De quando me perdi.
Não geograficamente, claro, talvez desorientação com relação a quem eu era e quem estava me tornando, ou deixando de ser. Houve um momento em que, sim, não me reconheci ao olhar no espelho.
E não tem como não pensar em música, em ‘não vou me adaptar’. E, por um período, mesmo que ninguém tenha percebido, e mesmo que, à época, fosse metaforicamente, eu não cabia mais nas roupas que eu coubera, não enchia mais a casa de alegria, os anos haviam passado enquanto eu dormia e quem eu quisera bem, me esquecera. A pergunta que me fazia era se eu havia falado o que ninguém ouvira, ou escutado o que ninguém dissera. Parecia mesmo que eu não ia me adaptar...
Isso foi há muito tempo mesmo, antes da Jacque, antes ainda de entender muito do que entendo hoje da vida, porque faltava tempo, faltavam histórias, as histórias que conto aqui e ali, vez que outra. Nesse sentido, tudo o que escrevo é para, repito, tentar me entender, e – dessa forma – tentar entender o mundo em que vivo.
Encontrar o meu lugar nisso tudo, esse sempre foi um dos meus anseios, um dos meus objetivos. Estar em ambientes e com pessoas onde eu me sentisse parte, não que eu estivesse tendo que me esforçar para encaixar, ‘forçando a barra’ para ‘fazer parte’. E, talvez mais importante, deixando de estar em, saindo de ambientes onde não posso ser quem eu sou cem por cento do tempo e que seja respeitado por isso, por ser quem sou. Tenho, aos poucos, conseguido.
E não consigo terminar sem música...
Porém o céu parece estúdio
Nem o silêncio não diz nada
Mesmo essas frases vão pro lixo
São como lenços de papel
Ainda por cima aquelas pernas
Algumas coisas serão eternas
Que bela ideia acreditar
Que o mundo te aprendeu
Até.