quarta-feira, novembro 20, 2024

Consciência (ou não)

Humanidade.

 

Esses dias, involuntariamente, porque preferia não ter ouvido, acabei testemunhando uma conversa em que falavam da data de hoje, o Dia da Consciência Negra, e a pergunta que não queria ter ouvido, mas a pouca distância que eu estava do diálogo não permitiu, foi “e o dia da consciência branca?”. Em silêncio, porque eu não participava da conversa, lamentei pelo interlocutor, porque não ele sabia o que dizia.

 

O mesmo quando falam em celebrar o dia do homem, ou sobre uma marcha dos heterossexuais. Excetuando-se excessos que ocorrem aqui e ali, é difícil dizer qualquer coisa porque é de uma falta de noção e/ou conhecimento de história incríveis. Ou pior.

 

Falta de empatia.

 

Até.

terça-feira, novembro 19, 2024

Um Dia sem Sol

Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro.

 

Ninguém consegue ser feliz o tempo inteiro, exceto idiotas e outros tipos “sem noção”. Existem muitos por aí, todos sabemos, mas a felicidade constante não é real. Temos que aprender a viver nessa – às vezes mais, outras menos – montanha-russa de emoções. A virtude – também nessa situação – se encontra no meio termo.

 

Devemos saber que situações que não nos agradem irão acontecer com frequência na vida, são parte dela, e devemos aprender a (1) lidar com elas, com as frustrações; e (2) não deixar que elas interfiram em nossa relação com as pessoas, com o mundo. Nem sempre é fácil, e aprender tudo isso é desafiador.

 

Existem dias, e semanas, boas e outras ruins. Temos que navegar por elas da mesma maneira, sem que nossas inquietações e aborrecimentos nos tornem pessoas de difícil convívio. Antes de tudo, claro, temos que querer não nos tornarmos essas pessoas difíceis, e a verdade é que nem sempre queremos...

 

Até.

  

segunda-feira, novembro 18, 2024

O Novo Sempre Vem

E o passado é uma roupa que não nos serve mais.

 

Hoje cedo, indo trabalhar, ouvia Belchior e sua “Velha Roupa Colorida”, o sol tentando romper a camada de nuvens que fizera chover um pouco logo antes da hora de sair de casa, o céu que agora já é azul, e sorri. É primavera, o verão se aproxima junto com o final de ano, e começou a estação das confraternizações e celebrações.

 

Por isso a importância do final de semana que passou ter sido de ficar em Porto Alegre, em casa, principalmente, mas também de Feira do Livro, caminhada pelo Centro Histórico como turista, visitando e descobrindo lugares novos para mim, e leituras e descanso. Estava (estávamos) precisando.

 

Também avancei em uma ideia, que era vontade, mas também necessidade, de organizar armários e gavetas com o foco em desapegar, parar de guardar o que não é utilizado porque perdeu a utilidade e função. Muito lixo jogado fora. Cartas e fotografias, gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim...

 

Não fui tão fundo assim nesta organização, que será continuada espero que em breve, porque esse é realmente o plano, deixar apenas o essencial para poder caminhar mais leve, apenas com o que é importante, e dar espaço para o novo, porque - mesmo algumas vezes dando a impressão de ser aquele que ama o passado – sei que o novo sempre vem...

 

Desapegar é importante.


E isso vale para objetos, memórias e pessoas.

 

Até. 

domingo, novembro 17, 2024

A Sopa

De quando me perdi.

 

Não geograficamente, claro, talvez desorientação com relação a quem eu era e quem estava me tornando, ou deixando de ser. Houve um momento em que, sim, não me reconheci ao olhar no espelho.

 

E não tem como não pensar em música, em ‘não vou me adaptar’. E, por um período, mesmo que ninguém tenha percebido, e mesmo que, à época, fosse metaforicamente, eu não cabia mais nas roupas que eu coubera, não enchia mais a casa de alegria, os anos haviam passado enquanto eu dormia e quem eu quisera bem, me esquecera. A pergunta que me fazia era se eu havia falado o que ninguém ouvira, ou escutado o que ninguém dissera. Parecia mesmo que eu não ia me adaptar...

 

Isso foi há muito tempo mesmo, antes da Jacque, antes ainda de entender muito do que entendo hoje da vida, porque faltava tempo, faltavam histórias, as histórias que conto aqui e ali, vez que outra. Nesse sentido, tudo o que escrevo é para, repito, tentar me entender, e – dessa forma – tentar entender o mundo em que vivo.  

 

Encontrar o meu lugar nisso tudo, esse sempre foi um dos meus anseios, um dos meus objetivos. Estar em ambientes e com pessoas onde eu me sentisse parte, não que eu estivesse tendo que me esforçar para encaixar, ‘forçando a barra’ para ‘fazer parte’. E, talvez mais importante, deixando de estar em, saindo de ambientes onde não posso ser quem eu sou cem por cento do tempo e que seja respeitado por isso, por ser quem sou. Tenho, aos poucos, conseguido. 

 

E não consigo terminar sem música...

 

Porém o céu parece estúdio

Nem o silêncio não diz nada

Mesmo essas frases vão pro lixo

São como lenços de papel

Ainda por cima aquelas pernas

Algumas coisas serão eternas

Que bela ideia acreditar

Que o mundo te aprendeu

Até. 

sábado, novembro 16, 2024

Sábado (e Por aí, Porto Alegre)

 

Sábado, de sol


Como nos velhos tempos (antes da queda, da fratura e da cirurgia no braço, um ano atrás)...

Manhã de sol e atividade física.

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, novembro 15, 2024

Histórias de Consultório (3)

O Fantasma do Moinhos.

 

Uma paciente já de alguns anos, que havia iniciado acompanhamento comigo em uma avaliação preparatória para uma cirurgia bariátrica que nunca aconteceu, e que – por ser portadora de asma - acabou ao longo do tempo se tornando minha paciente e amiga. Como vive sozinha, acaba passando longos períodos do ano morando na França, em Paris. Por já ser bem conhecida minha, muitas vezes faço orientações por mensagens e ligações telefônicas.

 

Ao longo do tempo, desenvolveu um quadro de artrose em ombro (e escrevo isso com o fantasma da dor em meu ombro esquerdo pairando sobre mim) que foi agravando a ponto de ser indicada a colocação de uma prótese, procedimento esse realizado na metade desse ano no Hospital Moinhos de Vento. O procedimento em si ocorreu sem intercorrências, mas o pós-operatório foi complicado por uma queda na oxigenação dela e por dores, atrozes, na versão que ela contou. Por isso, foi medicada com altas doses de morfina e também do canabidiol que utiliza para o seu quadro, diz que ficou muito tempo meio ”fora do ar”. 

 

Devido às complicações clínicas que teve, um médico internista foi chamado para avaliá-la e orientar o tratamento. Em virtude dos horários complicados de quem faz internação, provavelmente por isso esse internista ia vê-la diariamente em horários alternativos, normalmente à noite, quando havia pouco movimento na UTI. 

 

Devido ao efeito das medicações, e pelo fato de estar em uma UTI, a noção de tempo havia sido perdida, e como o médico – ao vê-la – mais ouvia o que ela tinha a dizer do que falava alguma coisa, ela se convenceu que era um fantasma quem a visitava durante às noites do hospital. Criou (criamos, na consulta) uma narrativa que envolvia um antigo médico alemão que havia morrido solitário muitos anos antes e hoje circulava à noite pelos corredores do Moinhos de Vento, o hospital, conversando com os pacientes, buscando e levando conforto a quem precisasse, a quem estivesse se sentindo só, desamparado. 

 

Ficou sinceramente decepcionada quando descobriu a verdade.

 

Eu também fiquei, eu também fiquei.


Até. 

quinta-feira, novembro 14, 2024

Felicidade

Sobre a felicidade.

 

Quase todo mundo, ou uma parcela das pessoas, de uma forma ou outra, tem a sua fórmula para a felicidade, e sou parte desse grupo. E deve ser visto como um privilégio, uma honra poder se preocupar em ser feliz ou não, afinal muitos estão – antes de tudo – preocupados em sobreviver, um passo anterior ainda a sequer pensar em ser feliz ou não. 

 

Comida, um teto sob o qual dormir, relações pessoais. No fundo, não precisamos muito mais que isso para viver e – sim – sermos felizes. Não nos compararmos com os outros. Contato com a natureza, atividade física, exercer a gratidão. Todos essas são recomendações para se obter, ou chegar ao que se chama de felicidade.

 

Nenhuma dessas é, contudo, a minha fórmula para isso. 

 

Não interessa a minha “receita” para a felicidade.

 

Cada um tem a sua, como eu disse, e cada um sabe por onde fazer. Não sou eu quem vai pretender ensinar a quem que que seja como viver. Até porque, se formos cientificamente rigorosos, nenhuma dessas recomendações é baseada em estudos fortes, com poder de comprová-las ou desmenti-las (vinha ouvindo um podcast sobre isso hoje mais cedo).

 

Enfim, a mensagem que fica – para mim - é que cada um sabe de si.

 

‘Fica na tua’, é o lema pelo qual procuro viver.


Até.