alguém armado e me desse mal? Melhor ficar quieto.

 

Avancei um pouco mais quando – mesmo tendo sempre sabido desse fato – passei a mentalizar que nada disso “era sobre mim”, ou seja, não era pessoal. Não é minha função (ia ser legal se fosse) repreender ninguém sobre seu comportamento no trânsito.

 

Não posso fazer nada, além de cuidar do meu nariz.


Até.