A Sopa no Exílio
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sábado, março 22, 2025
Sábado (e é Outono)
sexta-feira, março 21, 2025
Zoltar e os Pequenos Momentos da Vida
Confesso.
Como vocês notaram, esse é – antes de mais nada – um espaço de reflexão minha e um tipo de confessionário. Uso a sua atenção, prezado leitor, para muitas vezes lidar com minhas angústias e ansiedades. Me utilizo dos potenciais leitores para dividir algumas de minhas preocupações, mas também meus encantamentos com a vida, e com o mundo.
Então, como em um daqueles filmes em que – por mágica, após um pedido feito para Zoltar, mesma máquina de fliperama de ‘Quero Ser Grande’, com o Tom Hanks, e que encontrei (a máquina) há anos em uma galeria em Banff, no Canadá – uma criança aparece no corpo de um adulto, com todas as implicações disso, eu me vejo volta e meia surpreso com o mundo. Ontem aconteceu, por exemplo, em um supermercado.
Nada mais banal, corriqueiro e sem importância do que fazer compras no supermercado e eu lá, pai de família, mais de cinquenta anos de idade, parado, entre surpreso e feliz, pensando com meus botões, ‘veja só, que legal eu estar aqui’. Sou assim, também. Fico feliz com pequenas coisas.
Ou, quando estou paz comigo, ressignifico esses momentos de maneiras diferentes. Preciso de pouco para estar feliz, em paz.
Mas quero muito.
Até.
quinta-feira, março 20, 2025
Vinte de Março
Outono no Sul do mundo.
Começou, hoje mais cedo, o outono do hemisfério sul, e agora as temperaturas devem se tornar mais amenas com o passar dos dias, enquanto esses se tornam mais curtos e as noites mais longas. As cores do outono começam a aparecer.
Não é como no Canadá, claro, onde a mudança de estação do verão para o outono é marcada pelo espetáculo da mudança de cor e posterior quedas das folhas, antecipando o longo, cinza e frio inverno, do qual lembro muito bem, apesar de passados vinte anos desde que morei lá. Aqui essa transição é mais sutil boa parte das vezes, nem sempre tão marcada, mas ainda assim bela.
Os dias claros, a luz dourada do sol ameno, que ainda aquece enquanto ilumina, o verde que vai se transformando em outras cores indicando a lenta mudança para o inverno, estação do recolhimento, da introspecção e dos pensamentos profundos. Quanto mais marcada a transição das estações, maior a conscientização da (inevitável) passagem do tempo.
Há quase três anos, quando completei cinquenta anos, meu pai ainda estava por aqui, e a vida aparentemente não era muito diferente do que é hoje, mesmo que muito tenha mudado desde então. O que é uma história que todos vivemos, de uma maneira o outra. Nunca perco de vista a noção de que minha história é – no geral – igual a de muitos outros, apesar de ser única.
E procuro fazê-la valer à pena todos os dias.
Até.
quarta-feira, março 19, 2025
As Dores do (Meu) Mundo
Já tenho por verdade indiscutível que no dia em que eu acordar sem nenhuma dor será sinal de que morri. Ou de que (ainda) não trocamos o colchão que já deveria ter sido trocado... Simples assim.
Não exatamente, claro.
Não acordo SEMPRE com dores pelo corpo. Mas recentemente tenho sido alvo de dor lombar e no ombro esquerdo com mais frequência que gostaria. A gravidade tem sido mais intensa nas manhãs de dias úteis, e tem sido mais difícil iniciar o dia. Por outro lado, nas manhãs dos finais de semana, quando seria o momento de “recuperar” o déficit de sono (que, na verdade, não existe) eu acabo acordando cedo e com muita disposição.
Vai saber.
Sigo, então, com meu propósito de me manter fisicamente ativo, o que já faço com boa regularidade há quase seis anos consecutivos, entre musculação, bicicleta, caminhadas e corridas. Há cerca de um ano, contudo, não consigo mais acordar às seis da manhã para ir para academia, então tive que reorganizar meus horários para encaixar essa atividade na rotina.
Com ou sem dor, o importante é me manter ativo.
Disso eu não abro mão.
Até.
terça-feira, março 18, 2025
Tenho pressa?
O quanto corremos.
Lembro de um dia, há vinte anos, em que – saindo de uma livraria - parei para atravessar uma rua sem movimento, sem carros vindo, mas que o sinal para pedestres estava fechado (para mim, que era jovem) e aguardei para atravessar na faixa de segurança apenas quando o sinal permitisse. Calma e tranquilamente.
Foi quando percebi que o tempo andava mais devagar, e eu observava as pessoas que passavam, cada uma preocupada com sua vida, com seus problemas. Atravessar a rua no momento adequado, lentamente, observando também a paisagem à minha volta, eu como parte do todo, no (meu) ritmo do Universo.
Era 2005, e eu estava em Toronto.
Caminhava pela Bloor Street W, e saía de uma livraria que ficava em um antigo teatro e que hoje é uma farmácia, e eu estava morando lá durante o meu pós-doutorado. Morava não longe dali, bem próximo ao High Park. Aquela era uma região em que eu costumava caminhar quando o tempo estava agradável.
Estava lá apenas para estudar e trabalhar, não fazia plantões, e o horário de trabalho era civilizado. Tinha, então, tempo para – além de cumprir meus deveres profissionais - observar o tempo passar, olhar o mundo com calma. Auxiliava o fato de eu me deslocar de bonde, metrô e, muito, a pé.
Vinte anos depois, penso em qual velocidade vivo a vida atualmente, em meio às muitas atividades. Houve um momento, há alguns anos, em que trabalhava – remunerado ou em atividades associativas – em mais de cinco lugares diferentes, sem falar no período em que viajava semanalmente para dar aulas, na Universidade e para a indústria farmacêutica. Não via a semana passar, não via a vida passar, confesso.
Sigo com atividades múltiplas.
Diferente de quando corria sem pensar, em busca de um objetivo que não era muito claro, hoje corro com propósito. Sei o que estou fazendo, para onde quero ir, e – sim – tenho conseguido olhar e apreciar a paisagem, curtir o caminho.
Até.
segunda-feira, março 17, 2025
Vital
Ontem, domingo, fomos no Theatro São Pedro ao ‘Vital – O Musical dos Paralamas’ às 18h, mesmo tempo em que encerrava o GRENAL que sagrou o Inter como campeão gaúcho de 2025. Por um descuido meu, havíamos comprado os ingressos para o dia da final. Paciência.
Valeu à pena.
Apesar de eu não ser ‘louco por musicais’, como o são a Marina e a Jacque, eu também gosto, sim. Confesso que não sabia exatamente o que esperar de ‘Vital’, e foi uma ótima surpresa. Muito bom mesmo. Uma viagem no tempo, também.
A história bem contada, com as músicas encaixadas perfeitamente no roteiro, os momentos cômicos e os emocionantes, tudo estava perfeito. O ator que faz o Herbert Vianna impressiona pela semelhança e pelo tom de voz (ao fechar os olhos, não se tinha dúvida de que quem estava falando e cantando era o próprio.
O teatro lotado, o público cantando junto, só músicas conhecidas e boas. Uma catarse.
(e o Inter, lá fora do teatro, Campeão).
Que domingo, meus amigos!
Até.
domingo, março 16, 2025
A Sopa
O nosso amor a gente inventa.
Quando eu estava no Canadá, há vinte anos, entre os meus escritos e projetos de escrita estava uma série de crônicas falando sobre relacionamentos meus antigos e as músicas que eu associava a essas relações. Acabei nunca escrevendo, e o tempo passou.
Essa associação entre música e momentos marcantes, em maior ou menor grau, da vida, é um dos temas que me interessam muito. A memória afetiva, assim como acontece com comidas ou determinados perfumes que nos remetem a determinada época ou situação vivida. A sopa que minha Vó fazia, e que a minha mãe faz e que me ensinou, por exemplo.
Quando pensei em escrever as histórias de relacionamentos antigos, o plano inicial eram três crônicas, inicialmente. A primeira, em uma música, contaria – sem citar nomes – a história. A segunda, em duas canções. E a terceira, finalmente, em três. Não sei quantas seriam, mas a o encerramento seria sobre a Jacque, e ‘todas as canções’, ou a canção definitiva. Mas, como eu, disse, não foi adiante a ideia de escrever.
Então...
Uma das histórias seria toda ela com músicas do Cazuza. Começaria com ‘Faz Parte do Meu Show’, tocada em uma televisão em um bar no litoral norte do RS em uma noite de inverno, teria o seu primeiro final com ‘Obrigado (Por ter se mandado)’, e após um curto retorno teria seu final definitivo com ‘O Nosso Amor a Gente Inventa (Estória Romântica)’. Uma história em três atos, ocorrida há quase quarenta anos.
Sempre gostei muito dessa música, que diz que ‘o teu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer’, e, também, ‘te ver não é mais tão bacana, quanto a semana passada’. Como o subtítulo diz, conta uma estória romântica. E o poder que ela tem de me transportar ao passado, olhar para trás e ver o caminho que percorri até aqui e a pessoa que me tornei, torna ela ainda mais especial. E, de tempos em tempos, passo alguns dias a ouvindo e/ou tocando.
Por isso foi mais um momento especial ter cantado ela junto com o Thiago, meu sócio na School of Rock, na última quinta-feira, quando fomos os responsáveis pelo ‘Ora Felice’, o happy hour do restaurante Peppo Cucina.
A vida vai bem, obrigado.
Até.