terça-feira, outubro 15, 2024

Rádio e memória

Sobre música e memória.

 

A minha formação musical, como com a maioria das pessoas, começou em casa, com meus pais. Nenhum dos dois tocava algum instrumento, mas tenho fortes lembranças de domingos em que ligavam o som e ouvíamos os discos do Chico Buarque e Paulinho da Viola. Roda Viva, a Banda, e outras eram a trilha sonora, e foram a base.

 

Depois, o primeiro disco de vinil que comprei, quando ganhei meu primeiro aparelho de som (na época, o que se chamava de vitrola) foi do Queen, ‘The Game’, porque havia ouvido na escola sobre a banda. E também um compacto da Blitz que no lado A tinha “Você Não Soube Me Amar” e no lado B uma faixa que dizia “nada, nada, nada” ...

 

A partir daí, muito a minha formação passou muito pelo rádio, desde – lá nos anos 80 – quando comecei ouvindo ao dormir a rádio Cidade (“Love Songs”) e a rádio Universal, com Clóvis Dias Costa e o ‘Ritmo 20’ e o ‘Ritmo 20 in Love’. Um repertório bem pop.

 

Até que conheci a rádio Ipanema.

 

E mudou tudo. Aí sim o meu gosto musical foi moldado definitivamente, e tenho lembranças boas do tempo em que ouvia direto, com a familiaridade com os apresentadores, desde a Kátia Suman, da noite, até o Alemão Vitor Hugo, das manhãs, passando pela Mary Mezzari, o Eduardo Santos e o grande Mauro Borba, entre outros. Foi – como os porto-alegrenses sabem – uma rádio lendária. 

 

O tempo, como em tudo, foi implacável, e a rádio Ipanema terminou, com seus personagens se espalhando por outras rádios e projetos. Antes ainda, o Mauro Borba havia saído da Ipanema e ido para a Felusp que virou 107,1, Pop Rock e por último Mix FM, esta última um perfil de rádio que não faz o meu gosto pessoal. Na passagem de Pop Rock para Mix, acabaram dois programas que o Mauro Borba apresentava, ‘A Hora do Rush’ e ‘Boys Don’t Cry’.

 

Bom, há alguns dias foi anunciado e ontem ele voltou ao rádio (ou ao meu horizonte musical, digamos assim). Ele saiu da Mix e foi para a 102.3 FM, rádio “adulta” de música do Grupo RBS. ‘A Hora do Rush’ de novo no rádio. Eu ouvi, e foi como se estivesse voltando no tempo, a trilha (“a cortina”) do programa, as músicas tocadas. Senti como se o rádio ganhasse novamente uma dimensão maior e merecida depois de muito tempo. Me senti representado.

 

Foi legal.

Até. 

segunda-feira, outubro 14, 2024

Era Sábado

Foi quando aconteceu.

 

Sempre disse, e continuo afirmando, que o sábado de manhã é o melhor momento da semana (o melhor dia, por outro lado, é a quarta-feira, o que requer uma explicação que não vou dar agora). Tudo pode acontecer em um sábado (e, diz a música, todo mundo espera alguma coisa se um sábado à noite). Até acidentes, evidentemente.

 

Como há um ano, exatamente dia quatorze de outubro.

 

Era uma manhã de sábado como outra qualquer, e as nuvens cobriam todo o céu naquele início de dia. Acordei cedo como de hábito, tomei café e me preparei para sair de bicicleta (bike, se preferirem), hábito ou rotina de finais de semana e feriados dos quatro anos anteriores, de mais de nove mil quilômetros pedalados. Bicicleta revisada há pouco tempo, equipamento de segurança – capacete, luvas, óculos – em dia, saí de casa normalmente.

 

Fui por uma quadra da Ramiro Barcelos pela calçada até entrar na Av. Independência, onde segui em direção ao Centro de Porto Alegre pelo corredor de ônibus. Após cerca de cem metros, no momento em que começa uma leve descida que vai até a esquina da Rua Santo Antônio, troquei de marcha e acelerei.

 

A partir daí as coisas ficam confusas, e não lembro exatamente o que acontreceu, apenas de deixar a bicicleta no lugar em que sempre a deixo na garagem e de imagens, flashes, no elevador. Entrei em casa e a Jacque, recém acordando, me pergunta o que aconteceu. Digo que caí de bicicleta e que estava tudo bem. Perguntou como foi, quem tinha me ajudado e como estava a bicicleta, perguntas para as quais eu não tinha resposta.

 

Não lembrava...

 

Ato contínuo, virei e voltei à garagem para constatar que a bicicleta estava lá, intacta. Já o meu relógio, um Apple Watch, era perda total. Eu tinha o meu lado esquerdo, ombro, quadril e joelho com escoriações, e queimaduras do contato com o asfalto, meu rosto da mesma forma, e dor na região do punho direito. Pelo fato de não lembrar o que ocorrera, decidimos ir para o hospital para uma avaliação neurológica (era um traumatismo cranioencefálico).

 

 O banho foi muito dolorido, evidentemente.

 

Para ir ao hospital, pedi ajuda e um amigo me deu carona.

 

Lá, tudo bem com a parte neurológica, mas o braço quebrado. Isso faltando duas semanas para o show de temporada da School of Rock, do qual participei sem tocar, evidentemente.

 

No final de outubro, cirurgia e colocação de placa, com sucesso.

 

A partir de então, mudei o meu discurso. Sempre dizia que eu era um cara que caía. Como o discurso molda a realidade, parei com isso.

 

Não sou um cara que cai. 

Até. 

domingo, outubro 13, 2024

A Sopa

De volta.

 

A semana que passou foi de viagem e congresso médico. Foi interessante como algum tipo de reconexão íntima com a medicina, posso dizer. Fiz um intensivo de aulas em assuntos que me interessavam mais, nem tanto para atualização, mas mais como reafirmação de que sei o que estou fazendo, afinal me atualizo quase semanalmente com leituras e discussões. Claro que sempre tenho muito o que aprender, mas reafirmei para mim mesmo que continuo no caminho certo.

 

Congressos são também para encontrar e reencontrar pessoas, para conversas mais tranquilas, o que chamam de networking. E para conviver socialmente com colegas e amigos que nem sempre conseguimos. Rever antigos colegas é outro ponto bom nestes eventos.

 

Voltei na sexta-feira após o meio-dia, e o sábado foi de voltar a ver o sol e voltar também ao trabalho relacionado à música, que pode até cansar fisicamente, mas proporciona satisfação e felicidade (ontem foi dia de assistir mais uma vez a Marina no palco, e ela está cada vez melhor). À noite, Marina e eu fomos comer uma pizza com a Bárbara e o Felipe, queridos amigos que a música nos proporcionou. Estava bem legal. Enquanto isso, a Jacque está em Recife em um congresso onde vai dar aula, e volta na terça-feira. 

 

A semana intensa, com viagem, encontros, conversas, muita medicina, terminou com música. Apesar de ter passado pouco tempo com a Jacque e a Marina, ela foi bom resumo do que penso da vida e falo quase sempre por aqui, que o que conta são as conexões, as boas relações que criamos e que são a chave para uma boa vida.


Até. 

sábado, outubro 12, 2024

Sábado (e já voltei)

Ponte Hercílio Luz


De volta em casa após o Congresso Brasileiro de Pneumologia.

Bom sábado a todos.

Até.


sexta-feira, outubro 11, 2024

A Teoria da Ilha (3)

Ainda a ilha. 

 

Persiste a chuva, e por vezes me sinto na Porto Alegre de Ramilonga, ‘ares de milonga que vão e me carregam, por aí...’. Sem céu azul, sem o sol, nem mesmo aquele que ilumina, mas não aquece. Últimos momentos de congresso, vou assistir à manhã de atividades e – por volta do meio-dia começo o retorno para casa.

 

Como a Sbórnia do Nico e do Hique, ilha flutuante que se separou do continente, eu circulo enquanto ilha por entre as pessoas e os grupos no congresso, ora aqui, ora ali. Tenho o privilégio de fazer parte de grupos diferentes com os quais tenho boas conexões. São os momentos em que sou parte de um arquipélago (afinal, não somos todos ilhas?).

 

Hoje mais cedo tomava café da manhã com uma colega que é dez anos mais velha que eu, conversávamos sobre um amigo em comum, sobre nossas rotinas de vida e dizia ela que o tempo passava rápido (e eu não sei?)  e que eu deveria aproveitar esses dez anos que eu tinha a menos que ela. 

 

Está certa.

 

Até. 

quinta-feira, outubro 10, 2024

A Teoria da Ilha (2)

Mais uma vez, a ilha. 

Agora, sim, falo da ilha de Santa Catarina. Chove, e não pouco, desde que cheguei, na terça-feira final da tarde. Não vou conseguir nem ao menos caminhar ao ar livre, não vou ver o céu.

 

Faz parte, é a época do ano. A mesma coisa com minhas experiências prévias com congressos no Rio de Janeiro.  Virtualmente sempre com pouco sol e, em boa parte, chovendo. Como estou aqui para congresso – e não férias ou feriadão – não tem nenhum problema.

 

Congressos médicos, assim como a vida, tem seu lado bom e, também, o lado ruim. O principal de um congresso – como em quase tudo na vida – são as pessoas. Networking. Encontrar colegas que não encontramos com frequência, confraternizar com amigos, jantares. Algumas conferências muito boas, outras para confirmar que sabemos o que estamos fazendo, e algumas totalmente dispensáveis. Como eu disse, é parte. Também o inevitável encontro com os chatos, dos quais não podemos muitas vezes evitar.

 

E aqui, também, em muitos momentos, sou uma ilha.

 

Só, mas cercado de gente por todos os lados.

 

“I've built walls

A fortress deep and mighty

That none may penetrate

I have no need of friendship, friendship causes pain

It's laughter and it's loving I disdain

I am a rock, I am an island” *

 

Até.

 

* ‘I am a Rock’, Simon & Garfunkel, 1966 

quarta-feira, outubro 09, 2024

A Teoria da Ilha

Eu não gosto de ilhas.

 

Já me adianto que não tem absolutamente nada a ver com o fato de eu estar na ilha de Santa Catarina para um congresso médico, aonde eu cheguei ontem via terrestre porque a opção por via aérea me faria ir até São Paulo para voltar ao Sul até Florianópolis, o que levaria mais tempo do que dirigir de Porto Alegre. Chovia, havia caminhões, mas foi uma viagem tranquila.

 

À noite, após chegar no hotel e deixar o carro na garagem, de onde vou tirar apenas na sexta-feira, para voltar para Porto Alegre, fomos jantar no Ostradamus, e brindar o aniversário do fundamental amigo Paulo Goldenfum, que estava em Porto Alegre comemorando com a família. Um brinde a ele, às amizades, e ao que de melhor as pessoas têm, mas essa é uma história para outro dia.

 

Eu falava de não gostar de ilhas.

 

Explico.

 

Eu não gosto de lugares ou situações em que eu não tenho a possibilidade de sair, ir embora, no momento em que eu decidir. Vale para ilhas, caronas, eventos, viagens e outros. Não é que eu, assim, realmente não goste. O que acontece é que se eu não estiver com vontade de ficar, eu quero poder sair quando bem entender. Não que eu vá sair, mas quero ter a possibilidade. Pensando bem, é como a questão da churrasqueira.

 

Já contei isso, não tenho churrasqueira em casa. E queria ter. Muito. Já me argumentaram que – se tivesse – não iria fazer churrascos. O que respondia sempre é que isso não importa, eu queria/quero ter a POSSIBILIDADE de fazer se eu quiser. O ruim era não poder...

 

Vejam só.

 

Mais uma vez, tudo acaba em churrasco.

 

Bora lá?

 

Até.