Termina agosto.
Historicamente, o oitavo mês do ano tem sido associado a energias ruins, maus presságios. Eu, por muito tempo, acreditei nisso. E os fatos pareciam confirmar a sabedoria popular.
Sabemos, por outro lado, que a dita ‘sabedoria popular’ é um grande engodo, da mesma forma que o são outros ditos relacionados, como ‘a voz do povo é a voz de deus’ ou – com um viés esportivo – ‘o torcedor tem sempre razão’. Bobagem, crendice, mito. Não estou aqui, contudo, desprezando a sabedoria que vem com a experiência, e muito menos diminuindo a importância que têm os mais velhos como fonte justamente de experiência e sabedoria. Só que devemos separar o joio do trigo.
Nem sempre o que está na boca do povo é o mais sensato ou adequado. Exemplos disso não faltam, e estão presentes em nosso dia-a-dia. Desde as simpatias e os chás caseiros que não curam asma, até superstições as mais variadas que amedrontam aqueles que acreditam, como sextas-feiras treze e gatos pretos. Se enquadram nesse tipo de crendices os ditos relacionados a um possível mau agouro com eventos que ocorrem em agosto.
Essa crença vem de longe, desde há muito tempo.
À época das expedições marítimas portuguesas, as mulheres não casavam nunca no mês de agosto, época em que os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto significava ficar só, sem lua-de-mel e, às vezes, até mesmo viúva. Os colonizadores portugueses trouxeram esta crença para o Brasil já transformada em ditado popular segundo o qual “Casar em agosto traz desgosto’”.
Como a superstição é a mãe do medo, muitos alimentam essa crença de que esse mês é um mês ‘maldito’. Se procurarmos, encontraremos fatos na história do Brasil e do mundo que podem tranqüilamente justificar a fama de agosto, desde guerras, assassinatos, suicídios até acidentes aéreos. Mas se olharmos com atenção, obviamente nada disso é exclusividade desse mês. Mas lenda é lenda… Sem falar que dia 24 de agosto é o dia das sogras, e é o dia em que o Diabo anda solto, fazendo as suas, além de ser o dia de todos os Exus nos candomblés brasileiros.
Não era por nenhuma dessas razões que eu não gostava de agosto. Basicamente, era o mês “sobrando” (inverno, junho e julho frios e chuvosos, ainda tinha todo o agosto até que chegasse setembro e a primavera, já falei disso). Sem falar no fato que foi num doze de agosto que sofri – aos dezoito anos – o acidente de carro que me deixou treze dias em coma numa UTI. Não gostava desse mês com razão, acho.
Até que resolvemos, a Jacque e eu, nos casar na primeira semana de setembro. Não havia como, por falta de datas. Escolhemos, então, o 31 de agosto, há exatos doze anos. O padre, quando fui marcar a igreja, disse que ninguém casava em agosto. Eu disse que dia trinta e um à noite era muito mais setembro que agosto. E marquei a data.
Casamos, em 1996. Tem sido bem legal desde então, e cada vez melhor. Superamos todos os possíveis obstáculos, até mesmo os dois anos morando em hemisférios diferentes, eu no norte e ela no sul (parti num agosto). Quase doze anos depois, num agosto, há onze dias atrás, nasceu a Marina, nossa filha. Em agosto. Linda e saudável.
Puxa vida, eu acho agosto um puta mês.
Até.
Um comentário:
Marcelo,
Meus melhores amigos aqui no Canada se casaram no dia 31 de agosto de 1996. Todo ano comemoramos junto com eles.
Agora vou me lembrar de voces também. :)
Aqui no Canada nunca gostei do mes de novembro. Inicio do inverno, as folhas do outono já cairam mas ainda nao ha nada de neve. Dias curtos, cinzas... sempre achei muito deprê.
Mas agora a implicancia com o mês acabou também. A Bia chegou no dia 21. Primeiro dia do inverno. :)
Um aBraço,
Q
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