Que me conhece, sabe.
Até já escrevi sobre isso, numa Sopa passada. Tenho a convicção de que temos que ter alguns… diria… princípios na vida. Definições que são estabelecidas e que servem para dar um certo sentido de estabilidade para o mundo. Conceitos que, perante situações-chave da vida, já se saiba de antemão que posição tomar. São elas que vão defini-lo perante o mundo. Por exemplo: melhor sobremesa do mundo? Sagu, digam o que disserem as outras pessoas, isso não vai mudar para mim.
O que não quer dizer que esses são conceitos imutáveis. Mas as mudanças que vão ocorrer nessas cláusulas pétreas de nossas vidas serão resultado da experiência, da observação. Mudamos com o passar do tempo, e mesmo algumas convicções que tínhamos vão se alterando à medida que conhecemos mais do mundo. Com a exceção do sagu, claro, que vai ser sempre a melhor sobremesa de todas.
Por que falar disso de novo, deve estar se perguntando algum leitor mais antigo deste semanário que agora é blog e diário. Falta de assunto?
Claro que não, tranquilizo você, aflito leitor.
É que, além desses princípios fundamentais servirem para nos definir e auxiliar em situações de definição (como, por exemplo, quando numa encruzilhada e sem termos a menor idéia de qual caminho a seguir, eu sempre opto pelo caminho da esquerda, mas sem conotações políticas), e servirem para nos situar no mundo, eles também funcionam num plano mais local, mais básico, para no situar onde vivemos, a cidade e algumas vezes o bairro.
Eu, por exemplo, já tenho o meu pub preferido em Toronto.
#
Momento propaganda de sabão em pó.
Estava eu, domingo de manhã, na lavandaria do prédio, recolhendo a roupa que tinha terminado de lavar e colocando na secadora, e junto havia duas pessoas, um homem e uma mulher nas mesmas atividades. Quando a moça olha para esse rapaz e pergunta: “Nossa, como sua camisa está branca! Não consigo deixar minhas roupas brancas assim!”. Ele responde: “É que uso ________ (não lembro o nome do produto). Use na hora de lavar, mas se a roupa estiver ‘encardida’ deixe de molho no produto na véspera que fica como novo”.
Tive que entrar na conversa para descobrir que produto era esse.
Agora é definitivo: virei uma dona de casa.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
domingo, julho 31, 2005
sábado, julho 30, 2005
Uma definição de felicidade
by Stephen Kanitz
Todas as profissões têm sua visão do que é felicidade. Já li um economista defini-la como ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos. Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego. Autores de livros de auto-ajuda definem felicidade como "estar bem consigo mesmo", "fazer o que se gosta" ou "ter coragem de sonhar alto". O conceito de felicidade que uso em meu dia-a-dia é difícil de explicar num artigo curto. Eu o aprendi nos livros de Edward De Bono, Mihaly Csikszentmihalyi e de outros nessa linha. A idéia é mais ou menos esta: todos nós temos desejos, ambições e desafios que podem ser definidos como o mundo que você quer abraçar. Ser rico, ser famoso, acabar com a miséria do mundo, casar-se com um príncipe encantado, jogar futebol, e assim por diante. Até aí, tudo bem. Imagine seus desejos como um balão inflável e que você está dentro dele. Você sempre poderá ser mais ou menos ambicioso inflando ou desinflando esse balão enorme que será seu mundo possível. É o mundo que você ainda não sabe dominar. Agora imagine um outro balão inflável dentro do seu mundo possível, e portanto bem menor, que representa a sua base. É o mundo que você já domina, que maneja de olhos fechados, graças aos seus conhecimentos, seu QI emocional e sua experiência. Felicidade nessa analogia seria a distância entre esses dois balões – o balão que você pretende dominar e o que você domina. Se a distância entre os dois for excessiva, você ficará frustrado, ansioso, mal-humorado e estressado. Se a distância for mínima, você ficará tranqüilo, calmo, mas logo entediado e sem espaço para crescer. Ser feliz é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter.
O primeiro passo é definir corretamente o tamanho de seu sonho, o tamanho de sua ambição. Essa história de que tudo é possível se você somente almejar alto é pura balela. Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas. Querer ser presidente da República é um sonho que você pode almejar quando virar governador ou senador, mas não no início de carreira. O segundo passo é saber exatamente seu nível de competências, sem arrogância nem enganos, tão comuns entre os intelectuais. O terceiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois mundos. Saber administrar a distância entre seus desejos e suas competências é o grande segredo da vida. Escolha uma distância nem exagerada demais nem tacanha demais. Se sua ambição não for acompanhada da devida competência, você se frustrará. Esse é o erro de todos os jovens idealistas que querem mudar o mundo com o que aprenderam no primeiro ano de faculdade. Curiosamente, à medida que a distância entre seus sonhos e suas competências diminui pelo seu próprio sucesso, surge frustração, e não felicidade.
Quantos gerentes depois de promovidos sofrem da famosa "fossa do bem-sucedido", tão conhecida por administradores de recursos humanos? Quantos executivos bem-sucedidos são infelizes justamente porque "chegaram lá"? Pessoas pouco ambiciosas que procuram um emprego garantido logo ficam entediadas, estacionadas, frustradas e não terão a prometida felicidade. Essa definição explica por que a felicidade é tão efêmera. Ela é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada. Fazer nada no paraíso não traz felicidade, apesar de ser o sonho de tantos brasileiros. Felicidade é uma desconfortável tensão entre suas ambições e competências. Se você estiver estressado, tente primeiro esvaziar seu balão de ambições para algo mais realista. Delegue, abra mão de algumas atribuições, diga não. Ou então encha mais seu balão de competências estudando, observando e aprendendo com os outros, todos os dias. Os velhos acham que é um fracasso abrir mão do espaço conquistado. Por isso, recusam ceder poder ou atribuições e acabam infelizes. Reduzir suas ambições à medida que você envelhece não é nenhuma derrota pessoal. Felicidade não é um estado alcançável, um nirvana, mas uma dinâmica contínua. É chegar lá, e não estar lá como muitos erroneamente pensam. Seja ambicioso dentro dos limites, estude e observe sempre, amplie seus sonhos quando puder, reduza suas ambições quando as circunstâncias exigirem. Mantenha sempre uma meta a alcançar em todas as etapas da vida e você será muito feliz.
(Publicado na revista Veja de 22/06/2005)
Todas as profissões têm sua visão do que é felicidade. Já li um economista defini-la como ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos. Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego. Autores de livros de auto-ajuda definem felicidade como "estar bem consigo mesmo", "fazer o que se gosta" ou "ter coragem de sonhar alto". O conceito de felicidade que uso em meu dia-a-dia é difícil de explicar num artigo curto. Eu o aprendi nos livros de Edward De Bono, Mihaly Csikszentmihalyi e de outros nessa linha. A idéia é mais ou menos esta: todos nós temos desejos, ambições e desafios que podem ser definidos como o mundo que você quer abraçar. Ser rico, ser famoso, acabar com a miséria do mundo, casar-se com um príncipe encantado, jogar futebol, e assim por diante. Até aí, tudo bem. Imagine seus desejos como um balão inflável e que você está dentro dele. Você sempre poderá ser mais ou menos ambicioso inflando ou desinflando esse balão enorme que será seu mundo possível. É o mundo que você ainda não sabe dominar. Agora imagine um outro balão inflável dentro do seu mundo possível, e portanto bem menor, que representa a sua base. É o mundo que você já domina, que maneja de olhos fechados, graças aos seus conhecimentos, seu QI emocional e sua experiência. Felicidade nessa analogia seria a distância entre esses dois balões – o balão que você pretende dominar e o que você domina. Se a distância entre os dois for excessiva, você ficará frustrado, ansioso, mal-humorado e estressado. Se a distância for mínima, você ficará tranqüilo, calmo, mas logo entediado e sem espaço para crescer. Ser feliz é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter.
O primeiro passo é definir corretamente o tamanho de seu sonho, o tamanho de sua ambição. Essa história de que tudo é possível se você somente almejar alto é pura balela. Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas. Querer ser presidente da República é um sonho que você pode almejar quando virar governador ou senador, mas não no início de carreira. O segundo passo é saber exatamente seu nível de competências, sem arrogância nem enganos, tão comuns entre os intelectuais. O terceiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois mundos. Saber administrar a distância entre seus desejos e suas competências é o grande segredo da vida. Escolha uma distância nem exagerada demais nem tacanha demais. Se sua ambição não for acompanhada da devida competência, você se frustrará. Esse é o erro de todos os jovens idealistas que querem mudar o mundo com o que aprenderam no primeiro ano de faculdade. Curiosamente, à medida que a distância entre seus sonhos e suas competências diminui pelo seu próprio sucesso, surge frustração, e não felicidade.
Quantos gerentes depois de promovidos sofrem da famosa "fossa do bem-sucedido", tão conhecida por administradores de recursos humanos? Quantos executivos bem-sucedidos são infelizes justamente porque "chegaram lá"? Pessoas pouco ambiciosas que procuram um emprego garantido logo ficam entediadas, estacionadas, frustradas e não terão a prometida felicidade. Essa definição explica por que a felicidade é tão efêmera. Ela é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada. Fazer nada no paraíso não traz felicidade, apesar de ser o sonho de tantos brasileiros. Felicidade é uma desconfortável tensão entre suas ambições e competências. Se você estiver estressado, tente primeiro esvaziar seu balão de ambições para algo mais realista. Delegue, abra mão de algumas atribuições, diga não. Ou então encha mais seu balão de competências estudando, observando e aprendendo com os outros, todos os dias. Os velhos acham que é um fracasso abrir mão do espaço conquistado. Por isso, recusam ceder poder ou atribuições e acabam infelizes. Reduzir suas ambições à medida que você envelhece não é nenhuma derrota pessoal. Felicidade não é um estado alcançável, um nirvana, mas uma dinâmica contínua. É chegar lá, e não estar lá como muitos erroneamente pensam. Seja ambicioso dentro dos limites, estude e observe sempre, amplie seus sonhos quando puder, reduza suas ambições quando as circunstâncias exigirem. Mantenha sempre uma meta a alcançar em todas as etapas da vida e você será muito feliz.
(Publicado na revista Veja de 22/06/2005)
sexta-feira, julho 29, 2005
Se eu fosse mulher
Em primeiro lugar, caro leitor do sexo masculino, eu não seria para o seu bico. Você não teria a menor chance. Melhor você pensar em outra coisa. Na campanha da Ponte Petra no Campeonato Brasileiro de Futebol da Série A, por exemplo.
Se eu fosse mulher, e estivesse grávida, certamente eu iria escolher ter o meu filho por parto normal. Só “aceitaria” me submeter a um parto cesário se houvesse algum risco para mim ou para o bebê (que seria informalmente conhecido por “girino”, mas isso não vem ao caso).
Por que desse papo? Porque me envolvi numa discussão pela internet por causa do assunto. Explico.
Ainda antes de vir para Toronto, enquanto pesquisava sobre a cidade, aspectos práticos da vida aqui, acabei conhecendo uma lista de discussão na internet chamada “ Canada Immigration”. Não era bem o meu caso, eu não seria um imigrante, no máximo um morador temporário, mas fui ler para conhecer. Li uma única vez, porque não era o que eu estava procurando. Como o nome dizia, era para novos ou futuros imigrantes aqui. Nunca mais entrei de novo.
Há pouco tempo, cerca de um mês, a Luh, criou e gerencia uma lista de discussão do nosso grupo de ‘blogueiros e simpatizantes’ aqui de Toronto. É uma lista de discussão do Yahoo, e quando me cadastrei, vi que eu ainda fazia parte da primeira lista, e fui dar uma nova conferida, como bom viciado em internet que sou. Primeiro tópico de discussão que me chama atenção: ‘parto no Canadá’.
Adivinhem se não entrei numa polêmica? Claro que sim, mas era inevitável. Primeiro porque falavam do sistema de saúde (como eu comentei há dois dias atrás aqui neste blog) e segundo porque discutiam assuntos relacionados a procedimento em si, o parto. Muita desinformação, claro, e o meu primeiro intuito sempre é dar uma versão de alguém que tem algum conhecimento do assunto, mesmo que não seja minha área específica.
Até que surgiu o papo de que aqui no Canadá os médicos não querem fazer cesariana, só o parto normal, e que este não teria analgesia, que isso era uma escolha da mulher, etc.
Escolha da mulher?
Não aguentei. Tive que falar. A alta frequência de cesarianas no Brasil é uma aberração brasileira, que até a Organização Mundial da Saúde considera errado. Pelas mais variadas razões. E vi jogarem a culpa exclusivamente nos médicos. Ops, vamos com calma. Existe, sim, parcela de culpa dos médicos, até concordo, mas conheço muita mulher que diz que não quer ter parto normal de jeito nenhum.
É cultural, alguém argumentou.
Apenas porque é uma prática corrente quer dizer que está certa? Quantos exemplos conhecemos de práticas de povos ou países ou religiões que, mesmo sendo culturais, sabemos ser erradas e combatemos. Até bem pouco tempo atrás, não mais que cem anos, meninas de menos de quinze anos casarem era normal. Isso hoje é estupro e pedofilia. Era certo e não é mais? Pois é.
A mensagem é que o parto cesário deve ser para os casos em que há risco para a mãe ou para a criança. Sempre que possível, parto normal. Ah, e é uma decisão médica, não da mãe. Sem falar que hoje em dia existem métodos de analgesia que funcionam muito bem.
Tá, agora para de pensar como eu seria se eu fosse mulher.
Até.
Se eu fosse mulher, e estivesse grávida, certamente eu iria escolher ter o meu filho por parto normal. Só “aceitaria” me submeter a um parto cesário se houvesse algum risco para mim ou para o bebê (que seria informalmente conhecido por “girino”, mas isso não vem ao caso).
Por que desse papo? Porque me envolvi numa discussão pela internet por causa do assunto. Explico.
Ainda antes de vir para Toronto, enquanto pesquisava sobre a cidade, aspectos práticos da vida aqui, acabei conhecendo uma lista de discussão na internet chamada “ Canada Immigration”. Não era bem o meu caso, eu não seria um imigrante, no máximo um morador temporário, mas fui ler para conhecer. Li uma única vez, porque não era o que eu estava procurando. Como o nome dizia, era para novos ou futuros imigrantes aqui. Nunca mais entrei de novo.
Há pouco tempo, cerca de um mês, a Luh, criou e gerencia uma lista de discussão do nosso grupo de ‘blogueiros e simpatizantes’ aqui de Toronto. É uma lista de discussão do Yahoo, e quando me cadastrei, vi que eu ainda fazia parte da primeira lista, e fui dar uma nova conferida, como bom viciado em internet que sou. Primeiro tópico de discussão que me chama atenção: ‘parto no Canadá’.
Adivinhem se não entrei numa polêmica? Claro que sim, mas era inevitável. Primeiro porque falavam do sistema de saúde (como eu comentei há dois dias atrás aqui neste blog) e segundo porque discutiam assuntos relacionados a procedimento em si, o parto. Muita desinformação, claro, e o meu primeiro intuito sempre é dar uma versão de alguém que tem algum conhecimento do assunto, mesmo que não seja minha área específica.
Até que surgiu o papo de que aqui no Canadá os médicos não querem fazer cesariana, só o parto normal, e que este não teria analgesia, que isso era uma escolha da mulher, etc.
Escolha da mulher?
Não aguentei. Tive que falar. A alta frequência de cesarianas no Brasil é uma aberração brasileira, que até a Organização Mundial da Saúde considera errado. Pelas mais variadas razões. E vi jogarem a culpa exclusivamente nos médicos. Ops, vamos com calma. Existe, sim, parcela de culpa dos médicos, até concordo, mas conheço muita mulher que diz que não quer ter parto normal de jeito nenhum.
É cultural, alguém argumentou.
Apenas porque é uma prática corrente quer dizer que está certa? Quantos exemplos conhecemos de práticas de povos ou países ou religiões que, mesmo sendo culturais, sabemos ser erradas e combatemos. Até bem pouco tempo atrás, não mais que cem anos, meninas de menos de quinze anos casarem era normal. Isso hoje é estupro e pedofilia. Era certo e não é mais? Pois é.
A mensagem é que o parto cesário deve ser para os casos em que há risco para a mãe ou para a criança. Sempre que possível, parto normal. Ah, e é uma decisão médica, não da mãe. Sem falar que hoje em dia existem métodos de analgesia que funcionam muito bem.
Tá, agora para de pensar como eu seria se eu fosse mulher.
Até.
quinta-feira, julho 28, 2005
O Mundo
Dias estranhos esses.
Torna-se complicado inclusive saber o que escrever nestas mal-traçadas linhas diárias a quem carinhosamente, como um pai-coruja, chamo de A Sopa no Exílio. Notícias pipocam de todos os lados, e cria-se um dilema: manter-me conectado à realidade, comentando fatos que acontecem no Brasil e no mundo, escrever sobre o meu próprio umbigo - meus pensamentos e reflexões sobre a vida e sobre meu “exílio” canadense – ou ainda sobre aspectos práticos da vida aqui no Canadá.
Tenho conseguido variar a escolha ou, ao menos, tento. Mas cada dia é mais difícil não escrever sobre o Brasil e sua crise política e de certa forma moral, ou sobre o terrorismo, o dos ataques em Londres e a posterior execução de um usuário do transporte coletivo, que não muda nada se era brasileiro ou do Azerbaijão, me interessa que era um passageiro comum que foi executado pela polícia, e além disso é uma história ainda muito mal contada em suas circunstâncias, e sinto que não posso dar uma opinião precisa sobre o assunto porque não sei muita coisa.
O mesmo acontece com a crise do Brasil. Não sei bem o que pensar sobre tudo, exceto a convicção de que se comprovada culpa, os culpados deve pagar por isso, mas isso é o óbvio, assim como aquilo que sempre foi um bandeira do partido envolvido – a honestidade e a retidão de caráter – não são virtudes a serem apregoadas, mas requisitos básicos que se exige de qualquer pessoa, muito mais na vida pública.
Em Toronto, o verão continua, os dias ainda são belos mas desde ontem a temperatura diminuiu um pouco, e hoje foi um dia bem agradável, mas parece que foram fechadas estações do metrô por ameaça de bomba. Não vi, hoje saí mais cedo e tudo funcionava a contento, como habitualmente, mas parece que Londres vem se aproximando daqui. E que quem venceu a guerra, independente do que acontecer no futuro, foram os terroristas, que criaram um clima em que ninguém sente-se seguro em lugar algum. Eu não, sou meio inconsequënte mesmo. Comigo, pelo menos não funciona, mas não estamos falando de mim, certo?
Até.
Torna-se complicado inclusive saber o que escrever nestas mal-traçadas linhas diárias a quem carinhosamente, como um pai-coruja, chamo de A Sopa no Exílio. Notícias pipocam de todos os lados, e cria-se um dilema: manter-me conectado à realidade, comentando fatos que acontecem no Brasil e no mundo, escrever sobre o meu próprio umbigo - meus pensamentos e reflexões sobre a vida e sobre meu “exílio” canadense – ou ainda sobre aspectos práticos da vida aqui no Canadá.
Tenho conseguido variar a escolha ou, ao menos, tento. Mas cada dia é mais difícil não escrever sobre o Brasil e sua crise política e de certa forma moral, ou sobre o terrorismo, o dos ataques em Londres e a posterior execução de um usuário do transporte coletivo, que não muda nada se era brasileiro ou do Azerbaijão, me interessa que era um passageiro comum que foi executado pela polícia, e além disso é uma história ainda muito mal contada em suas circunstâncias, e sinto que não posso dar uma opinião precisa sobre o assunto porque não sei muita coisa.
O mesmo acontece com a crise do Brasil. Não sei bem o que pensar sobre tudo, exceto a convicção de que se comprovada culpa, os culpados deve pagar por isso, mas isso é o óbvio, assim como aquilo que sempre foi um bandeira do partido envolvido – a honestidade e a retidão de caráter – não são virtudes a serem apregoadas, mas requisitos básicos que se exige de qualquer pessoa, muito mais na vida pública.
Em Toronto, o verão continua, os dias ainda são belos mas desde ontem a temperatura diminuiu um pouco, e hoje foi um dia bem agradável, mas parece que foram fechadas estações do metrô por ameaça de bomba. Não vi, hoje saí mais cedo e tudo funcionava a contento, como habitualmente, mas parece que Londres vem se aproximando daqui. E que quem venceu a guerra, independente do que acontecer no futuro, foram os terroristas, que criaram um clima em que ninguém sente-se seguro em lugar algum. Eu não, sou meio inconsequënte mesmo. Comigo, pelo menos não funciona, mas não estamos falando de mim, certo?
Até.
quarta-feira, julho 27, 2005
Aqui o papo é outro
A desigualdade social no Brasil, e a incapacidade do estado de prover necessidades básicos aos cidadãos, gera muitas distorções, é claro e sabido. Mas muitas vezes nem nos damos conta desses desvios do que deveria ser o normal.
Vinha pensando nisso desde que me lembrei quando, há praticamente quinze anos atrás, após um acidente de carro, fiquei internado durante vinte e poucos dias num hospital, os primeiros treze numa UTI em coma, e depois num quarto de enfermaria. Naquela época, internado pelo que agora chamam de Sistema Único de Saúde, tive a opção de ficar num quarto privativo (que de privativo não tinha nada, pois vivia cheio de gente – meus colegas, família e amigos – o tempo todo) pagando por isso.
Era a chamada diferença de classe. Podia-se optar por um tratamento diferenciado mas pagava-se a diferença do quarto para o hospital e para o médico, que atendia como se estivesse particular. Mas o Brasil acabou com essa possibilidade. Se não me engano por causa da Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”, que dizia serem todos iguais perante a lei, e então não era correta essa “diferença de classe”.
O que aconteceu, então, foi que a diferença acentuou-se, o SUS bem embaixo e os convênios e os particulares (cada vez mais raros) lá em cima. Aumentou a desigualdade. A prática comum agora é que quem tem condições, contrata um plano de saúde (ou tem de onde trabalha) e o “resto” sem condições, fica com o SUS, com todos os problemas que ele tem: poucos postos de saúde, poucos e mal-remunerados médicos, falta de equipamentos. Isso na “periferia”. Nos hospitais terciários que atendem SUS – como os universitários – o atendimento é ótimo, mesmo que às vezes a hotelaria deixe a desejar, mas o problema é conseguir chegar lá, entrar no sistema.
Enquanto isso, quem pode ter um plano de saúde, consulta com seus médicos, tem pronto-atendimento à disposição, etc. Que bom para eles (nós, eu também tenho), mas isso é claramente uma distorção. Não deveríamos ter que pagar mais do que já pagamos em impostos para ter acesso à saúde. Só que já está tão impregnado em nossa cultura que nem percebemos.
Mudemos para o Canadá, então. Aqui, o sistema de saúde não é perfeito, todos sabem, mas o princípio é – na minha opinião – o mais correto. Médicos de família, que, quando precisam, encaminham para o especialista. Tudo bancado pelo governo. Saúde pública, não privada. Todos iguais. Sim, sei que há falta de médicos, filas de espera para alguns tipos de cirurgia, etc. Mas esses são problemas muito mais fáceis de corrigir do que o oceano que separa que pode e quem não pode no Brasil.
Não tem sentido ficar comparando, vocês podem falar, e concordo e nem gostaria de fazer isso, mas não resisto.
É que tem gente que enche a boca para dizer que o sistema daqui muito ruim, no Brasil é melhor, etc. Aí acho que tenho que falar. Não porque tenho que defender um lado ou outro. Porque alguém precisa dizer a verdade.
As pessoas que estão imigrando para o Canadá tem que saber que elas estão vindo para um país diferente do Brasil, onde as pessoas são mais respeitadas pelo sistema do que no Brasil, onde todos são “mais iguais” em muitos sentidos. Aqui, a coisa vai ser diferente, e começa por isso.
Até.
Vinha pensando nisso desde que me lembrei quando, há praticamente quinze anos atrás, após um acidente de carro, fiquei internado durante vinte e poucos dias num hospital, os primeiros treze numa UTI em coma, e depois num quarto de enfermaria. Naquela época, internado pelo que agora chamam de Sistema Único de Saúde, tive a opção de ficar num quarto privativo (que de privativo não tinha nada, pois vivia cheio de gente – meus colegas, família e amigos – o tempo todo) pagando por isso.
Era a chamada diferença de classe. Podia-se optar por um tratamento diferenciado mas pagava-se a diferença do quarto para o hospital e para o médico, que atendia como se estivesse particular. Mas o Brasil acabou com essa possibilidade. Se não me engano por causa da Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”, que dizia serem todos iguais perante a lei, e então não era correta essa “diferença de classe”.
O que aconteceu, então, foi que a diferença acentuou-se, o SUS bem embaixo e os convênios e os particulares (cada vez mais raros) lá em cima. Aumentou a desigualdade. A prática comum agora é que quem tem condições, contrata um plano de saúde (ou tem de onde trabalha) e o “resto” sem condições, fica com o SUS, com todos os problemas que ele tem: poucos postos de saúde, poucos e mal-remunerados médicos, falta de equipamentos. Isso na “periferia”. Nos hospitais terciários que atendem SUS – como os universitários – o atendimento é ótimo, mesmo que às vezes a hotelaria deixe a desejar, mas o problema é conseguir chegar lá, entrar no sistema.
Enquanto isso, quem pode ter um plano de saúde, consulta com seus médicos, tem pronto-atendimento à disposição, etc. Que bom para eles (nós, eu também tenho), mas isso é claramente uma distorção. Não deveríamos ter que pagar mais do que já pagamos em impostos para ter acesso à saúde. Só que já está tão impregnado em nossa cultura que nem percebemos.
Mudemos para o Canadá, então. Aqui, o sistema de saúde não é perfeito, todos sabem, mas o princípio é – na minha opinião – o mais correto. Médicos de família, que, quando precisam, encaminham para o especialista. Tudo bancado pelo governo. Saúde pública, não privada. Todos iguais. Sim, sei que há falta de médicos, filas de espera para alguns tipos de cirurgia, etc. Mas esses são problemas muito mais fáceis de corrigir do que o oceano que separa que pode e quem não pode no Brasil.
Não tem sentido ficar comparando, vocês podem falar, e concordo e nem gostaria de fazer isso, mas não resisto.
É que tem gente que enche a boca para dizer que o sistema daqui muito ruim, no Brasil é melhor, etc. Aí acho que tenho que falar. Não porque tenho que defender um lado ou outro. Porque alguém precisa dizer a verdade.
As pessoas que estão imigrando para o Canadá tem que saber que elas estão vindo para um país diferente do Brasil, onde as pessoas são mais respeitadas pelo sistema do que no Brasil, onde todos são “mais iguais” em muitos sentidos. Aqui, a coisa vai ser diferente, e começa por isso.
Até.
terça-feira, julho 26, 2005
A Vaidade Masculina
Até há uns poucos anos, esse era um assunto tabu: vaidade e masculinidade eram quase opostos. Mas – sabe como é, os tempos são outros – isso mudou.
Agora os homens se cuidam mais, desde o guarda-roupa, dietas, exercícios, cirurgias plásticas. Até cremes para pele. Confesso que sou um cara antenado com o meu tempo, mas usar creme para rugas, nem pensar… De qualquer forma, a vaidade deixou de ser um atributo feminino.
Até aí, nada demais. O risco que se corre é o de exagerar nessa coisa de cuidados com o cabelo, as unhas, etc, e transpor a linha imaginária que separa o metrossexual da frescura pura e simples. Para alguns, a fronteira é muito tênue, e até passam para o outro lado da linha, muitas vezes saltitando. Outros, ao contrário, jamais enfrentarão esse tipo de problema ou dilema. O Magno, por exemplo, nem se ele tentasse – pintando as unhas, por exemplo – ele conseguiria parecer afetado demais.
O que eu não sabia, a bem dizer, nunca havia me dado conta, é que existe toda uma linha de produtos para reforçar a idéia de que, além de ser homem, se é um troglodita, um dedo destroncado, um selvagem. E vende bem. Um vez, vejam só, comprei um xampu “Para homens”, achando apenas que era para pessoas do sexo masculino. Ingenuidade minha. Homem que é homem não usa xampu, usa sabão de coco, e toma banho frio, sempre. O máximo que se permite é esse xampu, que além de lavar o cabelo, dá caspa. Porque homem que é homem tem caspa.
Assim como um desodorante que comprei esses tempo e que usei por alguns dias até descobrir que ele dava (ou tinha o odor de) asa. Podia ser até o desodorante Red Bull, “te dá aaasaaas”.
O que vem mais por aí?
(não vou falar sobre política do Brasil por alguns dias – ou não – porque tenho que me recuperar do choque que tive ao ler a fundo as notícias vindas de Brasília sobre o esquema de corrupção que está sendo descoberto. Quando passar a náusea, volto a falar disso)
Até.
Agora os homens se cuidam mais, desde o guarda-roupa, dietas, exercícios, cirurgias plásticas. Até cremes para pele. Confesso que sou um cara antenado com o meu tempo, mas usar creme para rugas, nem pensar… De qualquer forma, a vaidade deixou de ser um atributo feminino.
Até aí, nada demais. O risco que se corre é o de exagerar nessa coisa de cuidados com o cabelo, as unhas, etc, e transpor a linha imaginária que separa o metrossexual da frescura pura e simples. Para alguns, a fronteira é muito tênue, e até passam para o outro lado da linha, muitas vezes saltitando. Outros, ao contrário, jamais enfrentarão esse tipo de problema ou dilema. O Magno, por exemplo, nem se ele tentasse – pintando as unhas, por exemplo – ele conseguiria parecer afetado demais.
O que eu não sabia, a bem dizer, nunca havia me dado conta, é que existe toda uma linha de produtos para reforçar a idéia de que, além de ser homem, se é um troglodita, um dedo destroncado, um selvagem. E vende bem. Um vez, vejam só, comprei um xampu “Para homens”, achando apenas que era para pessoas do sexo masculino. Ingenuidade minha. Homem que é homem não usa xampu, usa sabão de coco, e toma banho frio, sempre. O máximo que se permite é esse xampu, que além de lavar o cabelo, dá caspa. Porque homem que é homem tem caspa.
Assim como um desodorante que comprei esses tempo e que usei por alguns dias até descobrir que ele dava (ou tinha o odor de) asa. Podia ser até o desodorante Red Bull, “te dá aaasaaas”.
O que vem mais por aí?
(não vou falar sobre política do Brasil por alguns dias – ou não – porque tenho que me recuperar do choque que tive ao ler a fundo as notícias vindas de Brasília sobre o esquema de corrupção que está sendo descoberto. Quando passar a náusea, volto a falar disso)
Até.
segunda-feira, julho 25, 2005
A Moral e as Cuecas
Depois de uma dica do Henrique, no último encontro dos blogueiros de Toronto, passei a ler a Veja pela internet. Para o bem e para o mal.
Cá entre nós, a Veja não é a mais imparcial das fontes de informação. Mas, afinal, existem fontes de informação totalmente imparciais? Não, sempre haverá interesses outros e não claros. Por isso é sempre salutar procurar nos inteirar do que acontece no mundo em locais diversos.
Voltando à Veja, há umas duas semanas a tenho lido. E na edição do último final de semana, achei bem interessante e oportuna a coluna do André Petry. Veio bem de encontro ao que tenho pensado sobre o que acontece atualmente no plano político no Brasil.
Escreveu ele que o fato de não haverem escândalos não é garantia de que não há nada errado. E usou como exemplo o fato de que o “mensalão” só parou de existir quando foi denunciado, quando surgiu o escândalo. Antes, sem as denúncias, sem toda a confusão, ele existia, o dinheiro andava em malas pelo Brasil, e ninguém sabia. O escândalo estancou a sangria.
Se estão aparecendo casos a investigar, ótimo, façamos a depuração e sigamos em frente.
Da mesma forma, o horror das pessoas com o “mar de lama” que está envolvendo o país, me soa um pouco como hipocrisia. As pessoas vão à televisão parecendo noviças, freiras escandalizadas com tudo o que acontece. Não é assim, e todos sabemos.
Que se prendam, punam, e façam de tudo para recuperar o dinheiro envolvido, se dinheiro público. Se comprovarem que o presidente está envolvido, impeachment nele. Sou totalmente favorável. Se era o meu apoio o que faltava, mãos à obra. Mas, além disso, vamos pensar um pouquinho mais fundo nisso tudo.
Corrupção é uma via de duas mãos. É comércio, oferta e procura. Para haver um corrupto, deve haver um corruptor. E nisso ninguém fala. Desde os tempo do Collor de Mello. Ele era corrupto, foi afastado, tornado inelegível, etc, mas e quem deu o dinheiro?
O dinheiro dos caixas 2 de campanha não nascem em árvores, até onde eu sei. Parece que em toda essa história tinha pouco dinheiro público. De quem saia o dinheiro, então? Quem é que pagou para ganhar licitações, por exemplo? Esses também têm de ser pegos. Se é para cortar na própria carne, que se corte, mas tem muita gente aí que precisa ser pega também.
Até.
E vou para de falar de política aqui.
Cá entre nós, a Veja não é a mais imparcial das fontes de informação. Mas, afinal, existem fontes de informação totalmente imparciais? Não, sempre haverá interesses outros e não claros. Por isso é sempre salutar procurar nos inteirar do que acontece no mundo em locais diversos.
Voltando à Veja, há umas duas semanas a tenho lido. E na edição do último final de semana, achei bem interessante e oportuna a coluna do André Petry. Veio bem de encontro ao que tenho pensado sobre o que acontece atualmente no plano político no Brasil.
Escreveu ele que o fato de não haverem escândalos não é garantia de que não há nada errado. E usou como exemplo o fato de que o “mensalão” só parou de existir quando foi denunciado, quando surgiu o escândalo. Antes, sem as denúncias, sem toda a confusão, ele existia, o dinheiro andava em malas pelo Brasil, e ninguém sabia. O escândalo estancou a sangria.
Se estão aparecendo casos a investigar, ótimo, façamos a depuração e sigamos em frente.
Da mesma forma, o horror das pessoas com o “mar de lama” que está envolvendo o país, me soa um pouco como hipocrisia. As pessoas vão à televisão parecendo noviças, freiras escandalizadas com tudo o que acontece. Não é assim, e todos sabemos.
Que se prendam, punam, e façam de tudo para recuperar o dinheiro envolvido, se dinheiro público. Se comprovarem que o presidente está envolvido, impeachment nele. Sou totalmente favorável. Se era o meu apoio o que faltava, mãos à obra. Mas, além disso, vamos pensar um pouquinho mais fundo nisso tudo.
Corrupção é uma via de duas mãos. É comércio, oferta e procura. Para haver um corrupto, deve haver um corruptor. E nisso ninguém fala. Desde os tempo do Collor de Mello. Ele era corrupto, foi afastado, tornado inelegível, etc, mas e quem deu o dinheiro?
O dinheiro dos caixas 2 de campanha não nascem em árvores, até onde eu sei. Parece que em toda essa história tinha pouco dinheiro público. De quem saia o dinheiro, então? Quem é que pagou para ganhar licitações, por exemplo? Esses também têm de ser pegos. Se é para cortar na própria carne, que se corte, mas tem muita gente aí que precisa ser pega também.
Até.
E vou para de falar de política aqui.
domingo, julho 24, 2005
A Sopa 05/01
Como sou um interessado na passagem do tempo e seus efeitos, não é nem um pouco surpreendente que eu valorize datas de alguma maneira significativas. A minha boa memória facilita isso. Ou será que minha boa memória é decorrente do fato de eu achar que datas são importantes? Tanto faz, tanto faz…
O fato é que estou diante de uma data significativa na minha história pessoal. E datas significativas nos levam a refletir sobre os seus significados, e os significados das datas nos fazem repensar nossas escolhas e caminhos que optamos por seguir. E será bom se o resultado final de todos esses pensamentos for positivo. O meu resultado é, podem estar certos.
O semanário A Sopa, precursor do blog A Sopa no Exílio, está completando quatro anos e – óbvio – entrando no seu quinto ano de existência. Antes de vir para Toronto, eu escrevia uma vez por semana e enviava via email às segundas-feiras para os assinantes, que sempre foram em torno de cinqüenta a sessenta, mais ou menos o mesmo número de participantes da Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que – por sinal – completa dez anos em 2006, com prováveis duas edições, uma em Toronto e outra em Porto Alegre, mas esse são planos para o futuro, para o ano que vem.
Hoje, comemoramos os quatro anos d`A Sopa, o semanário.
Muita coisa aconteceu desde o seu primeiro número, em julho de 2001. Com o mundo e comigo. Se pararmos para pensar, quatros anos é quase uma eternidade, ao mesmo tempo em que não é nada, e esse é um dos fascínios da passagem do tempo.
No ano passado, eu escrevia – no início do quarto ano de vida d’A Sopa – que eu estava na iminência de grandes mudanças na minha vida, prestes a vir para Toronto, de onde eu tentaria contar novas histórias, além de estar antecipando o que seria o final de um ciclo e o início de outro. Cheio de planos, como sempre.
Antecipava que eu mudaria muito no meu “exílio canadense”, mas que eu não notaria, e quem me diria isso seriam aquelas pessoas que eu ficaria sem ver por todo o tempo da minha estada aqui, mas que o verdadeiro eu não mudaria. Eu estava enganado.
Sim, eu sou o mesmo, na essência, que eu era antes e que vou ser sempre. Mas as mudanças que inevitavelmente iriam acontecer estão acontecendo, até eu mesmo noto. Pequenas coisas, claro, sem importância até, mas que, no final das contas, vão fazer diferença.
============================================================
Quem tem o Poder?
by Alexandre Magno Frediani
Os recentes escândalos de corrupção e conspurcação do Estado brasileiro suscitam debates sob muitos enfoques. Pretendo provocar a discussão sobre o exercício do poder.
A própria definição de o que vem a ser o poder já mereceria, no mínimo, um fórum. Usemos a idéia mais difundida, de que o poder fundamenta-se na estrutura de Estado, de ocupar espaços pré-estabelecidos em uma arquitetura existente, apenas substituindo os inquilinos, mas permanecendo o mesmo edifício. Derruba uma parede, abre uma porta, troca o piso, mas, no fundo, pouca muda. Seguindo as regras da política tradicional para lutar por esses cargos, uma fatia considerável da esquerda brasileira chegou ao poder institucionalizado.
Mas parece que ocupa somente a linha de frente, a exposição na vitrine, enquanto nos perguntamos: quem está por trás das figuras públicas? Quem opera os fios das marionetes, com quais interesses, com qual ideologia? A cada dia aprendemos novos nomes, novas funções, novas empresas, pessoas desconhecidas que estão interligadas há muito tempo, dentro de um sistema que se especializou em apropriar-se do Estado para beneficio de uns poucos.
O Estado deixa de ser de todos, para ser de alguns poucos. Mas os nomes são novos, e não há parentesco entre esses donos atuais e os antigos. O que permeia todos eles é uma mesma base cultural, vinda do período colonial, de explorar ao máximo os recursos, uma atitude predatória para salvar um pequeno grupo, uma elite que se apodera da estrutura montada, uma estrutura gigantesca que passa a favorecer uma parte da sociedade, os escolhidos. Entao não há nada de novo no país do futebol! É o mesmo modus operandi, agora viabilizado por outros nomes, uma grande maquiagem para esconder as rugas do velho regime.
A grande decepção vem da capitulação dos sonhos diante da ganância. Aqueles que vinham de baixo, que até há pouco eram pobres, esqueceram-se de suas origens e querem apenas se locupletar. Antes de se adonar do Governo, adonaram-se de um partido, criando uma cúpula isolada e inatingível. Na verdade não eram da esquerda, eram apenas atores formando um grupo político diferente, para chegar ao poder e usufruir dele, mantendo a tradição brasileira, nosso velho esqueleto colonial.
Não é facil tratar um desvio de caráter de 500 anos… E nosso desânimo vem da baixa auto-estima, quando percebemos como nos deixamos enganar, como não mantivemos a vigilância, como confiamos cegamente, e aquelas personagens que foram eleitas, eram apenas fachada, porque os verdadeiros donos do poder estão escondidos, agem à sombra, e não vimos como fomos manipulados. Mais uma vez! Talvez não haja ideologia, haja apenas interesses. E, enquanto não aprendermos a enxergar, continuaremos não vendo os fios.
Os fios das marionetes.
O fato é que estou diante de uma data significativa na minha história pessoal. E datas significativas nos levam a refletir sobre os seus significados, e os significados das datas nos fazem repensar nossas escolhas e caminhos que optamos por seguir. E será bom se o resultado final de todos esses pensamentos for positivo. O meu resultado é, podem estar certos.
O semanário A Sopa, precursor do blog A Sopa no Exílio, está completando quatro anos e – óbvio – entrando no seu quinto ano de existência. Antes de vir para Toronto, eu escrevia uma vez por semana e enviava via email às segundas-feiras para os assinantes, que sempre foram em torno de cinqüenta a sessenta, mais ou menos o mesmo número de participantes da Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, que – por sinal – completa dez anos em 2006, com prováveis duas edições, uma em Toronto e outra em Porto Alegre, mas esse são planos para o futuro, para o ano que vem.
Hoje, comemoramos os quatro anos d`A Sopa, o semanário.
Muita coisa aconteceu desde o seu primeiro número, em julho de 2001. Com o mundo e comigo. Se pararmos para pensar, quatros anos é quase uma eternidade, ao mesmo tempo em que não é nada, e esse é um dos fascínios da passagem do tempo.
No ano passado, eu escrevia – no início do quarto ano de vida d’A Sopa – que eu estava na iminência de grandes mudanças na minha vida, prestes a vir para Toronto, de onde eu tentaria contar novas histórias, além de estar antecipando o que seria o final de um ciclo e o início de outro. Cheio de planos, como sempre.
Antecipava que eu mudaria muito no meu “exílio canadense”, mas que eu não notaria, e quem me diria isso seriam aquelas pessoas que eu ficaria sem ver por todo o tempo da minha estada aqui, mas que o verdadeiro eu não mudaria. Eu estava enganado.
Sim, eu sou o mesmo, na essência, que eu era antes e que vou ser sempre. Mas as mudanças que inevitavelmente iriam acontecer estão acontecendo, até eu mesmo noto. Pequenas coisas, claro, sem importância até, mas que, no final das contas, vão fazer diferença.
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Quem tem o Poder?
by Alexandre Magno Frediani
Os recentes escândalos de corrupção e conspurcação do Estado brasileiro suscitam debates sob muitos enfoques. Pretendo provocar a discussão sobre o exercício do poder.
A própria definição de o que vem a ser o poder já mereceria, no mínimo, um fórum. Usemos a idéia mais difundida, de que o poder fundamenta-se na estrutura de Estado, de ocupar espaços pré-estabelecidos em uma arquitetura existente, apenas substituindo os inquilinos, mas permanecendo o mesmo edifício. Derruba uma parede, abre uma porta, troca o piso, mas, no fundo, pouca muda. Seguindo as regras da política tradicional para lutar por esses cargos, uma fatia considerável da esquerda brasileira chegou ao poder institucionalizado.
Mas parece que ocupa somente a linha de frente, a exposição na vitrine, enquanto nos perguntamos: quem está por trás das figuras públicas? Quem opera os fios das marionetes, com quais interesses, com qual ideologia? A cada dia aprendemos novos nomes, novas funções, novas empresas, pessoas desconhecidas que estão interligadas há muito tempo, dentro de um sistema que se especializou em apropriar-se do Estado para beneficio de uns poucos.
O Estado deixa de ser de todos, para ser de alguns poucos. Mas os nomes são novos, e não há parentesco entre esses donos atuais e os antigos. O que permeia todos eles é uma mesma base cultural, vinda do período colonial, de explorar ao máximo os recursos, uma atitude predatória para salvar um pequeno grupo, uma elite que se apodera da estrutura montada, uma estrutura gigantesca que passa a favorecer uma parte da sociedade, os escolhidos. Entao não há nada de novo no país do futebol! É o mesmo modus operandi, agora viabilizado por outros nomes, uma grande maquiagem para esconder as rugas do velho regime.
A grande decepção vem da capitulação dos sonhos diante da ganância. Aqueles que vinham de baixo, que até há pouco eram pobres, esqueceram-se de suas origens e querem apenas se locupletar. Antes de se adonar do Governo, adonaram-se de um partido, criando uma cúpula isolada e inatingível. Na verdade não eram da esquerda, eram apenas atores formando um grupo político diferente, para chegar ao poder e usufruir dele, mantendo a tradição brasileira, nosso velho esqueleto colonial.
Não é facil tratar um desvio de caráter de 500 anos… E nosso desânimo vem da baixa auto-estima, quando percebemos como nos deixamos enganar, como não mantivemos a vigilância, como confiamos cegamente, e aquelas personagens que foram eleitas, eram apenas fachada, porque os verdadeiros donos do poder estão escondidos, agem à sombra, e não vimos como fomos manipulados. Mais uma vez! Talvez não haja ideologia, haja apenas interesses. E, enquanto não aprendermos a enxergar, continuaremos não vendo os fios.
Os fios das marionetes.
sábado, julho 23, 2005
Só porque hoje é sábado
O céu está azul, o sol brilha, e estou de bom humor. Então lá vai, Aninha (só pra não dizer que nunca respondo…).
Que horas são?
2 pm (hora de Greenwich)
Nome:
Marcelo. Ou melhor “Marcelo, o garoto-gênio, esperança da humanidade”… ou para ser mais breve, “Dr Destino” (para vocês, “Sua Excelência, o Dr Destino”…)
Quantidade de velas no teu último bolo de aniversário:
Quem é que, como eu, tem a idade de Cristo, quando morreu?
Furos nas orelhas?
Um na orelha esquerda
Tatuagens?
A caminho.
Piercings?
Nein
Já foi à África?
Não. No futuro, quem sabe?
Já ficou bêbado(a)?
Sim
Já chorou por alguém?
Depois dos três anos de idade, quando me disseram que chorar era coisa de mulherzinha, não.
Já esteve envolvido(a) em algum acidente de carro?
Sim. Coma Glasgow 4, internação em UTI por trezes dias, alguns anos de recuperação (que talvez não tenha sido completa…)
Peixe ou carne?
Eis o cordeiro.
Músicas preferidas?
Não gosto de música.
Cerveja ou Champanhe?
A vida não é tão simples, as coisas não funcionam assim.
Metade cheio ou Metade vazio?
Cheio.
Lençóis de cama lisos ou estampados?
Pergunta feminina, sem resposta.
Cor das meias?
Azul e amarela(?!).
Programa de televisão?
Não gosto de televisão.
Filme preferido?
Não gosto de cinema.
Está ouvindo alguma música agora?
Já não disse que não gosto de música.
Flor (es)?
Ah tá…
Coca-Cola simples ou com gelo?
Diet Coke.
De que pessoa recebeu esse questionário?
Da Aninha.
Quem dos teus amigos vive mais longe?
Os meus amigos estão sempre por perto, onde quer que estejam.
O (a) melhor amigo(a)?
Alguns deles são os melhores.
Hora de dormir?
Entre meia-noite e uma.
Quantas vezes você deixa tocar o telefone?
Nenhuma, não gosto de telefone.
Qual a figura do seu mouse-pad?
Nao tenho mouse-pad, isso é coisa do passado.
CD preferido?
Hã? Está ouvindo minhas respostas?
Mulher bonita?
A Jacque
Homem bonito?
Sinceramente?
Pior sentimento do mundo?
Pena.
Melhor sentimento do mundo?
Amizade
Qual o primeiro pensamento ao acordar?
Putz, sonhei que estava morando no Canadá…
Quantos dias faltam pro final de semana?
Hoje é sábado… logo…
Se pudesse ser outra pessoa, quem seria?
Eu, de novo.
Algo que você nunca tira?
A minha perna mecânica.
O que é que você tem debaixo da cama?
Um jacaré. Tinha um comunista junto, mas o jacaré ficou com fome...
Uma frase:
“Se um dia qualquer ter lucidez for o mesmo que andar e não notares que andas, o tempo inteiro, é sinal que valeu pega carona no carro que vem, se ele não vem não importa, fica na tua…”
Que dia é hoje?
23 de julho
Diz uma coisa de quem te enviou esse questionário:
Sou tímido, desculpa, só pessoalmente.
Passando o bastão:
E isso aqui é revezamento? Não passo pra ninguém.
Bom sábado a todos.
Até.
Que horas são?
2 pm (hora de Greenwich)
Nome:
Marcelo. Ou melhor “Marcelo, o garoto-gênio, esperança da humanidade”… ou para ser mais breve, “Dr Destino” (para vocês, “Sua Excelência, o Dr Destino”…)
Quantidade de velas no teu último bolo de aniversário:
Quem é que, como eu, tem a idade de Cristo, quando morreu?
Furos nas orelhas?
Um na orelha esquerda
Tatuagens?
A caminho.
Piercings?
Nein
Já foi à África?
Não. No futuro, quem sabe?
Já ficou bêbado(a)?
Sim
Já chorou por alguém?
Depois dos três anos de idade, quando me disseram que chorar era coisa de mulherzinha, não.
Já esteve envolvido(a) em algum acidente de carro?
Sim. Coma Glasgow 4, internação em UTI por trezes dias, alguns anos de recuperação (que talvez não tenha sido completa…)
Peixe ou carne?
Eis o cordeiro.
Músicas preferidas?
Não gosto de música.
Cerveja ou Champanhe?
A vida não é tão simples, as coisas não funcionam assim.
Metade cheio ou Metade vazio?
Cheio.
Lençóis de cama lisos ou estampados?
Pergunta feminina, sem resposta.
Cor das meias?
Azul e amarela(?!).
Programa de televisão?
Não gosto de televisão.
Filme preferido?
Não gosto de cinema.
Está ouvindo alguma música agora?
Já não disse que não gosto de música.
Flor (es)?
Ah tá…
Coca-Cola simples ou com gelo?
Diet Coke.
De que pessoa recebeu esse questionário?
Da Aninha.
Quem dos teus amigos vive mais longe?
Os meus amigos estão sempre por perto, onde quer que estejam.
O (a) melhor amigo(a)?
Alguns deles são os melhores.
Hora de dormir?
Entre meia-noite e uma.
Quantas vezes você deixa tocar o telefone?
Nenhuma, não gosto de telefone.
Qual a figura do seu mouse-pad?
Nao tenho mouse-pad, isso é coisa do passado.
CD preferido?
Hã? Está ouvindo minhas respostas?
Mulher bonita?
A Jacque
Homem bonito?
Sinceramente?
Pior sentimento do mundo?
Pena.
Melhor sentimento do mundo?
Amizade
Qual o primeiro pensamento ao acordar?
Putz, sonhei que estava morando no Canadá…
Quantos dias faltam pro final de semana?
Hoje é sábado… logo…
Se pudesse ser outra pessoa, quem seria?
Eu, de novo.
Algo que você nunca tira?
A minha perna mecânica.
O que é que você tem debaixo da cama?
Um jacaré. Tinha um comunista junto, mas o jacaré ficou com fome...
Uma frase:
“Se um dia qualquer ter lucidez for o mesmo que andar e não notares que andas, o tempo inteiro, é sinal que valeu pega carona no carro que vem, se ele não vem não importa, fica na tua…”
Que dia é hoje?
23 de julho
Diz uma coisa de quem te enviou esse questionário:
Sou tímido, desculpa, só pessoalmente.
Passando o bastão:
E isso aqui é revezamento? Não passo pra ninguém.
Bom sábado a todos.
Até.
sexta-feira, julho 22, 2005
Quando é mais difícil
Viver no Canadá não é difícil.
Pelo contrário, aliás. É muito fácil viver no Canadá.
A maioria das coisas funciona a contento, e falo agora de Toronto, onde vivo, o transporte público, o sistema de saúde (já sei que muitos vão dizer que não é bom mas, convenhamos, é só olhar para o próprio umbigo e lembrar como a funciona a sáude em outros lugares, tipo, sei lá, o Brasil) a segurança, etc. Antes que eu seja massacrado, que fique claro, eu sei que o sistema da saúde aqui não é perfeito, existem sérios problemas, e também não sou daqueles que acham que tudo no Brasil é ruim e no exterior é bom, mas um lugar em que os impostos que se paga – mesmo que altos – têm retorno na forma de, sim, saúde gratuita, onde todos são iguais perante a lei, bom, na comparação… a conclusão é de vocês.
Segurança. Conforme dados divulgados hoje, a província de Ontário e Toronto, em especial, são os locais no Canadá onde a criminalidade vem diminuindo. Sério, diminuindo!
Pois é, esse é o meu ponto: é fácil morar no Canadá.
Mas (e sempre tem um mas na vida) tem dias em que é complicado.
Ontem, por exemplo.
Após ver um paciente, voltei à minha sala e tinha um email me esperando. Era da Kaká, irmã da Jacque, minha amada cunhada e mãe da Beta, minha afilhada. Dizia o email que a Roberta, oito anos e meio, tinha acordado se sentindo mal. Estava angustiada e, ao chorar, disse que estava com saudades “do Dindo”.
Liguei na hora, claro. E conversamos. Foi bem legal, ela já estava melhor, mas perguntou quando eu voltava. Disse que eu iria à Porto Alegre no aniversário dela, em dezembro.”Por quanto tempo?”, perguntou. Duas semanas, eu disse. “E depois?”. Depois, só em julho, quando volto para casa. “Pra sempre?”.
Para sempre, para sempre.
Às vezes não é fácil segurar a barra…
Até.
Pelo contrário, aliás. É muito fácil viver no Canadá.
A maioria das coisas funciona a contento, e falo agora de Toronto, onde vivo, o transporte público, o sistema de saúde (já sei que muitos vão dizer que não é bom mas, convenhamos, é só olhar para o próprio umbigo e lembrar como a funciona a sáude em outros lugares, tipo, sei lá, o Brasil) a segurança, etc. Antes que eu seja massacrado, que fique claro, eu sei que o sistema da saúde aqui não é perfeito, existem sérios problemas, e também não sou daqueles que acham que tudo no Brasil é ruim e no exterior é bom, mas um lugar em que os impostos que se paga – mesmo que altos – têm retorno na forma de, sim, saúde gratuita, onde todos são iguais perante a lei, bom, na comparação… a conclusão é de vocês.
Segurança. Conforme dados divulgados hoje, a província de Ontário e Toronto, em especial, são os locais no Canadá onde a criminalidade vem diminuindo. Sério, diminuindo!
Pois é, esse é o meu ponto: é fácil morar no Canadá.
Mas (e sempre tem um mas na vida) tem dias em que é complicado.
Ontem, por exemplo.
Após ver um paciente, voltei à minha sala e tinha um email me esperando. Era da Kaká, irmã da Jacque, minha amada cunhada e mãe da Beta, minha afilhada. Dizia o email que a Roberta, oito anos e meio, tinha acordado se sentindo mal. Estava angustiada e, ao chorar, disse que estava com saudades “do Dindo”.
Liguei na hora, claro. E conversamos. Foi bem legal, ela já estava melhor, mas perguntou quando eu voltava. Disse que eu iria à Porto Alegre no aniversário dela, em dezembro.”Por quanto tempo?”, perguntou. Duas semanas, eu disse. “E depois?”. Depois, só em julho, quando volto para casa. “Pra sempre?”.
Para sempre, para sempre.
Às vezes não é fácil segurar a barra…
Até.
quinta-feira, julho 21, 2005
A Obra
Arte não tem dono.
Todo o artista sabe: depois de criar a sua obra - canção, escultura, pintura, poesia, prosa, etc -, ela não pertence mais a ele, ela é do mundo. A arte é patrimônio da humanidade.
Atenção: não estou falando contra os direitos autorias, ou direitos de criação, sobre uma obra, que são justos e devem ser pagos, e meu pensamento também não está indo no sentido de que toda a arte do mundo, do universo, está no ar, etérea, aguardando alguém com sensibilidade para materializá-la e decodificá-lo para o resto dos humanos, os não-artistas. Não, não é esse o sentido do que quero dizer.
O fato de uma obra de arte transformar-se em domínio público assim que é criada (ou exposta ou cantada ou lançada) é simplesmente porque arte não é igual para duas pessoas. Por exemplo, a mesma pintura pode ter dois significados completamente diferentes para duas pessoas. Da mesma forma que uma poesia. Ou uma canção.
A interpretação, o sentido, que damos a uma música que ouvimos, depende de muitos fatores, todos pessoais. É o mesmo que acontece com todas as outras experiências que passamos na vida: o seu significado vai depender daquilo que vivemos antes e vai determinar o que viveremos dali para frente.
Por isso não levo em conta o que os críticos de arte dizem. Em verdade, acho todos uns palhaços pressunçosos. Não os leio, para ser mais exato. Quem pediu a sua opinião sobre um filme – por exemplo – cuja qualidade e sentido dependem só da minha opinião, que é a que importa, já que sou eu quem vai ver o filme e os fatores que vão definir se vou gostar ou não são pessoais meus, íntimos?
Mas não era de cinema nem de crítica de arte que eu queria falar.
Era sobre música e seus significados.
Eu não quero saber o que o autor de determinada letra estava querendo dizer quando a compôs. Nem o que ela deve significar, porque quem define o que ela significa é quem a está ouvindo. As intenções do autor pouco importam. Se ele queria passar determinada mensagem ao público e o público não capta a tal mensagem, ele falhou.
A música que é universal, fala do autor e sua mensagem transcende a ele, e de uma experiência pessoal ou de idéias pessoais, transforma-se numa mensagem que todos os que estão ouvindo captam como se ela falasse de si mesmo, como se a música tivesse sido composta por ele mesmo falando de sua própria vida.
Esse é um perigo dos shows, quando os artistas se empolgam e contam histórias sobre as músicas. Às vezes o comentário é inofensivo, como quando diz que a música foi feita para determinada pessoa. Outras vezes, e é o caso desses Cds ao vivo da Legião Urbana lançados depois da morte do Renato Russo, em que não editaram as suas falas, e há registros de muita bobagem que ele disse. Ao lado de afirmações em tom messiânico típico, “Nenhuma guerra pode ser santa”, estão coisas como “Essa música eu fiz no banheiro… porque eu não me envergonho de cagar…”.
Podíamos ficar sem essa…
Até.
Todo o artista sabe: depois de criar a sua obra - canção, escultura, pintura, poesia, prosa, etc -, ela não pertence mais a ele, ela é do mundo. A arte é patrimônio da humanidade.
Atenção: não estou falando contra os direitos autorias, ou direitos de criação, sobre uma obra, que são justos e devem ser pagos, e meu pensamento também não está indo no sentido de que toda a arte do mundo, do universo, está no ar, etérea, aguardando alguém com sensibilidade para materializá-la e decodificá-lo para o resto dos humanos, os não-artistas. Não, não é esse o sentido do que quero dizer.
O fato de uma obra de arte transformar-se em domínio público assim que é criada (ou exposta ou cantada ou lançada) é simplesmente porque arte não é igual para duas pessoas. Por exemplo, a mesma pintura pode ter dois significados completamente diferentes para duas pessoas. Da mesma forma que uma poesia. Ou uma canção.
A interpretação, o sentido, que damos a uma música que ouvimos, depende de muitos fatores, todos pessoais. É o mesmo que acontece com todas as outras experiências que passamos na vida: o seu significado vai depender daquilo que vivemos antes e vai determinar o que viveremos dali para frente.
Por isso não levo em conta o que os críticos de arte dizem. Em verdade, acho todos uns palhaços pressunçosos. Não os leio, para ser mais exato. Quem pediu a sua opinião sobre um filme – por exemplo – cuja qualidade e sentido dependem só da minha opinião, que é a que importa, já que sou eu quem vai ver o filme e os fatores que vão definir se vou gostar ou não são pessoais meus, íntimos?
Mas não era de cinema nem de crítica de arte que eu queria falar.
Era sobre música e seus significados.
Eu não quero saber o que o autor de determinada letra estava querendo dizer quando a compôs. Nem o que ela deve significar, porque quem define o que ela significa é quem a está ouvindo. As intenções do autor pouco importam. Se ele queria passar determinada mensagem ao público e o público não capta a tal mensagem, ele falhou.
A música que é universal, fala do autor e sua mensagem transcende a ele, e de uma experiência pessoal ou de idéias pessoais, transforma-se numa mensagem que todos os que estão ouvindo captam como se ela falasse de si mesmo, como se a música tivesse sido composta por ele mesmo falando de sua própria vida.
Esse é um perigo dos shows, quando os artistas se empolgam e contam histórias sobre as músicas. Às vezes o comentário é inofensivo, como quando diz que a música foi feita para determinada pessoa. Outras vezes, e é o caso desses Cds ao vivo da Legião Urbana lançados depois da morte do Renato Russo, em que não editaram as suas falas, e há registros de muita bobagem que ele disse. Ao lado de afirmações em tom messiânico típico, “Nenhuma guerra pode ser santa”, estão coisas como “Essa música eu fiz no banheiro… porque eu não me envergonho de cagar…”.
Podíamos ficar sem essa…
Até.
quarta-feira, julho 20, 2005
Muitas culturas (ou não) 2
Ainda sobre “multiculturalismo”
Inicialmente, eu não planejava seguir adiante nesse assunto, até porque nem sei ao certo se existe essa palavra, “multiculturalismo”, mas como – segundo a Mirella – “esse post vai dar o que falar”, decidi continuar refletindo sobre ele.
Já no domingo (escrevi o texto no sábado), a Monique, o Rafael e eu, após sair do cinema e ir a um pub, discutíamos isso, e eu antecipei a eles o que eu escrevi ontem, sobre o problema da integração dos imigrantes no novo país. E não só isso, mesmo os – no exemplo de onde estamos – canadenses filhos de imigrantes, ou seja, canadenses legítimos, afinal quem nasce aqui é canadense legítimo independente de sua ascendência, também se sentem de certa forma excluídos.
Mas não só isso: tanto no domingo quanto ontem, quando nos reunimos para bater um papo (nos conhecer, na verdade) o Carlos, o André, a Raquel, o Marcelo – meu atual e temporário roomate - e eu, todos fazendo pós-graduação na Universidade de Toronto, acabamos comentando sobre a ausência de uma comunidade brasileira em Toronto nos mesmos moldes da portuguesa, italiana, chinesa, etc. Porque a maioria dos brasileiros aqui – impressão minha – é estudante de inglês que vem ficar para um cuso de um ou mais meses, com uma parcela destes que acaba ficando aqui ilegal e trabalhando na construção ou como faxineiro.
Existem, claro, os imigrantes, mas esses não são em número suficiente para criar um comunidade organizada. Daí os brasileiros aqui (segundo ouvi) acabam “participando” das festas das outras etnias. No meio da festa italiana, tem barracas brasileiras, ou algo assim. Mas não é esse o ponto. Excluindo-se os ilegais, alguns que até nem sabem falar inglês, boa parte dos brasileiros procura se integrar realmente ao país. É uma qualidade brasileira, eu acho, mas evidentemente não dá para generalizar.
Isso de o brasileiro “se misturar”, era um ponto que eu queria falar, pretendia escrever numa possível segunda parte do texto para daqui mais tarde, mas o Allan tocou no assunto no seu comentário e resolvi falar nisso: a miscigenação.
Somos mestiços, e isso – ao contrário do que se pensa – é um ponto favorável. O “jeitinho brasileiro” tão mal visto pela conotação negativa que se deu a essa expressão, a flexibilidade, em suma, capacidade de adaptação, são pontos positivos. E isso vem da miscigenação. A ausência dos guetos étnicos, a grande salada geral que acontece no Brasil, aquela coisa de que “sou italiano por parte de pai e ucraniano por parte de mãe”, por exemplo, é o que leva à flexibilidade e até tolerância de que falava. Não podemos esquecer que essa coisa de pedigree é pra cachorro…
O que não acontece em outros lugares.
Quando falei em não se adaptar ao novo país, não me referia especificamente a ninguém, seguidores de Maomé, Cristo ou quem quer que seja. É um fenômeno geral esse.
E o Canadá não é essa maravilha toda assim como dizem.
Aliás, o Canadá é o único dos alvos anunciados pelo Bin Laden logo após o 9/11 que ainda – ainda – não foi atacado. Pois é, e essa discussão sobre o multiculturalismo existe. Toronto, por exemplo, é um lugar onde 44% da população é imigrante vindo de outros países. O que aconteceu em Londres – segundo alguns - pode acontecer aqui em Toronto, e pelas mesmas razões.
Mais: existem críticos do multiculturalismo que dizem que ele deveria ser abondonado em troca do conceito de integração, não apoiar a formação de guetos étnicos. O governo tem responsabilidade nisso, sim, ele é quem deveria informar a quem chega que aqui no Canadá – ao contrário de outros lugares do mundo – a religião não é o estado, e as leis são feitas por homens e não têm inspiração divina.
Talvez o governo – sim – tivesse que fazer uma força maior para integrar a todos, ou no mínimo deixar claras quais são as regras aqui.
Sei lá.
Até.
Inicialmente, eu não planejava seguir adiante nesse assunto, até porque nem sei ao certo se existe essa palavra, “multiculturalismo”, mas como – segundo a Mirella – “esse post vai dar o que falar”, decidi continuar refletindo sobre ele.
Já no domingo (escrevi o texto no sábado), a Monique, o Rafael e eu, após sair do cinema e ir a um pub, discutíamos isso, e eu antecipei a eles o que eu escrevi ontem, sobre o problema da integração dos imigrantes no novo país. E não só isso, mesmo os – no exemplo de onde estamos – canadenses filhos de imigrantes, ou seja, canadenses legítimos, afinal quem nasce aqui é canadense legítimo independente de sua ascendência, também se sentem de certa forma excluídos.
Mas não só isso: tanto no domingo quanto ontem, quando nos reunimos para bater um papo (nos conhecer, na verdade) o Carlos, o André, a Raquel, o Marcelo – meu atual e temporário roomate - e eu, todos fazendo pós-graduação na Universidade de Toronto, acabamos comentando sobre a ausência de uma comunidade brasileira em Toronto nos mesmos moldes da portuguesa, italiana, chinesa, etc. Porque a maioria dos brasileiros aqui – impressão minha – é estudante de inglês que vem ficar para um cuso de um ou mais meses, com uma parcela destes que acaba ficando aqui ilegal e trabalhando na construção ou como faxineiro.
Existem, claro, os imigrantes, mas esses não são em número suficiente para criar um comunidade organizada. Daí os brasileiros aqui (segundo ouvi) acabam “participando” das festas das outras etnias. No meio da festa italiana, tem barracas brasileiras, ou algo assim. Mas não é esse o ponto. Excluindo-se os ilegais, alguns que até nem sabem falar inglês, boa parte dos brasileiros procura se integrar realmente ao país. É uma qualidade brasileira, eu acho, mas evidentemente não dá para generalizar.
Isso de o brasileiro “se misturar”, era um ponto que eu queria falar, pretendia escrever numa possível segunda parte do texto para daqui mais tarde, mas o Allan tocou no assunto no seu comentário e resolvi falar nisso: a miscigenação.
Somos mestiços, e isso – ao contrário do que se pensa – é um ponto favorável. O “jeitinho brasileiro” tão mal visto pela conotação negativa que se deu a essa expressão, a flexibilidade, em suma, capacidade de adaptação, são pontos positivos. E isso vem da miscigenação. A ausência dos guetos étnicos, a grande salada geral que acontece no Brasil, aquela coisa de que “sou italiano por parte de pai e ucraniano por parte de mãe”, por exemplo, é o que leva à flexibilidade e até tolerância de que falava. Não podemos esquecer que essa coisa de pedigree é pra cachorro…
O que não acontece em outros lugares.
Quando falei em não se adaptar ao novo país, não me referia especificamente a ninguém, seguidores de Maomé, Cristo ou quem quer que seja. É um fenômeno geral esse.
E o Canadá não é essa maravilha toda assim como dizem.
Aliás, o Canadá é o único dos alvos anunciados pelo Bin Laden logo após o 9/11 que ainda – ainda – não foi atacado. Pois é, e essa discussão sobre o multiculturalismo existe. Toronto, por exemplo, é um lugar onde 44% da população é imigrante vindo de outros países. O que aconteceu em Londres – segundo alguns - pode acontecer aqui em Toronto, e pelas mesmas razões.
Mais: existem críticos do multiculturalismo que dizem que ele deveria ser abondonado em troca do conceito de integração, não apoiar a formação de guetos étnicos. O governo tem responsabilidade nisso, sim, ele é quem deveria informar a quem chega que aqui no Canadá – ao contrário de outros lugares do mundo – a religião não é o estado, e as leis são feitas por homens e não têm inspiração divina.
Talvez o governo – sim – tivesse que fazer uma força maior para integrar a todos, ou no mínimo deixar claras quais são as regras aqui.
Sei lá.
Até.
terça-feira, julho 19, 2005
Muitas culturas (ou não)
Uma das primeiras coisas que me disseram quando cheguei no Canadá, e que já havia lido ainda bem antes de vir para cá, é que Toronto é a cidade mais multicultural do planeta.
Ao começar a conhecer melhor a cidade, a circular pelas diferentes regiões, andar de metrô, percebi que o que eu entendia por multiculturalismo não estava exatamente certo. Na minha visão, significava diversas culturas se integrando, formando uma nova cultura com características de cada uma das que a compõe. Ingenuidade minha.
“Multiculturalismo” é exatamente o contrário. É as pessoas, mesmo morando em outro país, manterem suas próprias tradições, e seu idioma. É positivo, nossas origens e tradições são importantes, eu sei, mas há o outro lado. Tudo bem que não percam suas raízes, seus costumes, mas ao mudar para um novo país, deve-se assimilar a cultura local, integrar-se ao way of life da nova pátria. E, aqui em Toronto (no Canadá, e em outros locais do mundo), isso não acontece.
Acaba-se – como em Toronto – como um mosaico de guetos, ou ilhas, convivendo num espaço próximo. As pessoas de mesma origem, portugueses, chineses, italianos, gregos, por exemplo, vivem numa mesma região, e o idioma mais comum ali é o da etnia do gueto, há rádios, jornais. Num exemplo mais extremo, há canadenses vindos de Portugal, morando aqui há mais de trinta anos, que não falam inglês! As novas gerações, claro, aprendem os dois idiomas, o nativo dos seus pais e o inglês, e é como se morassem num pedaço de Portugal (exemplo, de novo) na América do Norte. E esse fenômeno pode levar à incapacidade de criar raízes, ligações afetivas com o país.
Parte das causas dos atentados de Londres do dia 07 de julho pode ser explicada através dessa idéia. Sabe-se que os responsáveis por isso eram britâncicos, nascidos na Inglaterra, de pais paquistaneses. Ou seja, segunda geração de imigrantes. Ao que se sabe, todos se sentiam outsiders, estrangeiros no país em que nasceram. A falta de integração ao novo país está na gênese de tudo.
Pois é, talvez o multiculturalismo não seja tão motivo de orgulho assim…
Até.
Ao começar a conhecer melhor a cidade, a circular pelas diferentes regiões, andar de metrô, percebi que o que eu entendia por multiculturalismo não estava exatamente certo. Na minha visão, significava diversas culturas se integrando, formando uma nova cultura com características de cada uma das que a compõe. Ingenuidade minha.
“Multiculturalismo” é exatamente o contrário. É as pessoas, mesmo morando em outro país, manterem suas próprias tradições, e seu idioma. É positivo, nossas origens e tradições são importantes, eu sei, mas há o outro lado. Tudo bem que não percam suas raízes, seus costumes, mas ao mudar para um novo país, deve-se assimilar a cultura local, integrar-se ao way of life da nova pátria. E, aqui em Toronto (no Canadá, e em outros locais do mundo), isso não acontece.
Acaba-se – como em Toronto – como um mosaico de guetos, ou ilhas, convivendo num espaço próximo. As pessoas de mesma origem, portugueses, chineses, italianos, gregos, por exemplo, vivem numa mesma região, e o idioma mais comum ali é o da etnia do gueto, há rádios, jornais. Num exemplo mais extremo, há canadenses vindos de Portugal, morando aqui há mais de trinta anos, que não falam inglês! As novas gerações, claro, aprendem os dois idiomas, o nativo dos seus pais e o inglês, e é como se morassem num pedaço de Portugal (exemplo, de novo) na América do Norte. E esse fenômeno pode levar à incapacidade de criar raízes, ligações afetivas com o país.
Parte das causas dos atentados de Londres do dia 07 de julho pode ser explicada através dessa idéia. Sabe-se que os responsáveis por isso eram britâncicos, nascidos na Inglaterra, de pais paquistaneses. Ou seja, segunda geração de imigrantes. Ao que se sabe, todos se sentiam outsiders, estrangeiros no país em que nasceram. A falta de integração ao novo país está na gênese de tudo.
Pois é, talvez o multiculturalismo não seja tão motivo de orgulho assim…
Até.
segunda-feira, julho 18, 2005
Ontem
Ainda repercutindo a Sopa de ontem.
Lembro da primeira vez que estive na Europa, há seis anos. Estávamos nós, os Perdidos na Espace, entrando na parte final da viagem, já na França. Nossa primeira parada foi em Dijon, na região da Borgonha, leste francês.
Visitando a cidade, fomos conhecer, além da Eglise de Notre Dame com suas gárgulas, a Catedral de St-Benigne, na praça de mesmo nome, em estilo gótico. Visitamos também sua cripta, escura e úmida como toda cripta que se preze, que é datada do ano de 1007. Foi neste momento que me dei conta de um fato que vinha notando desde que chegara à Europa, mas ali foi que conectei tudo: somos muito novos.
O Brasil, eu quero dizer.
Eu havia visitado casas, ainda habitadas, que eram mais antigas que o descobrimento do Brasil. Era mais antigas que o país em que nascemos e vivemos. E mesmo assim a Europa volta e meia se mete em confusões, mesmo com toda sabedoria que o tempo traz. E esse é o ponto.
Nós não somos caso perdido, apenas estamos crescendo.
Boa parte dos nossos problemas podem ser creditados ao fato de sermos um país ainda infantil. Nosso sentimento de inferioridade (o que vem do exterior é melhor), alguns deslizes morais até, tudo é coisa de asolescente. Vamos amadurecer, é certo. Só que crescer não é um processo simples e nem indolor. Temos jeito.
Se eu não acreditasse no potencial do Brasil como nação, eu iria embora para não voltar. Mas não é esse o caso. Eu acredito, sinceramente.
Não como nosso destino, que fique bem claro, mas como opção e resultado de muito esforço. Depuração dos problemas, espremendo algumas espinhas (Robertos Jeffersons e, sim, Josés Dirceus da vida). Devagar, com trabalho, chegamos lá. Vai levar tempo? Sim, mas valerá a pena.
A primeira coisa a fazer é investir em educação. Educação e conhecimento proporcionam independência de pensamento, que é o mesmo que liberdade.
Só um detalhe: antes de ficar horrorizados com o que lemos nos jornais sobre corrupção, não seria bom se todos olhassem no espelho e lembrassem do imposto de renda que sonegam, das infrações de trânsito, das pequenas e “inofensivas” violações da lei que cometemos todos os dias?
Um governo nada mais é do que um espelho do povo que o elegeu…
Até.
Lembro da primeira vez que estive na Europa, há seis anos. Estávamos nós, os Perdidos na Espace, entrando na parte final da viagem, já na França. Nossa primeira parada foi em Dijon, na região da Borgonha, leste francês.
Visitando a cidade, fomos conhecer, além da Eglise de Notre Dame com suas gárgulas, a Catedral de St-Benigne, na praça de mesmo nome, em estilo gótico. Visitamos também sua cripta, escura e úmida como toda cripta que se preze, que é datada do ano de 1007. Foi neste momento que me dei conta de um fato que vinha notando desde que chegara à Europa, mas ali foi que conectei tudo: somos muito novos.
O Brasil, eu quero dizer.
Eu havia visitado casas, ainda habitadas, que eram mais antigas que o descobrimento do Brasil. Era mais antigas que o país em que nascemos e vivemos. E mesmo assim a Europa volta e meia se mete em confusões, mesmo com toda sabedoria que o tempo traz. E esse é o ponto.
Nós não somos caso perdido, apenas estamos crescendo.
Boa parte dos nossos problemas podem ser creditados ao fato de sermos um país ainda infantil. Nosso sentimento de inferioridade (o que vem do exterior é melhor), alguns deslizes morais até, tudo é coisa de asolescente. Vamos amadurecer, é certo. Só que crescer não é um processo simples e nem indolor. Temos jeito.
Se eu não acreditasse no potencial do Brasil como nação, eu iria embora para não voltar. Mas não é esse o caso. Eu acredito, sinceramente.
Não como nosso destino, que fique bem claro, mas como opção e resultado de muito esforço. Depuração dos problemas, espremendo algumas espinhas (Robertos Jeffersons e, sim, Josés Dirceus da vida). Devagar, com trabalho, chegamos lá. Vai levar tempo? Sim, mas valerá a pena.
A primeira coisa a fazer é investir em educação. Educação e conhecimento proporcionam independência de pensamento, que é o mesmo que liberdade.
Só um detalhe: antes de ficar horrorizados com o que lemos nos jornais sobre corrupção, não seria bom se todos olhassem no espelho e lembrassem do imposto de renda que sonegam, das infrações de trânsito, das pequenas e “inofensivas” violações da lei que cometemos todos os dias?
Um governo nada mais é do que um espelho do povo que o elegeu…
Até.
domingo, julho 17, 2005
A Sopa 04/52
Brasil.
Desde que surgiram as primeiras denúncias de corrupção envolvendo integrantes do governo Lula, denúncias essas que foram se avolumando em termos de quantidade de informações e quantidade de dinheiro envolvido, sei que existem muitas pessoas no Brasil que estão felizes com o que aconteceu e, mais, alguns leitores desta Sopa que estão “se babando” de emoção e felicidade. E aguardando que eu diga alguma coisa a respeito ou, melhor, que não fale nada, ignore o assunto, com o intuito de defender “o meu partido”.
Comecemos, então com algumas prerrogativas básicas. Uma vez eu assisti a uma cerimônia de casamento judaica, e em outra a uma cerimônia numa igreja protestante. Quer dizer que por isso agora sou judeu ou protestante? Não, claro. Mas é com o mesmo tipo de raciocínio que as pessoas (não todas, eu sei) olham para quem vota ou votou alguma vez no Partido dos Trabalhadores. Votou, é petista. E esperam que “o petista” defenda com unhas e dentes “o partido”, afinal se votou é porque é.
Entendo esse comportamento, confesso, principalmente no que diz respeito a nós, gaúchos. Porque somos assim mesmo, maniqueístas nessas questões: chimangos ou maragatos, Inter ou grêmio, PT ou Não-PT. Não existe meio termo, não existem variações de cor, não existe o cinza, apenas o preto ou branco. Vermelho ou azul. Estrela ou não. E mais: se és de um lado, és anti o outro lado. Muitos torcedores do grêmio não o são na verdade, são é anti-Inter.
Voltando ao tema em questão, política, esse dualismo típico gaúcho (falo de onde conheço bem) ficou bem evidenciado nas últimas eleições, tanto para governador do estado quanto para a prefeitura. Nas eleições de 2002, fui voto vencido, e quem ganhou foi o governador Germano Rigotto, do PMDB. No ano passado, para prefeito, não votei porque estava aqui em Toronto, mas abri meu voto com muitos meses de antecedência: achava que o melhor era o PT não ganhar porque Porto Aegre estava precisando da saudável alternância no poder, já que o PT estava governando a cidade – com sucesso – há dezesseis anos.
No plano federal, a coisa é bem mais complicada.
O presidente Luis Inácio Lula da Silva só ganhou as eleições porque fez o PT se abrir às alianças com outros partidos, até de setores colocados bem mais à direita do que a maioria dos seus militantes gostaria. Foi uma opção pragmática: aliar-se e chegar ao poder para tentar colocar suas idéias em prática ou continuar na confortável cadeira da eterna oposição, dos eternos teóricos. Eleito, defrontou-se com dois novos dilemas: governo sonhado X governo possível e governabilidade.
Para o segundo problema, novas alianças…
Um grave problema do PT sempre foi a politização da máquina do estado. Um país, um estado, uma cidade ou mesmo empresa, para funcionar, devem ser gerenciados por técnicos em cargos técnicos, políticos em cargos políticos. O PT parece que acha que os seus militantes, só pelo fato de serem militantes, são mais preparados do que os outros. É um erro. Aconteceu quando foi PT foi governo do estado do Rio Grande do Sul, e aconteceu no plano federal.
Sejamos honestos, então: todos os governos fizeram isso, no Brasil.
Não é esse o ponto, contudo. As denúncias de corrupção são graves, devem ser apuradas, e os responsáveis devem ser punidos exemplarmente. Se forem graves a ponto de envolverem o Presidente da República da mesma forma que aconteceu com o ex-presidente Collor, que o destino seja o mesmo. Ou que o povo, nas urnas, diga que não quer mais o PT no governo, se esse for o caso.
Quem acreditou, por um segundo, que o PT era composto apenas por santos iluminados, foi ingênuo e deve realmente estar frustrado com tudo que está presenciando. O PT é um partido composto por seres humanos, e entre seres humanos sempre haverá alguns menos honestos que outros. Sempre foi assim, mas devemos sempre lutar para eliminar os desonestos e mau caráteres da vida pública, independente de cor partidária. Hoje é o PT? Eliminem-se os desonestos do PT.
Boa parte das pessoas que votavam (e votam) no PT o faziam não porque achavam que eles eram seres incorruptíveis e com virtudes acima dos outros, mas porque viam neles uma alternativa ao estado de coisas que vem governando no Brasil desde sempre, os Sarneys, os Jader Barbalhos, os ACMs da vida. O PT não é infalível, só não sabia disso quem não queria. O que eles vendiam era a esperança. Espero que não se perca isso, a esperança de dias melhores. Com PT ou sem PT.
Parabéns, Coronéis, vocês venceram outra vez.
#
A Sopa está completando quatro anos na semana que vem e, por isso, está solicitando a todos aqueles que quiserem enviar colaborações para a edição de aniversário que o façam até a próxima sexta-feira.
Desde que surgiram as primeiras denúncias de corrupção envolvendo integrantes do governo Lula, denúncias essas que foram se avolumando em termos de quantidade de informações e quantidade de dinheiro envolvido, sei que existem muitas pessoas no Brasil que estão felizes com o que aconteceu e, mais, alguns leitores desta Sopa que estão “se babando” de emoção e felicidade. E aguardando que eu diga alguma coisa a respeito ou, melhor, que não fale nada, ignore o assunto, com o intuito de defender “o meu partido”.
Comecemos, então com algumas prerrogativas básicas. Uma vez eu assisti a uma cerimônia de casamento judaica, e em outra a uma cerimônia numa igreja protestante. Quer dizer que por isso agora sou judeu ou protestante? Não, claro. Mas é com o mesmo tipo de raciocínio que as pessoas (não todas, eu sei) olham para quem vota ou votou alguma vez no Partido dos Trabalhadores. Votou, é petista. E esperam que “o petista” defenda com unhas e dentes “o partido”, afinal se votou é porque é.
Entendo esse comportamento, confesso, principalmente no que diz respeito a nós, gaúchos. Porque somos assim mesmo, maniqueístas nessas questões: chimangos ou maragatos, Inter ou grêmio, PT ou Não-PT. Não existe meio termo, não existem variações de cor, não existe o cinza, apenas o preto ou branco. Vermelho ou azul. Estrela ou não. E mais: se és de um lado, és anti o outro lado. Muitos torcedores do grêmio não o são na verdade, são é anti-Inter.
Voltando ao tema em questão, política, esse dualismo típico gaúcho (falo de onde conheço bem) ficou bem evidenciado nas últimas eleições, tanto para governador do estado quanto para a prefeitura. Nas eleições de 2002, fui voto vencido, e quem ganhou foi o governador Germano Rigotto, do PMDB. No ano passado, para prefeito, não votei porque estava aqui em Toronto, mas abri meu voto com muitos meses de antecedência: achava que o melhor era o PT não ganhar porque Porto Aegre estava precisando da saudável alternância no poder, já que o PT estava governando a cidade – com sucesso – há dezesseis anos.
No plano federal, a coisa é bem mais complicada.
O presidente Luis Inácio Lula da Silva só ganhou as eleições porque fez o PT se abrir às alianças com outros partidos, até de setores colocados bem mais à direita do que a maioria dos seus militantes gostaria. Foi uma opção pragmática: aliar-se e chegar ao poder para tentar colocar suas idéias em prática ou continuar na confortável cadeira da eterna oposição, dos eternos teóricos. Eleito, defrontou-se com dois novos dilemas: governo sonhado X governo possível e governabilidade.
Para o segundo problema, novas alianças…
Um grave problema do PT sempre foi a politização da máquina do estado. Um país, um estado, uma cidade ou mesmo empresa, para funcionar, devem ser gerenciados por técnicos em cargos técnicos, políticos em cargos políticos. O PT parece que acha que os seus militantes, só pelo fato de serem militantes, são mais preparados do que os outros. É um erro. Aconteceu quando foi PT foi governo do estado do Rio Grande do Sul, e aconteceu no plano federal.
Sejamos honestos, então: todos os governos fizeram isso, no Brasil.
Não é esse o ponto, contudo. As denúncias de corrupção são graves, devem ser apuradas, e os responsáveis devem ser punidos exemplarmente. Se forem graves a ponto de envolverem o Presidente da República da mesma forma que aconteceu com o ex-presidente Collor, que o destino seja o mesmo. Ou que o povo, nas urnas, diga que não quer mais o PT no governo, se esse for o caso.
Quem acreditou, por um segundo, que o PT era composto apenas por santos iluminados, foi ingênuo e deve realmente estar frustrado com tudo que está presenciando. O PT é um partido composto por seres humanos, e entre seres humanos sempre haverá alguns menos honestos que outros. Sempre foi assim, mas devemos sempre lutar para eliminar os desonestos e mau caráteres da vida pública, independente de cor partidária. Hoje é o PT? Eliminem-se os desonestos do PT.
Boa parte das pessoas que votavam (e votam) no PT o faziam não porque achavam que eles eram seres incorruptíveis e com virtudes acima dos outros, mas porque viam neles uma alternativa ao estado de coisas que vem governando no Brasil desde sempre, os Sarneys, os Jader Barbalhos, os ACMs da vida. O PT não é infalível, só não sabia disso quem não queria. O que eles vendiam era a esperança. Espero que não se perca isso, a esperança de dias melhores. Com PT ou sem PT.
Parabéns, Coronéis, vocês venceram outra vez.
#
A Sopa está completando quatro anos na semana que vem e, por isso, está solicitando a todos aqueles que quiserem enviar colaborações para a edição de aniversário que o façam até a próxima sexta-feira.
sábado, julho 16, 2005
De novo sábado
Mesmo que a rotina não seja fisicamente estafante, ou ao menos cansativa, o sábado é sempre bem recebido como uma interrupção, uma quebra, na seqüência e no fluxo de pensamentos que dominam o dia-a-dia de estudo, pacientes e eventuais reuniões. E então existe a outra rotina, a de sábado, que agora ficou alterada desde que estou dividindo o apartamento, que consiste nas lides domésticas, de limpeza, lavagem de roupas, supermercado.
Hoje não apareceu o sol, tímido que está atrás de nuvens que o escondem mas não conseguem aliviar o calor, que ainda não tem previsão de diminuir, não ao menos nos próximos dias. Sentado em frente ao computador, ouvindo os ruídos da rua que entram pela janela aberta – mesmo no 21º andar – penso na semana que passou. Algumas boas notícias, algumas confirmações e – uma constante – muitos planos de futuro.
Penso que é isso o que nos move, o que nos faz seguir em frente: os planos, os projetos futuros. E não os qualifico nem quantifico, isso é coisa para cada um, aspiração íntima, o caminho que queremos ou devemos ou mesmo o que nos resta. Mas, sem dúvida nenhuma, são os planos que dão sentido à vida.
O que não quer dizer viver esperando por algo que um dia vai acontecer, viver num possível ou sonhado futuro, assim como relembrar, repensar ou refletir sobre o passado não é viver nele. Mas, sim, temos um projeto de onde queremos chegar, ou imaginamos que podemos chegar, e seguimos pelo caminho que imaginamos que vai nos levar até lá.
Vida é o que fazemos enquanto seguimos pelo caminho.
A vida é o caminho.
Até.
Hoje não apareceu o sol, tímido que está atrás de nuvens que o escondem mas não conseguem aliviar o calor, que ainda não tem previsão de diminuir, não ao menos nos próximos dias. Sentado em frente ao computador, ouvindo os ruídos da rua que entram pela janela aberta – mesmo no 21º andar – penso na semana que passou. Algumas boas notícias, algumas confirmações e – uma constante – muitos planos de futuro.
Penso que é isso o que nos move, o que nos faz seguir em frente: os planos, os projetos futuros. E não os qualifico nem quantifico, isso é coisa para cada um, aspiração íntima, o caminho que queremos ou devemos ou mesmo o que nos resta. Mas, sem dúvida nenhuma, são os planos que dão sentido à vida.
O que não quer dizer viver esperando por algo que um dia vai acontecer, viver num possível ou sonhado futuro, assim como relembrar, repensar ou refletir sobre o passado não é viver nele. Mas, sim, temos um projeto de onde queremos chegar, ou imaginamos que podemos chegar, e seguimos pelo caminho que imaginamos que vai nos levar até lá.
Vida é o que fazemos enquanto seguimos pelo caminho.
A vida é o caminho.
Até.
sexta-feira, julho 15, 2005
Sobre o treze de julho
Foi o dia do rock, mas não é disso que vou falar. Apesar de não falar especificamente sobre este gênero musical ou da data comemorada na quarta-feira passada, ainda sim vou falar de música. E de músicas significativas.
Existem músicas que transcendem o seu significado para se tornarem hinos informais que marcam passagens de nossas vidas ou mesmo lugares e pessoas. Por ser alguém que vive música, desde que me conheço por gente, tenho MUITOS momentos e pessoas que têm sua própria música na minha vida.
Umas emocionam mais, outras menos.
Hoje quero falar de uma, em especial. Outro dia, falo de outra.
A de hoje é praticamente um hino informal do Rio Grande do Sul. Chama-se ‘Canto Alegretense’. Alegrete é o maior município do Rio Grande do Sul em área territorial, e conhecida como a cidade mais gaúcha do estado graças à manutenção do tradicionalismo. A letra é uma ode de amor à cidade e, por extensão, ao Rio Grande do Sul. Acho que todo gaúcho se emociona ao ouvi-la (da mesma forma que com o hino rio-grandense).
Não me perguntes onde fica o Alegrete,
segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete e
ouvirás toque de gaita e de violão.
Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde
ou quem vem de Uruguaiana de manhã
tem o sol como uma brasa que ainda arde,
mergulhado no rio Ibirapuitã.
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoati de mel campeiro;
pedra moura das quebradas do Inhamduí.
E na hora derradeira que eu mereça
ver o sol alegretense entardecer
como os potros vou virar minha cabeça
para os pagos no momento de morrer.
E nos olhos vou levar o encantamento
desta terra que eu amei com devoção
cada verso que eu componho é um pagamento
de uma dívida de amor e gratidão.
Glossário:
Ginete: pessoa que monta bem, com firmeza e garbo
Tuna: qualquer cactácea (cactus)
Camoatim: vespa
Até.
Existem músicas que transcendem o seu significado para se tornarem hinos informais que marcam passagens de nossas vidas ou mesmo lugares e pessoas. Por ser alguém que vive música, desde que me conheço por gente, tenho MUITOS momentos e pessoas que têm sua própria música na minha vida.
Umas emocionam mais, outras menos.
Hoje quero falar de uma, em especial. Outro dia, falo de outra.
A de hoje é praticamente um hino informal do Rio Grande do Sul. Chama-se ‘Canto Alegretense’. Alegrete é o maior município do Rio Grande do Sul em área territorial, e conhecida como a cidade mais gaúcha do estado graças à manutenção do tradicionalismo. A letra é uma ode de amor à cidade e, por extensão, ao Rio Grande do Sul. Acho que todo gaúcho se emociona ao ouvi-la (da mesma forma que com o hino rio-grandense).
Não me perguntes onde fica o Alegrete,
segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete e
ouvirás toque de gaita e de violão.
Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde
ou quem vem de Uruguaiana de manhã
tem o sol como uma brasa que ainda arde,
mergulhado no rio Ibirapuitã.
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoati de mel campeiro;
pedra moura das quebradas do Inhamduí.
E na hora derradeira que eu mereça
ver o sol alegretense entardecer
como os potros vou virar minha cabeça
para os pagos no momento de morrer.
E nos olhos vou levar o encantamento
desta terra que eu amei com devoção
cada verso que eu componho é um pagamento
de uma dívida de amor e gratidão.
Glossário:
Ginete: pessoa que monta bem, com firmeza e garbo
Tuna: qualquer cactácea (cactus)
Camoatim: vespa
Até.
quinta-feira, julho 14, 2005
Ainda bem que foi em Goiás
Eu estava preocupado com o Vicente.
Mas fiquei tranquilo porque foi em Goiás, e não em Porto Alegre. Se bem que o Vicente trabalha por todo o Brasil, então ainda pode ter relação com ele. Sei não…
Explico.
O Vicente é meu tio por tabela, ou seja, é tio da Jacque – irmão da “dona” Sílvia, minha querida sogra – e então fui adotado como seu sobrinho. Grande figura, o Vicente. Engenheiro, é funcionário da Claro, trabalha coordenando a manutenção das torres de telefonia celular. Viaja por todo o Brasil nessas inspeções.
Além de engenheiro, é cantor, e coordenador do coral composto pelos irmãos, principalmente o Celso e o Beto, outras figuras ímpares. Os churrascos na sua casa são famosos, tanto pela qualidade do assador quanto pela diversão certa, muitas cantorias e histórias.
Pois é. Eu dizia que estava preocupado com o Vicente, e é verdade. Tudo porque eu tinha ficado sabendo que a Claro estava limitando o tempo que os funcionários podiam ficar no banheiro. Certo, era em Goiás e eram os funcionários que trabalhavam no atendimento telefônico, mas sei lá, fiquei preocupado. Vai que a moda pega?
Não sei o Vicente, mas eu estaria em maus lençóis. Limitar o tempo de estada no banheiro? Nem pensar! Isso é parte dos direitos fundamentais de um ser humano! Ficar no banheiro o tempo que for necessário, sem interrupções ou pressões de qualquer origem. Gases talvez fosse aceitos, mas aí não seriam pressões externas… deixa pra lá…
Eu me revoltaria contra essa situação, sem dúvida. Talvez me acorrentasse ao vaso sanitário, me abraçasse no papel higiênico. A imolação não estaria descartada, mas provavelmente ficaria reservada para o protesto contra os palmitos nos supermercados (vocês sabem quantas palmeiras são derrubadas para fazer uma lata de palmito em conserva? Não? Muitos). Num ato terrorista cruel, ameaçaria usar o canto do escritório em vez do banheiro como forma de protesto. Organizaria uma passeata, gritaria palavras de ordem, algo como “Com tempo eu não agüento”, ou “Me dá um desconto, no banheiro não vou ter que bater ponto” ou “Ão, ão, ão, segunda-divisão”... ops, situação errada para este último…
Em suma, não toleraria esse atentado contra um dos diretos individuais mais básicos do ser humano: ler o seu jornal, meditar ou até planejar textos para esse blog, no banheiro. Ainda bem que a justiça se manifestou contra essa aitude da Claro. Porque se não fizesse, eu pessoalmente organizaria o MSTnB (Movimento dos Sem Tempo no Banheiro) e organizaria invasões de banheiros, com os invasores levando consigo volumosos livros para passar o tempo.
E tenho dito.
Mas fiquei tranquilo porque foi em Goiás, e não em Porto Alegre. Se bem que o Vicente trabalha por todo o Brasil, então ainda pode ter relação com ele. Sei não…
Explico.
O Vicente é meu tio por tabela, ou seja, é tio da Jacque – irmão da “dona” Sílvia, minha querida sogra – e então fui adotado como seu sobrinho. Grande figura, o Vicente. Engenheiro, é funcionário da Claro, trabalha coordenando a manutenção das torres de telefonia celular. Viaja por todo o Brasil nessas inspeções.
Além de engenheiro, é cantor, e coordenador do coral composto pelos irmãos, principalmente o Celso e o Beto, outras figuras ímpares. Os churrascos na sua casa são famosos, tanto pela qualidade do assador quanto pela diversão certa, muitas cantorias e histórias.
Pois é. Eu dizia que estava preocupado com o Vicente, e é verdade. Tudo porque eu tinha ficado sabendo que a Claro estava limitando o tempo que os funcionários podiam ficar no banheiro. Certo, era em Goiás e eram os funcionários que trabalhavam no atendimento telefônico, mas sei lá, fiquei preocupado. Vai que a moda pega?
Não sei o Vicente, mas eu estaria em maus lençóis. Limitar o tempo de estada no banheiro? Nem pensar! Isso é parte dos direitos fundamentais de um ser humano! Ficar no banheiro o tempo que for necessário, sem interrupções ou pressões de qualquer origem. Gases talvez fosse aceitos, mas aí não seriam pressões externas… deixa pra lá…
Eu me revoltaria contra essa situação, sem dúvida. Talvez me acorrentasse ao vaso sanitário, me abraçasse no papel higiênico. A imolação não estaria descartada, mas provavelmente ficaria reservada para o protesto contra os palmitos nos supermercados (vocês sabem quantas palmeiras são derrubadas para fazer uma lata de palmito em conserva? Não? Muitos). Num ato terrorista cruel, ameaçaria usar o canto do escritório em vez do banheiro como forma de protesto. Organizaria uma passeata, gritaria palavras de ordem, algo como “Com tempo eu não agüento”, ou “Me dá um desconto, no banheiro não vou ter que bater ponto” ou “Ão, ão, ão, segunda-divisão”... ops, situação errada para este último…
Em suma, não toleraria esse atentado contra um dos diretos individuais mais básicos do ser humano: ler o seu jornal, meditar ou até planejar textos para esse blog, no banheiro. Ainda bem que a justiça se manifestou contra essa aitude da Claro. Porque se não fizesse, eu pessoalmente organizaria o MSTnB (Movimento dos Sem Tempo no Banheiro) e organizaria invasões de banheiros, com os invasores levando consigo volumosos livros para passar o tempo.
E tenho dito.
quarta-feira, julho 13, 2005
Toronto Unlimited
Podem me chamar de megalomaníaco que não estou nem aí...
O negócio é o seguinte:
Há algum tempinho, escrevi sobre o consumo de metanfetaminas na noite de Toronto. Logo depois, o New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiadas revistas médicas do mundo, publicou artigos sobre o assunto. Ou seja, pautei o NEJM.
No meio do inverno, escrevi que o problema de Toronto era a falta de limites. Me referia ao frio do inverno, mas tenho comprovado nos últimos dias, com esse calor senegalesco, que Toronto não tem limites nem no verão.
O que eu não sabia é que a prefeitura de Toronto havia contratado um grupo de publicitários (os mesmos que criaram o "I coração NY") para criarem o novo logo da cidade. Pagaram algo em torno de quatro milhões de dólares para pesquisa e criação da nova marca de Toronto. Resultado, lançado há poucos dias: Toronto Unlimited.
Por dois milhões, eu teria feito, com o mesmo resultado...
Até.
terça-feira, julho 12, 2005
São Paulo, que manda em nós
Por Luís Augusto Fischer*
Não é só no plano da cultura que São Paulo manda em nós, os periféricos, os que vivemos em qualquer dos estados brasileiros. Agora estamos assistindo a um festival de provas sobre o quanto nós todos pagamos, na política, por uma mesma manha histórica, a supercentralidade de São Paulo. É coisa construída ao longo do tempo. São Paulo era uma província secundária (hoje continua uma província secundária, mas apenas no sentido negativo das palavras), que emitia gente em busca de esmeraldas, ouro e índios, até que chegou o café, que se deu bem em suas terras vermelhas, e o Brasil rumou para a República, já sob patrocínio dos cafeicultores paulistas. Dali por diante cresceu, inventou a indústria moderna brasileira em larga escala, centralizou a força econômica, formulou o Modernismo e agora, com FHC e Lula, chegou ao poder.
Um dos desdobramentos ideológicos desse processo foi que os valores de São Paulo, por suas elites mentais e suas instituições, passaram a ser tomados como sendo os valores do Brasil como um todo. O exemplo mais evidente disso é o valor absoluto atribuído ao Modernismo paulista, aquele da Semana de Arte de 1922, que 10 em 10 alunos da escola brasileira acreditam tolamente ter sido uma revelação sem a qual nós estaríamos ainda andando de quatro e comendo capim em matéria estética. Trata-se de uma crença construída historicamente pela centralidade de São Paulo, que ao mesmo tempo se colocava no miolo da história, passava a julgar todos os outros modernismos pela sua régua específica (como se outras alternativas de vanguarda não tivessem existido ou não tivessem direito à existência) e condenava tais alternativas ao plano do desinteresse, senão ao da inexistência. Que o digamos nós, periféricos sulinos, que até hoje não sabemos ler os modernistas daqui - não apenas Augusto Meyer, mas Tyrteu Rocha Vianna, Ernani Fornari, Armando Albuquerque e tantos outros.
Agora, a crise do PT e do governo Lula estampa mais uma vez a mesma coisa. Para entender o que está passando, é preciso perceber que todos os pró-homens lulistas e petistas são paulistas, exatamente. Gente formada naquele sindicalismo mafioso dos megasindicatos e das centrais sindicais, gente pragmática que aceita a corrupção em nome de um suposto bem maior, gente que não tem pejo de desconsiderar tantas e tão profícuas experiências políticas e administrativas da esquerda de outras partes do país, gente enfim que universaliza suas mazelas como se fossem naturais para todo mundo - essa gente é que está no centro do problema agora. Não fugir a esse debate pode ser um passo adiante nessa crise.
* Luís Augusto Fischer, 45, é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e escritor.
(Esse texto saiu originalmente no jornal Zero Hora de hoje, 12/07/2005. O autor concordou em ceder o texto como colaboracao ao ‘A Sopa no Exilio’)
Não é só no plano da cultura que São Paulo manda em nós, os periféricos, os que vivemos em qualquer dos estados brasileiros. Agora estamos assistindo a um festival de provas sobre o quanto nós todos pagamos, na política, por uma mesma manha histórica, a supercentralidade de São Paulo. É coisa construída ao longo do tempo. São Paulo era uma província secundária (hoje continua uma província secundária, mas apenas no sentido negativo das palavras), que emitia gente em busca de esmeraldas, ouro e índios, até que chegou o café, que se deu bem em suas terras vermelhas, e o Brasil rumou para a República, já sob patrocínio dos cafeicultores paulistas. Dali por diante cresceu, inventou a indústria moderna brasileira em larga escala, centralizou a força econômica, formulou o Modernismo e agora, com FHC e Lula, chegou ao poder.
Um dos desdobramentos ideológicos desse processo foi que os valores de São Paulo, por suas elites mentais e suas instituições, passaram a ser tomados como sendo os valores do Brasil como um todo. O exemplo mais evidente disso é o valor absoluto atribuído ao Modernismo paulista, aquele da Semana de Arte de 1922, que 10 em 10 alunos da escola brasileira acreditam tolamente ter sido uma revelação sem a qual nós estaríamos ainda andando de quatro e comendo capim em matéria estética. Trata-se de uma crença construída historicamente pela centralidade de São Paulo, que ao mesmo tempo se colocava no miolo da história, passava a julgar todos os outros modernismos pela sua régua específica (como se outras alternativas de vanguarda não tivessem existido ou não tivessem direito à existência) e condenava tais alternativas ao plano do desinteresse, senão ao da inexistência. Que o digamos nós, periféricos sulinos, que até hoje não sabemos ler os modernistas daqui - não apenas Augusto Meyer, mas Tyrteu Rocha Vianna, Ernani Fornari, Armando Albuquerque e tantos outros.
Agora, a crise do PT e do governo Lula estampa mais uma vez a mesma coisa. Para entender o que está passando, é preciso perceber que todos os pró-homens lulistas e petistas são paulistas, exatamente. Gente formada naquele sindicalismo mafioso dos megasindicatos e das centrais sindicais, gente pragmática que aceita a corrupção em nome de um suposto bem maior, gente que não tem pejo de desconsiderar tantas e tão profícuas experiências políticas e administrativas da esquerda de outras partes do país, gente enfim que universaliza suas mazelas como se fossem naturais para todo mundo - essa gente é que está no centro do problema agora. Não fugir a esse debate pode ser um passo adiante nessa crise.
* Luís Augusto Fischer, 45, é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e escritor.
(Esse texto saiu originalmente no jornal Zero Hora de hoje, 12/07/2005. O autor concordou em ceder o texto como colaboracao ao ‘A Sopa no Exilio’)
segunda-feira, julho 11, 2005
Investimentos e Dinheiro
Entre minhas teorias relacionadas ao conhecimento e à sabedoria, melhor, sobre a busca da mesma, está a de que a verdadeira sabedoria está em o homem voltar às suas origens, voltar ao contato com a terra. A agricultura seria a forma do homem alcançar a sabedoria. Vou desenvolver essa teoria em breve, agora não é momento e nem aqui é o local mais adequado.
Mas o que eu não tinha percebido é que, além de fonte de sapiência, a agricultura pode ser muito lucrativa. MUITO, quero dizer. Mas põe MUITO nisso…
Vejam o caso do José Adalberto Vieira da Silva, assessor do irmão do ex-presidente do PT, José Genuíno, preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com cerca de R$ 440 mil, duzentos mil em notas de real e cem mil dólares na cueca: ele disse que esse dinheiro era proveniente da venda de verduras, afinal ele é agricultor, além de assessor de deputado. Não vou entrar em maiores detalhes, mas fiquei pensando sobre isso.
Primeiro de tudo, eu – ingenuamente, confesso, ou por estar morando for a do Brasil há quase um ano – não sabia que o preço das verduras estava tão elevado. O que estou fazendo aqui, me perguntei, quando tudo o que eu tinha que fazer era ter uma horta, umas plantinhas, e vendê-las num mercado. Bom, paciência, honestamente falando, não tenho tamanho tino comercial.
Contudo, existem outras coisas que não ficaram claras para mim, e que discutimos sábado à noite no EBS (Encontro de Blogueiros e Simpatizantes de Toronto – falo mais quando receber as fotos), principalmente o Henrique e eu, mas que contagiou os outros integrantes. Vejam só, ele foi pego porque identificaram dinheiro em espécie em sua mala, pelo raio-X. Perguntado qual o valor, afirmou que portava R$ 80 mil. Os policiais, ao contarem o dinheiro, encontraram duzentos mil reais.
O que fazer? Primeiro, se eu fosse policial federal, eu teria retirado esse dinheiro e devolvido a ele 80 mil, que é o que ele havia declarado. O que fazer com o dinheiro? Doar para instituições de caridade, comprar cestas básicas e doá-las, tanto faz. Por outro lado, vamos dar a ele o benefício da dúvida, por ser agricultor, humilde, talvez ele não fosse bom de matemática e tivesse contado mal. Talvez.
Mas aí resolveram revistá-lo, e encontraram cem mil dólares escondidos na cueca. Em espécie! Na cueca! Que coisa… Imagino que a inspeção foi motivada não pelo raio-X, mas pelo jeito que ele andava, como se estivesse cagado. Você caminharia normal com cem mil dólares nas cuecas? Eu não…
Mas isso não é tudo. Se ele tinha essa fortuna na cuecas, acho que seria mais do que justificado quebrar o sigilo dele e verificar se – além do dinheiro ocultado nas roupas de baixo – ele também não tinha alguma quantia aplicada na poupança.
Esses agricultores. Vai saber…
Mas o que eu não tinha percebido é que, além de fonte de sapiência, a agricultura pode ser muito lucrativa. MUITO, quero dizer. Mas põe MUITO nisso…
Vejam o caso do José Adalberto Vieira da Silva, assessor do irmão do ex-presidente do PT, José Genuíno, preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com cerca de R$ 440 mil, duzentos mil em notas de real e cem mil dólares na cueca: ele disse que esse dinheiro era proveniente da venda de verduras, afinal ele é agricultor, além de assessor de deputado. Não vou entrar em maiores detalhes, mas fiquei pensando sobre isso.
Primeiro de tudo, eu – ingenuamente, confesso, ou por estar morando for a do Brasil há quase um ano – não sabia que o preço das verduras estava tão elevado. O que estou fazendo aqui, me perguntei, quando tudo o que eu tinha que fazer era ter uma horta, umas plantinhas, e vendê-las num mercado. Bom, paciência, honestamente falando, não tenho tamanho tino comercial.
Contudo, existem outras coisas que não ficaram claras para mim, e que discutimos sábado à noite no EBS (Encontro de Blogueiros e Simpatizantes de Toronto – falo mais quando receber as fotos), principalmente o Henrique e eu, mas que contagiou os outros integrantes. Vejam só, ele foi pego porque identificaram dinheiro em espécie em sua mala, pelo raio-X. Perguntado qual o valor, afirmou que portava R$ 80 mil. Os policiais, ao contarem o dinheiro, encontraram duzentos mil reais.
O que fazer? Primeiro, se eu fosse policial federal, eu teria retirado esse dinheiro e devolvido a ele 80 mil, que é o que ele havia declarado. O que fazer com o dinheiro? Doar para instituições de caridade, comprar cestas básicas e doá-las, tanto faz. Por outro lado, vamos dar a ele o benefício da dúvida, por ser agricultor, humilde, talvez ele não fosse bom de matemática e tivesse contado mal. Talvez.
Mas aí resolveram revistá-lo, e encontraram cem mil dólares escondidos na cueca. Em espécie! Na cueca! Que coisa… Imagino que a inspeção foi motivada não pelo raio-X, mas pelo jeito que ele andava, como se estivesse cagado. Você caminharia normal com cem mil dólares nas cuecas? Eu não…
Mas isso não é tudo. Se ele tinha essa fortuna na cuecas, acho que seria mais do que justificado quebrar o sigilo dele e verificar se – além do dinheiro ocultado nas roupas de baixo – ele também não tinha alguma quantia aplicada na poupança.
Esses agricultores. Vai saber…
domingo, julho 10, 2005
A Sopa 04/51
O mundo dá voltas.
“Pronto, lá vem o Marcelo com mais um dos seus comentários pseudofilosóficos de domingo de manhã”, você pode estar pensando. Sim? Sim? Pensa? Pensa?
Está enganado…
Mas, sim, é inevitável que eu conclua da forma que concluí na primeira frase deste pequeno texto. Aconteceu, uma vez mais, ao ler as manchetes que saem nos portais da internet sobre o Ronaldo Nazário. Mas só porque lembrei da minha bunda.
Antes que você – pervertido leitor – comece a pensar bobagens, saibam que uma coisa não tem NADA a ver com a outra. A única associação que pode existir entre esses dois assuntos é relacionado à exposição pública. As pessoas, nos dias de hoje, se expõe demais. Principalmente os ditos famosos, como é o caso dos jogadores de futebol, atores e atrizes de tevê e cinema. Pode-se argumentar, e eu concordo, que as pessoas consomem esse tipo de “jornalismo” (reparem que as aspas dão o tom do que penso desse tipo de notícia). E o fenômeno não é restrito, como pode parecer num primeiro momento.
A vida privada é cada vez menos privada. Somos vigiados por todos os lados, câmeras de segurança, os famosos “Sorria, você está sendo filmado” aparecem até em táxis, hackers podem ler (para dizer o mínimo) o conteúdo de nossos emails, o governo nos monitora. Por mais que se tente, é difícil fugir desse tipo de exposição. Estamos todos vigiados o tempo todo, como se vivêssemos num grande reality show. O Grande Irmão.
Claro que ninguém pode nos obrigar a entrar nesse mercado de celebridades expondo sua vida em público. Não precisamos perder tempo e dinheiro para saber quem namora quem ou quem traiu quem, etc. Isso ainda podemos controlar, apesar de poucos quererem fazer isso. É sinal dos tempos modernos.
E minha bunda com isso?
Percebi que estava me expondo bastante quando as pessoas comentaram um texto meu em que eu falava do episódio da louca no bonde que me pediu para mudar de lugar porque minha bunda estava na frente dela (publicado terça no blog e hoje na versão por email da A Sopa). Comentavam muito mais sobre minha bunda que sobre o episódio em si. Ops, pensei, estou sendo pessoal demais. Ultrapassei a fronteira do bom senso.
O que fazer?
Pensei em parar de escrever sobre mim. Mas aí o blog (e eventualmente A Sopa, o semanário) perderiam o sentido de ser, de existir. A Sopa no Exílio não é um blog para quem quer imigrar para o Canadá e quer conhecer mais sobre o país, nem para fazer apologia ao Canadá, nem para me justificar como canadense (até porque não sou e nem vou ser, em prinípio). Aqui é o lugar onde falo sobre as minhas experiências vivendo aqui, as sensações, os estranhamentos, o como é viver aqui estando eu temporariamente em Toronto, sozinho, sem a família.
É também para reafirmar minhas origens como brasileiro, gaúcho e porto-alegrense, com muito orgulho destes títulos, mas agora um pouco canadense, um pouco cidadão do mundo.
Tá, acho que vou continuar falando da minha bunda…
“Pronto, lá vem o Marcelo com mais um dos seus comentários pseudofilosóficos de domingo de manhã”, você pode estar pensando. Sim? Sim? Pensa? Pensa?
Está enganado…
Mas, sim, é inevitável que eu conclua da forma que concluí na primeira frase deste pequeno texto. Aconteceu, uma vez mais, ao ler as manchetes que saem nos portais da internet sobre o Ronaldo Nazário. Mas só porque lembrei da minha bunda.
Antes que você – pervertido leitor – comece a pensar bobagens, saibam que uma coisa não tem NADA a ver com a outra. A única associação que pode existir entre esses dois assuntos é relacionado à exposição pública. As pessoas, nos dias de hoje, se expõe demais. Principalmente os ditos famosos, como é o caso dos jogadores de futebol, atores e atrizes de tevê e cinema. Pode-se argumentar, e eu concordo, que as pessoas consomem esse tipo de “jornalismo” (reparem que as aspas dão o tom do que penso desse tipo de notícia). E o fenômeno não é restrito, como pode parecer num primeiro momento.
A vida privada é cada vez menos privada. Somos vigiados por todos os lados, câmeras de segurança, os famosos “Sorria, você está sendo filmado” aparecem até em táxis, hackers podem ler (para dizer o mínimo) o conteúdo de nossos emails, o governo nos monitora. Por mais que se tente, é difícil fugir desse tipo de exposição. Estamos todos vigiados o tempo todo, como se vivêssemos num grande reality show. O Grande Irmão.
Claro que ninguém pode nos obrigar a entrar nesse mercado de celebridades expondo sua vida em público. Não precisamos perder tempo e dinheiro para saber quem namora quem ou quem traiu quem, etc. Isso ainda podemos controlar, apesar de poucos quererem fazer isso. É sinal dos tempos modernos.
E minha bunda com isso?
Percebi que estava me expondo bastante quando as pessoas comentaram um texto meu em que eu falava do episódio da louca no bonde que me pediu para mudar de lugar porque minha bunda estava na frente dela (publicado terça no blog e hoje na versão por email da A Sopa). Comentavam muito mais sobre minha bunda que sobre o episódio em si. Ops, pensei, estou sendo pessoal demais. Ultrapassei a fronteira do bom senso.
O que fazer?
Pensei em parar de escrever sobre mim. Mas aí o blog (e eventualmente A Sopa, o semanário) perderiam o sentido de ser, de existir. A Sopa no Exílio não é um blog para quem quer imigrar para o Canadá e quer conhecer mais sobre o país, nem para fazer apologia ao Canadá, nem para me justificar como canadense (até porque não sou e nem vou ser, em prinípio). Aqui é o lugar onde falo sobre as minhas experiências vivendo aqui, as sensações, os estranhamentos, o como é viver aqui estando eu temporariamente em Toronto, sozinho, sem a família.
É também para reafirmar minhas origens como brasileiro, gaúcho e porto-alegrense, com muito orgulho destes títulos, mas agora um pouco canadense, um pouco cidadão do mundo.
Tá, acho que vou continuar falando da minha bunda…
sábado, julho 09, 2005
Sabato
Sabato è il giorno della settimana compreso tra Venerdì e Domenica, dal latino sabbatum derivante a sua volta dall'ebraico Shabbath, giorno dedicato al riposo; per il mondo romano, prima dell'avvento del Cristianesimo, era Saturni dies, giorno di Saturno, utilizzato oggi nei paesi anglofoni e del nord Europa.
Saturno è una figura della mitologia romana, era il dio del benessere agricolo.
Il suo nome deriva da satus o satio (seminagione).
Il dio sarebbe giunto in Italia per fuggire Giove, facendone il suo regno. Insegnò agli uomini l'agricoltura, instaurando un'età felice, l'età saturnia, analoga all'età dell'oro di Crono.
La sua sposa era Opi, la Luna.
Nel Foro Romano si trova un tempio a lui dedicato (498 a.C.), nel quale veniva conservato il pubblico erario e le insegne della legione quando non erano in campo.
A Saturno erano dedicati i Saturnali.
Giove è una figura della mitologia romana, era il dio del cielo dell'Italia e fu personalizzato con l'arrivo degli etruschi a Roma.
Il suo nome deriva dall'italianizzazione di Iove, ablativo di Iuppiter (nella mitologia greca è l'equivalente di Zeus).
I romani unirono le massime divinità, Giove, Giunone e Minerva, in una triade ed eressero per questa un grande tempio sul Campidoglio.
Nacque così a Roma il culto per Giove Ottimo Massimo, al cui tempio si recavano i generali durante il loro trionfo.
Le funzioni di Giove erano varie:
* dio della Luce, Lucetius
* colui che da la sconfitta, Stator, e dà la vittoria
* colui che unisce la comunità, Feretrio.
In questo modo era il protettore in tempo di guerra ed il garante del benessere durante la pace. Sposò Giunone, da cui ebbe tre figli.
Anche Giove, come gran parte delle divinità romane, non possiede una mitologia propria e venne assimilato allo Zeus della mitologia greca, associandolo anche a leggende a cui il vero Giove romano non aveva mai partecipato.
Viene raffigurato come uomo di età matura, con spalle possenti e folta barba.
(Fonte: Wikipedia)
É sábado, e eu gosto.
Até.
sexta-feira, julho 08, 2005
Quando a vida imita a arte…
E não tem graça nenhuma.
Há muitos anos atrás, nos reunimos, o Radica, o Igor e eu para escrever um texto. Naquela época, tínhamos o hábito de escrever histórias em grupo. Algo como um brainstorm. Uma história clássica, que inclusive virou história em quadrinhos pelo talento do Radica, se chamava “A Morte vem num ônibus de dois andares”.
Se passava em Londres, e contava a história de uma striper que à noite era bibliotecária, e acabava com ela se revelando ser a morte, e que andava nos tradicionais ônibus londrinos. Não pude evitar de lembrar dessa história, assim, com um sorriso meio amarelo, ao ler o noticiário sobre as bombas que explodiram lá e que uma dela destruiu um dos ditos ônibus.
Nada a ver, eu sei, mas foi inevitável.
Para aqueles que, como eu, que amavam os Beatles e os Rolling Stones, a Inglaterra tem uma mística toda especial, e todos nos sentimos atingidos pela violência, assim como quando o alvo foi Madri, Istambul e New York. Mas também Bali, Israel, o Iraque, a Palestina, e mesmo o Brasil, que vive uma guerra civil não declarada, com a violência matando todos os dias. Somos feridos sempre que humanos morrem por razões estúpidas.
Religião é uma razão estúpida para se morrer.
Política é uma razão estúpida para se morrer.
Dinheiro é uma razão estúpida para se morrer.
E isso parece não ter fim. Um ataca o outro que revida e vai haver revide do revide e revide do revide do revide e assim ad nauseum.
É muito estupidez junta, lamento.
Estou hoje sem humor.
Até.
Há muitos anos atrás, nos reunimos, o Radica, o Igor e eu para escrever um texto. Naquela época, tínhamos o hábito de escrever histórias em grupo. Algo como um brainstorm. Uma história clássica, que inclusive virou história em quadrinhos pelo talento do Radica, se chamava “A Morte vem num ônibus de dois andares”.
Se passava em Londres, e contava a história de uma striper que à noite era bibliotecária, e acabava com ela se revelando ser a morte, e que andava nos tradicionais ônibus londrinos. Não pude evitar de lembrar dessa história, assim, com um sorriso meio amarelo, ao ler o noticiário sobre as bombas que explodiram lá e que uma dela destruiu um dos ditos ônibus.
Nada a ver, eu sei, mas foi inevitável.
Para aqueles que, como eu, que amavam os Beatles e os Rolling Stones, a Inglaterra tem uma mística toda especial, e todos nos sentimos atingidos pela violência, assim como quando o alvo foi Madri, Istambul e New York. Mas também Bali, Israel, o Iraque, a Palestina, e mesmo o Brasil, que vive uma guerra civil não declarada, com a violência matando todos os dias. Somos feridos sempre que humanos morrem por razões estúpidas.
Religião é uma razão estúpida para se morrer.
Política é uma razão estúpida para se morrer.
Dinheiro é uma razão estúpida para se morrer.
E isso parece não ter fim. Um ataca o outro que revida e vai haver revide do revide e revide do revide do revide e assim ad nauseum.
É muito estupidez junta, lamento.
Estou hoje sem humor.
Até.
quinta-feira, julho 07, 2005
Mais música
Como eu dizia ontem, minha vida mudou mais uma vez depois do advento do iPod. Vocês sabem, o iPod é o tocador de Mp3 da Apple. Pois então, semana passada comprei um para mim. Comprei o Mini, com 4GB de memória, com uma capacidade de cerca de mil músicas. Ainda me espanto com isso, afinal sou de outro tempo, sou do tempo dos discos de vinil, fitas cassete. O Cd já foi um avanço significativo, mas o Mp3 é demais pra mim. Mil música num aparelho muito menor que minha carteira! Sem dinheiro! Que loucura! É como andar com todos os meus Cd (aqueles que estão aqui comigo no Canadá) o tempo todo, e poder alternar de um para outro sem esforço nenhum.
E dá para entender porque eu digo que minha vida mudou: porque viver com trilha sonora é muito melhor. A música dá um sentido diferente a tudo o que vivemos. A tudo o que vemos, ao que sentimos. Não andamos mais sozinhos, mesmo sem estar na companhia de alguém.
E um outro recurso torna ainda mais interessante a experiência de andar ouvindo música por todos os lugares: a opção shuffle, que toca as músicas em ordem aleatória. É uma constante surpresa, nunca se sabe qual a música que tocará em breve. É quase como se estivesse ouvindo rádio, mas melhor.
E também um golpe baixo: é como ouvir uma rádio que só toca as músicas que eu gosto. Pensando bem, é a solução ideal. Ouvir uma rádio que não tem intervalos e que vai tocar só gêneros musicais que me agradam. Mais: como sou extremamente (modestamente falando) eclético, a alternância de estilos musicais é uma constante no meu dia ouvindo música. Os trajetos de casa para o hospital e deste de volta, ou o tempo que passo correndo na esteira, são – normalmente - de agradáveis surpresas quando uso a seleção randômica de músicas.
´
Isso tudo sem considerar o fato de que tenho uma teoria que diz que esses pequenas aparelhos são compostos por algum tipo de inteligência artificial, que sabe o momento certo de tocar determinada música. Como explicar, por exemplo, eu sair de casa – na minha primeira manhã de iPod – e, ao chegar na rua, lindo dia de sol e céu azul, e começar a toca ‘Beautiful Day’, do U2. Ou: quer melhor momento para escutar jazz que no metrô? Entrei no metrô, no mesmo dia, e saiu tocando ‘When the saints go Marching In’ com Louis Armstrong e uma grande banda. Coincidência? Duvido…
O fato é que – repito – a vida tem muito mais cor e graça quando tem trilha sonora.
Até.
E dá para entender porque eu digo que minha vida mudou: porque viver com trilha sonora é muito melhor. A música dá um sentido diferente a tudo o que vivemos. A tudo o que vemos, ao que sentimos. Não andamos mais sozinhos, mesmo sem estar na companhia de alguém.
E um outro recurso torna ainda mais interessante a experiência de andar ouvindo música por todos os lugares: a opção shuffle, que toca as músicas em ordem aleatória. É uma constante surpresa, nunca se sabe qual a música que tocará em breve. É quase como se estivesse ouvindo rádio, mas melhor.
E também um golpe baixo: é como ouvir uma rádio que só toca as músicas que eu gosto. Pensando bem, é a solução ideal. Ouvir uma rádio que não tem intervalos e que vai tocar só gêneros musicais que me agradam. Mais: como sou extremamente (modestamente falando) eclético, a alternância de estilos musicais é uma constante no meu dia ouvindo música. Os trajetos de casa para o hospital e deste de volta, ou o tempo que passo correndo na esteira, são – normalmente - de agradáveis surpresas quando uso a seleção randômica de músicas.
´
Isso tudo sem considerar o fato de que tenho uma teoria que diz que esses pequenas aparelhos são compostos por algum tipo de inteligência artificial, que sabe o momento certo de tocar determinada música. Como explicar, por exemplo, eu sair de casa – na minha primeira manhã de iPod – e, ao chegar na rua, lindo dia de sol e céu azul, e começar a toca ‘Beautiful Day’, do U2. Ou: quer melhor momento para escutar jazz que no metrô? Entrei no metrô, no mesmo dia, e saiu tocando ‘When the saints go Marching In’ com Louis Armstrong e uma grande banda. Coincidência? Duvido…
O fato é que – repito – a vida tem muito mais cor e graça quando tem trilha sonora.
Até.
quarta-feira, julho 06, 2005
A Histérica História da Esteira
Nada a ver. Só achei este título simpático.
Agora falando sério.
Há alguns meses, logo depois de ter chegado aqui em Toronto, escrevi que minha vida tinha mudado desde que eu comprara um diskman. Isso durou mais ou menos um mês.
Porque aí virou um saco andar com o diskman. Não, não enjoei, mas era irritante como dava problema. Tornou-se virtualmente impossível ouvir uma música inteira sem que o CD pulasse ou desse erro. Desisti de ouvir música na rua. Fazer o quê? Paciência…
Esso é uma das características do zen-budismo: o conceito da impermanência.
Nada, nem nós e nem o Cd player somos eternos. Não adianta ficarmos agarrados ao passado, à época em que o Cd tocava sem problemas, porque isso não volta mais. Nem adianta sofrer com isso, se desesperar. Cd players morrem e vão para o céu dos Cds players. É fato da vida, e não há nada que possamos fazer que vá mudar isso. O jeito é tocar a vida adiante, seguir em frente, já que ele não pode mais fazer isso: tocar...
Muito tempo passou desde então, até que me vi frente a um desafio.
A esteira.
Vocês sabem, faz um mês que comecei a fazer atividade física, depois de mais ou menos vinte anos sem praticar esportes (como o conceito do tempo é relativo, é assim que me sentia, pouco importando que na verdade faziam nove meses). Matriculei-me numa academia e tracei o meu próprio plano de treinamento, como foco na parte decondicionamento aeróbico: caminhar, correr e bicicleta. E é neste momento que entra a esteira nesta história (gostei, esteira história, a rasteira história da esteira… que bobagem…).
A parte aeróbica do meu treinamento é feita principalmente caminhando e correndo na esteira. Só que esteria é chato. Não, andar/correr na esteira é MUITO chato. O tempo não passa, a gente corre, corre, corre, corre, corre e corre, olha no cronômetro e passaram-se cinco (CINCO!!) minutos. Estratégia um: tapar o cronômetro. Estratégia dois: fazer de conta que estou de volta à força aérea e cantar mentalmente musiquinhas militares (“Corridinha mixuruca que não dá nem pra cansar, nesse meu passinho lento, vou até o Canadá”… ops, já estou no Canadá…). Estratégia três: pensar em outras coisas para me distrair (revisão dos acontecimentos dos últimos dez anos da minha vida).
Todas as estratégias funcionam por um muito curto tempo, mas depois tornam-se inúteis. Até que a solução se atira na minha frente (não, não são as enfermeiras suecas semi-nuas, pois aí mesmo é que eu não ia conseguir – e nem querer – correr….): música. Preciso ouvir música enquanto faço esteira. Isso! Mas o diskman só trava e não toca direito… Droga de vida, tudo ruim… Desisitir, então?
Nana-nina-nina-não! Nem pensar!
A solução se chama… iPod.
Agora, sim, minha vida mudou…
Até.
Agora falando sério.
Há alguns meses, logo depois de ter chegado aqui em Toronto, escrevi que minha vida tinha mudado desde que eu comprara um diskman. Isso durou mais ou menos um mês.
Porque aí virou um saco andar com o diskman. Não, não enjoei, mas era irritante como dava problema. Tornou-se virtualmente impossível ouvir uma música inteira sem que o CD pulasse ou desse erro. Desisti de ouvir música na rua. Fazer o quê? Paciência…
Esso é uma das características do zen-budismo: o conceito da impermanência.
Nada, nem nós e nem o Cd player somos eternos. Não adianta ficarmos agarrados ao passado, à época em que o Cd tocava sem problemas, porque isso não volta mais. Nem adianta sofrer com isso, se desesperar. Cd players morrem e vão para o céu dos Cds players. É fato da vida, e não há nada que possamos fazer que vá mudar isso. O jeito é tocar a vida adiante, seguir em frente, já que ele não pode mais fazer isso: tocar...
Muito tempo passou desde então, até que me vi frente a um desafio.
A esteira.
Vocês sabem, faz um mês que comecei a fazer atividade física, depois de mais ou menos vinte anos sem praticar esportes (como o conceito do tempo é relativo, é assim que me sentia, pouco importando que na verdade faziam nove meses). Matriculei-me numa academia e tracei o meu próprio plano de treinamento, como foco na parte decondicionamento aeróbico: caminhar, correr e bicicleta. E é neste momento que entra a esteira nesta história (gostei, esteira história, a rasteira história da esteira… que bobagem…).
A parte aeróbica do meu treinamento é feita principalmente caminhando e correndo na esteira. Só que esteria é chato. Não, andar/correr na esteira é MUITO chato. O tempo não passa, a gente corre, corre, corre, corre, corre e corre, olha no cronômetro e passaram-se cinco (CINCO!!) minutos. Estratégia um: tapar o cronômetro. Estratégia dois: fazer de conta que estou de volta à força aérea e cantar mentalmente musiquinhas militares (“Corridinha mixuruca que não dá nem pra cansar, nesse meu passinho lento, vou até o Canadá”… ops, já estou no Canadá…). Estratégia três: pensar em outras coisas para me distrair (revisão dos acontecimentos dos últimos dez anos da minha vida).
Todas as estratégias funcionam por um muito curto tempo, mas depois tornam-se inúteis. Até que a solução se atira na minha frente (não, não são as enfermeiras suecas semi-nuas, pois aí mesmo é que eu não ia conseguir – e nem querer – correr….): música. Preciso ouvir música enquanto faço esteira. Isso! Mas o diskman só trava e não toca direito… Droga de vida, tudo ruim… Desisitir, então?
Nana-nina-nina-não! Nem pensar!
A solução se chama… iPod.
Agora, sim, minha vida mudou…
Até.
terça-feira, julho 05, 2005
Mais notas sobre o Exílio
Por vários do meus escritos anteriores, posso ter dado a entender que esse tempo passado aqui no Canadá, que chamo carinhosamente de exílio, é algo extraordinário, único. Não é, evidentemente.
Todo o aspecto épico que eventualmente posso dar ao que vivo atualmente, é simplesmente isso, literatura. Ou, melhor, são apenas minhas próprias reflexões, meu universo interior dando asas à imaginação. Mais: são apenas a externalização do que sinto o que penso. Só.
A experiência de sair do seu país para morar em outro, com outra cultura, começar – sei de todas as limitações ao que vou dizer – uma nova vida a partir do nada, casa, trabalho, relações de amizade, etc, não tem nada de extraordinário. Já foi vivida por milhares de pessoas e ainda vai ser.
Todas as coisas ditas até aqui não passam de obviedades, “chover no molhado”, qualquer um sabe, assim como sabem que a grandiosidade disso tudo (aparentemente me contradigo) está naquilo que vou tirar dessa experiência para o resto da minha vida, pessoal e profissionalmente. As questões práticas, do dia-a-dia, são iguais a de qualquer um que esteja mudando de país sozinho para viver um tempo.
Isso para falar de um livro que estou lendo.
Em uma das minhas incursões de final de semana pelo bairro, mais especificamente pela livraria Chapters aqui perto, bati um olho num livro e não resisti, tive que comprar. O livro se chama “C’est la Vie” e a autora se chama Suzy Gershman.
Existe toda uma linha literária – digamos assim – de expatriados contando suas experiências de viver fora de seu país, livros e blogs aí incluídos.
Quanto a livros, um dos autores que já conhecia era o Tim Paks, um inglês que mora há mais de vinte anos na Itália, no norte, no Vêneto, pelo que me lembro. São dele os livros “Meus Vizinhos Italianos”, que comprei e li no Brasil (por isso sei que tem tradução para o português), em que conta como foi adaptar-se aos costumes locais, morando numa pequena cidade próxima à Verona, além de ‘An Italian Education’ (não li) e ‘A Season with Verona’ que comprei no aeroporto de Milão há alguns anos e que relata o ano em que ele acompanhou o time do Verona durante toda a temporada do campeonato italiano de futebol, viajando pela Itália para assistir os jogos e observando e tentando entender o jeito italiano de ser.
Na área dos blogs, um que gosto muito, por exemplo – e que coincidentemente fala da vida Itália (fixação minha?) – é o Carta da Itália, do Allan. Mas existem muitos, e de todos os lugares do mundo, e este Sopa no Exílio humildemente tenta estar à altura de ser considerado parte deste grupo.
Voltando ao livro, a autora conta a sua própria história: ela é jornalista e autora dos livros da série Frommer`s Born to Shop, em que dá dicas de compras de lugares do mundo, e Paris em especial. Pois bem, ela conta que sempre quis morar em Paris, e inclusive planejava morar lá com o marido quando os dois se aposentassem. Acontece que, quando estavam planejando passar um ano sabático lá, o marido descobre que está com câncer de pulmão e, entre o diagnóstico e ele falecer passam-se apenas seis semanas. Quando ele morre, ela decide, é a hora de ir.
Quatro semanas passam e ela vai para Paris para, em princípio, passar um ano. E ela conta no livro (que ainda estou lendo) todas as dificuldades e curiosidades de se estabelecer na cidade, no país, com uma língua diferente e outra cultura. E, ao ler, é como se estivesse lendo passagens do que eu mesmo escrevi, provando cabalmente que todos passamos pelas mesmas situações e sensações.
Até.
Todo o aspecto épico que eventualmente posso dar ao que vivo atualmente, é simplesmente isso, literatura. Ou, melhor, são apenas minhas próprias reflexões, meu universo interior dando asas à imaginação. Mais: são apenas a externalização do que sinto o que penso. Só.
A experiência de sair do seu país para morar em outro, com outra cultura, começar – sei de todas as limitações ao que vou dizer – uma nova vida a partir do nada, casa, trabalho, relações de amizade, etc, não tem nada de extraordinário. Já foi vivida por milhares de pessoas e ainda vai ser.
Todas as coisas ditas até aqui não passam de obviedades, “chover no molhado”, qualquer um sabe, assim como sabem que a grandiosidade disso tudo (aparentemente me contradigo) está naquilo que vou tirar dessa experiência para o resto da minha vida, pessoal e profissionalmente. As questões práticas, do dia-a-dia, são iguais a de qualquer um que esteja mudando de país sozinho para viver um tempo.
Isso para falar de um livro que estou lendo.
Em uma das minhas incursões de final de semana pelo bairro, mais especificamente pela livraria Chapters aqui perto, bati um olho num livro e não resisti, tive que comprar. O livro se chama “C’est la Vie” e a autora se chama Suzy Gershman.
Existe toda uma linha literária – digamos assim – de expatriados contando suas experiências de viver fora de seu país, livros e blogs aí incluídos.
Quanto a livros, um dos autores que já conhecia era o Tim Paks, um inglês que mora há mais de vinte anos na Itália, no norte, no Vêneto, pelo que me lembro. São dele os livros “Meus Vizinhos Italianos”, que comprei e li no Brasil (por isso sei que tem tradução para o português), em que conta como foi adaptar-se aos costumes locais, morando numa pequena cidade próxima à Verona, além de ‘An Italian Education’ (não li) e ‘A Season with Verona’ que comprei no aeroporto de Milão há alguns anos e que relata o ano em que ele acompanhou o time do Verona durante toda a temporada do campeonato italiano de futebol, viajando pela Itália para assistir os jogos e observando e tentando entender o jeito italiano de ser.
Na área dos blogs, um que gosto muito, por exemplo – e que coincidentemente fala da vida Itália (fixação minha?) – é o Carta da Itália, do Allan. Mas existem muitos, e de todos os lugares do mundo, e este Sopa no Exílio humildemente tenta estar à altura de ser considerado parte deste grupo.
Voltando ao livro, a autora conta a sua própria história: ela é jornalista e autora dos livros da série Frommer`s Born to Shop, em que dá dicas de compras de lugares do mundo, e Paris em especial. Pois bem, ela conta que sempre quis morar em Paris, e inclusive planejava morar lá com o marido quando os dois se aposentassem. Acontece que, quando estavam planejando passar um ano sabático lá, o marido descobre que está com câncer de pulmão e, entre o diagnóstico e ele falecer passam-se apenas seis semanas. Quando ele morre, ela decide, é a hora de ir.
Quatro semanas passam e ela vai para Paris para, em princípio, passar um ano. E ela conta no livro (que ainda estou lendo) todas as dificuldades e curiosidades de se estabelecer na cidade, no país, com uma língua diferente e outra cultura. E, ao ler, é como se estivesse lendo passagens do que eu mesmo escrevi, provando cabalmente que todos passamos pelas mesmas situações e sensações.
Até.
segunda-feira, julho 04, 2005
O Exílio e o Zen
Sexta-feira, ao sair do cinema e após uma passada rápida na livraria Chapters, a Monique, o Rafael e eu nos dirigimos ao local marcado para o nosso happy hour com a Camila e o Henrique. Para chegar lá, decidimos pegar o bonde que vai pela Queen Street e nos deixaria na esquina com a Church Street, de onde caminharíamos uma duas quadras até o ponto de encontro.
Embarcamos no dito meio de transporte, e fomos para a parte de trás, próximos à porta de desembarque. Parei de pé, de costas para os bancos onde havia pessoas sentadas, para ficar de frente para os meus companheiros de passeio e continuarmos conversando. Nisso, senti alguém me cutucar. Virei para trás e, como estava encostado numa coluna de metal, imaginei que havia batido sem querer na mão de quem estava sentado.
Foi quando a pessoa sentada e que havia me cutucado, uma senhora afro-americana de aspecto não usual, comentou que o problema é que eu estava virado de costas para eles, deixando minha bunda “na cara deles”.
Aí começou uma sequência de pensamentos meus em frações de segundos enquanto se desenrolava a situação absurda, presenciada por todos no bonde.
(Como assim? Está reclamando da minha bunda? A minha? Puxa, acho tão simpática… você não gostou dela? Estou fazendo até ginástica, que injustiça…)
Eu só me afastei um pouco, fiz sinal de OK, deixando implícito que tudo bem, não me importava em tirar o meu derriére do caminho, afinal, se ela não sabia dar valor ao que estava vendo, não merecia ficar olhando mesmo, mas saiba que estamos num transporte público e se eu quisesse, sentava onde bem entendesse, com exceção do seu colo, afinal você não sabe valorizar o que estava a sua frente, etc. Mas ela continuou falando, e perguntou o que eu ia achar se ela colocasse o seu derriére na minha cara.
(Na minha cara? Deixa eu ver, sei lá, vários fatores: ia depender da anatomia, claro, nestas horas a anatomia é importante, da sua dieta nos últimos vinte anos, o que implicaria no tamanho e no aspecto, sabe, tem coisas que meus estômago não tolera, e evidentemente, da higiene. Se fosse limpinha, asseada, poderíamos começar a conversar, mas pelo aspecto geral da dona e pelo tom de voz, tinha minhas dúvidas…)
Fiz novamente um sinal de que tudo bem, eu me afastaria, e ela continuou falando, ao mesmo tempo em que desliguei a minha audição e entrei em modo autista, prestando atenção só no que falavam o Rafael e a Monique. De repente, ela grita “Wait!” e desce correndo do bonde, que estava quase arrancando de sua parada.
Depois conversando sobre o assunto, comentei porque não havia reagido e dito para ela o que no fundo todos gostaríamos de dizer naquela hora: porque não valia à pena discutir, não ia me estressar por pouco. Ela – no mínimo – era louca (afinal quem, em sã consciência, vai reclamar de olhar para o meu forévis, como diria o falecido Muçum?) e ia só complicar as coisas.
Pensando nisso depois, percebi que estou suuuper-tranqüilo e de bem com a vida, zen mesmo.
Mas não abuse, isso pode não durar muito…
Até.
Embarcamos no dito meio de transporte, e fomos para a parte de trás, próximos à porta de desembarque. Parei de pé, de costas para os bancos onde havia pessoas sentadas, para ficar de frente para os meus companheiros de passeio e continuarmos conversando. Nisso, senti alguém me cutucar. Virei para trás e, como estava encostado numa coluna de metal, imaginei que havia batido sem querer na mão de quem estava sentado.
Foi quando a pessoa sentada e que havia me cutucado, uma senhora afro-americana de aspecto não usual, comentou que o problema é que eu estava virado de costas para eles, deixando minha bunda “na cara deles”.
Aí começou uma sequência de pensamentos meus em frações de segundos enquanto se desenrolava a situação absurda, presenciada por todos no bonde.
(Como assim? Está reclamando da minha bunda? A minha? Puxa, acho tão simpática… você não gostou dela? Estou fazendo até ginástica, que injustiça…)
Eu só me afastei um pouco, fiz sinal de OK, deixando implícito que tudo bem, não me importava em tirar o meu derriére do caminho, afinal, se ela não sabia dar valor ao que estava vendo, não merecia ficar olhando mesmo, mas saiba que estamos num transporte público e se eu quisesse, sentava onde bem entendesse, com exceção do seu colo, afinal você não sabe valorizar o que estava a sua frente, etc. Mas ela continuou falando, e perguntou o que eu ia achar se ela colocasse o seu derriére na minha cara.
(Na minha cara? Deixa eu ver, sei lá, vários fatores: ia depender da anatomia, claro, nestas horas a anatomia é importante, da sua dieta nos últimos vinte anos, o que implicaria no tamanho e no aspecto, sabe, tem coisas que meus estômago não tolera, e evidentemente, da higiene. Se fosse limpinha, asseada, poderíamos começar a conversar, mas pelo aspecto geral da dona e pelo tom de voz, tinha minhas dúvidas…)
Fiz novamente um sinal de que tudo bem, eu me afastaria, e ela continuou falando, ao mesmo tempo em que desliguei a minha audição e entrei em modo autista, prestando atenção só no que falavam o Rafael e a Monique. De repente, ela grita “Wait!” e desce correndo do bonde, que estava quase arrancando de sua parada.
Depois conversando sobre o assunto, comentei porque não havia reagido e dito para ela o que no fundo todos gostaríamos de dizer naquela hora: porque não valia à pena discutir, não ia me estressar por pouco. Ela – no mínimo – era louca (afinal quem, em sã consciência, vai reclamar de olhar para o meu forévis, como diria o falecido Muçum?) e ia só complicar as coisas.
Pensando nisso depois, percebi que estou suuuper-tranqüilo e de bem com a vida, zen mesmo.
Mas não abuse, isso pode não durar muito…
Até.
domingo, julho 03, 2005
A Sopa 04/50
O Exílio, parte três.
A terceira fase do meu exílio, na verdade, compreende as duas primeiras, e temporalmente vai da minha chegada no Canadá, em agosto de 2004, até o início de dezembro do mesmo ano, quando viajei à Porto Alegre para a defesa da minha tese e, claro, rever todos. Foi a grande fase de chegada, adaptação e um primeiro retorno. Se caracteriza pelo silêncio.
Não qualquer silêncio. O Silêncio.
A vida como vivemos hoje, e isso é uma afirmação geral, é uma vida ruidosa. Tudo é som, barulho. O trânsito, com suas buzinas e sirenes, as pessoas, que falam alto o tempo todo, os sons das cidades, a televisão. Há momentos em que – mesmo que se queira – não se consegue fugir do barulho, do som que incomoda. A civilização moderna pode ser definida como a civilização do ruído.
Não estamos mais acostumados com o silêncio. Mesmo que a concentração, as reflexões, o desenvolvimento da filosofia, dependam de quietude, contrição até, estamos habituados a viver com o som, e alto (a surdez decorrente de trauma por volumes muito altos é uma epidemia que está se espalhando rápido). E nem percebemos isso. Até que encontramos 'O Silêncio'. Por tudo isso, é uma experiência pertubadora, e verdadeiramente válida.
Faz parte da fase inicial, enquanto ainda nos sentimos fantasmas (não conhecemos ninguém e ninguém nos conhece, pessoas passam por nós e é como se não existíssemos). Se a parte do fantasma já nos é estranha, a súbita percepção do silêncio que domina tudo assusta. Parece como se nunca houvéssemos experimentado a ausência de sons altos. Por instantes, é como se estivéssemos surdos.
E o que perturba mais é isso: temos amplificados e ouvimos mais os nossos próprios pensamentos. Aumenta a noção do eu. Momento egocêntrico, em que estamos como que isolados do mundo exterior e temos que conviver com esse estranho, esse mesmo que às vezes tem reações que nos surpreendem, espantam. Temos que conviver conosco mesmo. Não há como fugir. Encaramos o Mr Hyde que há em nós, experimentamos o lado negro da Força.
O resultado desse processo é maior auto-conhecimento, sem dúvida. É possível pensar e repensar tudo aquilo que quisermos, e queremos repensar muitas coisas, afinal o exílio - já que existe – também serve para isso. E o auto-conhecimento traz segurança, e nos puxa de volta para o caminho certo, além de torná-lo mais claro. Quando voltamos do silêncio, podemos andar em frente, seguir o curso da nossa história.
No meu caso, o silêncio acabou logo após a defesa da minha tese, quando tive o que podemos chamar de revelação ou a compreensão do significado de algumas coisas.
Mas isso é assunto para uma próxima Sopa…
A terceira fase do meu exílio, na verdade, compreende as duas primeiras, e temporalmente vai da minha chegada no Canadá, em agosto de 2004, até o início de dezembro do mesmo ano, quando viajei à Porto Alegre para a defesa da minha tese e, claro, rever todos. Foi a grande fase de chegada, adaptação e um primeiro retorno. Se caracteriza pelo silêncio.
Não qualquer silêncio. O Silêncio.
A vida como vivemos hoje, e isso é uma afirmação geral, é uma vida ruidosa. Tudo é som, barulho. O trânsito, com suas buzinas e sirenes, as pessoas, que falam alto o tempo todo, os sons das cidades, a televisão. Há momentos em que – mesmo que se queira – não se consegue fugir do barulho, do som que incomoda. A civilização moderna pode ser definida como a civilização do ruído.
Não estamos mais acostumados com o silêncio. Mesmo que a concentração, as reflexões, o desenvolvimento da filosofia, dependam de quietude, contrição até, estamos habituados a viver com o som, e alto (a surdez decorrente de trauma por volumes muito altos é uma epidemia que está se espalhando rápido). E nem percebemos isso. Até que encontramos 'O Silêncio'. Por tudo isso, é uma experiência pertubadora, e verdadeiramente válida.
Faz parte da fase inicial, enquanto ainda nos sentimos fantasmas (não conhecemos ninguém e ninguém nos conhece, pessoas passam por nós e é como se não existíssemos). Se a parte do fantasma já nos é estranha, a súbita percepção do silêncio que domina tudo assusta. Parece como se nunca houvéssemos experimentado a ausência de sons altos. Por instantes, é como se estivéssemos surdos.
E o que perturba mais é isso: temos amplificados e ouvimos mais os nossos próprios pensamentos. Aumenta a noção do eu. Momento egocêntrico, em que estamos como que isolados do mundo exterior e temos que conviver com esse estranho, esse mesmo que às vezes tem reações que nos surpreendem, espantam. Temos que conviver conosco mesmo. Não há como fugir. Encaramos o Mr Hyde que há em nós, experimentamos o lado negro da Força.
O resultado desse processo é maior auto-conhecimento, sem dúvida. É possível pensar e repensar tudo aquilo que quisermos, e queremos repensar muitas coisas, afinal o exílio - já que existe – também serve para isso. E o auto-conhecimento traz segurança, e nos puxa de volta para o caminho certo, além de torná-lo mais claro. Quando voltamos do silêncio, podemos andar em frente, seguir o curso da nossa história.
No meu caso, o silêncio acabou logo após a defesa da minha tese, quando tive o que podemos chamar de revelação ou a compreensão do significado de algumas coisas.
Mas isso é assunto para uma próxima Sopa…
sábado, julho 02, 2005
Mais um
Meio de feriadão no Canadá.
Sábado de manhã, sol, céu azul, temperatura – por enquanto - amena de 19ºC.
Essa semana que passou, frente ao calor senegalesco de mais de 30ºC e sensação térmica próxima à quarenta, comentei com uma colega que eu quase sentia falta do inverno, mas acrescentei logo - ao notar seu olhar de quase horror - que não era louco a esse ponto. Mas confesso que sim, sinto falta de uma meia estação, os extremos são incovenientes, incomodam. Hoje, contudo, o dia vai ser mais agradável, sem temperaturas tão elevadas, diz a previsão.
Ontem, primeiro dia do longo final de semana comemorativo do Canada Day, após exercitar minha disciplina ao exercitar o corpo, corrida, caminhada, flexões, abdominais e bicicleta, tudo ao som da Banda da Sopa que tocava no iPod, almocei e resolvi sair de casa. A idéia era cinema, War of Worlds, mas o calor era grande e exigia um happy hour, uma cerveja, quem sabe uma Guiness.
Liguei, então, para os vizinhos Monique e Rafael e fiz o convite do cinema. Disseram que tinham combinado de ir a um pub no final da tarde com a Camilla e o Henrique, e se eu quisesse ir, tudo bem. Falei que minha idéia de cinema era matinezão, 3:20pm para depois podermos justamente ir a um pub. Fomos, então.
War of Worlds é um filme tenso, é tudo o que vou dizer, e tudo o que precisávamos depois do filme e de uma visita à livraria Chapters da esquina da Richmond com John St, era realmente uma ida ao pub. Depois de pequena espera, já tendo encontrado com a Camilla e o Henrique, conseguimos uma mesa na rua. A temperatura a esta hora já estava agradável, com um ventinho refrescante.
Dali, fomos todos para o Harboufront para ver os fogos em comemoração ao Canada Day. Aí a temperatura era de cerca de 15ºC e com vento, encontramos um lugar num gramado e ficamos sentados lá falando bobagens e esperando começarem os fogos (e continuamos falando bobagens durante, mas isso é detalhe). No final, até puxamos os aplausos…
Foi bem legal, em suma, um bom início de feriado.
Até.
Sábado de manhã, sol, céu azul, temperatura – por enquanto - amena de 19ºC.
Essa semana que passou, frente ao calor senegalesco de mais de 30ºC e sensação térmica próxima à quarenta, comentei com uma colega que eu quase sentia falta do inverno, mas acrescentei logo - ao notar seu olhar de quase horror - que não era louco a esse ponto. Mas confesso que sim, sinto falta de uma meia estação, os extremos são incovenientes, incomodam. Hoje, contudo, o dia vai ser mais agradável, sem temperaturas tão elevadas, diz a previsão.
Ontem, primeiro dia do longo final de semana comemorativo do Canada Day, após exercitar minha disciplina ao exercitar o corpo, corrida, caminhada, flexões, abdominais e bicicleta, tudo ao som da Banda da Sopa que tocava no iPod, almocei e resolvi sair de casa. A idéia era cinema, War of Worlds, mas o calor era grande e exigia um happy hour, uma cerveja, quem sabe uma Guiness.
Liguei, então, para os vizinhos Monique e Rafael e fiz o convite do cinema. Disseram que tinham combinado de ir a um pub no final da tarde com a Camilla e o Henrique, e se eu quisesse ir, tudo bem. Falei que minha idéia de cinema era matinezão, 3:20pm para depois podermos justamente ir a um pub. Fomos, então.
War of Worlds é um filme tenso, é tudo o que vou dizer, e tudo o que precisávamos depois do filme e de uma visita à livraria Chapters da esquina da Richmond com John St, era realmente uma ida ao pub. Depois de pequena espera, já tendo encontrado com a Camilla e o Henrique, conseguimos uma mesa na rua. A temperatura a esta hora já estava agradável, com um ventinho refrescante.
Dali, fomos todos para o Harboufront para ver os fogos em comemoração ao Canada Day. Aí a temperatura era de cerca de 15ºC e com vento, encontramos um lugar num gramado e ficamos sentados lá falando bobagens e esperando começarem os fogos (e continuamos falando bobagens durante, mas isso é detalhe). No final, até puxamos os aplausos…
Foi bem legal, em suma, um bom início de feriado.
Até.
sexta-feira, julho 01, 2005
O Tempo e Eu
Sou fascinado pelo tempo.
Mas não me refiro à meteorologia (claro que, como “velho lobo do mar”, tenho uma estação de tempo e a tábua da marés bem aqui, na palma da minha mão…). Falo do tempo, essa entidade indissociável do espaço desde Einstein (cuja Teoria da Relatividade está completando cem anos), e que dita nossas vidas, queiramos ou não.
Tudo é tempo, que passa. É forma que temos para nos localizar, nos contextualizar, no mundo. Tudo é tempo: o passado de que lembramos, o presente que vivemos e o futuro que sonhamos. Ou projetamos (sutil diferença entre sonhar um futuro e planejá-lo). Nascer, crescer, envelhecer, tudo é registrado em função dele, o senhor da razão, aquele que nunca volta atrás.
Falando nisso lembro de uma música que o Vítor Ramil fez utilizando um poema do Barão de Itararé, Tolice Admirável (alguém mais conhece? lembra da letra?), que dizia que “Os que se julgam espertos acham que a admiração é um alarmante sintoma de ignorância, por isso afirmam que só os tolos se admiram/Os que se maravilham de qualquer coisa, por sua vez, se surpreendem também da impassibilidade dos sabidos, ao quais consideram lamentáveis cegos inconscientes…” e por aí vai, e volto a falar das estrelas, mas sem fugir do meu fascínio com o tempo. Não é admirável saber que olhar para o céu de noite é olhar para o passado?
Que o que na verdade vemos são estrelas cuja luz foi emitida às vezes há milhares de anos e só vemos agora, e que muitas delas, possivelmente já não existam mais, sei lá, explodiram, as imagens do céu nosso de todas as noites, hemisfério sul ou norte, são imagens de um passado distante? Loucura… Mais: as teorias cosmológicas mais aceitas hoje em dia falam que o Universo começou há mais ou menos quinze bilhões de anos com o Big Bang e ainda está em expansão. Ou seja, o Universo não é infinito nem eterno, começou um dia e ainda está “crescendo”. Mas e antes, você – interessado leitor – pode perguntar. Não tem antes!
Se tempo e espaço são uma única dimensão, o tempo só começa quando começa o espaço. É ou não é admirável?
Chega de tergiversar (outra palavra que gosto muito, mas não é bom abusar do seu uso). Tudo o que queria dizer, em resumo, é que o tempo realmente me fascina, e por isso escrevo sobre o que passou, sobre o hoje e sobre o amanhã, e também deve ser por isso que tenho uma memória fantástica com relação a datas, episódios. Mas, acima de tudo, eu queria era dizer que tenho mais exatamente um ano de Canadá. Em primeiro de julho de 2006 (ou num dos dias subsequentes, dependendo de possíveis burocracias) estarei de volta ao Brasil em definitivo, de volta, sentado na porta de minha casa, a mesma e única casa, a casa onde eu sempre morei…
Até.
Mas não me refiro à meteorologia (claro que, como “velho lobo do mar”, tenho uma estação de tempo e a tábua da marés bem aqui, na palma da minha mão…). Falo do tempo, essa entidade indissociável do espaço desde Einstein (cuja Teoria da Relatividade está completando cem anos), e que dita nossas vidas, queiramos ou não.
Tudo é tempo, que passa. É forma que temos para nos localizar, nos contextualizar, no mundo. Tudo é tempo: o passado de que lembramos, o presente que vivemos e o futuro que sonhamos. Ou projetamos (sutil diferença entre sonhar um futuro e planejá-lo). Nascer, crescer, envelhecer, tudo é registrado em função dele, o senhor da razão, aquele que nunca volta atrás.
Falando nisso lembro de uma música que o Vítor Ramil fez utilizando um poema do Barão de Itararé, Tolice Admirável (alguém mais conhece? lembra da letra?), que dizia que “Os que se julgam espertos acham que a admiração é um alarmante sintoma de ignorância, por isso afirmam que só os tolos se admiram/Os que se maravilham de qualquer coisa, por sua vez, se surpreendem também da impassibilidade dos sabidos, ao quais consideram lamentáveis cegos inconscientes…” e por aí vai, e volto a falar das estrelas, mas sem fugir do meu fascínio com o tempo. Não é admirável saber que olhar para o céu de noite é olhar para o passado?
Que o que na verdade vemos são estrelas cuja luz foi emitida às vezes há milhares de anos e só vemos agora, e que muitas delas, possivelmente já não existam mais, sei lá, explodiram, as imagens do céu nosso de todas as noites, hemisfério sul ou norte, são imagens de um passado distante? Loucura… Mais: as teorias cosmológicas mais aceitas hoje em dia falam que o Universo começou há mais ou menos quinze bilhões de anos com o Big Bang e ainda está em expansão. Ou seja, o Universo não é infinito nem eterno, começou um dia e ainda está “crescendo”. Mas e antes, você – interessado leitor – pode perguntar. Não tem antes!
Se tempo e espaço são uma única dimensão, o tempo só começa quando começa o espaço. É ou não é admirável?
Chega de tergiversar (outra palavra que gosto muito, mas não é bom abusar do seu uso). Tudo o que queria dizer, em resumo, é que o tempo realmente me fascina, e por isso escrevo sobre o que passou, sobre o hoje e sobre o amanhã, e também deve ser por isso que tenho uma memória fantástica com relação a datas, episódios. Mas, acima de tudo, eu queria era dizer que tenho mais exatamente um ano de Canadá. Em primeiro de julho de 2006 (ou num dos dias subsequentes, dependendo de possíveis burocracias) estarei de volta ao Brasil em definitivo, de volta, sentado na porta de minha casa, a mesma e única casa, a casa onde eu sempre morei…
Até.
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