É impressionante que, um apartamento pequeno, de um quarto, tenha tantos relógio espalhados. Só na cozinha, são dois. Ontem fiz o teste: todos marcam horas diferentes. Nem estão nem perto de estarem sincronizados. Lembrei do dito que diz que quem tem um relógio sabe a hora certa. Quem tem dois, não.
Se nunca sei a hora exata, por outro lado tenho essa lembrança constante de que tudo é relativo. E que nada é permanente. Conceito zen, esse, o da impermanência das coisas, das pessoas. Não estamos aqui para sempre, por mais que tentemos esquecer o fato ou não pensar nele, ao menos. Mas volta e meia ele nos bate de frente.
Por contigência profissional, nós, médicos, nos defrontamos mais frequentemente com essa constatação: a morte é inevitável. E aquilo que aos outros pode parecer insensibilidade, muitas vezes é apenas uma forma de defesa com relação a essa sensação de impotência que muitas vezes se abate sobre nós, que temos por “obrigação” salvar vidas. Ao menos é o que a maioria pensa, que somos obrigados, a todo o custo, manter as pessoas vivas, independente do que for. Não é bem assim.
Claro, muitos colegas colaboram para essa impressão geral de que nos sentimos deuses, onipontentes. Mas a maioria tem plena noção de sua limitação, a de que nem sempre o paciente vai sobreviver. Que às vezes é hora de parar e deixar a natureza (Deus, para os mais religiosos) seguir seu curso.
Diz um adágio conhecido que nossa missão é “Curar algumas vezes, aliviar na maior parte das vezes, confortar sempre”. Às vezes, temos que saber que o caminho mais digno para a pessoa é a morte. Muitas vezes já vi darem alta ao paciente para ele ir para casa ficar com seus familiares nos seus últimos momentos de vida, ao invés de ficar num hospital sozinho, até o fim.
Triste, eu sei, mas não podemos fugir disso.
#
Ocorreu o que todos sabíamos que mais cedo ou mais tarde ia acontecer. Ela já estava bem doente e, “fora do ar”, mal reconhecia as pessoas. Mesmo assim, sempre é uma coisa que entristece a todos. Nunca nos agrada receber uma notícia dessas. Minha tia, irmã do meu pai, morreu ontem. Por isso ontem preferi ficar em silêncio e não dizer nada sobre nada.
#
Aos leitores que possuem blogs aos quais eu visito, peço desculpas por – ao ler um texto ou comentário relacionado à medicina – eu não me contenha e comente, às vezes de forma longa e prolixa. Peço desculpas mas afirmo que vou continuar fazendo, pois hoje me dei conta que essa pode ser outra das funções de um blog (ou, no meu caso, de um médico que tem um blog): esclarecer sobre assuntos relacionado a área. Informar, até porque – em casos polêmicos, como o da norte-americana Terry Schiavo – muitas vezes as notícias que chegam pela imprensa são inexatas.
#
Minha dívida aumenta: além de um texto sobre como vejo o Canadá, já que não sou imigrante, e um sobre o High Park, a região onde moro. Eles virão, tenham paciência.
#
Eu nunca me lembro de conferir no supermercado. Alguém sabe me dizer se aqui em Toronto encontramos ervilhas secas?
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
quinta-feira, março 31, 2005
quarta-feira, março 30, 2005
Nada a dizer
A Sopa se recolhe em silêncio respeitoso e retorna amanhã.
“Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)”
“Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)”
terça-feira, março 29, 2005
Não sou amigo o suficiente
Vou parecer antipático hoje.
Há muito anos amigos, existe entre nós, Márcio, Radica e eu, assim como acontece com qualquer grupo de amigos de muito tempo, algumas expressões, piadas e bricandeiras que são características nossas. Não exclusivas nem únicas, apenas típicas do nosso convívio. Normalmente são bem infantis, pois é justamente com os amigos que podemos ser muito infantis.
Como lá se vão vinte anos que convivemos, é natural que tenhamos muitas dessas expressões e brincadeiras e piadas. Algumas tornaram-se obsoletas e perderam a graça, outras continuam vivas e fortes. Uma delas tem relação com título deste texto, e é usada como forma de chantagem emocional ou apenas para incomodarmos um ao outro. Por exemplo, foi esta pergunta, “Será que és amigo o suficiente?” que usei como forma de chantagem para convencer o Márcio que a banda podia tocar sábado, dia que eu chego em Porto Alegre, sem ensaios, apenas com a passagem de som. E foi a mesma frase que ele usou para referir-se ao Radica (que mora hoje em dia em São Paulo) e a mim (que estou temporariamente aqui em Toronto), que não ficamos em Porto Alegre, onde mora. “Não fomos amigos o suficiente”.
Pois bem, de um forma geral, acho que não sou amigo o suficiente.
Por quê?
Porque eu não gosto e não respondo àqueles emails que mandam com um arquivo do Powerpoint com uma apresentação que pode ter música (e em geral tem) fotos de paisagens e uma mensagem que varia do ‘tenha um bom dia’ ao ‘já abraçou sua família hoje?’, passando por frases retiradas de livrinho de auto-ajuda atribuídas ao Dalai Lama. E que invarialvemente terminam com a mensagem “mande essa mensagem a todos os seus amigos, se você recebeu é porque alguém acha você especial”.
Pois bem, eu não me sinto especial por receber uma mensagem que alguém mandou para todo o seu catálogo de endereços, por melhor que tenha sido sua intenção. Nem o meu dia se ilumina quando recebo um email com fotos de criança e flores.
Aliás, na maioria da vezes, eu nem abro os anexos, deleto-os direto. Se alguém espera alguma resposta minha, ou que reencaminhe esse tipo de email, pode desistir, dificilmente vou fazer isso. Não digo que nunca vá fazer, até pode acontecer um dia, mas é muito difícil. Por quê?
Simplesmente porque sou extremamente pessoal. Ou seja, quando eu quero dizer o que sinto ou desejo ou penso de ou para alguém, eu faço isso ao vivo, cara a cara. Claro que às vezes, como agora, em que a geografia não favorece e, estando em hemisfério diferente, acabo utilizando o email (pessoal, para quem recebe) ou até o telefone.
Se, ao contrário de uma mensagem impessoal que mais cem pessoas vão receber também, mandasse apenas um email dizendo “Marcelo, tudo bem? Como estão as coisas? Por aqui…”, talvez aí realmente faria eu me sentir especial. E acho que não sou o único.
(essa mensagem não é endereçada a ninguém, pode ser considerada uma declaração de princípios)
Há muito anos amigos, existe entre nós, Márcio, Radica e eu, assim como acontece com qualquer grupo de amigos de muito tempo, algumas expressões, piadas e bricandeiras que são características nossas. Não exclusivas nem únicas, apenas típicas do nosso convívio. Normalmente são bem infantis, pois é justamente com os amigos que podemos ser muito infantis.
Como lá se vão vinte anos que convivemos, é natural que tenhamos muitas dessas expressões e brincadeiras e piadas. Algumas tornaram-se obsoletas e perderam a graça, outras continuam vivas e fortes. Uma delas tem relação com título deste texto, e é usada como forma de chantagem emocional ou apenas para incomodarmos um ao outro. Por exemplo, foi esta pergunta, “Será que és amigo o suficiente?” que usei como forma de chantagem para convencer o Márcio que a banda podia tocar sábado, dia que eu chego em Porto Alegre, sem ensaios, apenas com a passagem de som. E foi a mesma frase que ele usou para referir-se ao Radica (que mora hoje em dia em São Paulo) e a mim (que estou temporariamente aqui em Toronto), que não ficamos em Porto Alegre, onde mora. “Não fomos amigos o suficiente”.
Pois bem, de um forma geral, acho que não sou amigo o suficiente.
Por quê?
Porque eu não gosto e não respondo àqueles emails que mandam com um arquivo do Powerpoint com uma apresentação que pode ter música (e em geral tem) fotos de paisagens e uma mensagem que varia do ‘tenha um bom dia’ ao ‘já abraçou sua família hoje?’, passando por frases retiradas de livrinho de auto-ajuda atribuídas ao Dalai Lama. E que invarialvemente terminam com a mensagem “mande essa mensagem a todos os seus amigos, se você recebeu é porque alguém acha você especial”.
Pois bem, eu não me sinto especial por receber uma mensagem que alguém mandou para todo o seu catálogo de endereços, por melhor que tenha sido sua intenção. Nem o meu dia se ilumina quando recebo um email com fotos de criança e flores.
Aliás, na maioria da vezes, eu nem abro os anexos, deleto-os direto. Se alguém espera alguma resposta minha, ou que reencaminhe esse tipo de email, pode desistir, dificilmente vou fazer isso. Não digo que nunca vá fazer, até pode acontecer um dia, mas é muito difícil. Por quê?
Simplesmente porque sou extremamente pessoal. Ou seja, quando eu quero dizer o que sinto ou desejo ou penso de ou para alguém, eu faço isso ao vivo, cara a cara. Claro que às vezes, como agora, em que a geografia não favorece e, estando em hemisfério diferente, acabo utilizando o email (pessoal, para quem recebe) ou até o telefone.
Se, ao contrário de uma mensagem impessoal que mais cem pessoas vão receber também, mandasse apenas um email dizendo “Marcelo, tudo bem? Como estão as coisas? Por aqui…”, talvez aí realmente faria eu me sentir especial. E acho que não sou o único.
(essa mensagem não é endereçada a ninguém, pode ser considerada uma declaração de princípios)
segunda-feira, março 28, 2005
Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo
(ou The First Canadian Marcelo's Annual Pea Soup)
Confirmada a data:
07 de maio de 2005
Toronto, ON, Canada
Todos convidados.
Confirmada a data:
07 de maio de 2005
Toronto, ON, Canada
Todos convidados.
domingo, março 27, 2005
A Sopa 04/36
Justiça?
Imagine comigo, caro leitor.
Suponha que você está doente e os médicos dizem que a única saída seja um transplante. De coração. Ou pulmão, não importa. O fundamental, neste momento, é saber que você está doente e precisa de um transplante para sobreviver. Tudo começa aí, com você entrando para a ‘lista de espera’ de doadores.
Como funciona essa ‘lista de espera’?
Existe uma Central de Tranplantes em cada estado (se não me engano, no Rio Grande do Sul tem). Após a constatação da necessidade do transplante e da avaliação do seu estado clínico, você entra na lista de espera. Que é organizada basicamente por tipo de transplante, gravidade do doente, e ordem de chegada.
Outra característica da lista é que ela é democrática. Todos são iguais. Não existe a possibilidade de alguém “comprar” um rim ou um coração para transplantes. Quando surge um doador, ele é avaliado como potencial doador e procura-se na lista o primeiro na ordem e que é compatível com as características do doador. Uma decisão técnica, enfim.
Voltemos a falar do seu caso, que está na lista esperando por um transplante. Imagine agora que você é um dos próximos a ser chamado, depois de – sei lá – dois anos aguardando ansiosamente, e que surge um doador compatível com você. Felicidade, expectativa! Mas, do nada, surge um advogado e apresenta um mandado de segurança obrigando a equipe médica a fazer o transplante em outro paciente, que não é mais grave que você e nem estava na lista de transplantes. Como você se sentiria? Pois é, é mais ou menos isso que tem ocorrido em Porto Alegre, com casos de cirurgia da obesidade.
A cirurgia bariátrica (ou da obesidade) é uma forma de tratamento da obesidade mórbida que se mostrou efetiva, desde que feita com critério e com acompanhamento prévio e posterior à cirurgia realizado por equipe multidisciplinar. Além dos cirurgiões, a equipe deve ser composta de endocrinologista, clínicos intensivistas, nutricionistas, psiquiatras e psicólogos. E o acompanhamento deve ser a longo prazo, porque a cirurgia é de grande porte e modifica muito do organismo do operado, que pode ter sérias deficiências nutricionais se não acompanhado “de perto”. Isso sem falar nos distúrbios “emocionais” envolvidos (aliás, nesta terça-feira, 29, a minha afilhada Lúcia defende sua tese de doutorado exatamente sobre o assunto, na PUCRS em Porto Alegre).
Com tudo o que falei, vocês devem imaginar que é um tratamento caro, pois envolve uma equipe grande de profissionais e que demanda tempo de avaliação e acompanhamento, e estão certos. Contudo, esse tratamento é também feito pelo SUS, e o Hospital da PUCRS, através do COM (Centro de Obesidade Mórbida), foi o primeiro centro gaúcho a ser credenciado para fazer esta cirurgia pelo SUS. Que como vocês sabem, paga pouco e com muito atraso. Em virtude disso, a capacidade do COM é operar dois a quatro pacientes por mês através do SUS.
Isso porque os paciente só são operados após extensa avaliação feita por toda a equipe, muitas discussões sobre prós e contras em cada caso específico. Como a demanda é grande e a disponibilidade é pouca, surgiu uma lista de espera para a cirurgia. E essa espera, pelo SUS, é de cerca de dois anos (em São Paulo, até dez). É ruim, é muito tempo, mas o porquê disso é outra história.
O que tem acontecido, nos últimos tempo, é que tem surgido pacientes que não estavam na lista, não foram avaliados, mas tem um advogado que se apresenta com os mesmos com um mandado de segurança expedido por algum juiz determinando que o paciente seja internado e operado.
Fazer o quê, neste caso? Respeitar a decisão judicial, não há opção. Mas eu pergunto: e os outros pacientes? Que estão fazendo tudo pela via correta, sendo avaliados adequadamente e esperando pacientemente e esperançosos a sua cirurgia que, agora, pode ser adiada por decisão de um juiz que “ordena” que outro paciente seja posto na “frente da fila”.
Insisto, não me refiro a pacientes graves, que estão correndo risco iminente de morrerem por sua doença, porque esses – dentro de critérios de urgência – acabam sendo operados antes. Não, esses pacientes são tão doentes quanto todos os outros que esperam a cirurgia. Por que têm o privilégio de passar na frente? Por que pagam um advogado? Pagam um advogado para se operarem pelo SUS?
Não sei vocês, mas eu não consigo achar isso certo. E, levando-se em conta que a mortalidade por obesidade mórbida é de 4% ao ano, sabemos que morrerão pacientes à espera e que tiveram sua cirurgia adiada por uma ordem judicial. E aí? Como determinar que uma pessoa deve ter prioridade sobre outra se as duas são iguais?
Algum juiz vai chamar alguém da equipe médica para dar seu parecer técnico? Porque, até agora, as decisões tem se dado a partir de um lado da história. Isso é justiça?
Mais: um paciente com uma ordem de permanecer internado até que seja operado, pode ficar semanas, até meses, internado, enquanto é preparado para a cirurgia, ocupando um leito, como se estivesse num spa, enquanto as emergências estão lotadas, e pessoas morrem. Quem se responsabiliza por isso? São os médicos que tem que fazer isso, resolver os problemas estruturais do sistema de saúde? E é uma ordem judicial que vai fazê-lo?
Lembro de uma colega, há um tempo atrás, que estava de plantão numa emergência lotada, todos pacientes graves, todos sob monitorização cardíaca, e apareceu um mandado judicial exigindo que internasse um paciente que necessitava de monitorização cardíaca também. Como todos estavam ocupados, ela resolveu ligar para o juiz e pedir para que ele determinasse quem deveria morrer para que a ordem dele fosse cumprida. Não conseguiu falar, era domingo e ele estava fora de casa. Havia assinado a ordem no seu plantão e saído, enquanto ela, na linha de frente, tinha que atender a todos sem ter meios para isso. Eu também já passei por situação parecida, só para constar.
Voltando ao caso que eu contava – e sei disso em detalhes porque a Jacque trabalha no COM –, pensei que uma solução para isso, se o problema persistir ou aumentar, é suspender as cirurgias pelo SUS até que seja esclarecida a situação. Que a justiça saiba o que acontece, que ouça os dois lados da questão. Caso contrário, perdem todos.
(e você, o que acha disso? Se fosse você quem estivesse esperando pela cirurgia e alguém passasse na sua frente sem ter indicação médica para isso?)
Imagine comigo, caro leitor.
Suponha que você está doente e os médicos dizem que a única saída seja um transplante. De coração. Ou pulmão, não importa. O fundamental, neste momento, é saber que você está doente e precisa de um transplante para sobreviver. Tudo começa aí, com você entrando para a ‘lista de espera’ de doadores.
Como funciona essa ‘lista de espera’?
Existe uma Central de Tranplantes em cada estado (se não me engano, no Rio Grande do Sul tem). Após a constatação da necessidade do transplante e da avaliação do seu estado clínico, você entra na lista de espera. Que é organizada basicamente por tipo de transplante, gravidade do doente, e ordem de chegada.
Outra característica da lista é que ela é democrática. Todos são iguais. Não existe a possibilidade de alguém “comprar” um rim ou um coração para transplantes. Quando surge um doador, ele é avaliado como potencial doador e procura-se na lista o primeiro na ordem e que é compatível com as características do doador. Uma decisão técnica, enfim.
Voltemos a falar do seu caso, que está na lista esperando por um transplante. Imagine agora que você é um dos próximos a ser chamado, depois de – sei lá – dois anos aguardando ansiosamente, e que surge um doador compatível com você. Felicidade, expectativa! Mas, do nada, surge um advogado e apresenta um mandado de segurança obrigando a equipe médica a fazer o transplante em outro paciente, que não é mais grave que você e nem estava na lista de transplantes. Como você se sentiria? Pois é, é mais ou menos isso que tem ocorrido em Porto Alegre, com casos de cirurgia da obesidade.
A cirurgia bariátrica (ou da obesidade) é uma forma de tratamento da obesidade mórbida que se mostrou efetiva, desde que feita com critério e com acompanhamento prévio e posterior à cirurgia realizado por equipe multidisciplinar. Além dos cirurgiões, a equipe deve ser composta de endocrinologista, clínicos intensivistas, nutricionistas, psiquiatras e psicólogos. E o acompanhamento deve ser a longo prazo, porque a cirurgia é de grande porte e modifica muito do organismo do operado, que pode ter sérias deficiências nutricionais se não acompanhado “de perto”. Isso sem falar nos distúrbios “emocionais” envolvidos (aliás, nesta terça-feira, 29, a minha afilhada Lúcia defende sua tese de doutorado exatamente sobre o assunto, na PUCRS em Porto Alegre).
Com tudo o que falei, vocês devem imaginar que é um tratamento caro, pois envolve uma equipe grande de profissionais e que demanda tempo de avaliação e acompanhamento, e estão certos. Contudo, esse tratamento é também feito pelo SUS, e o Hospital da PUCRS, através do COM (Centro de Obesidade Mórbida), foi o primeiro centro gaúcho a ser credenciado para fazer esta cirurgia pelo SUS. Que como vocês sabem, paga pouco e com muito atraso. Em virtude disso, a capacidade do COM é operar dois a quatro pacientes por mês através do SUS.
Isso porque os paciente só são operados após extensa avaliação feita por toda a equipe, muitas discussões sobre prós e contras em cada caso específico. Como a demanda é grande e a disponibilidade é pouca, surgiu uma lista de espera para a cirurgia. E essa espera, pelo SUS, é de cerca de dois anos (em São Paulo, até dez). É ruim, é muito tempo, mas o porquê disso é outra história.
O que tem acontecido, nos últimos tempo, é que tem surgido pacientes que não estavam na lista, não foram avaliados, mas tem um advogado que se apresenta com os mesmos com um mandado de segurança expedido por algum juiz determinando que o paciente seja internado e operado.
Fazer o quê, neste caso? Respeitar a decisão judicial, não há opção. Mas eu pergunto: e os outros pacientes? Que estão fazendo tudo pela via correta, sendo avaliados adequadamente e esperando pacientemente e esperançosos a sua cirurgia que, agora, pode ser adiada por decisão de um juiz que “ordena” que outro paciente seja posto na “frente da fila”.
Insisto, não me refiro a pacientes graves, que estão correndo risco iminente de morrerem por sua doença, porque esses – dentro de critérios de urgência – acabam sendo operados antes. Não, esses pacientes são tão doentes quanto todos os outros que esperam a cirurgia. Por que têm o privilégio de passar na frente? Por que pagam um advogado? Pagam um advogado para se operarem pelo SUS?
Não sei vocês, mas eu não consigo achar isso certo. E, levando-se em conta que a mortalidade por obesidade mórbida é de 4% ao ano, sabemos que morrerão pacientes à espera e que tiveram sua cirurgia adiada por uma ordem judicial. E aí? Como determinar que uma pessoa deve ter prioridade sobre outra se as duas são iguais?
Algum juiz vai chamar alguém da equipe médica para dar seu parecer técnico? Porque, até agora, as decisões tem se dado a partir de um lado da história. Isso é justiça?
Mais: um paciente com uma ordem de permanecer internado até que seja operado, pode ficar semanas, até meses, internado, enquanto é preparado para a cirurgia, ocupando um leito, como se estivesse num spa, enquanto as emergências estão lotadas, e pessoas morrem. Quem se responsabiliza por isso? São os médicos que tem que fazer isso, resolver os problemas estruturais do sistema de saúde? E é uma ordem judicial que vai fazê-lo?
Lembro de uma colega, há um tempo atrás, que estava de plantão numa emergência lotada, todos pacientes graves, todos sob monitorização cardíaca, e apareceu um mandado judicial exigindo que internasse um paciente que necessitava de monitorização cardíaca também. Como todos estavam ocupados, ela resolveu ligar para o juiz e pedir para que ele determinasse quem deveria morrer para que a ordem dele fosse cumprida. Não conseguiu falar, era domingo e ele estava fora de casa. Havia assinado a ordem no seu plantão e saído, enquanto ela, na linha de frente, tinha que atender a todos sem ter meios para isso. Eu também já passei por situação parecida, só para constar.
Voltando ao caso que eu contava – e sei disso em detalhes porque a Jacque trabalha no COM –, pensei que uma solução para isso, se o problema persistir ou aumentar, é suspender as cirurgias pelo SUS até que seja esclarecida a situação. Que a justiça saiba o que acontece, que ouça os dois lados da questão. Caso contrário, perdem todos.
(e você, o que acha disso? Se fosse você quem estivesse esperando pela cirurgia e alguém passasse na sua frente sem ter indicação médica para isso?)
sábado, março 26, 2005
Sábado, vinte e seis de março
Porto Alegre é demais, já diz a música.
A minha mãe é demais.
Ambas estão de aniversário hoje.
(comemoraremos juntos domingo da semana que vem)
Pensei em homenagear as duas citando uma música que fale da minha cidade natal e uma que fale de mãe. Primeiro, para Porto Alegre.
Deu Pra Ti
(Kleiton Ramil e Kledir Ramil)
Deu pra ti
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre
Tchau
Quando eu ando assim meio down
Vou pra Porto e... bah!, tri legal
Coisas de magia, sei lá
Paralelo 30
Alô tchurma do Bonfim
As guria tão tri afim
Garopaba ou Bar João
Beladona e chimarrão
Que saudade da Redenção
Do Fogaça e do Falcão
Cobertor de orelha pro frio
E a galera no Beira Rio.
Para a Mãe (sei que não é bem adequada, mas é – ao menos – engraçada):
Coração Materno
(Vicente Celestino)
Dizia o campônio a sua amada
Minha idolatrada diga o que queres?
Por ti vou matar, vou roubar
Embora a tristezas me causes mulher
Provar quero eu que te quero
Venero os teus olhos, teu porte, teu ser
Mais diga tua ordem espero
Por ti não importa matar ou morrer
E ela disse ao compônio a brincar
Se é verdade tua louca paixão
Partes já e pra mim vá buscar
De tua mãe inteiro o coração
E a correr o campônio partiu
Como um raio na estrada sumiu
E sua amada quão ficou
A chorar na estrada tombou
Chega na choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sagrando da velha mãezinha
O pobre coração e volta a correr proclamando
Vitória, vitória tem minha paixão
Mais em meio da estrada caiu
E na queda uma perna partiu
E a distância saltou da mão
Sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou
Magoou-se pobre filho meu
Vem buscar-me filho, aqui estou
Vem buscar-me que ainda sou teu!
FELIZ ANIVERSÁRIO PRA MAMA e BOA PÁSCOA A TODOS!!
A minha mãe é demais.
Ambas estão de aniversário hoje.
(comemoraremos juntos domingo da semana que vem)
Pensei em homenagear as duas citando uma música que fale da minha cidade natal e uma que fale de mãe. Primeiro, para Porto Alegre.
Deu Pra Ti
(Kleiton Ramil e Kledir Ramil)
Deu pra ti
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre
Tchau
Quando eu ando assim meio down
Vou pra Porto e... bah!, tri legal
Coisas de magia, sei lá
Paralelo 30
Alô tchurma do Bonfim
As guria tão tri afim
Garopaba ou Bar João
Beladona e chimarrão
Que saudade da Redenção
Do Fogaça e do Falcão
Cobertor de orelha pro frio
E a galera no Beira Rio.
Para a Mãe (sei que não é bem adequada, mas é – ao menos – engraçada):
Coração Materno
(Vicente Celestino)
Dizia o campônio a sua amada
Minha idolatrada diga o que queres?
Por ti vou matar, vou roubar
Embora a tristezas me causes mulher
Provar quero eu que te quero
Venero os teus olhos, teu porte, teu ser
Mais diga tua ordem espero
Por ti não importa matar ou morrer
E ela disse ao compônio a brincar
Se é verdade tua louca paixão
Partes já e pra mim vá buscar
De tua mãe inteiro o coração
E a correr o campônio partiu
Como um raio na estrada sumiu
E sua amada quão ficou
A chorar na estrada tombou
Chega na choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sagrando da velha mãezinha
O pobre coração e volta a correr proclamando
Vitória, vitória tem minha paixão
Mais em meio da estrada caiu
E na queda uma perna partiu
E a distância saltou da mão
Sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou
Magoou-se pobre filho meu
Vem buscar-me filho, aqui estou
Vem buscar-me que ainda sou teu!
FELIZ ANIVERSÁRIO PRA MAMA e BOA PÁSCOA A TODOS!!
sexta-feira, março 25, 2005
Só Não Há Perdão para o Chato
Estava ouvindo ontem as notícias na tevê e me dei conta de um fato: os chatos não morrem. Ou pelo menos não se noticia isso.
Já repararam? Sempre que se noticia a morte de alguém, por acidente, doença ou qualquer que seja a causa, e entrevistam um familiar ou mesmo um conhecido sobre a pessoa que se foi, a descrição é sempre à mesma: era uma pessoa cheia de vida, tinha um futuro brilhante pela frente, etc.
E isso me preocupa: quem morre são sempre os bons, aqueles com as melhores chances de um futuro brilhante. Os chatos, os de vida medíocre, os pequenos, esses continuam. Esses são imunes às mortes prematuras, às vida interrompidas. Nunca se verá alguém dizendo sobre um morto: “Não, ele não tinha grandes ambições, queria apenas ser um burocrata, pagar seus impostos em dia, e não chamar muita atenção sobre si”.
Tudo porque a morte redime a todos.
Aquele que morreu, por não estar mais aqui para provar em contrário, poderia vir a ser qualquer coisa: astronauta, presidente da república, prêmio nobel da paz. E ele se torna aquilo que desejamos que ele tivesse sido.
(claro que isso acontece mais freqüentemente quando quem morre é jovem, mas não só)
Eu não.
Eu quero ser em vida alguém que, quando as pessoas lembrem de mim, digam ‘O Marcelo, como ele é cheio de vida, cheio de planos’. Que seja uma referência quando o assunto for animação, vibração capacidade de congregar, reunir. Que eu não me torne alguém assim apenas depois da vida.
Porque o que me interessa é o agora, o hoje.
Talvez esteja aí a gênese de todas as minhas invenções e eventos. A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, as Quarta-feiras Filosóficas, esse blog. Sem falar nas criadas num passado um pouco mais distante. Todas formas de reunir as pessoas, de estar junto, de festejar.
Porque ser lembrado como alguém cheio de vida quando não se tem mais uma não me interessa.
Já repararam? Sempre que se noticia a morte de alguém, por acidente, doença ou qualquer que seja a causa, e entrevistam um familiar ou mesmo um conhecido sobre a pessoa que se foi, a descrição é sempre à mesma: era uma pessoa cheia de vida, tinha um futuro brilhante pela frente, etc.
E isso me preocupa: quem morre são sempre os bons, aqueles com as melhores chances de um futuro brilhante. Os chatos, os de vida medíocre, os pequenos, esses continuam. Esses são imunes às mortes prematuras, às vida interrompidas. Nunca se verá alguém dizendo sobre um morto: “Não, ele não tinha grandes ambições, queria apenas ser um burocrata, pagar seus impostos em dia, e não chamar muita atenção sobre si”.
Tudo porque a morte redime a todos.
Aquele que morreu, por não estar mais aqui para provar em contrário, poderia vir a ser qualquer coisa: astronauta, presidente da república, prêmio nobel da paz. E ele se torna aquilo que desejamos que ele tivesse sido.
(claro que isso acontece mais freqüentemente quando quem morre é jovem, mas não só)
Eu não.
Eu quero ser em vida alguém que, quando as pessoas lembrem de mim, digam ‘O Marcelo, como ele é cheio de vida, cheio de planos’. Que seja uma referência quando o assunto for animação, vibração capacidade de congregar, reunir. Que eu não me torne alguém assim apenas depois da vida.
Porque o que me interessa é o agora, o hoje.
Talvez esteja aí a gênese de todas as minhas invenções e eventos. A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, as Quarta-feiras Filosóficas, esse blog. Sem falar nas criadas num passado um pouco mais distante. Todas formas de reunir as pessoas, de estar junto, de festejar.
Porque ser lembrado como alguém cheio de vida quando não se tem mais uma não me interessa.
quinta-feira, março 24, 2005
Jô Soares e o imbróglio na Flórida
(Antes de mais nada, terminei de publicar a história dos Perdidos na Espace, no blog de mesmo nome. Começa aqui, em outubro, e vai até a semana passada. Com fotos e tudo. Em breve, comecerei a publicar a próxima viagem, chamada ‘Natal na Neve’)
Sempre lembro daquele personagem do Jô Soares que – ao ouvir notícias do Brasil – dizia “me tira o tubo”. É pensamento que tem sido recorrente nos últimos dias.
Se é assim, se é assassinato, me matem, por favor.
Vou deixar bem claro: se porventura algum dia eu estiver nas mesmas condições da americana Terry Schiavo, façam-me um favor, me deixem morrer em paz. E aposto que se ela pudesse, de alguma forma, se manifestar sobre o assunto, ela diria o mesmo que eu.
Essa discussão, que se arrasta há anos, e que agora chegou a ponto de causar toda essa confusão, com pessoas sendo presas por tentar dar pão e água para ela, o congresso americano se reunindo num final de semana para afrontar a justiça do estado da Flórida - que já decidira a questão - ao aprovar uma lei transferindo a jurisdição do caso para a justiça federal, e o presidente Bush interrompendo suas férias para sancionar essa lei, é muito complicada porque mistura, além das questões pessoais, da família e do marido, também política, religião, e ciência. Ou seja, vale a regra: quando muitos falam muito, acabam falando bobagens.
Há dias queria falar disso, mas me sentia algo desconfortável. Para que me envolver em um assunto que envolve convicções religiosas, onde a possibilidade de angariar antipatias e revoltas é grande? Exatamente porque não é uma questão religiosa, nem política. E se todos estão dando palpite, afinal de contas, por que eu também não posso fazer isso?
Primeiro, saibam todos: sou a favor da vida, sempre.
O que acontece é que não é isso o que está em jogo neste caso. Pobre dessa mulher, mas ela morreu há 15 anos. Apesar de respirar espontaneamente, fazer movimentos e até aguns ruídos, me parece, ela não tem vida de relação desde então. Ou seja, não fala, não ouve, não vê, não pensa.
Após a parada cardíaca, depois de alguns minutos em que o cerébro fica sem receber sangue (oxigênio), ocorre lesão cerebral que é mais grave quanto maior o tempo até a reanimação. No caso dela, foram cerca ou mais de cinco minutos, o que provocou lesão cerebral irreversível, deixando ela em estado vegetativo permanente. Pode até respirar sozinha, se movimentar espontaneamente, mas não existe mais nada.
Isso não é morte cerebral, mas o efeito, em termos de vida de relação, é o mesmo. Em nenhum momento vai haver recuperação. Existem casos de coma prolongado em que os pacientes até podem se recuperar. É diferente, também, dos casos de trauma agudo, que se recuperam até sem seqüelas, meu caso, apesar de algumas pessoas levantarem dúvidas sobre eu ter ficado com seqüelas ou não, mas isso é outra história…
Voltando ao caso, ela está em estado vegetativo há quinze anos. A alimentação e hidratação são feitos através de uma sonda, que é o que foi retirado.
Isso é vida, eu pergunto, e esclareço que acho que não. E o pior, estão tirando o direito dela, como ser humano, de morrer dignamente. O que aliás já era para ter acontecido desde 1998, mas aí começou a batalha judicial com os pais dela. E, pior, depois de cinco anos de discussão nos tribunais, o legislativo da Flórida aprovou a “Terry’s Law”, uma lei permitindo que o governador Jeb Bush, irmão do presidente, passasse por cima da decisão da justiça e ordenasse a reinserção do tubo, que havia sido retirado por ordem da justiça. Lei essa que foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte da Flórida.
Direito à vida? Que vida que essa mulher tem?
E o que o congresso americano e o presidente tem a ver com o assunto?
Nada, exceto uma tentativa hipócrita de “fazer uma média” com setores mais conservadores da sociedade americana. Quando tinham que estar se preocupando com o sistema de saúde, o Medicare, e com a previdência social, ambos em situação de risco, passaram o final de semana discutindo um caso que não lhes dizia respeito.
Lamento dizer, mas também não é uma questão religiosa. E por isso não vou comentar o que estão dizendo sobre isso desse ponto de vista.
É uma questão médica, e humana.
Deixem essa pobre mulher morrer em paz.
Sempre lembro daquele personagem do Jô Soares que – ao ouvir notícias do Brasil – dizia “me tira o tubo”. É pensamento que tem sido recorrente nos últimos dias.
Se é assim, se é assassinato, me matem, por favor.
Vou deixar bem claro: se porventura algum dia eu estiver nas mesmas condições da americana Terry Schiavo, façam-me um favor, me deixem morrer em paz. E aposto que se ela pudesse, de alguma forma, se manifestar sobre o assunto, ela diria o mesmo que eu.
Essa discussão, que se arrasta há anos, e que agora chegou a ponto de causar toda essa confusão, com pessoas sendo presas por tentar dar pão e água para ela, o congresso americano se reunindo num final de semana para afrontar a justiça do estado da Flórida - que já decidira a questão - ao aprovar uma lei transferindo a jurisdição do caso para a justiça federal, e o presidente Bush interrompendo suas férias para sancionar essa lei, é muito complicada porque mistura, além das questões pessoais, da família e do marido, também política, religião, e ciência. Ou seja, vale a regra: quando muitos falam muito, acabam falando bobagens.
Há dias queria falar disso, mas me sentia algo desconfortável. Para que me envolver em um assunto que envolve convicções religiosas, onde a possibilidade de angariar antipatias e revoltas é grande? Exatamente porque não é uma questão religiosa, nem política. E se todos estão dando palpite, afinal de contas, por que eu também não posso fazer isso?
Primeiro, saibam todos: sou a favor da vida, sempre.
O que acontece é que não é isso o que está em jogo neste caso. Pobre dessa mulher, mas ela morreu há 15 anos. Apesar de respirar espontaneamente, fazer movimentos e até aguns ruídos, me parece, ela não tem vida de relação desde então. Ou seja, não fala, não ouve, não vê, não pensa.
Após a parada cardíaca, depois de alguns minutos em que o cerébro fica sem receber sangue (oxigênio), ocorre lesão cerebral que é mais grave quanto maior o tempo até a reanimação. No caso dela, foram cerca ou mais de cinco minutos, o que provocou lesão cerebral irreversível, deixando ela em estado vegetativo permanente. Pode até respirar sozinha, se movimentar espontaneamente, mas não existe mais nada.
Isso não é morte cerebral, mas o efeito, em termos de vida de relação, é o mesmo. Em nenhum momento vai haver recuperação. Existem casos de coma prolongado em que os pacientes até podem se recuperar. É diferente, também, dos casos de trauma agudo, que se recuperam até sem seqüelas, meu caso, apesar de algumas pessoas levantarem dúvidas sobre eu ter ficado com seqüelas ou não, mas isso é outra história…
Voltando ao caso, ela está em estado vegetativo há quinze anos. A alimentação e hidratação são feitos através de uma sonda, que é o que foi retirado.
Isso é vida, eu pergunto, e esclareço que acho que não. E o pior, estão tirando o direito dela, como ser humano, de morrer dignamente. O que aliás já era para ter acontecido desde 1998, mas aí começou a batalha judicial com os pais dela. E, pior, depois de cinco anos de discussão nos tribunais, o legislativo da Flórida aprovou a “Terry’s Law”, uma lei permitindo que o governador Jeb Bush, irmão do presidente, passasse por cima da decisão da justiça e ordenasse a reinserção do tubo, que havia sido retirado por ordem da justiça. Lei essa que foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte da Flórida.
Direito à vida? Que vida que essa mulher tem?
E o que o congresso americano e o presidente tem a ver com o assunto?
Nada, exceto uma tentativa hipócrita de “fazer uma média” com setores mais conservadores da sociedade americana. Quando tinham que estar se preocupando com o sistema de saúde, o Medicare, e com a previdência social, ambos em situação de risco, passaram o final de semana discutindo um caso que não lhes dizia respeito.
Lamento dizer, mas também não é uma questão religiosa. E por isso não vou comentar o que estão dizendo sobre isso desse ponto de vista.
É uma questão médica, e humana.
Deixem essa pobre mulher morrer em paz.
quarta-feira, março 23, 2005
E não é que voltou a nevar?
(cheguei em casa, fiz o chimarrão e fiquei olhando a neve cair, ouvindo Jayme Caetane Braun)
De onde me vem, Cordeona, o formigueiro
Que sinto n`alma, ao te escutar floreando?
E essa vontade de morrer peleando.
Será que um dia eu já não fui gaiteiro???
De onde me vem esse tropel no pulso,
E esse calor de fogo que incendeia?
Por que será que fico assim, convulso,
E só de ouvir-te o sangue corcoveia???
É o atavismo, eu sei, Cordeona amiga,
Sem que tu digas, sem que ninguém diga,
Parceira guasca que nos apaixonas.
E se mil vidas Deus me desse, um dia,
Uma por uma delas, eu daria,
Prá ter mil funerais de mil Cordeonas!!
Vinte e três de março de 1985.
Sábado. Acordei com a voz da minha mãe acordando o meu pai no quarto ao lado e pedindo para que ele descesse e fosse até o quarto onde minha avó dormia naqueles dias, pois algo parecia não estar bem. Lembro de não ter dormido após isso, acompanhando o movimento que se seguiu, sobe e desce das escadas, telefonema para o médico dela, vozes, e a certeza de que algo não estava bem.
Minha vó, mãe da minha mãe, era a última dos meus avós viva. Quando nasci, meus avós paternos já haviam morrido, e meu avô materno – médico – morrera seis anos antes, em 1979, quando eu tinha sete anos, de infarto agudo do miocárdio, no aeroporto de Lisboa, justamente quando chegava à Europa para uma viagem de férias com minha avó.
Desde que me lembro da minha avó, ela já tinha câncer. De mama. Havia operado, mastectomia bilateral, e feito radio e quimioterapia. Lembro de quando ela perdeu o cabelo pela quimioterapia. Usava uma peruca e brincava com fato, principalmente impressionando meus primos menores. Sempre bem humorada é como lembro dela, e existem muitas histórias que costumamos volta e meia relembrar. Eu era o seu primeiro neto.
Aquele março de 1985 ela foi ficar lá em casa, se não me engano ao sair de uma internação no Hospital da PUCRS, o mesmo em que, anos depois, fiz a faculdade, residência médica e fui médico contratado. Tinha ido ficar lá em casa e, por estar com dificuldades de subir as escadas, montamos o quarto dela na parte térrea da casa. Na copa, onde fazíamos as refeições, junto à escada, colocamos a cadeira de balanço onde ela ficava (e que está no mesmo lugar até hoje). Foi sentada ali, uns dias antes de morrer, que vi ela dizendo que achava que “desta vez…” fazendo sinal com a mão fechada e apontando o polegar para baixo, indicando que achava a coisa não ia terminar bem.
De certa forma, terminou. Morreu dormindo, sem dor, sem maiores sofrimentos. Exceto o nosso, que sempre achamos que essas coisas acontecem cedo demais.
Naquele sábado, fui levado para a aula de vela que tinha. Velejei sozinho, ouvindo o vento e o barulho da água, e pensei na finitude humana e no sentido da vida. Tinha doze anos.
Vinte e três de março de 1995
Quinta-feira. Médico-residente de primeiro ano de clínica médica no Hospital São Lucas da PUCRS. Passando de estágio pelo UTI. Depois de dois meses e vinte dias de residência, assinei meu primeiro atestado de óbito. Ao voltar para casa, sozinho, pensei na finitude humana e no sentido da vida. Tinha vinte e dois anos.
Vinte e três de março de 1996
Sábado. Santa Cruz do Sul/RS. Casamento do Caio e da Aline. Eu e a Jacque fomos padrinhos. Festa muito legal. Após uns uísques a mais convidei todos para o nosso casamento, que seria em seis meses (e não era efeito do álcool). Ao voltar ao hotel, após a festa, pensei nas voltas que o mundo dá e no sentido da vida. Tinha vinte e três anos.
Vinte e três de março de 2005
Quarta-feira. Toronto, Canadá. Estou morando aqui sozinho há sete meses, e devo ficar mais um ano e meio. Em nove dias, vou ao Brasil para passar quinze dias com a família e os amigos. Terminei o doutorado em dezembro, e estou aqui num pós-doutorado. Sentado em frente à janela, vejo a neve cair. Em silêncio, penso nas voltas que o mundo dá e no sentido da vida.
Tenho trinta e dois anos.
De onde me vem, Cordeona, o formigueiro
Que sinto n`alma, ao te escutar floreando?
E essa vontade de morrer peleando.
Será que um dia eu já não fui gaiteiro???
De onde me vem esse tropel no pulso,
E esse calor de fogo que incendeia?
Por que será que fico assim, convulso,
E só de ouvir-te o sangue corcoveia???
É o atavismo, eu sei, Cordeona amiga,
Sem que tu digas, sem que ninguém diga,
Parceira guasca que nos apaixonas.
E se mil vidas Deus me desse, um dia,
Uma por uma delas, eu daria,
Prá ter mil funerais de mil Cordeonas!!
Vinte e três de março de 1985.
Sábado. Acordei com a voz da minha mãe acordando o meu pai no quarto ao lado e pedindo para que ele descesse e fosse até o quarto onde minha avó dormia naqueles dias, pois algo parecia não estar bem. Lembro de não ter dormido após isso, acompanhando o movimento que se seguiu, sobe e desce das escadas, telefonema para o médico dela, vozes, e a certeza de que algo não estava bem.
Minha vó, mãe da minha mãe, era a última dos meus avós viva. Quando nasci, meus avós paternos já haviam morrido, e meu avô materno – médico – morrera seis anos antes, em 1979, quando eu tinha sete anos, de infarto agudo do miocárdio, no aeroporto de Lisboa, justamente quando chegava à Europa para uma viagem de férias com minha avó.
Desde que me lembro da minha avó, ela já tinha câncer. De mama. Havia operado, mastectomia bilateral, e feito radio e quimioterapia. Lembro de quando ela perdeu o cabelo pela quimioterapia. Usava uma peruca e brincava com fato, principalmente impressionando meus primos menores. Sempre bem humorada é como lembro dela, e existem muitas histórias que costumamos volta e meia relembrar. Eu era o seu primeiro neto.
Aquele março de 1985 ela foi ficar lá em casa, se não me engano ao sair de uma internação no Hospital da PUCRS, o mesmo em que, anos depois, fiz a faculdade, residência médica e fui médico contratado. Tinha ido ficar lá em casa e, por estar com dificuldades de subir as escadas, montamos o quarto dela na parte térrea da casa. Na copa, onde fazíamos as refeições, junto à escada, colocamos a cadeira de balanço onde ela ficava (e que está no mesmo lugar até hoje). Foi sentada ali, uns dias antes de morrer, que vi ela dizendo que achava que “desta vez…” fazendo sinal com a mão fechada e apontando o polegar para baixo, indicando que achava a coisa não ia terminar bem.
De certa forma, terminou. Morreu dormindo, sem dor, sem maiores sofrimentos. Exceto o nosso, que sempre achamos que essas coisas acontecem cedo demais.
Naquele sábado, fui levado para a aula de vela que tinha. Velejei sozinho, ouvindo o vento e o barulho da água, e pensei na finitude humana e no sentido da vida. Tinha doze anos.
Vinte e três de março de 1995
Quinta-feira. Médico-residente de primeiro ano de clínica médica no Hospital São Lucas da PUCRS. Passando de estágio pelo UTI. Depois de dois meses e vinte dias de residência, assinei meu primeiro atestado de óbito. Ao voltar para casa, sozinho, pensei na finitude humana e no sentido da vida. Tinha vinte e dois anos.
Vinte e três de março de 1996
Sábado. Santa Cruz do Sul/RS. Casamento do Caio e da Aline. Eu e a Jacque fomos padrinhos. Festa muito legal. Após uns uísques a mais convidei todos para o nosso casamento, que seria em seis meses (e não era efeito do álcool). Ao voltar ao hotel, após a festa, pensei nas voltas que o mundo dá e no sentido da vida. Tinha vinte e três anos.
Vinte e três de março de 2005
Quarta-feira. Toronto, Canadá. Estou morando aqui sozinho há sete meses, e devo ficar mais um ano e meio. Em nove dias, vou ao Brasil para passar quinze dias com a família e os amigos. Terminei o doutorado em dezembro, e estou aqui num pós-doutorado. Sentado em frente à janela, vejo a neve cair. Em silêncio, penso nas voltas que o mundo dá e no sentido da vida.
Tenho trinta e dois anos.
terça-feira, março 22, 2005
Drops de Pensamento
Algumas impressões que devo desenvolver com calma. Ou não.
1. O verdadeiro sentido da história só vai se revelar quando esta for analisada com a visão da perspectiva. Ao analisar o todo, poderemos entender o significado e conseqüências dos fatos do agora.
Lembrei disso ao me dar conta que só daqui a alguns anos vou ter a noção exata do significa estar passando esse tempo aqui em Toronto. Em termos profissionais, já tive algumas amostras, pequenas eu sei, mas significativas no seu simbolismo. Quanto às relações pessoais, as que ficaram e as que estão se construindo, o tempo vai mostrar a minha capacidade de criá-las e sedimentá-las a longo prazo, o que nada mais é que um reflexo de quem tenho sido e sou como pessoa.
2. Admiro sinceramente quem decide emigrar de seu país e começar uma vida nova. Tenho conhecido vários por aqui nesta condição: racionalmente, após pesarem prós e contras, optaram por viver em outro país, tornarem-se cidadãos, adotarem uma nova pátria.
Não deve ser fácil tomar essa decisão, mas fatores como violência urbana, qualidade de vida em geral, os faz deixarem o lugar que nasceram para viverem em uma nova cultura. É não terem o destino determinado por uma questão geográfica, de se sentirem obrigados a viver num local só porque nasceram lá. Muitos vão em busca da felicidade que talvez não encontrassem vivendo no Brasil.
3. Há alguns meses, recebi um e-mail que propunha um debate:
“Sei que estamos nos preparando para termos estabilidade financeira na vida, poder ter uma casa legal, conforto para a familia, viajar, se dar alguns luxos. Mas o que pergunto é o que faremos depois disso. O que faremos de especial para nossa comunidade, nossa cidade, nosso estado, nosso país (…) temos uma responsabilidade social, coletiva (…) Ficaremos em casa, fazendo discursos para 2 pessoas, após 3 garrafas de vinho?. (…) Pensemos em nosso papel”.
Tenho pensado nisso. Qual o nosso papel no mundo?
Tenho muito o que pensar, aliás.
4. Falando em pensar e em questões filosóficas, está confirmada para a primeira quinzena de abril, em Porto Alegre, uma edição especial das Quartas-feiras Filosóficas. Será apenas essa edição, mas elas devem retornar regularmente em 2007.
5. Sobre A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo: a sua primeira versão canadense está marcada para 30/04/2005. Todos convidados. Inscrições abertas, é só deixar um recado aqui. Organização: Ana Célia e eu.
E você, já pensou no seu papel no mundo?
1. O verdadeiro sentido da história só vai se revelar quando esta for analisada com a visão da perspectiva. Ao analisar o todo, poderemos entender o significado e conseqüências dos fatos do agora.
Lembrei disso ao me dar conta que só daqui a alguns anos vou ter a noção exata do significa estar passando esse tempo aqui em Toronto. Em termos profissionais, já tive algumas amostras, pequenas eu sei, mas significativas no seu simbolismo. Quanto às relações pessoais, as que ficaram e as que estão se construindo, o tempo vai mostrar a minha capacidade de criá-las e sedimentá-las a longo prazo, o que nada mais é que um reflexo de quem tenho sido e sou como pessoa.
2. Admiro sinceramente quem decide emigrar de seu país e começar uma vida nova. Tenho conhecido vários por aqui nesta condição: racionalmente, após pesarem prós e contras, optaram por viver em outro país, tornarem-se cidadãos, adotarem uma nova pátria.
Não deve ser fácil tomar essa decisão, mas fatores como violência urbana, qualidade de vida em geral, os faz deixarem o lugar que nasceram para viverem em uma nova cultura. É não terem o destino determinado por uma questão geográfica, de se sentirem obrigados a viver num local só porque nasceram lá. Muitos vão em busca da felicidade que talvez não encontrassem vivendo no Brasil.
3. Há alguns meses, recebi um e-mail que propunha um debate:
“Sei que estamos nos preparando para termos estabilidade financeira na vida, poder ter uma casa legal, conforto para a familia, viajar, se dar alguns luxos. Mas o que pergunto é o que faremos depois disso. O que faremos de especial para nossa comunidade, nossa cidade, nosso estado, nosso país (…) temos uma responsabilidade social, coletiva (…) Ficaremos em casa, fazendo discursos para 2 pessoas, após 3 garrafas de vinho?. (…) Pensemos em nosso papel”.
Tenho pensado nisso. Qual o nosso papel no mundo?
Tenho muito o que pensar, aliás.
4. Falando em pensar e em questões filosóficas, está confirmada para a primeira quinzena de abril, em Porto Alegre, uma edição especial das Quartas-feiras Filosóficas. Será apenas essa edição, mas elas devem retornar regularmente em 2007.
5. Sobre A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo: a sua primeira versão canadense está marcada para 30/04/2005. Todos convidados. Inscrições abertas, é só deixar um recado aqui. Organização: Ana Célia e eu.
E você, já pensou no seu papel no mundo?
segunda-feira, março 21, 2005
O Brasil em Toronto
Serei transformado em persona non grata na blogosfera se não comentar o nosso Encontro de sábado à noite.
Para quem pegou streetcar andando, o ‘nosso’ quer dizer do pessoal dos blogs aqui de Toronto. Organizado pelo Gean, o grande “botador de pilhas” por aqui, ele foi realizado no restaurante Rio 40º, enclave brasileiro na região conhecida como Corso Italia aqui de Toronto.
Fomos ao todo 18 pessoas: Gean & Vanuza, Alessandro & Ana Célia & Henrique, Sérgio & Lúcia , Ana Paula & João , Mel & Ken, Ninne & Darry, os recém chegados a Toronto Laila e Eduardo, a Deise, a Ane (que estava se despedindo de Toronto para retornar à Porto Alegre) e este que vos escreve.
O Gean havia reservado a mesa, e seria o primeiro a chegar. Não foi, e quando cheguei, ao não avistá-lo, perguntei pela reserva e fui encaminhado até onde já estavam a Deise, a Ane, a Ana Paula e o João. Nos apresentamos, pois apesar de já nos conhecermos pelos blog, era a primeira vez que nos víamos pessoalmente. Sentamos no canto da mesa, e logo depois chegaram o Gean e a Vanuza, “velhos conhecidos”, quando comparados com os outros, e em seguida os demais.
O encontro, por ser num restaurante, foi vítima de uma circunstância comum em eventos nesse tipo de local: a longa mesa, e nem todos conseguem interagir uns com os outros. Paciência, a perspectiva de novos encontros atenua a impossibilidade de conversar como todos durante a janta. Não falei com alguém (e acho que não falei mesmo)? Desculpa, me redimo na próxima.
Foi bem agradável, como sempre, encontrar com pessoas com as quais “interagimos” virtualmente quase que diariamente, como com comentários nos blogs uns dos outros. Também trazer um pouco de Brasil para a convivência, e de lugares diversos. Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, etc, num intercâmbio que normalmente não fazemos quando no Brasil. É a primeira ligação que há entre todos, o fato comum de termos nascido no mesmo país.
Depois disso, o segundo ponto de aproximação e contato é o fato de estarmos vivendo num país diferente, estarmos assimilando um nova cultura. E, a partir disso, de nossas experiências mais ou menos comuns, que vamos criando novos elos de ligação que resultarão em amizades que, com o tempo, se solidificarão.
#
Entre as conversas durante a janta, a inevitável pergunta.
Por que A Sopa no Exílio?
Pobre de quem perguntou, pois a resposta é sempre longa e cheia de detalhes. A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, o Sopanews, A Sopa, a Banda da Sopa, o blog, a vinda para o Canadá, o exílio da sopa.
E aí se passaram três horas…
(brincadeira, claro, mas nem tanto)
#
Após esse encontro de sábado, já começaram a se falar nos próximos eventos. Eu estou na obrigação de fazer a “famosa” sopa. Então será a First Canadian Marcelo’s Annual Pea Soup ou algo do gênero… Bom, conforme conversa com a Ana Célia, disse que poderia ser no próximo final de semana. Só precisaria saber onde fazer, quantas pessoas seriam e teríamos que conseguir uma panela condizente.
Contudo, ao ler o blog da Ana Paula, descobri que ela está planejando uma feijoada. Pensei que poderíamos planejar, daí com mais antecedência, os dois “eventos”. Por exemplo, a sopa no final de abril e a feijoada em maio.
Todos poderiam se programar com antecedência e poderíamos organizar um calendário de atividades de cobrisse o ano todo, algo como um encontro mensal ou bimestral de todos.
(mas sou parceiro para este final de semana da mesma forma)
Que tal?
Para quem pegou streetcar andando, o ‘nosso’ quer dizer do pessoal dos blogs aqui de Toronto. Organizado pelo Gean, o grande “botador de pilhas” por aqui, ele foi realizado no restaurante Rio 40º, enclave brasileiro na região conhecida como Corso Italia aqui de Toronto.
Fomos ao todo 18 pessoas: Gean & Vanuza, Alessandro & Ana Célia & Henrique, Sérgio & Lúcia , Ana Paula & João , Mel & Ken, Ninne & Darry, os recém chegados a Toronto Laila e Eduardo, a Deise, a Ane (que estava se despedindo de Toronto para retornar à Porto Alegre) e este que vos escreve.
O Gean havia reservado a mesa, e seria o primeiro a chegar. Não foi, e quando cheguei, ao não avistá-lo, perguntei pela reserva e fui encaminhado até onde já estavam a Deise, a Ane, a Ana Paula e o João. Nos apresentamos, pois apesar de já nos conhecermos pelos blog, era a primeira vez que nos víamos pessoalmente. Sentamos no canto da mesa, e logo depois chegaram o Gean e a Vanuza, “velhos conhecidos”, quando comparados com os outros, e em seguida os demais.
O encontro, por ser num restaurante, foi vítima de uma circunstância comum em eventos nesse tipo de local: a longa mesa, e nem todos conseguem interagir uns com os outros. Paciência, a perspectiva de novos encontros atenua a impossibilidade de conversar como todos durante a janta. Não falei com alguém (e acho que não falei mesmo)? Desculpa, me redimo na próxima.
Foi bem agradável, como sempre, encontrar com pessoas com as quais “interagimos” virtualmente quase que diariamente, como com comentários nos blogs uns dos outros. Também trazer um pouco de Brasil para a convivência, e de lugares diversos. Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, etc, num intercâmbio que normalmente não fazemos quando no Brasil. É a primeira ligação que há entre todos, o fato comum de termos nascido no mesmo país.
Depois disso, o segundo ponto de aproximação e contato é o fato de estarmos vivendo num país diferente, estarmos assimilando um nova cultura. E, a partir disso, de nossas experiências mais ou menos comuns, que vamos criando novos elos de ligação que resultarão em amizades que, com o tempo, se solidificarão.
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Entre as conversas durante a janta, a inevitável pergunta.
Por que A Sopa no Exílio?
Pobre de quem perguntou, pois a resposta é sempre longa e cheia de detalhes. A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, o Sopanews, A Sopa, a Banda da Sopa, o blog, a vinda para o Canadá, o exílio da sopa.
E aí se passaram três horas…
(brincadeira, claro, mas nem tanto)
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Após esse encontro de sábado, já começaram a se falar nos próximos eventos. Eu estou na obrigação de fazer a “famosa” sopa. Então será a First Canadian Marcelo’s Annual Pea Soup ou algo do gênero… Bom, conforme conversa com a Ana Célia, disse que poderia ser no próximo final de semana. Só precisaria saber onde fazer, quantas pessoas seriam e teríamos que conseguir uma panela condizente.
Contudo, ao ler o blog da Ana Paula, descobri que ela está planejando uma feijoada. Pensei que poderíamos planejar, daí com mais antecedência, os dois “eventos”. Por exemplo, a sopa no final de abril e a feijoada em maio.
Todos poderiam se programar com antecedência e poderíamos organizar um calendário de atividades de cobrisse o ano todo, algo como um encontro mensal ou bimestral de todos.
(mas sou parceiro para este final de semana da mesma forma)
Que tal?
domingo, março 20, 2005
A Sopa 04/35
Tudo volta ao normal.
Dois mil e quatro foi um ano marcado por acontecimentos intensos, sensações diferentes, muito tempo passado sozinho e em silêncio, encerramento de ciclos, novos desafios. Acima de tudo, porém, o que mais marcou 2004 (para mim, lógico) foi o fato de ter sido um ano sem primavera.
Iniciei o ano no Brasil com o verão, vivi o outono das tardes douradas de Porto Alegre, entrei o inverno habitual com uma semana mais intensa de frio e neve em Bariloche e, antes que o ciclo do ano entrasse em sua derradeira estação, inverti o meu pólo e voltei para o final do verão. A esse seguiu uma rápida transição em que as folhas passaram do verde ao amarelo, laranja, vermelho até que jaziam no chão, e entrei novamente no inverno, desta vez de verdade, muito frio e neve.
Janeiro e fevereiro passaram rapidamente, e março trouxe uma mudança no estado anímico das pessoas e a pergunta de todos: “Quando acaba o inverno?”. Março, como o agosto do hemisfério sul, quando já não aguentamos mais o inverno e temos a sensação que está sobrando, não era necessário. Velho teoria: agosto, o mês que sobra, e pode valer também para março. Ou seria fevereiro, e me parece assim porque fugi daqui dezembro último? Não importa. O importante é que agora – finalmente – vou completar o ciclo das estações. É primavera, e tudo melhora.
Em Porto Alegre, assim como em todo o hemisfério sul, começa o outono. As folhas vão cair, e sei que o fenômeno não será na mesma intensidade que aqui no Canadá. E a entrada do outono em Porto Alegre, em especial, marca uma semana de comemorações: é a semana de Porto Alegre, que está de aniversário no dia 26, data em que a minha mãe também faz aniversário. Semana significativa para mim, como podem perceber.
#
Primeiro de dia de primavera em Toronto.
Céu plúmbeo, alguns flurries e uma chuva fina que não molha nem desocupa a moita. Mesmo assim, está diferente. A temperatura um grau positivo e previsão de até 6ºC durante a semana. Flores, por enquanto nem sinal, até onde pude ver. Mas, como eu disse antes, já é perceptível a mudança anímica nas pessoas.
#
Primavera
Composição: Cassiano / Sílvio Rochael
Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti
Eu (é primavera)
Te amo (é primavera)
Te amo meu amor
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Meu amor...
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
Dois mil e quatro foi um ano marcado por acontecimentos intensos, sensações diferentes, muito tempo passado sozinho e em silêncio, encerramento de ciclos, novos desafios. Acima de tudo, porém, o que mais marcou 2004 (para mim, lógico) foi o fato de ter sido um ano sem primavera.
Iniciei o ano no Brasil com o verão, vivi o outono das tardes douradas de Porto Alegre, entrei o inverno habitual com uma semana mais intensa de frio e neve em Bariloche e, antes que o ciclo do ano entrasse em sua derradeira estação, inverti o meu pólo e voltei para o final do verão. A esse seguiu uma rápida transição em que as folhas passaram do verde ao amarelo, laranja, vermelho até que jaziam no chão, e entrei novamente no inverno, desta vez de verdade, muito frio e neve.
Janeiro e fevereiro passaram rapidamente, e março trouxe uma mudança no estado anímico das pessoas e a pergunta de todos: “Quando acaba o inverno?”. Março, como o agosto do hemisfério sul, quando já não aguentamos mais o inverno e temos a sensação que está sobrando, não era necessário. Velho teoria: agosto, o mês que sobra, e pode valer também para março. Ou seria fevereiro, e me parece assim porque fugi daqui dezembro último? Não importa. O importante é que agora – finalmente – vou completar o ciclo das estações. É primavera, e tudo melhora.
Em Porto Alegre, assim como em todo o hemisfério sul, começa o outono. As folhas vão cair, e sei que o fenômeno não será na mesma intensidade que aqui no Canadá. E a entrada do outono em Porto Alegre, em especial, marca uma semana de comemorações: é a semana de Porto Alegre, que está de aniversário no dia 26, data em que a minha mãe também faz aniversário. Semana significativa para mim, como podem perceber.
#
Primeiro de dia de primavera em Toronto.
Céu plúmbeo, alguns flurries e uma chuva fina que não molha nem desocupa a moita. Mesmo assim, está diferente. A temperatura um grau positivo e previsão de até 6ºC durante a semana. Flores, por enquanto nem sinal, até onde pude ver. Mas, como eu disse antes, já é perceptível a mudança anímica nas pessoas.
#
Primavera
Composição: Cassiano / Sílvio Rochael
Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti
Eu (é primavera)
Te amo (é primavera)
Te amo meu amor
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Trago esta rosa (para te dar)
Meu amor...
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
sábado, março 19, 2005
Cientistas e Visionários
Ainda na época em que estávamos na faculdade de medicina, lá no início dos anos noventa, entre uma aula e outra desenvolvíamos teorias as mais variadas.
Desde testes diagnósticos (como o F.I.O, “feijão intra-oral”, usado após o almoço para detectar casca de feijão nos dentes e que consistia simplesmente da inspeção pelo colega, FIO + ou FIO -) até explicações baseadas na física, como o amor sendo uma questão de potenciais de ação, períodos refratários, e por aí ia.
Mas uma das teorias mais controversas, e por muito tempo vista pelos seus adversários como sendo um sexismo, mais especificamente, machismo, foi a “Teoria da Intoxicação Cromossômica”. Ela era baseada em um princípio simples.
Já que, geneticamente, o que diferenciava homens e mulheres, XY de XX, era justamente aquela “perninha” a mais que o ‘x’ tem em comparação com o ‘y’, dizíamos que muitas das características femininas eram derivadas daquela porção de cromossomo a mais que elas possuiam.
Claro que isso poderia ser visto de forma positiva ou não. E o uso da teoria variava conforme para quem e com que intenção trazíamos o assunto à tona. Na maioria das vezes como forma de implicância, claro.
O tempo passou, e – vejam vocês – está provado que estávamos certos. Deveríamos ter prosseguido nas nossas “pesquisas”. Quem diria, estávamos a frente do nosso tempo…
Não acredita? Dá uma olhada nisso aqui
Desde testes diagnósticos (como o F.I.O, “feijão intra-oral”, usado após o almoço para detectar casca de feijão nos dentes e que consistia simplesmente da inspeção pelo colega, FIO + ou FIO -) até explicações baseadas na física, como o amor sendo uma questão de potenciais de ação, períodos refratários, e por aí ia.
Mas uma das teorias mais controversas, e por muito tempo vista pelos seus adversários como sendo um sexismo, mais especificamente, machismo, foi a “Teoria da Intoxicação Cromossômica”. Ela era baseada em um princípio simples.
Já que, geneticamente, o que diferenciava homens e mulheres, XY de XX, era justamente aquela “perninha” a mais que o ‘x’ tem em comparação com o ‘y’, dizíamos que muitas das características femininas eram derivadas daquela porção de cromossomo a mais que elas possuiam.
Claro que isso poderia ser visto de forma positiva ou não. E o uso da teoria variava conforme para quem e com que intenção trazíamos o assunto à tona. Na maioria das vezes como forma de implicância, claro.
O tempo passou, e – vejam vocês – está provado que estávamos certos. Deveríamos ter prosseguido nas nossas “pesquisas”. Quem diria, estávamos a frente do nosso tempo…
Não acredita? Dá uma olhada nisso aqui
Funcionou
Após uma hora e quinze minutos tentando (apesar de ter acessado o site da Ticketmaster.ca exatamente às 10h), o resultado do esforço:
You purchased 1 ticket to:
U2
Air Canada Centre, Toronto, ON
Wednesday September 14, 2005 7:30 pm
Seat location: section 323, row 13, seat 30
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U2
Air Canada Centre, Toronto, ON
Wednesday September 14, 2005 7:30 pm
Seat location: section 323, row 13, seat 30
sexta-feira, março 18, 2005
Desinformação & Preguiça
Esqueçamos por um momento os sites inúteis e as informações equivocadas.
A internet propicia a “democratização” do acesso à informação, isso é claro e certo. Conectados à rede mundial de computadores, temos – à distância de um clic – possibilidades quase infinita de pesquisa sobre todo e qualquer assunto que se queira ou pelo qual estejamos interessados. É como ter a Biblioteca de Alexandria em casa. Ter uma biblioteca com infinitos livros dentro de casa, quem não queria ter?
Diferente do que se poderia imaginar (eu pelo menos imaginava), MUITA gente não gostaria de ter uma imensa biblioteca em casa. E não me refiro aqui a problemas de espaço, da possibilidades de os livros ocuparem todos os espaços disponíveis, etc. Não. Eu estou querendo falar daqueles que não gostam de livros. Que tem preguiça de ler, de procurar algo num livro.
É como se diz: o verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler mas não lê.
Mas o assunto não eram os livros nem a leitura: era a internet.
E pensar que, com a possibilidade de acessar o mundo a partir da própria casa, tem gente que não o faz. Por preguiça, desinteresse ou porque acham mais fácil perguntar e esperar tudo de mão beijada.
Perde a graça.
Com viagens, por exemplo.
Viajar é muito bom, óbvio, todos sabem. O que nem todos sabem (ou porque nunca pararam para pensar, ou porque não se interessam) é que o ato de viajar é composto de três partes, bem distintas e de igual importância: o antes (preparação, planejamento, antecipação), o durante (a viagem em si) e o depois (a volta, as fotos, as histórias, a memória). Repito: todas partes de importância semelhante (por mais que muitos discordem disso).
Ao preparar a viagem (seja lá para onde for), já começamos a viajar. Pesquisar locais para se visitar, características do lugar, burocracias, transportes para e a partir do lugar, é parte do prazer antecipatório, do pré-viagem. Por isso tenho restrições a fazer excursões de roteiro pronto. Porque queima-se essa etapa, que é muito divertida. E que tornou-se muito mais simples e mais intensa com a internet.
Não posso entender, então, como alguém pode entrar num site de viagem dizendo que pretende viajar para determinado lugar sem saber nada do local que quer conhecer. Ou seja, se deu ao trabalho de entrar no site (tem acesso à internet, sabe o que é um site, provavelmente conhece o Google – todo mundo conhece o google) mas não fez nenhuma pesquisa antes!
Foi o que descobri – estupefato – ao visitar um desse sites de viagem e, nele, um fórum sobre viagens para América do Norte. Sem citar nomes nem a fonte do que vou relatar aqui, eis exemplos de dúvidas que não deveriam existir porque a informação está disponível a todos na rede mundial de computadores. Ou – pior – de pessoas que acordaram num dia de manhã e resolveram “sair do Brasil e ir trabalhar nos Estados Unidos ou Canadá. Atenção: foi tudo "copiado e colado" exatamente da forma original (português, acentuação e pontuação).
”Bom dia olha amigo quero ir para Atlanta EUA como faço que documento q preciso, quais os procedimento, por onde começo, tenho ter q capital. espero respostas muito obrigado”
”olá, estou em busca de esclarecimentos pois quero ir para o Canadá para trabalhar, mas estou achando dificuldade para tirar o visto. o que faço? sou músico, isso facilita?”
”Estou querendo ir embora do Brasil e ir morar nos EUA. como faço para tentar um visto, quanto custa e quais documentos são necessários? e quando for pedir meu visto posso pedir de estudante, sendo q pretendo fazer um pós-graduação lá, mais se eu for como estudante posso trabalhar? E se eu pedir de estudante e chegar lá não quiser estudar e quiser apenas trabalhar, posso fazer isso? só que não falo nada em inglês, será possível conseguir um visto?”
”Quero saber como que eu faço pra tirar o passaporte pra ir pro Canadá , quanto fica pra tirar o visto, como é o país. Bom dia muito obrigado.
”Ola! Sou Brasileira de coração! Mas quero sumir daqui. Destino? Canadá. Alguém poderia indicar uma maneira bacana e rápida? Abraço.
”Quero ir para o EUA. Podem me passar dicas para conseguir o visto.”
”Quero ir para o USA e estou querendo tirar o visto, estou cursando o ultimo ano de ed.fisica e quero trancar para ir trabalhar e sou dependente do meu pai, seria melhor tirar o visto para disney e de la sigo o meu destino?”
”Conheci uma pessoa que mora no Texas, só não me lembro a cidade. Como faço para conseguir morar lá. Ou se eu fizesse um pacote de viagens seria mais fácil chegar lá. Me respondam essa pergunta por favor.”
”Gostaria de saber a forma mais econômica e rápida para tirar um visto para o Canadá? ah, tenho uma amiga q mora lá... até breve.”
”Gostaria de saber como faço para conseguir o trajeto de carro de uma cidade dos Estados Unidos chamada Ossining até Minas Gerais. Gostaria de um trajeto que incluísse área para descanso, telefones, etc... desde já agradeço.”
”I ae firmeza! Eu to querendo saber se para ir para os EUA com o visto de turista eu preciso saber inglês, e se prejudica a minha ida se eu naum saber? Valeu!”
Vou parar por aqui, mas poderia colocar muito mais. Parece a publicação daquelas respostas engraçadas (pra dizer o mínimo) de vestibular.
Minha dica: pesquise. Dúvidas vão surgir e que a internet não vai conseguir resolver. Aí pergunte para alguém que saiba, mesmo nestes fóruns virtuais. Ou para quem mora no país que vais visitar. Só evite de passar vergonha perguntando coisas que o Google pode te responder em 0.20 segundos.
A internet propicia a “democratização” do acesso à informação, isso é claro e certo. Conectados à rede mundial de computadores, temos – à distância de um clic – possibilidades quase infinita de pesquisa sobre todo e qualquer assunto que se queira ou pelo qual estejamos interessados. É como ter a Biblioteca de Alexandria em casa. Ter uma biblioteca com infinitos livros dentro de casa, quem não queria ter?
Diferente do que se poderia imaginar (eu pelo menos imaginava), MUITA gente não gostaria de ter uma imensa biblioteca em casa. E não me refiro aqui a problemas de espaço, da possibilidades de os livros ocuparem todos os espaços disponíveis, etc. Não. Eu estou querendo falar daqueles que não gostam de livros. Que tem preguiça de ler, de procurar algo num livro.
É como se diz: o verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler mas não lê.
Mas o assunto não eram os livros nem a leitura: era a internet.
E pensar que, com a possibilidade de acessar o mundo a partir da própria casa, tem gente que não o faz. Por preguiça, desinteresse ou porque acham mais fácil perguntar e esperar tudo de mão beijada.
Perde a graça.
Com viagens, por exemplo.
Viajar é muito bom, óbvio, todos sabem. O que nem todos sabem (ou porque nunca pararam para pensar, ou porque não se interessam) é que o ato de viajar é composto de três partes, bem distintas e de igual importância: o antes (preparação, planejamento, antecipação), o durante (a viagem em si) e o depois (a volta, as fotos, as histórias, a memória). Repito: todas partes de importância semelhante (por mais que muitos discordem disso).
Ao preparar a viagem (seja lá para onde for), já começamos a viajar. Pesquisar locais para se visitar, características do lugar, burocracias, transportes para e a partir do lugar, é parte do prazer antecipatório, do pré-viagem. Por isso tenho restrições a fazer excursões de roteiro pronto. Porque queima-se essa etapa, que é muito divertida. E que tornou-se muito mais simples e mais intensa com a internet.
Não posso entender, então, como alguém pode entrar num site de viagem dizendo que pretende viajar para determinado lugar sem saber nada do local que quer conhecer. Ou seja, se deu ao trabalho de entrar no site (tem acesso à internet, sabe o que é um site, provavelmente conhece o Google – todo mundo conhece o google) mas não fez nenhuma pesquisa antes!
Foi o que descobri – estupefato – ao visitar um desse sites de viagem e, nele, um fórum sobre viagens para América do Norte. Sem citar nomes nem a fonte do que vou relatar aqui, eis exemplos de dúvidas que não deveriam existir porque a informação está disponível a todos na rede mundial de computadores. Ou – pior – de pessoas que acordaram num dia de manhã e resolveram “sair do Brasil e ir trabalhar nos Estados Unidos ou Canadá. Atenção: foi tudo "copiado e colado" exatamente da forma original (português, acentuação e pontuação).
”Bom dia olha amigo quero ir para Atlanta EUA como faço que documento q preciso, quais os procedimento, por onde começo, tenho ter q capital. espero respostas muito obrigado”
”olá, estou em busca de esclarecimentos pois quero ir para o Canadá para trabalhar, mas estou achando dificuldade para tirar o visto. o que faço? sou músico, isso facilita?”
”Estou querendo ir embora do Brasil e ir morar nos EUA. como faço para tentar um visto, quanto custa e quais documentos são necessários? e quando for pedir meu visto posso pedir de estudante, sendo q pretendo fazer um pós-graduação lá, mais se eu for como estudante posso trabalhar? E se eu pedir de estudante e chegar lá não quiser estudar e quiser apenas trabalhar, posso fazer isso? só que não falo nada em inglês, será possível conseguir um visto?”
”Quero saber como que eu faço pra tirar o passaporte pra ir pro Canadá , quanto fica pra tirar o visto, como é o país. Bom dia muito obrigado.
”Ola! Sou Brasileira de coração! Mas quero sumir daqui. Destino? Canadá. Alguém poderia indicar uma maneira bacana e rápida? Abraço.
”Quero ir para o EUA. Podem me passar dicas para conseguir o visto.”
”Quero ir para o USA e estou querendo tirar o visto, estou cursando o ultimo ano de ed.fisica e quero trancar para ir trabalhar e sou dependente do meu pai, seria melhor tirar o visto para disney e de la sigo o meu destino?”
”Conheci uma pessoa que mora no Texas, só não me lembro a cidade. Como faço para conseguir morar lá. Ou se eu fizesse um pacote de viagens seria mais fácil chegar lá. Me respondam essa pergunta por favor.”
”Gostaria de saber a forma mais econômica e rápida para tirar um visto para o Canadá? ah, tenho uma amiga q mora lá... até breve.”
”Gostaria de saber como faço para conseguir o trajeto de carro de uma cidade dos Estados Unidos chamada Ossining até Minas Gerais. Gostaria de um trajeto que incluísse área para descanso, telefones, etc... desde já agradeço.”
”I ae firmeza! Eu to querendo saber se para ir para os EUA com o visto de turista eu preciso saber inglês, e se prejudica a minha ida se eu naum saber? Valeu!”
Vou parar por aqui, mas poderia colocar muito mais. Parece a publicação daquelas respostas engraçadas (pra dizer o mínimo) de vestibular.
Minha dica: pesquise. Dúvidas vão surgir e que a internet não vai conseguir resolver. Aí pergunte para alguém que saiba, mesmo nestes fóruns virtuais. Ou para quem mora no país que vais visitar. Só evite de passar vergonha perguntando coisas que o Google pode te responder em 0.20 segundos.
quinta-feira, março 17, 2005
Rio Grande do Sul
Em meio aos materiais de trabalho, espirômetros, computadores, caixas, nebulizadores e muito mais coisa, descobri um livro, talvez resquício da estada aqui de outro gaúcho, meu professor, há alguns anos, e que também deixou de presente o poster o que fica em frente à minha mesa, a Baía da Ganabara e o Pão de Açúcar dourados pelo final de tarde, um Rio de Janeiro que será sempre lindo a despeito dos garotinhos e rosinhas e etc.
Mas eu dizia que encontrei um livro. Um livro de fotos, para ser mais exato.
Paisagem Brasileira – Rio Grande do Sul
Ensaio fotográfico de Martin Streibel
Editora da Imagem, 1997
Prefácio do Eduardo Bueno.
A Visual Narrative
What you get is what you see – no more, no less.
How many Rio Grandes are there, by the way? It surely depends on who is seeing it – or counting it. The geographers usually divide the southermost state of Brazil in six regions. The most visionary, wise and poetic of them all, though, was content with just five. In his classic and venerable book ‘Fisionomia do Rio Grande’ – first published in 1942 – the jesuit Balduíno Rambo divided the state in coast, southeast sierra, southwest plains, central depression and the high plateau. On the other hand, in more recent times, the brilliant herbalist, geographer, historian and nativist poet Barbosa Lessa decided to cut the land into smaller pieces and came out with what he called The Twelve Rio Grandes.
“People use to say that Rio Grande is a very beautiful place”
“OK, it’s really beautiful. So, why they don’t know it? Why do they hardly travel here, unless they need to do so? Why is it all wasted?”
Down here (as up there, actually), most people would prefer to go to Orlando or Cancun. Test yourself: when was the last time that you visited the Missões – if indeed you’ve ever been there? Which travel agency can take you to the unspoilt savage beauty of the Yucuman – one of the few horizontal waterfalls in this world? Did you ever hike throught the peaks and woods of the southeast sierra? Have you ever seen the petrified forest of Mata? Would you like to make a historical tour through the spots where many Gaucho revolutions took place? If so, you’ll have to study and do everything by yourself.
Like the rest of the country to which it belongs, Rio Grande do Sul seens unable to produce mythology out of it’s own history, out of it’s own land. So many sagas, so many lifes, so many places – so few visions. But, after all, where does Rio Grande begin?
Like the rest of Brazil, the state of Rio Grande do Sul first came into the pages of history – at least in it’s principal version – through it’s coastline. Despite being distant, ungrateful, almost deliberately cruel, the ocean, even unwillingly, was thw opening door for civilization in this southern region. The southern coastline, so different from the generous coves of Bahia, with their sparkling sand, warm water and opalescent waves surging close to the vegetation, has always denied safe harbours for colonizers.
The land was baptized, in 1531, by captain Martim Afonso de Souza; and almost on the same day as he became its godfather, his ship sank at Chui. It would be the first, but by no means the last, to be wrecked on thos coast, which was to become a ship’s graveyard. All of Rio Grande’s historical destiny was drawn by the meanness of its coastline.
In the early days of the XVIII century, Salvador, Olinda, Recife and Rio were already large colonial cities, exhaling greed and swet odours. Rio Grande do Sul still belonged to the winds and to the sand, to be rich pastures and tp th chimarrao catle, to the ostriches and to the wild natives. All because there were no harbours. If many people think that Rio Grande do Sul does not seem located in Brazil, we cannot go against them: in a country with six thousand kilometers of tropical beaches, the part that was left to Rio Grande do Sul, in this vast maritime land, is, simply, the straighest coatsline in the world. It is so long that it begins in Laguna, Santa Catarina, and end in Punta del Este, Uruguay. There six hundred and fifty withou a single shelter, any cove, bay or geographical fault. A coast of skeletons, twin sister of the Skeleton Coast in Namibia, as they formed one continent in the ancient times, before the continental drift.
Although the separation ocurred around 200 milion years ago, it is exactly at the coast that the most recent chapter of the geological history of Rio Grande do Sul was – actually, is being – written. Looking at the immense coastal plain from the top of the Aparados da Serra, the observer is able to almost glimpse the cosmic process happening: 1,000,000 years ago the sea would break against the foot of the sierra. The water of Atlantic ocean, full of sand, deposited it grain by grain on the big ocean sandbank of the continental plataform. Throughout time the coast raised – although some spaces have not been filled by land, but by lagoons.
What a strange coastline, this one. After the coastal plain was formed the shoreline has changed places several times: during the glacial period the ocean was 30km farther from the current coast; the glaciation finished, the ocean returned time and again to touch the foot of the sierra. The landscape, clearly subtropical, seems to make an appeal for seclusion, introspection. The gaucho coastline is a good place for hibernation.
Looking at those beaches one can easily imagine Fathers João Lobato e Jerônimo Rodrigues walking with their cassocks blowing in the wind, without shelter and persevering in hteir mission to reach the Carijós. In 1605, Lobato and Rodrigues left Laguna on foot, on order to catechise the “best heathen of the coast”. They reached Gravatai and became the first writers to describe the region in detail. “The land itself is not bad”, they wrote. In 1725, João de Magalhães, son-in-law of the founder of Laguna, Francisco de Brito Peixoto, went on the same route followed by 30 men. This expedition originated the occupation of the fields of Viamao. The first human beings to occupy these intemperate sand dunes, though, were the people of the sambaquis, around 6.000 years ago.
Mas eu dizia que encontrei um livro. Um livro de fotos, para ser mais exato.
Paisagem Brasileira – Rio Grande do Sul
Ensaio fotográfico de Martin Streibel
Editora da Imagem, 1997
Prefácio do Eduardo Bueno.
A Visual Narrative
What you get is what you see – no more, no less.
How many Rio Grandes are there, by the way? It surely depends on who is seeing it – or counting it. The geographers usually divide the southermost state of Brazil in six regions. The most visionary, wise and poetic of them all, though, was content with just five. In his classic and venerable book ‘Fisionomia do Rio Grande’ – first published in 1942 – the jesuit Balduíno Rambo divided the state in coast, southeast sierra, southwest plains, central depression and the high plateau. On the other hand, in more recent times, the brilliant herbalist, geographer, historian and nativist poet Barbosa Lessa decided to cut the land into smaller pieces and came out with what he called The Twelve Rio Grandes.
“People use to say that Rio Grande is a very beautiful place”
“OK, it’s really beautiful. So, why they don’t know it? Why do they hardly travel here, unless they need to do so? Why is it all wasted?”
Down here (as up there, actually), most people would prefer to go to Orlando or Cancun. Test yourself: when was the last time that you visited the Missões – if indeed you’ve ever been there? Which travel agency can take you to the unspoilt savage beauty of the Yucuman – one of the few horizontal waterfalls in this world? Did you ever hike throught the peaks and woods of the southeast sierra? Have you ever seen the petrified forest of Mata? Would you like to make a historical tour through the spots where many Gaucho revolutions took place? If so, you’ll have to study and do everything by yourself.
Like the rest of the country to which it belongs, Rio Grande do Sul seens unable to produce mythology out of it’s own history, out of it’s own land. So many sagas, so many lifes, so many places – so few visions. But, after all, where does Rio Grande begin?
Like the rest of Brazil, the state of Rio Grande do Sul first came into the pages of history – at least in it’s principal version – through it’s coastline. Despite being distant, ungrateful, almost deliberately cruel, the ocean, even unwillingly, was thw opening door for civilization in this southern region. The southern coastline, so different from the generous coves of Bahia, with their sparkling sand, warm water and opalescent waves surging close to the vegetation, has always denied safe harbours for colonizers.
The land was baptized, in 1531, by captain Martim Afonso de Souza; and almost on the same day as he became its godfather, his ship sank at Chui. It would be the first, but by no means the last, to be wrecked on thos coast, which was to become a ship’s graveyard. All of Rio Grande’s historical destiny was drawn by the meanness of its coastline.
In the early days of the XVIII century, Salvador, Olinda, Recife and Rio were already large colonial cities, exhaling greed and swet odours. Rio Grande do Sul still belonged to the winds and to the sand, to be rich pastures and tp th chimarrao catle, to the ostriches and to the wild natives. All because there were no harbours. If many people think that Rio Grande do Sul does not seem located in Brazil, we cannot go against them: in a country with six thousand kilometers of tropical beaches, the part that was left to Rio Grande do Sul, in this vast maritime land, is, simply, the straighest coatsline in the world. It is so long that it begins in Laguna, Santa Catarina, and end in Punta del Este, Uruguay. There six hundred and fifty withou a single shelter, any cove, bay or geographical fault. A coast of skeletons, twin sister of the Skeleton Coast in Namibia, as they formed one continent in the ancient times, before the continental drift.
Although the separation ocurred around 200 milion years ago, it is exactly at the coast that the most recent chapter of the geological history of Rio Grande do Sul was – actually, is being – written. Looking at the immense coastal plain from the top of the Aparados da Serra, the observer is able to almost glimpse the cosmic process happening: 1,000,000 years ago the sea would break against the foot of the sierra. The water of Atlantic ocean, full of sand, deposited it grain by grain on the big ocean sandbank of the continental plataform. Throughout time the coast raised – although some spaces have not been filled by land, but by lagoons.
What a strange coastline, this one. After the coastal plain was formed the shoreline has changed places several times: during the glacial period the ocean was 30km farther from the current coast; the glaciation finished, the ocean returned time and again to touch the foot of the sierra. The landscape, clearly subtropical, seems to make an appeal for seclusion, introspection. The gaucho coastline is a good place for hibernation.
Looking at those beaches one can easily imagine Fathers João Lobato e Jerônimo Rodrigues walking with their cassocks blowing in the wind, without shelter and persevering in hteir mission to reach the Carijós. In 1605, Lobato and Rodrigues left Laguna on foot, on order to catechise the “best heathen of the coast”. They reached Gravatai and became the first writers to describe the region in detail. “The land itself is not bad”, they wrote. In 1725, João de Magalhães, son-in-law of the founder of Laguna, Francisco de Brito Peixoto, went on the same route followed by 30 men. This expedition originated the occupation of the fields of Viamao. The first human beings to occupy these intemperate sand dunes, though, were the people of the sambaquis, around 6.000 years ago.
quarta-feira, março 16, 2005
Pop
Como diz Humberto Gessinger, o pop não poupa ninguém.
Sempre lembro desta música quando, apesar de todas as tentativas (mudar de canal, tirar o som da TV, pular as notícias no jornal) acabo sabendo de algo relacionado ao caso do Micheal Jackson.
É impressionante o circo armado em volta do julgamento. Tenho a impressão de que são urubus voando em volta da carniça. É um verdadeiro freak show. Fãs, jormalistas de plantão, curiosos, etc. Todos “querendo sangue”. É o bom e velho fascínio das pessoas em geral pela vida alheia, em especial a dos “famosos”.
Essa atração pela vida alheia é o mesmo, guardadas as devidas proporções, que faz todos reduzirem a velocidade do carro, ou mesmo pararem para poderem ver mehor o acidente na estrada. Mortos? Vísceras expostas? Vamos ver, vamos ver!
Mórbidos somos, admitamos.
De uns tempos para cá, tenho tentado evitar esse tipo de notícia, mesmo que essa seja uma tarefa difícil. Os portais de internet dão ênfase grande a esses assuntos. Fulana de tal foi expulsa do casamento de não-me-interessa-quem. Barraco? Que nada, marketing. O cachê da sem-festa triplicou após o ocorrido. Afinal todos vão comprar a revista em que ela aparece. Dinheiro, dinheiro. É o mercado: se há muita procura, o valor sobe. O lamentável é que há muita procura por esse tipo “produto”…
O Micheal Jackson, de novo.
Ele já é há anos uma caricatura (de péssimo gosto) do que foi um dia. Músico também já não é. Aquilo que está sendo julgado lá na Califórnia é apenas o resto de quem um dia foi o considerado o rei do pop.
E é tudo por dinheiro, também. Não me surpreenderia se as família que deixavam seus filhos ficarem na casa com ele só faziam isso com intenção de extorquir dinheiro um dia, no futuro. Imagino o pai dizendo ao filhinho: “Vai lá com ele que tua universidade estará paga”… Que pais, em são conscência, deixariam seus filhos dormirem na casa de alguém como ele? Será que não imaginavam que ele tinha problemas? TODO mundo via que ele tinha problemas.
Se ele fez mesmo o que estão dizendo que ele fez, e pessoalmente não me interessa se fez ou não, então deve ser condenado e pagar por isso. Mas os pais das crianças, que deixaram elas ficarem na casa com ele, também deveriam ser processados e punidos exemplarmente.
Sempre lembro desta música quando, apesar de todas as tentativas (mudar de canal, tirar o som da TV, pular as notícias no jornal) acabo sabendo de algo relacionado ao caso do Micheal Jackson.
É impressionante o circo armado em volta do julgamento. Tenho a impressão de que são urubus voando em volta da carniça. É um verdadeiro freak show. Fãs, jormalistas de plantão, curiosos, etc. Todos “querendo sangue”. É o bom e velho fascínio das pessoas em geral pela vida alheia, em especial a dos “famosos”.
Essa atração pela vida alheia é o mesmo, guardadas as devidas proporções, que faz todos reduzirem a velocidade do carro, ou mesmo pararem para poderem ver mehor o acidente na estrada. Mortos? Vísceras expostas? Vamos ver, vamos ver!
Mórbidos somos, admitamos.
De uns tempos para cá, tenho tentado evitar esse tipo de notícia, mesmo que essa seja uma tarefa difícil. Os portais de internet dão ênfase grande a esses assuntos. Fulana de tal foi expulsa do casamento de não-me-interessa-quem. Barraco? Que nada, marketing. O cachê da sem-festa triplicou após o ocorrido. Afinal todos vão comprar a revista em que ela aparece. Dinheiro, dinheiro. É o mercado: se há muita procura, o valor sobe. O lamentável é que há muita procura por esse tipo “produto”…
O Micheal Jackson, de novo.
Ele já é há anos uma caricatura (de péssimo gosto) do que foi um dia. Músico também já não é. Aquilo que está sendo julgado lá na Califórnia é apenas o resto de quem um dia foi o considerado o rei do pop.
E é tudo por dinheiro, também. Não me surpreenderia se as família que deixavam seus filhos ficarem na casa com ele só faziam isso com intenção de extorquir dinheiro um dia, no futuro. Imagino o pai dizendo ao filhinho: “Vai lá com ele que tua universidade estará paga”… Que pais, em são conscência, deixariam seus filhos dormirem na casa de alguém como ele? Será que não imaginavam que ele tinha problemas? TODO mundo via que ele tinha problemas.
Se ele fez mesmo o que estão dizendo que ele fez, e pessoalmente não me interessa se fez ou não, então deve ser condenado e pagar por isso. Mas os pais das crianças, que deixaram elas ficarem na casa com ele, também deveriam ser processados e punidos exemplarmente.
terça-feira, março 15, 2005
News
Está marcada para março de 2006 a estréia, em Toronto, do primeiro musical sobre o livro "The Lord of the Rings".
Com um orçamento de 27 milhões de dólares, terá o elenco formado apenas por atores canadenses.
Será apresentado no Prince of Walles Theater.
Vou reservar meu ingresso.
UPDATE:
Saiu no The Toronto Star de hoje.
Tolkien musical is Mirvishes' quest
Production to cost $27 million
Toronto show will be world premiere
by RICHARD OUZOUNIAN
THEATRE CRITIC
One ring to rule them all — and it's starting here in Toronto.
David and Ed Mirvish are expected to announce at a news conference tomorrow morning they will be joining forces with producers Kevin Wallace, Saul Zaentz and Michael Cohl to present the world premiere of The Lord of the Rings, the $27 million stage musical based on J.R.R. Tolkien's world-famous trilogy.
The plan is to open the show at the Princess of Wales Theatre with an all-Canadian cast on March 23, 2006. It is assumed the show's final destination will be London's West End, where it has been touted over the past two years as the production that would prove to be the most expensive and elaborate show ever seen in England.
Reports of this potential project have circulated through the Toronto theatre scene for months now, but it wasn't until last night that the parties involved sat down here and put together the final pieces for what will surely be the biggest theatrical event in this city's history.
This news comes as a welcome sign Toronto has shaken off the cloud it has been labouring under since the 2003 SARS crisis. The early closings of shows such as The Producers and Hairspray marked the city as a showbiz jinx.
But now events like the current sold-out run of Wicked and the confidence displayed by the financial and artistic people behind The Lord of the Rings in selecting Toronto for their world premiere indicate we have finally turned the corner.
Toronto is once again ready to claim the place in the front lines of musical theatre it held from the 1985 production of Cats, through subsequent long-run triumphs such as The Phantom of the Opera, Les Miserables, Miss Saigon and The Lion King.
SARS put a temporary end to that, but now the curtain has risen on a new era and there could be no better project to launch a tale of redemption, renewal and rebirth than The Lord of the Rings.
The last volume of Tolkien's epic saga of Middle-earth was published in 1955, making this musical a 50th anniversary celebration of the work.
Peter Jackson's film versions of the trilogy have also proved phenomenally successful, grossing more than $3 billion (U.S.) worldwide and sweeping the 2004 Academy Awards, where it won 11 Oscars, including Best Picture.
A wildly eclectic creative team has come together to create its vision of a world with singing Hobbits and elves.
The book and lyrics are by British playwright Shaun McKenna, who conceived the project. His musical partners include the popular Indian composer A.R. Rahman (best known here for his score for Bombay Dreams) and the contemporary Finnish group Värttinä, made up of six acoustic musicians and three female vocalists.
Director Matthew Warchus is a two-time Tony nominee, who directed both the London and Broadway productions of the smash hit Art and has a unique vision of the show.
"We have not attempted to pull the novel towards the standard conventions of musical theatre, but rather to expand those conventions so that they will accommodate Tolkien's material. As a result, we will be presenting a hybrid of text, physical theatre, music and spectacle never previously seen on this scale."
Designer Rob Howell has the task of bringing all of Tolkien's magical landscape onto the stage. His solution is a series of three interconnected "doughnut" turntables, one inside the other, which can help change locale in an instant.
The height and depth demanded for the mountains and caves in the story will be provided by 16 elevators set inside the stage. The show's producing partners are a powerhouse combination. Kevin Wallace spent many years as the in-house producer for Andrew Lloyd Webber's Really Useful Theatre Company, working on shows such as Sunset Boulevard and The Beautiful Game.
Saul Zaentz is the veteran producer behind One Flew Over the Cuckoo's Nest, Amadeus and The English Patient.
On the Canadian side, the Mirvishes are the country's leading presenters of professional theatre, currently represented by Mamma Mia!, Wicked and 'Da Kink In My Hair.
And rock impresario Michael Cohl made his Broadway debut last year producing Bombay Dreams and has since been a part of the teams behind La Cage Aux Folles and the upcoming Spamalot.
"What we have is a beautiful and spectacular adaptation of Tolkien's epic that in word, music, design and performance honours the original trilogy in its imagination, scale and insight," Wallace says.
Rehearsals are scheduled to begin Oct. 24, with the first preview scheduled for Feb. 2, 2006 ... and the end nowhere in sight.
"The road," as Tolkien wrote, "goes ever on and on."
Com um orçamento de 27 milhões de dólares, terá o elenco formado apenas por atores canadenses.
Será apresentado no Prince of Walles Theater.
Vou reservar meu ingresso.
UPDATE:
Saiu no The Toronto Star de hoje.
Tolkien musical is Mirvishes' quest
Production to cost $27 million
Toronto show will be world premiere
by RICHARD OUZOUNIAN
THEATRE CRITIC
One ring to rule them all — and it's starting here in Toronto.
David and Ed Mirvish are expected to announce at a news conference tomorrow morning they will be joining forces with producers Kevin Wallace, Saul Zaentz and Michael Cohl to present the world premiere of The Lord of the Rings, the $27 million stage musical based on J.R.R. Tolkien's world-famous trilogy.
The plan is to open the show at the Princess of Wales Theatre with an all-Canadian cast on March 23, 2006. It is assumed the show's final destination will be London's West End, where it has been touted over the past two years as the production that would prove to be the most expensive and elaborate show ever seen in England.
Reports of this potential project have circulated through the Toronto theatre scene for months now, but it wasn't until last night that the parties involved sat down here and put together the final pieces for what will surely be the biggest theatrical event in this city's history.
This news comes as a welcome sign Toronto has shaken off the cloud it has been labouring under since the 2003 SARS crisis. The early closings of shows such as The Producers and Hairspray marked the city as a showbiz jinx.
But now events like the current sold-out run of Wicked and the confidence displayed by the financial and artistic people behind The Lord of the Rings in selecting Toronto for their world premiere indicate we have finally turned the corner.
Toronto is once again ready to claim the place in the front lines of musical theatre it held from the 1985 production of Cats, through subsequent long-run triumphs such as The Phantom of the Opera, Les Miserables, Miss Saigon and The Lion King.
SARS put a temporary end to that, but now the curtain has risen on a new era and there could be no better project to launch a tale of redemption, renewal and rebirth than The Lord of the Rings.
The last volume of Tolkien's epic saga of Middle-earth was published in 1955, making this musical a 50th anniversary celebration of the work.
Peter Jackson's film versions of the trilogy have also proved phenomenally successful, grossing more than $3 billion (U.S.) worldwide and sweeping the 2004 Academy Awards, where it won 11 Oscars, including Best Picture.
A wildly eclectic creative team has come together to create its vision of a world with singing Hobbits and elves.
The book and lyrics are by British playwright Shaun McKenna, who conceived the project. His musical partners include the popular Indian composer A.R. Rahman (best known here for his score for Bombay Dreams) and the contemporary Finnish group Värttinä, made up of six acoustic musicians and three female vocalists.
Director Matthew Warchus is a two-time Tony nominee, who directed both the London and Broadway productions of the smash hit Art and has a unique vision of the show.
"We have not attempted to pull the novel towards the standard conventions of musical theatre, but rather to expand those conventions so that they will accommodate Tolkien's material. As a result, we will be presenting a hybrid of text, physical theatre, music and spectacle never previously seen on this scale."
Designer Rob Howell has the task of bringing all of Tolkien's magical landscape onto the stage. His solution is a series of three interconnected "doughnut" turntables, one inside the other, which can help change locale in an instant.
The height and depth demanded for the mountains and caves in the story will be provided by 16 elevators set inside the stage. The show's producing partners are a powerhouse combination. Kevin Wallace spent many years as the in-house producer for Andrew Lloyd Webber's Really Useful Theatre Company, working on shows such as Sunset Boulevard and The Beautiful Game.
Saul Zaentz is the veteran producer behind One Flew Over the Cuckoo's Nest, Amadeus and The English Patient.
On the Canadian side, the Mirvishes are the country's leading presenters of professional theatre, currently represented by Mamma Mia!, Wicked and 'Da Kink In My Hair.
And rock impresario Michael Cohl made his Broadway debut last year producing Bombay Dreams and has since been a part of the teams behind La Cage Aux Folles and the upcoming Spamalot.
"What we have is a beautiful and spectacular adaptation of Tolkien's epic that in word, music, design and performance honours the original trilogy in its imagination, scale and insight," Wallace says.
Rehearsals are scheduled to begin Oct. 24, with the first preview scheduled for Feb. 2, 2006 ... and the end nowhere in sight.
"The road," as Tolkien wrote, "goes ever on and on."
segunda-feira, março 14, 2005
Sabedoria de Colégio
Pena que, com o passar dos anos, perdemos a sabedoria do colégio.
Lembrei disso ao ler as notícias sobre a falência da JetsGo. Caso você, estimado leitor, não saiba da história da JetsGo, vou atualizá-lo. Ela era a terceira maior companhia aérea do Canadá, com sede em Quebec. Na noite de quinta para sexta-feira da semana passada, ela simplesmente fechou.
Era uma daquelas companhias aéreas de “baixo custo”, cujo valor das passagens é extremamente baixo, alegadamente por não fornecerem “frescuras”, como refeições, etc. Algo como a Gol no Brasil (se bem que a Gol não tem passagens tão baratas assim). Pois é, acontece que os valores eram tão baixo que, além de existirem dúvidas com o zelo com a segurança, ela vinha operando sistematicamente no prejuízo.
Até aí, tudo dentro do mercado. Se uma empresa tem prejuízos recorrentes, mais cedo ou mais tarde irá falir. Todo mundo sabe. E entende, até.
O problema, no caso específico, é que ela fechou justamente no dia que iniciava o March Break, período de férias das escolas e quando todos que podem saem daqui, em direção ao calor do Caribe e da Flórida ou da neve das estações de esqui. Milhares de pessoas descobriram o que tinha acontecido ao chegar no aeroporto para embarcar e seus vôos estarem cancelados e não haver funcionários da empresa para dar explicações.
Imagine só o caos que foi. Crianças certas que iriam para a Disney vendo seus planos frustrados, pessoas gastando muitos mil dólares para conseguir embarcar, etc.
Ainda repercute o fato por aqui. E detalhes do ocorrido vão aparecendo. Como o fato de desde o início da semana executivos da empresa já saberem o que ia acontecer. E aí vem o pior: mesmo sabendo que a empresa ia fechar, continuaram aceitando reservas e vendendo passagens até minutos antes de desligarem tudo e fecharem a empresa. Li num dos jornais que teve gente que comprou passagem num momento e no seguinte o site saiu do ar.
Não sei se tinha outra forma de fazer, mas é mesmo uma filhadaputice das brabas o que fizeram. Pois é, e aí lembro da sabedoria dos tempos de colégio.
Lembram de quando estavam no colégio?
Desavenças, problemas de relacionamento, toda e qualquer altercação era resolvida de forma simples: na saída. Incomodou, perturbou, mexeu com as meninas da tua turma? Pega na saída. Depois de umas bolachas, tudo ficava melhor, mais claro.
O problema de crescer é que reprimimos estes impulsos. Daí o modo de ganhar a vida de muitos advogados. Se tudo se resolvesse na saída, ninguém processaria ninguém…
Era o que tinha que fazer com o dono da empresa que fez isso: dar um pau nele. ATENÇÃO! Não estou sugerindo linchamento, de maneira nenhuma. Sou radicalmente contra esse tipo de coisa, sempre.
Mas que a idéia de pegar na saída é uma boa, isso é…
:-)
Lembrei disso ao ler as notícias sobre a falência da JetsGo. Caso você, estimado leitor, não saiba da história da JetsGo, vou atualizá-lo. Ela era a terceira maior companhia aérea do Canadá, com sede em Quebec. Na noite de quinta para sexta-feira da semana passada, ela simplesmente fechou.
Era uma daquelas companhias aéreas de “baixo custo”, cujo valor das passagens é extremamente baixo, alegadamente por não fornecerem “frescuras”, como refeições, etc. Algo como a Gol no Brasil (se bem que a Gol não tem passagens tão baratas assim). Pois é, acontece que os valores eram tão baixo que, além de existirem dúvidas com o zelo com a segurança, ela vinha operando sistematicamente no prejuízo.
Até aí, tudo dentro do mercado. Se uma empresa tem prejuízos recorrentes, mais cedo ou mais tarde irá falir. Todo mundo sabe. E entende, até.
O problema, no caso específico, é que ela fechou justamente no dia que iniciava o March Break, período de férias das escolas e quando todos que podem saem daqui, em direção ao calor do Caribe e da Flórida ou da neve das estações de esqui. Milhares de pessoas descobriram o que tinha acontecido ao chegar no aeroporto para embarcar e seus vôos estarem cancelados e não haver funcionários da empresa para dar explicações.
Imagine só o caos que foi. Crianças certas que iriam para a Disney vendo seus planos frustrados, pessoas gastando muitos mil dólares para conseguir embarcar, etc.
Ainda repercute o fato por aqui. E detalhes do ocorrido vão aparecendo. Como o fato de desde o início da semana executivos da empresa já saberem o que ia acontecer. E aí vem o pior: mesmo sabendo que a empresa ia fechar, continuaram aceitando reservas e vendendo passagens até minutos antes de desligarem tudo e fecharem a empresa. Li num dos jornais que teve gente que comprou passagem num momento e no seguinte o site saiu do ar.
Não sei se tinha outra forma de fazer, mas é mesmo uma filhadaputice das brabas o que fizeram. Pois é, e aí lembro da sabedoria dos tempos de colégio.
Lembram de quando estavam no colégio?
Desavenças, problemas de relacionamento, toda e qualquer altercação era resolvida de forma simples: na saída. Incomodou, perturbou, mexeu com as meninas da tua turma? Pega na saída. Depois de umas bolachas, tudo ficava melhor, mais claro.
O problema de crescer é que reprimimos estes impulsos. Daí o modo de ganhar a vida de muitos advogados. Se tudo se resolvesse na saída, ninguém processaria ninguém…
Era o que tinha que fazer com o dono da empresa que fez isso: dar um pau nele. ATENÇÃO! Não estou sugerindo linchamento, de maneira nenhuma. Sou radicalmente contra esse tipo de coisa, sempre.
Mas que a idéia de pegar na saída é uma boa, isso é…
:-)
domingo, março 13, 2005
A Sopa 04/34
Sábado à noite em Toronto.
Após participar virtualmente de um churrasco na casa do Paulo e da Karina em Porto Alegre, com direito a assistir junto com eles a um vídeo do final de semana em que foram ao Vila Ventura, um ecoresort que fica em Viamão, cidade localizada a 17km de Porto Alegre, e depois de ter conversado com o meu irmão (em Nova York) e minha mãe (também em Porto Alegre), desliguei o computador, preparei a minha janta (ontem, hamburgers) e fui ver televisão.
Passando de um canal a outro, descobri, logo em seu início, o filme que veria: Groundhog Day (no Brasil, O Feitiço do Tempo), com o Bill Muray e a Andie MacDowell nos papéis principais. É um filme de 1993, e conta a história de Phil (Bill Muray) um repórter do tempo que é mandado pelo quarto ano consecutivo para cobrir a história da marmota que prevê o tempo. É uma tradição na América do Norte, e a mais famosa delas é ‘Phil’ a marmota de Punxsutawney, Pennsylvania, que no dia 02 de fevereiro sai de sua toca e, caso ela veja sua sombra, serão mais seis semanas de inverno (em 2005, por exemplo, ela viu a sua sombra).
No filme, Phil, o humano, não consegue esconder sua frustração em ter que repetir, ano após ano, a mesma reportagem, e tudo o que ele quer é fazer seu boletim e sair da cidade o mais rápido possível. O que acontece, então, é que a região é atingida por uma tempestade de neve e eles ficam sem ter como deixar a cidade. E aí começa o filme de verdade.
Ao acordar no dia seguinte, estupefato, Phil (o humano, não vou mais falar da marmota a partir de agora) descobre que está de volta ao dia anterior, que ele está vivendo tudo o que passou no dia anterior e só ele se dá conta disso. E percebe-se, então, preso no mesmo dia, que se repete sempre.
Apesar de ser uma comédia, romântica até, um filme leve, ele traz consigo algumas questões bem interessantes relacionadas com – e muito já falei disso e muito ainda vou falar – a passagem do tempo, a possibilidade de se refazer caminhos, repensar a vida, e até mesmo sobre o que significa a rotina nesse contexto.
Logo que descobre que está vivendo sempre o mesmo dia, e que as consequências do que faz no dia não se estendem para o próximo mesmo dia, ele usa isso como uma vantagem, por exemplo, para conquistas amorosas. Aos poucos, contudo, ele passa da fase da sensação de ser Deus (sabe tudo sobre todos e o que vai acontecer) para a de sentir-se condenado a viver o resto da eternidade no mesmo lugar, vendo as mesmas pessoas e fazendo as mesmas coisas todos os dias.
Mas, no final das contas, não é esse mesmo o destino de todos? Não estamos nós, humanos, condenados a isso também? Ou, me corrijo, não optamos nós por viver assim?
A rotina serve para nos dar referências, de certa forma segurança. Mas é ela também que nos “amarra” aos mesmo rituais diários, às mesmas práticas. E, muitas vezes, nos impede de experimentarmos coisas novas. A crença na necessidade de nos sentirmos seguros o tempo todo é o que nos bloqueia o acesso ao novo, ao inusitado.
Vivemos – não todos, a maioria - o mesmo dia por opção, por medo até. Muitas vezes temos a chance de trocarmos de dia (novas e diferentes práticas) mas decidimos ficar por receio de dar um passo em frente. Algumas raras vezes esse passo é rumo ao desconhecido, mas – na maioria delas – é simplesmente por um caminho um pouco diferente daquele que estamos acostumados.
#
O ano do galo
by Lucia Stenzel
Tudo começou com o ano do galo e o conselho para os futuros pombinhos para não se casarem no ano novo chinês que se inicia. Foi uma enxurrada de asiáticos nas igrejas para aproveitar os últimos minutos que garantiam a felicidade eterna para aqueles que decidiram juntar os trapos ainda este ano. Casais vestindo branco e fazendo juras de amor eterno do outro lado do mundo, e aqui parece que ninguém deu ouvidos aos avisos orientais.
Lá estou no Zaffari Higienópolis olhando a lista de presentes de duas amigas que se casam no dia 19 de março. E parece que não foram só elas que não olharam as notícias dos jornais e os constantes avisos das péssimas previsões do tal galo, pois a atendente me disse que nunca viu tanto casório reservado na mesma data. Deve ser pelo feriado de Páscoa na semana seguinte, pois as razões que definem um casamento hoje em dia não são as mesmas de antigamente. Não se escolhe a data porque “esta foi aquela que marcou o nosso primeiro beijo”, mas porque “assim a gente emenda a folga com a lua de mel”. Que coisa pouco romântica! Os acordos nupciais hoje não combinam nem um pouco com romantismo de antigamente.
A hora do cafezinho
As razões que levavam os pombinhos para o altar antigamente não são as mesmas de hoje, bem como não são as mesmas desculpas para as escapadelas conjugais que descasam muita gente. Sempre ouvi dizer que motel fica cheio na hora do almoço. Ouvi dizer. Hora em que galos encontram galinhas nos puleiros alheios. Sabia que a rotina era antiga; que as vezes muda de almoço para sobremesa, mas que um dia já foi chamada de “hora do cafezinho”, isso eu não sabia! Compreensivel. Os jovens esposos tinham que almoçar em casa, e como uma jovem prendada e recém casada não dispensava a sobremesa, só restava o cafezinho para o tal sujeito. Tinha que ser rápido. Ou queima a boca ou bebe frio.
Pensa que galos e galinhas são facilmente reconhecidos? Que nada! Coisa difícil é descobrir quem anda tomando muito cafezinho por aí. Mas os solteiros… Estes parecem que andam com uma faixa de identificação na testa denunciando o estado civil. Não faltam conselhos, sugestões, propostas, simpatias e frases imbecis. Outro dia escutei esta: depois dos trinta a mulher já saiu da “faixa do acasalamento”. Faixa do acasalamento? Que conversa de bicho é esta? E mesmo com tanta pulada de cerca o pessoal segue querendo se acasalar.
Desacasalamentos
No dia 19 de março tenho então estes dois casamentos, e enquanto a festa não começa tenho acompanhado quatro “desacasalamentos”. Um deles durou bem pouco, três meses, depois dos longos anos de namoro, que foram quinze. Mas estes anos de namoro a gente não conta, pois só vale mesmo quando o sujeito pisa na igreja e da de cara com a frase que promete fidelidade “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”. Ô frase difícil de se repetir esta. Nem vem dizer que ele se assustou por juntar as escovas de dentes, pois estas já dividiam o mesmo espaço há quinze anos! O que deu no cara a gente não sabe, mas arrumou as malas e se foi. Não aguentou a maldição do galo: pular de puleiro em puleiro.
Na outra história o cara também deu uma de galo: enquanto namorava a minha amiga, enrrolava a outra. Prometia casamento para a namorada e fugia do casamento com a noiva. A noiva de outra cidade, o que garantia a distância da promessa. A namorada da mesma cidade, e bem próxima das juras eternas. E assim o bicho ia de puleiro em puleiro achando que ficaria impune as trocadelas. A namorada descobriu e contou tudo para a noiva bem na hora do cafezinho. Fim deste romance também.
Na terceira história o cara foi a vítima…, coitado. As razões para a minha amiga ter batido a porta na cara dele e sumido para sempre: “ele me fez uma pergunta imbecil”. Vítima de uma frase mal colocada depois de uma noite mal dormida. Assim como o dia se transforma em noite, quem era príncipe virou sapo. Uma frase foi suficiente para terminar com uma paixão avassaladora. Resta o encontro para dividir a última aquisição do casal: uma maquina de lavar roupa suja. Está lá, novinha…, nunca foi usada.
Bom, a quarta história só podia ser minha mesmo. Razão: leio os jornais e não sou louca a ponto de me acasalar no ano do galo!
Após participar virtualmente de um churrasco na casa do Paulo e da Karina em Porto Alegre, com direito a assistir junto com eles a um vídeo do final de semana em que foram ao Vila Ventura, um ecoresort que fica em Viamão, cidade localizada a 17km de Porto Alegre, e depois de ter conversado com o meu irmão (em Nova York) e minha mãe (também em Porto Alegre), desliguei o computador, preparei a minha janta (ontem, hamburgers) e fui ver televisão.
Passando de um canal a outro, descobri, logo em seu início, o filme que veria: Groundhog Day (no Brasil, O Feitiço do Tempo), com o Bill Muray e a Andie MacDowell nos papéis principais. É um filme de 1993, e conta a história de Phil (Bill Muray) um repórter do tempo que é mandado pelo quarto ano consecutivo para cobrir a história da marmota que prevê o tempo. É uma tradição na América do Norte, e a mais famosa delas é ‘Phil’ a marmota de Punxsutawney, Pennsylvania, que no dia 02 de fevereiro sai de sua toca e, caso ela veja sua sombra, serão mais seis semanas de inverno (em 2005, por exemplo, ela viu a sua sombra).
No filme, Phil, o humano, não consegue esconder sua frustração em ter que repetir, ano após ano, a mesma reportagem, e tudo o que ele quer é fazer seu boletim e sair da cidade o mais rápido possível. O que acontece, então, é que a região é atingida por uma tempestade de neve e eles ficam sem ter como deixar a cidade. E aí começa o filme de verdade.
Ao acordar no dia seguinte, estupefato, Phil (o humano, não vou mais falar da marmota a partir de agora) descobre que está de volta ao dia anterior, que ele está vivendo tudo o que passou no dia anterior e só ele se dá conta disso. E percebe-se, então, preso no mesmo dia, que se repete sempre.
Apesar de ser uma comédia, romântica até, um filme leve, ele traz consigo algumas questões bem interessantes relacionadas com – e muito já falei disso e muito ainda vou falar – a passagem do tempo, a possibilidade de se refazer caminhos, repensar a vida, e até mesmo sobre o que significa a rotina nesse contexto.
Logo que descobre que está vivendo sempre o mesmo dia, e que as consequências do que faz no dia não se estendem para o próximo mesmo dia, ele usa isso como uma vantagem, por exemplo, para conquistas amorosas. Aos poucos, contudo, ele passa da fase da sensação de ser Deus (sabe tudo sobre todos e o que vai acontecer) para a de sentir-se condenado a viver o resto da eternidade no mesmo lugar, vendo as mesmas pessoas e fazendo as mesmas coisas todos os dias.
Mas, no final das contas, não é esse mesmo o destino de todos? Não estamos nós, humanos, condenados a isso também? Ou, me corrijo, não optamos nós por viver assim?
A rotina serve para nos dar referências, de certa forma segurança. Mas é ela também que nos “amarra” aos mesmo rituais diários, às mesmas práticas. E, muitas vezes, nos impede de experimentarmos coisas novas. A crença na necessidade de nos sentirmos seguros o tempo todo é o que nos bloqueia o acesso ao novo, ao inusitado.
Vivemos – não todos, a maioria - o mesmo dia por opção, por medo até. Muitas vezes temos a chance de trocarmos de dia (novas e diferentes práticas) mas decidimos ficar por receio de dar um passo em frente. Algumas raras vezes esse passo é rumo ao desconhecido, mas – na maioria delas – é simplesmente por um caminho um pouco diferente daquele que estamos acostumados.
#
O ano do galo
by Lucia Stenzel
Tudo começou com o ano do galo e o conselho para os futuros pombinhos para não se casarem no ano novo chinês que se inicia. Foi uma enxurrada de asiáticos nas igrejas para aproveitar os últimos minutos que garantiam a felicidade eterna para aqueles que decidiram juntar os trapos ainda este ano. Casais vestindo branco e fazendo juras de amor eterno do outro lado do mundo, e aqui parece que ninguém deu ouvidos aos avisos orientais.
Lá estou no Zaffari Higienópolis olhando a lista de presentes de duas amigas que se casam no dia 19 de março. E parece que não foram só elas que não olharam as notícias dos jornais e os constantes avisos das péssimas previsões do tal galo, pois a atendente me disse que nunca viu tanto casório reservado na mesma data. Deve ser pelo feriado de Páscoa na semana seguinte, pois as razões que definem um casamento hoje em dia não são as mesmas de antigamente. Não se escolhe a data porque “esta foi aquela que marcou o nosso primeiro beijo”, mas porque “assim a gente emenda a folga com a lua de mel”. Que coisa pouco romântica! Os acordos nupciais hoje não combinam nem um pouco com romantismo de antigamente.
A hora do cafezinho
As razões que levavam os pombinhos para o altar antigamente não são as mesmas de hoje, bem como não são as mesmas desculpas para as escapadelas conjugais que descasam muita gente. Sempre ouvi dizer que motel fica cheio na hora do almoço. Ouvi dizer. Hora em que galos encontram galinhas nos puleiros alheios. Sabia que a rotina era antiga; que as vezes muda de almoço para sobremesa, mas que um dia já foi chamada de “hora do cafezinho”, isso eu não sabia! Compreensivel. Os jovens esposos tinham que almoçar em casa, e como uma jovem prendada e recém casada não dispensava a sobremesa, só restava o cafezinho para o tal sujeito. Tinha que ser rápido. Ou queima a boca ou bebe frio.
Pensa que galos e galinhas são facilmente reconhecidos? Que nada! Coisa difícil é descobrir quem anda tomando muito cafezinho por aí. Mas os solteiros… Estes parecem que andam com uma faixa de identificação na testa denunciando o estado civil. Não faltam conselhos, sugestões, propostas, simpatias e frases imbecis. Outro dia escutei esta: depois dos trinta a mulher já saiu da “faixa do acasalamento”. Faixa do acasalamento? Que conversa de bicho é esta? E mesmo com tanta pulada de cerca o pessoal segue querendo se acasalar.
Desacasalamentos
No dia 19 de março tenho então estes dois casamentos, e enquanto a festa não começa tenho acompanhado quatro “desacasalamentos”. Um deles durou bem pouco, três meses, depois dos longos anos de namoro, que foram quinze. Mas estes anos de namoro a gente não conta, pois só vale mesmo quando o sujeito pisa na igreja e da de cara com a frase que promete fidelidade “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”. Ô frase difícil de se repetir esta. Nem vem dizer que ele se assustou por juntar as escovas de dentes, pois estas já dividiam o mesmo espaço há quinze anos! O que deu no cara a gente não sabe, mas arrumou as malas e se foi. Não aguentou a maldição do galo: pular de puleiro em puleiro.
Na outra história o cara também deu uma de galo: enquanto namorava a minha amiga, enrrolava a outra. Prometia casamento para a namorada e fugia do casamento com a noiva. A noiva de outra cidade, o que garantia a distância da promessa. A namorada da mesma cidade, e bem próxima das juras eternas. E assim o bicho ia de puleiro em puleiro achando que ficaria impune as trocadelas. A namorada descobriu e contou tudo para a noiva bem na hora do cafezinho. Fim deste romance também.
Na terceira história o cara foi a vítima…, coitado. As razões para a minha amiga ter batido a porta na cara dele e sumido para sempre: “ele me fez uma pergunta imbecil”. Vítima de uma frase mal colocada depois de uma noite mal dormida. Assim como o dia se transforma em noite, quem era príncipe virou sapo. Uma frase foi suficiente para terminar com uma paixão avassaladora. Resta o encontro para dividir a última aquisição do casal: uma maquina de lavar roupa suja. Está lá, novinha…, nunca foi usada.
Bom, a quarta história só podia ser minha mesmo. Razão: leio os jornais e não sou louca a ponto de me acasalar no ano do galo!
sábado, março 12, 2005
Sábado (ilex paraguariensis)
Hoje eu acordei mais cedo,
tomei sozinho o chimarrão
Procurei a noite na memória,
procurei em vão
Hoje eu acordei mais leve,
nem li o jornal
Tudo deve estar suspenso,
nada deve pesar
Já vivi tanta coisa, tenho tantas a viver
Tô no meio da estrada e nenhuma derrota vai me vencer
Hoje eu acordei livre: não devo nada a ninguém
Não há nada que me prenda
Ainda era noite
esperei o dia amanhecer
Como quem aquece a água,
sem deixar ferver
Hoje eu acordei,
agora eu sei
viver no escuro
Até que a chama se acenda
Verde, quente, erva, ventre, dentro, entranhas
Mate amargo, noite adentro, estrada estranha
Nunca me deram mole, não (melhor assim)
Não sou a fim de pactuar (sai pra lá)
Se pensam que tenho as mãos vazias e frias (melhor assim)
Se pensam que as minhas mãos estão presas (surpresa)
Mãos e coração, livres e quentes: chimarrão e leveza
Mãos e coração, livres e quentes: chimarrão e leveza
... ilex paraguariensis...
... ilex paraguariensis...
(humberto gessinger)
tomei sozinho o chimarrão
Procurei a noite na memória,
procurei em vão
Hoje eu acordei mais leve,
nem li o jornal
Tudo deve estar suspenso,
nada deve pesar
Já vivi tanta coisa, tenho tantas a viver
Tô no meio da estrada e nenhuma derrota vai me vencer
Hoje eu acordei livre: não devo nada a ninguém
Não há nada que me prenda
Ainda era noite
esperei o dia amanhecer
Como quem aquece a água,
sem deixar ferver
Hoje eu acordei,
agora eu sei
viver no escuro
Até que a chama se acenda
Verde, quente, erva, ventre, dentro, entranhas
Mate amargo, noite adentro, estrada estranha
Nunca me deram mole, não (melhor assim)
Não sou a fim de pactuar (sai pra lá)
Se pensam que tenho as mãos vazias e frias (melhor assim)
Se pensam que as minhas mãos estão presas (surpresa)
Mãos e coração, livres e quentes: chimarrão e leveza
Mãos e coração, livres e quentes: chimarrão e leveza
... ilex paraguariensis...
... ilex paraguariensis...
(humberto gessinger)
O que fazer?
Como vocês sabem, sou um enorme fã da internet.
É através dela que tenho me comunicado com o Brasil, diariamente. Jornais na web, e-mails, o blog, o Orkut, fóruns, iChat, Skype, etc, todos contribuem para que a distância daqueles com quem tenho laços afetivos seja menor. Mas a internet também dá nos nervos.
Por exemplo, ela também é uma grande reunião de pessoas que não sabem escrever. Isso me perturba profundamente. Irrita. Mesmo.
Mas que fique bem claro: me refiro a quem escreve errado de propósito, não a quem eventualmente comete um erro ou outro. A revolta é para que escreve “falow”, “naum”, “legaws”, etc. Ou então como esta descrição de uma comunidade do Orkut “Vc q faze um Weblogger, mai num sabe como? vc esta no lugar certo!! Aki vc pode me perguntar alguma coisa q istver em duvida e tb pelo meu”. O que é isso? É mais difícil escrever assim do que em português de verdade.
Não me conformo com o desprezo com o idioma.
#
Para encerrar a 'Semana Nei Lisboa', do disco 'Relógios de Sol', e também parte da trilha sonora do filme do Jorge Furtado 'Meu Tio Matou um Cara', em gravação do Caetano Veloso.
Pra Te Lembrar
Que é que eu vou fazer pra te esquecer
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar
Que é que eu vou fazer pra te deixar
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E um silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar
Que é que eu vou fazer pra te lembrar
Como tantos que eu conheço, e esqueço de amar
Em que espelho teu sou eu que vou estar
Pra te ver sorrindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar
É através dela que tenho me comunicado com o Brasil, diariamente. Jornais na web, e-mails, o blog, o Orkut, fóruns, iChat, Skype, etc, todos contribuem para que a distância daqueles com quem tenho laços afetivos seja menor. Mas a internet também dá nos nervos.
Por exemplo, ela também é uma grande reunião de pessoas que não sabem escrever. Isso me perturba profundamente. Irrita. Mesmo.
Mas que fique bem claro: me refiro a quem escreve errado de propósito, não a quem eventualmente comete um erro ou outro. A revolta é para que escreve “falow”, “naum”, “legaws”, etc. Ou então como esta descrição de uma comunidade do Orkut “Vc q faze um Weblogger, mai num sabe como? vc esta no lugar certo!! Aki vc pode me perguntar alguma coisa q istver em duvida e tb pelo meu”. O que é isso? É mais difícil escrever assim do que em português de verdade.
Não me conformo com o desprezo com o idioma.
#
Para encerrar a 'Semana Nei Lisboa', do disco 'Relógios de Sol', e também parte da trilha sonora do filme do Jorge Furtado 'Meu Tio Matou um Cara', em gravação do Caetano Veloso.
Pra Te Lembrar
Que é que eu vou fazer pra te esquecer
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar
Que é que eu vou fazer pra te deixar
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E um silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar
Que é que eu vou fazer pra te lembrar
Como tantos que eu conheço, e esqueço de amar
Em que espelho teu sou eu que vou estar
Pra te ver sorrindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar
quinta-feira, março 10, 2005
Surpresas
Acordei antes do despertador tocar.
De cara, venho a lembrança do sonho que acabara de ter. Não sei exatamente como, mas eu estava num hospital, em estado grave. Não, eu estava morto.
Eu me via no leito da UTI, mas sabia que eu tinha morrido. O primeiro pensamento: isso é estar morto? Tenho consciência de estar morto e, além disso, continuo acompanhando o que se passa no mundo dos vivos? I don’t see dead people, I am a dead one?!.
Loucura. Lembrei do Mário Quintana: “Morrer é fácil, o difícil é deixar de viver”. “Então, quando se morre não acaba tudo?”, pensei ainda em sonho. Que coisa.
Depois, a rotina. Café da manhã lendo jornais na web antes de ir para o hospital. Na hora de pegar o streetcar, a surpresa desagradável: tinha alguém sentado no meu lugar. O mesmo senhor que sempre senta no banco da frente do meu, e que desce não muito depois dali. Será que ele também fica todos os dias frustrado porque eu sento no lugar dele?
Dia normal de hospital, porém descobri que tinha uma palestra ao meio-dia num outro hospital (St Micheal’s) e que seria bom eu ir. O problema é que não deu tempo de almoçar antes de ir. No caminho, a dúvida: teria lanche junto com a palestra. Tinha quase certeza que sim, afinal é hábito aqui para os eventos que ocorrem do meio-dia à uma hora da tarde. Chegando lá, pacote completo: lanche, palestra e siesta. Certo, esta última não estava nos planos, mas…
Ao voltar para casa, quando atravessava a rua, ouvi chamarem o meu nome, algo extremamente raro aqui em Toronto. Era a Monique, que me contou que havia encontrado uma loja que vendia erva-mate brasileira. Mostrou e era a Canarias, erva produzida em Lajeado-RS para exportação, a mesma que eu comprara há algumas semanas. O problema: não é moída, então não serve para o chimarrão. Comentei com ela que estava esperando a chegada, via correio, de dois quilos que a Jacque tinha me mandado, mas que só deveria chegar em uns dez dias.
Qual não foi minha supresa, ao chegar em casa, e ver um comunicado do correio para eu ir buscar um pacote que chegara para mim. Nem entrei em casa. Larguei a mochila na entrada e fui ao correio.
Chegou a erva de chimarrão e alguns acepipes para acompanhar. Em homenagem a isso, quebrei uma tradição minha. Não esperei o sábado, e fiz hoje o “Chimarrão com milonga”. Agora, enquanto termino de escrever este pequeno texto, tomo o verdadeiro chimarrão gaúcho e escuto as ramilongas do Vítor.
E como diria João da Cunha Vargas:
“Bebida amarga da raça, que adoça meu coração”
Por Aí
Lembra do quanto amanhecemos
Com a luz acesa
Nos papos mais estranhos
Sonhando de verdade
Salvar a humanidade
Ao redor da mesa
Sábias teses e ilusões sem fim
Ying, Jung, I Ching e outras cabalas
Procurando deus entre as folhagens do jardim
Que tolos fomos nós, que bom que foi assim
Que achamos um lugar pra ter razão
Distantes de quem pensa que o melhor da vida
É uma estrada estreita e feita de cobiça
Que nunca vai passar por aqui
Lembra de longas primaveras
De andar pela cidade
Saudando novas eras
Sonhando com certeza
Salvar a natureza
Ao final da tarde
Cegas crenças, lixo oriental
Ying, Jung, I Ching e outras balelas
Procurando deus entre as macegas do quintal
Seremos sempre assim, sempre que precisar
Seremos sempre quem teve coragem
De errar pelo caminho e de encontrar saída
No céu do labirinto que é pensar a vida
E que sempre vai passar por aí
Auras, carmas, drogas siderais
Ying, Jung, I Ching e outras viagens
Procurando deus entre delírios dos mortais
Seremos sempre assim, sempre que precisar
Seremos sempre quem teve coragem
De errar pelo caminho e de encontrar saída
No céu do labirinto que é pensar a vida
E que sempre vai passar
Sempre vai passar por aí
De cara, venho a lembrança do sonho que acabara de ter. Não sei exatamente como, mas eu estava num hospital, em estado grave. Não, eu estava morto.
Eu me via no leito da UTI, mas sabia que eu tinha morrido. O primeiro pensamento: isso é estar morto? Tenho consciência de estar morto e, além disso, continuo acompanhando o que se passa no mundo dos vivos? I don’t see dead people, I am a dead one?!.
Loucura. Lembrei do Mário Quintana: “Morrer é fácil, o difícil é deixar de viver”. “Então, quando se morre não acaba tudo?”, pensei ainda em sonho. Que coisa.
Depois, a rotina. Café da manhã lendo jornais na web antes de ir para o hospital. Na hora de pegar o streetcar, a surpresa desagradável: tinha alguém sentado no meu lugar. O mesmo senhor que sempre senta no banco da frente do meu, e que desce não muito depois dali. Será que ele também fica todos os dias frustrado porque eu sento no lugar dele?
Dia normal de hospital, porém descobri que tinha uma palestra ao meio-dia num outro hospital (St Micheal’s) e que seria bom eu ir. O problema é que não deu tempo de almoçar antes de ir. No caminho, a dúvida: teria lanche junto com a palestra. Tinha quase certeza que sim, afinal é hábito aqui para os eventos que ocorrem do meio-dia à uma hora da tarde. Chegando lá, pacote completo: lanche, palestra e siesta. Certo, esta última não estava nos planos, mas…
Ao voltar para casa, quando atravessava a rua, ouvi chamarem o meu nome, algo extremamente raro aqui em Toronto. Era a Monique, que me contou que havia encontrado uma loja que vendia erva-mate brasileira. Mostrou e era a Canarias, erva produzida em Lajeado-RS para exportação, a mesma que eu comprara há algumas semanas. O problema: não é moída, então não serve para o chimarrão. Comentei com ela que estava esperando a chegada, via correio, de dois quilos que a Jacque tinha me mandado, mas que só deveria chegar em uns dez dias.
Qual não foi minha supresa, ao chegar em casa, e ver um comunicado do correio para eu ir buscar um pacote que chegara para mim. Nem entrei em casa. Larguei a mochila na entrada e fui ao correio.
Chegou a erva de chimarrão e alguns acepipes para acompanhar. Em homenagem a isso, quebrei uma tradição minha. Não esperei o sábado, e fiz hoje o “Chimarrão com milonga”. Agora, enquanto termino de escrever este pequeno texto, tomo o verdadeiro chimarrão gaúcho e escuto as ramilongas do Vítor.
E como diria João da Cunha Vargas:
“Bebida amarga da raça, que adoça meu coração”
Por Aí
Lembra do quanto amanhecemos
Com a luz acesa
Nos papos mais estranhos
Sonhando de verdade
Salvar a humanidade
Ao redor da mesa
Sábias teses e ilusões sem fim
Ying, Jung, I Ching e outras cabalas
Procurando deus entre as folhagens do jardim
Que tolos fomos nós, que bom que foi assim
Que achamos um lugar pra ter razão
Distantes de quem pensa que o melhor da vida
É uma estrada estreita e feita de cobiça
Que nunca vai passar por aqui
Lembra de longas primaveras
De andar pela cidade
Saudando novas eras
Sonhando com certeza
Salvar a natureza
Ao final da tarde
Cegas crenças, lixo oriental
Ying, Jung, I Ching e outras balelas
Procurando deus entre as macegas do quintal
Seremos sempre assim, sempre que precisar
Seremos sempre quem teve coragem
De errar pelo caminho e de encontrar saída
No céu do labirinto que é pensar a vida
E que sempre vai passar por aí
Auras, carmas, drogas siderais
Ying, Jung, I Ching e outras viagens
Procurando deus entre delírios dos mortais
Seremos sempre assim, sempre que precisar
Seremos sempre quem teve coragem
De errar pelo caminho e de encontrar saída
No céu do labirinto que é pensar a vida
E que sempre vai passar
Sempre vai passar por aí
quarta-feira, março 09, 2005
Várias Variáveis
Cadê?
Tenho me perguntado, nos últimos dias: Onde é que está a primavera, que não vem?
Sobre 'Cultura Inútil'
Para aqueles que reclamaram que não tiverem suas cidade incluídas no censo dos leitores do blog feito no dia 05, a explicação. Esse trabalho foi feito pelo StatConter, que rastreia a origem dos ISPs (seja lá o que for isso) de quem acessa o blog, e fornece as estatísticas. Não é culpa minha, não estou ignorando meus leitores...
TOC
De perto ninguém é normal, já dizia Caetano. Mais, todos temos nossos distúrbios psiquiátricos em maior ou menos grau. Na maioria das vezes, não afetam a nossa vida, mas é engraçado notar.
Faz alguns anos, por exemplo, que me deparei com a minha paranóia. Aconteceu assim, em frente ao espelho. Eu a olhei, sorri, a partir daí passamos a conviver numa boa. Eu me auto-diagnostiquei como um “Paranóico feliz”. Sou meio paranóide (e quem não é) mas convivo bem com isso.
Hoje, finalmente, encarei de frente o meu TOC (transtorno obssessivo-compulsivo). No bonde. Funciona assim:
Para ir para o hospital, todas as manhãs, saio de casa, atravesso a rua, entro na estação do metrô, pego o metrô e desço duas estações depois, para então pegar o bonde no final da linha que vai me levar até a frente do hospital. Como pego no final da linha, ele sempre está praticamente vazio, e vai lotar durante o trajeto. Depois de várias viagens para o hospital, descobri o melhor lugar para sentar para, na hora de descer, não ter dificuldades, ou não precisar levantar muito antes.
Subindo pela porta de trás (no fim da linha pode-se fazer isso), sento no segundo banco em direção ao fundo do bonde. Ou seja, entro no bonde e vou para a esquerda e sento no segundo banco, do lado direito do bonde. Por que não no primeiro, mais perto da porta? Porque, como sou alto, fico com as pernas apertadas no primeiro banco, que tem espaço menor. Então, o segundo é o ideal porque só preciso levantar na hora de descer quando ele pára para as pessoas descerem.
Pois então, hoje – ao chegar para pegar o bonde – me percebi preocupado com a possibilidade de alguém ter sentado no meu banco… Não tinham, mas – como havia um ônibus estragado bem no trilho do bonde – e depois de ficar quinze minutos parado esperando que o removessem – desci do bonde e peguei o metrô andando mais algumas estações para então pegar outro bonde que me levasse ao hospital… Sorte que tinha saído cedo de casa, senão teria me atrasado muito.
Desmentido
Isso o que a imprensa brasileira anda falando de mim não é totalmente verdade…
Dúvida
E a primavera, que não vem?
Teletransporte Nº 4
Me ofereceram Buda, Krishna, Cristo
Um coração, um ombro, a mão
Um visto pro Japão
Não que eu achasse graça
Mas me lembrava
Aquelas calças divididas
A langerie por cima
Ainda por cima aquelas pernas
Tantas idéias, tantas braçadas
Tantos amassos, tanta tesão
Não que eu me desse conta
Enquanto havia
Mas na memória
As contas da história brilham na luz
E nessas horas
Não tem mais hora
É sempre meio-dia
Seria um lindo domingo
Um grande desfile
O último show
Se houvesse um teletransporte
Se fosse arte nas mãos de deus
Porém o céu parece estúdio
Nem o silêncio não diz nada
Mesmo essas frases vão pro lixo
São como lenços de papel
Ainda por cima aquelas pernas
Algumas coisas serão eternas
Que bela idéia acreditar
Que o mundo te aprendeu
terça-feira, março 08, 2005
Dez Anos, Dez Elefantes
Esse foi o nome de um show do Nei Lisboa, há muitos anos atrás, em que comemorou dez anos de carreira. A referência aos "dez elefantes" deve ser pela crença geral de que os elefantes não esquecem, tem uma memória fantástica.
Eu sou meio elefante, neste sentido. Minha memória é muito boa para fatos, datas, números de telefone, nomes de pessoas, letras de música, etc. Sei, por exemplo, exatamente onde estava e o que fiz há exatos dez anos, no dia 08 de março de 1995. Mas, em verdade vos digo, não é preciso ser muito bom de memória para lembrar o que comemoramos hoje. E não me refiro ao Dia Internacional da Mulher.
Há dez anos atrás, num mesmo 08 de março, houve uma janta dos médicos-residentes do primeiro ano da Clínica Médica do Hospital São Lucas da PUCRS na casa do hoje neurologista Jefferson Becker. Quem cozinhou foi o Diovanne Berleze, meu cardiologista e padrinho de casamento.
Pois é, foi nesta janta que começou a minha história com a Jacque. Havíamos nos conhecido em janeiro do mesmo ano, quando começamos juntos a residência médica, eu em pneumologia e ela em endocrinologia, ambos fazendo o primeiro ano como pré-requisito em Clínica médica.
Nosso primeiro mês de namoro foi em segredo. Nenhum de nossos colegas de hospital sabia. Pouco mais de um ano depois, em março de 1996, no casamento do Caio e da Aline (em que éramos padrinhos), depois de tomar umas a mais, anunciei a todos o que eu já sabia desde o nosso segundo mês de namoro: iríamos nos casar. Mas não foi o efeito do álcool, não. Nesta altura, já estávamos reformando o apartamento onde iríamos morar e onde moramos até hoje (claro que por ora a Jacque esta tomando conta da nossa casa enquanto estou aqui em Toronto).
Casamos no dia 31 de agosto de 1996, com lua-de-mel em Buenos Aires.
Temos tido uma vida muito feliz juntos nestes dez anos, e construímos um relacao muito legal e muito forte. Tão forte que sempre soubemos que levaríamos com certa tranquilidade esse período de separação geográfica, eu no Canadá e ela em Porto Alegre. A saudade é a parte mais difícil, porque é muito bom quando estamos juntos, sempre. Como foi no final do ano entre Porto Alegre, Nova York e Toronto, no último final de semana em Atlanta, como vai ser em Porto Alegre em abril e assim sucessivamente.
Nestes dez anos juntos, viajamos muito, para muitos lugares.
De todos os lugares que visitamos, Paris é o mais significativo. Porque foi pela Jacque que aprendi a amar Paris, muito tempo antes de conhecê-la pessoalmente, de flanar pelos seus bulevares, de criar referências na cidade. Paris é uma festa, assim como tem sido nossa vida de casados.
Temos varias músicas que podemos chamar de “nossas”. Mas dentro do espírito da “Semana Nei Lisboa”, nada melhor que ‘Telhados de Paris’.
Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito
O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti
Eu sou meio elefante, neste sentido. Minha memória é muito boa para fatos, datas, números de telefone, nomes de pessoas, letras de música, etc. Sei, por exemplo, exatamente onde estava e o que fiz há exatos dez anos, no dia 08 de março de 1995. Mas, em verdade vos digo, não é preciso ser muito bom de memória para lembrar o que comemoramos hoje. E não me refiro ao Dia Internacional da Mulher.
Há dez anos atrás, num mesmo 08 de março, houve uma janta dos médicos-residentes do primeiro ano da Clínica Médica do Hospital São Lucas da PUCRS na casa do hoje neurologista Jefferson Becker. Quem cozinhou foi o Diovanne Berleze, meu cardiologista e padrinho de casamento.
Pois é, foi nesta janta que começou a minha história com a Jacque. Havíamos nos conhecido em janeiro do mesmo ano, quando começamos juntos a residência médica, eu em pneumologia e ela em endocrinologia, ambos fazendo o primeiro ano como pré-requisito em Clínica médica.
Nosso primeiro mês de namoro foi em segredo. Nenhum de nossos colegas de hospital sabia. Pouco mais de um ano depois, em março de 1996, no casamento do Caio e da Aline (em que éramos padrinhos), depois de tomar umas a mais, anunciei a todos o que eu já sabia desde o nosso segundo mês de namoro: iríamos nos casar. Mas não foi o efeito do álcool, não. Nesta altura, já estávamos reformando o apartamento onde iríamos morar e onde moramos até hoje (claro que por ora a Jacque esta tomando conta da nossa casa enquanto estou aqui em Toronto).
Casamos no dia 31 de agosto de 1996, com lua-de-mel em Buenos Aires.
Temos tido uma vida muito feliz juntos nestes dez anos, e construímos um relacao muito legal e muito forte. Tão forte que sempre soubemos que levaríamos com certa tranquilidade esse período de separação geográfica, eu no Canadá e ela em Porto Alegre. A saudade é a parte mais difícil, porque é muito bom quando estamos juntos, sempre. Como foi no final do ano entre Porto Alegre, Nova York e Toronto, no último final de semana em Atlanta, como vai ser em Porto Alegre em abril e assim sucessivamente.
Nestes dez anos juntos, viajamos muito, para muitos lugares.
De todos os lugares que visitamos, Paris é o mais significativo. Porque foi pela Jacque que aprendi a amar Paris, muito tempo antes de conhecê-la pessoalmente, de flanar pelos seus bulevares, de criar referências na cidade. Paris é uma festa, assim como tem sido nossa vida de casados.
Temos varias músicas que podemos chamar de “nossas”. Mas dentro do espírito da “Semana Nei Lisboa”, nada melhor que ‘Telhados de Paris’.
Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito
O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti
Bem Legal
Não é novo, eu sei. Ou, ao menos, não é super-novo.
Mas é muito interessante. Estou me referindo ao Skype (http://www.skype.com). Nada mais é que um software que permite que se faça ligações telefônicas pela internet. É bem simples. Faz-se o download do programa e, como se fosse um Messenger ou ICQ, podemos nos comunicar com os nossos contatos. Só que através de uma ligação telefônica. Se feito numa conexão de banda larga (cabo, ADSL), sai de graça. Ainda mais útil para ligações internacionais, meu caso no contato com o Brasil. E funciona perfeitamente.
Vocês já tentaram? E o que acharam?
#
'Semana Nei Lisboa' no A Sopa no Exílio.
O Nei Lisboa é um dos grandes da, vamos dizer, "música urbana gaúcha". Tem uma longa trajetória de grande qualidade. Além de grande compositor e poeta, ótimo intérprete e escritor. Escreve quinzenalmente no jornal Zero Hora. Seus shows no Rio Grande do Sul estão invariavelmente lotados e é uma pena que o resto do Brasil não tenha acesso.
Lembro de um show dele à meia noite, há quase dez anos, no Teatro Renascença, em Porto Alegre. Ele sozinho no palco, apenas com violão e um copo de uísque. Tocava as músicas que toda platéia sabia de cor. E sabíamos todas as músicas. Determinada altura do show, ele perguntava que música queríamos ouvir, e o pessol gritava a música que queria ouvir. Poderíamos ficar toda a madrugada ali.
Até que ele, após mais uma das ovações do público, agradece com um simples 'Obrigado'. Nisso, no meio da platéia em silêncio no teatro, uma voz feminina grita: "Brigado tu, Nei, por estar aqui tocando para a gente".
Pronto.
A partir daí, volta e meia quando alguém agradece alguma coisa, dizemos... "Brigado tu, Nei"...
BALADAS
Só
Nem ao menos deus por perto
Mil idéias brilham
Mas não molham meu deserto
E já faz tempo
Que eu escuto ladainhas
As minhas, as ondas do verão
Que irão bater na mesma tecla
A mesma porta
Baladas de uma época remota
Não há saídas
Só delírios de outro Midas
Lambendo a tua cruz
É ouro que reluz
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
E apesar de tudo estranho
Tenho inimigos que me amam
Fantasmas
E garçonetes em Pequim
É sempre alguém
Alguém que pense em mim
Enquanto o palco acende a luz do soul
A banda passa e amassa o business-show
Romanos
Encharcados de poção
Vivemos de paixão
E alguma grana
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um retalho de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
Muito além do jardim
Viajo atrás de sombras
Não sei a quem chamar
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem
Você me arrasou, meu bem
E qualquer dia desses como as tuas bolas
Mas por hora esqueça o drama na sacol
Não puxe o cobertor
Não tape o sol que resta nessa dor
Foi bom, não durou
Mas é muito interessante. Estou me referindo ao Skype (http://www.skype.com). Nada mais é que um software que permite que se faça ligações telefônicas pela internet. É bem simples. Faz-se o download do programa e, como se fosse um Messenger ou ICQ, podemos nos comunicar com os nossos contatos. Só que através de uma ligação telefônica. Se feito numa conexão de banda larga (cabo, ADSL), sai de graça. Ainda mais útil para ligações internacionais, meu caso no contato com o Brasil. E funciona perfeitamente.
Vocês já tentaram? E o que acharam?
#
'Semana Nei Lisboa' no A Sopa no Exílio.
O Nei Lisboa é um dos grandes da, vamos dizer, "música urbana gaúcha". Tem uma longa trajetória de grande qualidade. Além de grande compositor e poeta, ótimo intérprete e escritor. Escreve quinzenalmente no jornal Zero Hora. Seus shows no Rio Grande do Sul estão invariavelmente lotados e é uma pena que o resto do Brasil não tenha acesso.
Lembro de um show dele à meia noite, há quase dez anos, no Teatro Renascença, em Porto Alegre. Ele sozinho no palco, apenas com violão e um copo de uísque. Tocava as músicas que toda platéia sabia de cor. E sabíamos todas as músicas. Determinada altura do show, ele perguntava que música queríamos ouvir, e o pessol gritava a música que queria ouvir. Poderíamos ficar toda a madrugada ali.
Até que ele, após mais uma das ovações do público, agradece com um simples 'Obrigado'. Nisso, no meio da platéia em silêncio no teatro, uma voz feminina grita: "Brigado tu, Nei, por estar aqui tocando para a gente".
Pronto.
A partir daí, volta e meia quando alguém agradece alguma coisa, dizemos... "Brigado tu, Nei"...
BALADAS
Só
Nem ao menos deus por perto
Mil idéias brilham
Mas não molham meu deserto
E já faz tempo
Que eu escuto ladainhas
As minhas, as ondas do verão
Que irão bater na mesma tecla
A mesma porta
Baladas de uma época remota
Não há saídas
Só delírios de outro Midas
Lambendo a tua cruz
É ouro que reluz
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um cigarro de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
E apesar de tudo estranho
Tenho inimigos que me amam
Fantasmas
E garçonetes em Pequim
É sempre alguém
Alguém que pense em mim
Enquanto o palco acende a luz do soul
A banda passa e amassa o business-show
Romanos
Encharcados de poção
Vivemos de paixão
E alguma grana
Oh, mana
Não vale a pena pagar
Um centavo, um retalho de prazer
Oh, mana
Eu quero é morrer
Bem velhinho, assim, sozinho
Ali, bebendo um vinho
E olhando a bunda de alguém
Só
Muito além do jardim
Viajo atrás de sombras
Não sei a quem chamar
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem
Você me arrasou, meu bem
E qualquer dia desses como as tuas bolas
Mas por hora esqueça o drama na sacol
Não puxe o cobertor
Não tape o sol que resta nessa dor
Foi bom, não durou
domingo, março 06, 2005
A Sopa 04/33
Domingo, 13h50.
Começo a escrever A Sopa desta semana sentado na sala de embarque E29 da Delta Airlines no Hartsfield Atlanta International Airport, onde em poucos minutos embarco de volta à Toronto depois de quatro dias aqui com a Jacque.
Esse é o aeroporto mais movimentado do mundo, e o seu tamanho justifica todo o movimento. Ao contrário da cidade, que não é muito grande, com cerca de 400.000 habitantes. Para efeitos de comparação, Porto Alegre tem um milhão e meio, Toronto quatro milhões e meio e São Paulo tem 12 milhões de habitantes. O movimento do aerporto só pode ser explicado pelo fato de Atlanta ser um ponto importante de conexão para o resto dos Estados Unidos.
Mas Atlanta, evidentemente, não é só o aeroporto. Considerada a “Nova jóia do Sul”, Atlanta é uma importante cidade de negócios. É a sede da CNN e também da Coca-cola. Esteve envolvida na Guerra Civil americana, quando foi envolvida por um cerco que durou 75 dias. É a cidade natal de Martin Luther King, símbolo da luta pelos direitos humanos nos Estados Unidos.
Saí de Toronto na quinta-feira de manhã cedo, num vôo de duas horas e meia até aqui. Avião pequeno, vôo tranqüilo. Durante o vôo ainda, lembrei que tinha esquecido de identificar minha mala. Estava trancada, mas sem identificação. Como minha experiência com a Delta era ruim, me preocupei. Explico: até aquele momento, 100% das vezes que eu havia voado de Delta, ele tinham perdido minha mala. Certo, só tinha voado uma vez, há dez anos atrás, mas… 100% é 100%…
Cheguei em Atlanta, peguei o trem que leva do terminal em que havia pousado até onde as malas são retiradas e fui atrás da minha. Após pequena procura, encontrei a esteira onde as malas do meu vôo seriam liberadas. Não havia ninguém lá com exceção de uma senhora e duas malas (não as minhas) que passavam pela esteira. O paranóico que sou tinha certeza que eles tinham perdido a minha mala (100%, 100%!). Parei em frente à saída das bagagens, ao lado da senhora que esperava. Passam-se alguns instantes e ela vira para mim e diz (em inglês com forte sotaque latino): “Espero que eles não tenham perdido a minha mala dessa vez. Eles semprem perdem!”…
Para a minha sorte, a primeira mala que sai pela esteira é a minha. Ela me olha e diz “Lucky bastard”. Sorrio e vou embora. Pego o shuttle que leva ao hotel, que é na região do aeroporto, onde a Jacque (com a Zeca) está me esperando.
Como é bom reencontrá-la…
Começo a escrever A Sopa desta semana sentado na sala de embarque E29 da Delta Airlines no Hartsfield Atlanta International Airport, onde em poucos minutos embarco de volta à Toronto depois de quatro dias aqui com a Jacque.
Esse é o aeroporto mais movimentado do mundo, e o seu tamanho justifica todo o movimento. Ao contrário da cidade, que não é muito grande, com cerca de 400.000 habitantes. Para efeitos de comparação, Porto Alegre tem um milhão e meio, Toronto quatro milhões e meio e São Paulo tem 12 milhões de habitantes. O movimento do aerporto só pode ser explicado pelo fato de Atlanta ser um ponto importante de conexão para o resto dos Estados Unidos.
Mas Atlanta, evidentemente, não é só o aeroporto. Considerada a “Nova jóia do Sul”, Atlanta é uma importante cidade de negócios. É a sede da CNN e também da Coca-cola. Esteve envolvida na Guerra Civil americana, quando foi envolvida por um cerco que durou 75 dias. É a cidade natal de Martin Luther King, símbolo da luta pelos direitos humanos nos Estados Unidos.
Saí de Toronto na quinta-feira de manhã cedo, num vôo de duas horas e meia até aqui. Avião pequeno, vôo tranqüilo. Durante o vôo ainda, lembrei que tinha esquecido de identificar minha mala. Estava trancada, mas sem identificação. Como minha experiência com a Delta era ruim, me preocupei. Explico: até aquele momento, 100% das vezes que eu havia voado de Delta, ele tinham perdido minha mala. Certo, só tinha voado uma vez, há dez anos atrás, mas… 100% é 100%…
Cheguei em Atlanta, peguei o trem que leva do terminal em que havia pousado até onde as malas são retiradas e fui atrás da minha. Após pequena procura, encontrei a esteira onde as malas do meu vôo seriam liberadas. Não havia ninguém lá com exceção de uma senhora e duas malas (não as minhas) que passavam pela esteira. O paranóico que sou tinha certeza que eles tinham perdido a minha mala (100%, 100%!). Parei em frente à saída das bagagens, ao lado da senhora que esperava. Passam-se alguns instantes e ela vira para mim e diz (em inglês com forte sotaque latino): “Espero que eles não tenham perdido a minha mala dessa vez. Eles semprem perdem!”…
Para a minha sorte, a primeira mala que sai pela esteira é a minha. Ela me olha e diz “Lucky bastard”. Sorrio e vou embora. Pego o shuttle que leva ao hotel, que é na região do aeroporto, onde a Jacque (com a Zeca) está me esperando.
Como é bom reencontrá-la…
sábado, março 05, 2005
Cultura Inútil
Por onde andam os leitores do blog...
A Sopa no Exilio (City) 5th March 2005
City, Region, Country
Toronto, Ontario, Canada
Rio De Janeiro, RJ, Brazil
São Paulo, SP, Brazil
Santa Monica, California, USA
Atlanta, Georgia, USA
Boston, Massachusetts, USA
Porto Alegre, RS, Brazil
Mississauga, Ontario, Canada
Salvador, Bahia, Brazil
Curitiba, PR, Brazil
Melbourne, Victoria, Australia
Vancouver, British Columbia, Canada
Windsor, Ontario, Canada
Florianópolis, SC, Brazil
Araraquara, SP,Brazil
Bergen, Hordaland, Norway
São Gonçalo, RJ, Brazil
London, England, United Kingdom
New York, NY, USA
Catania, Sicilia, Italy
Brasília, DF, Brazil
Calgary, Alberta, Canada
A Sopa no Exilio (City) 5th March 2005
City, Region, Country
Toronto, Ontario, Canada
Rio De Janeiro, RJ, Brazil
São Paulo, SP, Brazil
Santa Monica, California, USA
Atlanta, Georgia, USA
Boston, Massachusetts, USA
Porto Alegre, RS, Brazil
Mississauga, Ontario, Canada
Salvador, Bahia, Brazil
Curitiba, PR, Brazil
Melbourne, Victoria, Australia
Vancouver, British Columbia, Canada
Windsor, Ontario, Canada
Florianópolis, SC, Brazil
Araraquara, SP,Brazil
Bergen, Hordaland, Norway
São Gonçalo, RJ, Brazil
London, England, United Kingdom
New York, NY, USA
Catania, Sicilia, Italy
Brasília, DF, Brazil
Calgary, Alberta, Canada
Sábado em Atlanta
E no resto do mundo também, óbvio. Bom, pelo fuso horário, talvez em algum lugar já não seja mais sábado, mas quem se importa?
Sol, céu azul, temperaturas agradáveis. Como todo sábado deveria ser. O inverno entra em seus últimos estertores (em Toronto, também, espero) no hemifério norte e, abaixo da linha do equador, o Rio Grande do Sul espera pelas águas de março para amenizar a seca. Estará a profecia se concretizando (o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão)?
Março vai voar, muito trabalho pela frente e , em menos de um mês, aeroporto, conexão e casa.
Bom sábado a todos.
Encerrando a semana Cazuza, “Cúmplice”, uma música ‘sábado de manhã’
Hoje eu acordei querendo encrenca
Escrevi teu nome no ar
Bati três vezes na madeira
Senti você me chamar
Na verdade uma carta em braile
Me deu uma certeza cega
Você estava de volta ao bairro
Em alguma esquina à minha espera
Meu amor, meu cúmplice
Eu sempre vou te achar
Nos avisos da lua
Do outro lado da rua
Rodei todas as lanchonetes
Tive idéias perversas
Relembrei tantos golpes espertos
Você cada vez mais perto
Meu amor, meu cúmplice
Meu par na contramão
Você não mudou em nada (nada, nada, nada)
Eu também não, que bom!
Sol, céu azul, temperaturas agradáveis. Como todo sábado deveria ser. O inverno entra em seus últimos estertores (em Toronto, também, espero) no hemifério norte e, abaixo da linha do equador, o Rio Grande do Sul espera pelas águas de março para amenizar a seca. Estará a profecia se concretizando (o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão)?
Março vai voar, muito trabalho pela frente e , em menos de um mês, aeroporto, conexão e casa.
Bom sábado a todos.
Encerrando a semana Cazuza, “Cúmplice”, uma música ‘sábado de manhã’
Hoje eu acordei querendo encrenca
Escrevi teu nome no ar
Bati três vezes na madeira
Senti você me chamar
Na verdade uma carta em braile
Me deu uma certeza cega
Você estava de volta ao bairro
Em alguma esquina à minha espera
Meu amor, meu cúmplice
Eu sempre vou te achar
Nos avisos da lua
Do outro lado da rua
Rodei todas as lanchonetes
Tive idéias perversas
Relembrei tantos golpes espertos
Você cada vez mais perto
Meu amor, meu cúmplice
Meu par na contramão
Você não mudou em nada (nada, nada, nada)
Eu também não, que bom!
sexta-feira, março 04, 2005
Em Atlanta
E com dificuldade de conexão wireless aqui no hotel. No quarto (que é pago) não consegui, e o acesso gratuito aqui no lobby não é nenhuma Brastemp.
Com vocês, Cazuza.
Um Trem Para as Estrelas
São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Com vocês, Cazuza.
Um Trem Para as Estrelas
São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
quinta-feira, março 03, 2005
Notícia
Vou deixar Toronto.
Mas volto no domingo. Pequena viagem para o sul (nada a ver com o clima, mas vai ser bom encontrar temperaturas mais amenas) mas ficando ainda acima da linha do equador. Atlanta, Geórgia, é o meu destino.
Atlanta foi fundada em 1837, e por sua localização – ao final de duas rotas férreas - esteve envolvida na Guerra Civil Americana. Após 75 dias de cerco, o General Willian T. Sherman rompeu as defesas dos confederados e libertou a cidade, história contada de forma romanceada no clássico “Gone With the Wind” (E o Vento Levou). Sede da olimpíada de 1996, da Coca-cola e da CNN, Atlanta é onde nasceu e pregou Martin Luther King.
Nada disso me interessa no momento, claro.
Estou indo para Atlanta para encontrar a Jacque, que está indo para lá para uma reunião de trabalho e vamos passar os próximos quatro dias lá.
Beeeem legal…
#
A música de hoje é uma das que mais gosto do Cazuza.
O Nosso Amor a Gente Inventa (Estória Romântica)
O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa, inventa
Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa
Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açucar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma estória romântica
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu
Mas volto no domingo. Pequena viagem para o sul (nada a ver com o clima, mas vai ser bom encontrar temperaturas mais amenas) mas ficando ainda acima da linha do equador. Atlanta, Geórgia, é o meu destino.
Atlanta foi fundada em 1837, e por sua localização – ao final de duas rotas férreas - esteve envolvida na Guerra Civil Americana. Após 75 dias de cerco, o General Willian T. Sherman rompeu as defesas dos confederados e libertou a cidade, história contada de forma romanceada no clássico “Gone With the Wind” (E o Vento Levou). Sede da olimpíada de 1996, da Coca-cola e da CNN, Atlanta é onde nasceu e pregou Martin Luther King.
Nada disso me interessa no momento, claro.
Estou indo para Atlanta para encontrar a Jacque, que está indo para lá para uma reunião de trabalho e vamos passar os próximos quatro dias lá.
Beeeem legal…
#
A música de hoje é uma das que mais gosto do Cazuza.
O Nosso Amor a Gente Inventa (Estória Romântica)
O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa, inventa
Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa
Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açucar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma estória romântica
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu
quarta-feira, março 02, 2005
Dedicatórias
Presentes são coisas difíceis de comprar. Para mim, ao menos, são.
Para a Jacque, por exemplo. Sempre me sinto pressionado com relação ao presente que vou dar, sabem como é, tem que ser perfeito. Então…
Mas não é só para ela. Acho complicado, sinceramente. Então uma vez resolvi que ia dar para as pessoas o que gostaria que me dessem. Suuuper-egoísta… Mas não é de todo mal. Livros, por exemplo. Gosto de ganhar e gosto muito de presentear livros.
Com relação aos cartões, é mais simples. Escrever dedicatórias e mensagens é mais tranqüilo, ainda mais (óbvio) se conheço bem a pessoa que vai receber. Mas gosto de usar, ao final da mensagem, uma frase: “Te desejo Todo Amor que Houver Nessa Vida”
Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a sua fonte escondida
Te alcance em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão, e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Para a Jacque, por exemplo. Sempre me sinto pressionado com relação ao presente que vou dar, sabem como é, tem que ser perfeito. Então…
Mas não é só para ela. Acho complicado, sinceramente. Então uma vez resolvi que ia dar para as pessoas o que gostaria que me dessem. Suuuper-egoísta… Mas não é de todo mal. Livros, por exemplo. Gosto de ganhar e gosto muito de presentear livros.
Com relação aos cartões, é mais simples. Escrever dedicatórias e mensagens é mais tranqüilo, ainda mais (óbvio) se conheço bem a pessoa que vai receber. Mas gosto de usar, ao final da mensagem, uma frase: “Te desejo Todo Amor que Houver Nessa Vida”
Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a sua fonte escondida
Te alcance em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão, e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
terça-feira, março 01, 2005
A Semana
Essa é semana Cazuza, aqui no A Sopa no Exílio.
E para começar, desencavei lá do fundo do baú um texto escrito em 1990, dias após a morte dele, e que foi enviado por carta (lembram, correios e telégrafos?) para o Radica, um dos amigos fundamentais, se é que podemos ter algum tipo de hierarquia ou classificação entre nossos amigos. Se puder, o grau maior poderia ser o dos “amigos fundamentais”, e o Radica se encontra entre eles. Assim como o Márcio. E mais alguns poucos, que sabem que são.
Ah, a validade do texto é meramente o de registro histórico de uma fase, há muito passada. Depois do texto, a primeira letra da semana: Ritual.
O Fim
Faz um certo tempo, eu deveria ter uns doze, treze anos, quando eu ouvi pela primeira vez. Ainda não tinha nome próprio, era apenas um grupo, que tocava umas baladinhas bem interessantes. Já naquela época eu amava platonicamente uma menina de olhos verdes, loira, a mais linda que já conhecera. Freqüentávamos as festas noturnas do clube de praia, o chamado “mingau”, que começava por volta das nove horas da noite e terminava impreterivelmente às onze e meia. Depois desse horário íamos para casa dormir para no outro dia acordarmos cedo e irmos para praia.
Esse grupo eu ouvia só quando ia nestas festas, mas decorava algumas das letras e cantava com convicção "p'ro dia nascer feliz, o mundo acordar e a gente dormir, p'ro dia nascer feliz" ou então "quem tem um sonho não dança, bete balança o meu amor, me avise quando for a hora", ou, finalmente, "eu tô pedindo a tua mão e um pouquinho do braço", "teu corpo com amor ou não", "raspas e restos me interessam"... E assim foram os anos dourados de minha infância.
Os anos passaram, pessoas se foram e a banda se separou. E aí surgiu o seu nome pela primeira vez: Cazuza. Logo que apareceu cantava e declarava-se exagerado e medieval, mas eu ainda não conseguia entender bem o que ele queria dizer com tudo aquilo. E o meu amor pela garota dos olhos verdes continuava. Era um sentimento bonito, ingênuo e puro, que se manifestava mais na sua ausência do que em sua presença. E eu tinha quatorze anos.
E então vieram aquelas pessoas que mudaram minha cabeça. Aprendi a ser eu mesmo, a enfrentar os meus problemas de frente, admitir fraquezas e erros e a compreender os erros dos outros. Amadureci bastante, era feliz. Mas ainda amava aquela garota...Mesmo sem seu amor, vivi tempos inesquecíveis com esses caras: rimos, choramos, falamos de amor, solidão, enfim, vida. Ah, e viajamos. E foi numa destas viagens que outra mudança aconteceu ou, melhor, começou uma nova fase: minha primeira namorada. E, num dos primeiros momentos com ela, ele estava lá, num bar, inverno e uma televisão. Ele aparecia cantando "..invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou, vivo num clip sem nexo, um pierrot-retrocesso, meio bossa-nova e rock'n roll, faz parte do meu show, meu amor..."
Como num passe de mágica, eu podia compreender tudo o que ele dizia, era eu mesmo o "exagerado" querendo viver uma "paixão cruel, desenfreada" e imaginando dar "mil rosas roubadas" para esta namorada (que não tinha olhos verdes). Mas, mesmo com toda esta paixão, a minha inexperiência pesou mais e eu a perdi pela primeira vez, com o que, cheio de rancor, sentenciei: "Obrigado/ Por ter se mandado/ Ter me condenado a tanta liberdade". Outra vez ele no meu caminho. Logo após a tive de novo e a perdi para sempre, tendo descoberto, mais tarde, que, no dia em que ela se mostrara interessada em voltar para mim, eu deveria ter cantado - citando-o uma vez mais - "O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer...". Só que aí já era muito tarde, e ela foi esquecida também. E eu tinha dezesseis anos.
Quis o destino que eu me separasse fisicamente dos caras que havia mudado o meu jeito de ser, e agora eu teria que andar com as minhas próprias pernas. Eu tive medo, mas com a força de vontade adquirida em três anos de aprendizado diário, consegui, aos poucos conquistar um lugar e pessoas. Em muitos momentos fiquei só, e aprendi com a solidão. Fiquei forte, cada vez mais forte.
Por outro lado, ele foi ficando fraco. Pego por uma doença mundana, adquirida de modo sujo e imoral, diziam. Eu me calava, às vezes sorria. Sabendo que aquilo era mais uma mesquinhez destes pobres seres humanos que se consideram normais. Eu sabia que qualquer um deles era mais doente do que ele, porque suas doenças não eram orgânicas, mas sim na alma, no coração. Enquanto ele piorava fisicamente, sua poesia evoluía geometricamente, talvez por saber que estava num caminho sem volta. Finalmente, sentenciou: "Senhores deuses me protejam, de tanta mágoa/ Tô pronto pra ir ao teu encontro, mas não quero, não vou, não quero...".
Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, sua voz se calaria e eu perderia um pouco do chão por onde há muito tempo eu vinha pisando. Mas preferia não pensar no assunto. Até que, num sábado de manhã, sete de julho, uma grande amiga minha me ligou com a notícia: Cazuza havia morrido. Fui à televisão e, em silêncio, ouvi o que diziam. Poeta de uma geração, amaldiçoado por aqueles que não o entendiam e símbolo de força para aqueles que se viam em suas letras. Morreu por ser o que cantava: exagerado.
A morte física foi sua última lição, o final do curso: "O tempo não pára". O corpo se foi, mas a música e a poesia permanecem. Morreu por castigo ou por que os deuses trazem para perto de si mais rápido aqueles que eles mais amam? Não sabemos. Sabemos que deixou um legado e, pelo menos um órfão, mas que está pronto e amadurecido o suficiente para pedir "...piedade, senhor piedade, p'ra essa gente careta e covarde...". É, realmente, muitos precisam.
Nisto se encerra uma fase na minha vida. Já fazia alguns dias que eu me sentia estranho, diferente, mas não sabia o que era. Hoje descobri: minha vida está tomando uma nova direção. Não sei exatamente qual é, mas é uma mudança, e todas são positivas. E eu tenho dezoito anos.
Ritual
Pra que sonhar
A vida é tão desconhecida e mágica
Que dorme às vezes do teu lado
Calada
Calada
Pra que buscar o paraíso
Se até o poeta fecha o livro
Sente o perfume de uma flor no lixo
E fuxica
Fuxica
Tantas histórias de um grande amor perdido
Terras perdidas, precipícios
Faz sacrifícios, imola mil virgens
Uma por uma, milhares de dias
Ao mesmo Deus que ensina a prazo
Ao mais esperto e ao mais otário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba
E para começar, desencavei lá do fundo do baú um texto escrito em 1990, dias após a morte dele, e que foi enviado por carta (lembram, correios e telégrafos?) para o Radica, um dos amigos fundamentais, se é que podemos ter algum tipo de hierarquia ou classificação entre nossos amigos. Se puder, o grau maior poderia ser o dos “amigos fundamentais”, e o Radica se encontra entre eles. Assim como o Márcio. E mais alguns poucos, que sabem que são.
Ah, a validade do texto é meramente o de registro histórico de uma fase, há muito passada. Depois do texto, a primeira letra da semana: Ritual.
O Fim
Faz um certo tempo, eu deveria ter uns doze, treze anos, quando eu ouvi pela primeira vez. Ainda não tinha nome próprio, era apenas um grupo, que tocava umas baladinhas bem interessantes. Já naquela época eu amava platonicamente uma menina de olhos verdes, loira, a mais linda que já conhecera. Freqüentávamos as festas noturnas do clube de praia, o chamado “mingau”, que começava por volta das nove horas da noite e terminava impreterivelmente às onze e meia. Depois desse horário íamos para casa dormir para no outro dia acordarmos cedo e irmos para praia.
Esse grupo eu ouvia só quando ia nestas festas, mas decorava algumas das letras e cantava com convicção "p'ro dia nascer feliz, o mundo acordar e a gente dormir, p'ro dia nascer feliz" ou então "quem tem um sonho não dança, bete balança o meu amor, me avise quando for a hora", ou, finalmente, "eu tô pedindo a tua mão e um pouquinho do braço", "teu corpo com amor ou não", "raspas e restos me interessam"... E assim foram os anos dourados de minha infância.
Os anos passaram, pessoas se foram e a banda se separou. E aí surgiu o seu nome pela primeira vez: Cazuza. Logo que apareceu cantava e declarava-se exagerado e medieval, mas eu ainda não conseguia entender bem o que ele queria dizer com tudo aquilo. E o meu amor pela garota dos olhos verdes continuava. Era um sentimento bonito, ingênuo e puro, que se manifestava mais na sua ausência do que em sua presença. E eu tinha quatorze anos.
E então vieram aquelas pessoas que mudaram minha cabeça. Aprendi a ser eu mesmo, a enfrentar os meus problemas de frente, admitir fraquezas e erros e a compreender os erros dos outros. Amadureci bastante, era feliz. Mas ainda amava aquela garota...Mesmo sem seu amor, vivi tempos inesquecíveis com esses caras: rimos, choramos, falamos de amor, solidão, enfim, vida. Ah, e viajamos. E foi numa destas viagens que outra mudança aconteceu ou, melhor, começou uma nova fase: minha primeira namorada. E, num dos primeiros momentos com ela, ele estava lá, num bar, inverno e uma televisão. Ele aparecia cantando "..invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou, vivo num clip sem nexo, um pierrot-retrocesso, meio bossa-nova e rock'n roll, faz parte do meu show, meu amor..."
Como num passe de mágica, eu podia compreender tudo o que ele dizia, era eu mesmo o "exagerado" querendo viver uma "paixão cruel, desenfreada" e imaginando dar "mil rosas roubadas" para esta namorada (que não tinha olhos verdes). Mas, mesmo com toda esta paixão, a minha inexperiência pesou mais e eu a perdi pela primeira vez, com o que, cheio de rancor, sentenciei: "Obrigado/ Por ter se mandado/ Ter me condenado a tanta liberdade". Outra vez ele no meu caminho. Logo após a tive de novo e a perdi para sempre, tendo descoberto, mais tarde, que, no dia em que ela se mostrara interessada em voltar para mim, eu deveria ter cantado - citando-o uma vez mais - "O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer...". Só que aí já era muito tarde, e ela foi esquecida também. E eu tinha dezesseis anos.
Quis o destino que eu me separasse fisicamente dos caras que havia mudado o meu jeito de ser, e agora eu teria que andar com as minhas próprias pernas. Eu tive medo, mas com a força de vontade adquirida em três anos de aprendizado diário, consegui, aos poucos conquistar um lugar e pessoas. Em muitos momentos fiquei só, e aprendi com a solidão. Fiquei forte, cada vez mais forte.
Por outro lado, ele foi ficando fraco. Pego por uma doença mundana, adquirida de modo sujo e imoral, diziam. Eu me calava, às vezes sorria. Sabendo que aquilo era mais uma mesquinhez destes pobres seres humanos que se consideram normais. Eu sabia que qualquer um deles era mais doente do que ele, porque suas doenças não eram orgânicas, mas sim na alma, no coração. Enquanto ele piorava fisicamente, sua poesia evoluía geometricamente, talvez por saber que estava num caminho sem volta. Finalmente, sentenciou: "Senhores deuses me protejam, de tanta mágoa/ Tô pronto pra ir ao teu encontro, mas não quero, não vou, não quero...".
Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, sua voz se calaria e eu perderia um pouco do chão por onde há muito tempo eu vinha pisando. Mas preferia não pensar no assunto. Até que, num sábado de manhã, sete de julho, uma grande amiga minha me ligou com a notícia: Cazuza havia morrido. Fui à televisão e, em silêncio, ouvi o que diziam. Poeta de uma geração, amaldiçoado por aqueles que não o entendiam e símbolo de força para aqueles que se viam em suas letras. Morreu por ser o que cantava: exagerado.
A morte física foi sua última lição, o final do curso: "O tempo não pára". O corpo se foi, mas a música e a poesia permanecem. Morreu por castigo ou por que os deuses trazem para perto de si mais rápido aqueles que eles mais amam? Não sabemos. Sabemos que deixou um legado e, pelo menos um órfão, mas que está pronto e amadurecido o suficiente para pedir "...piedade, senhor piedade, p'ra essa gente careta e covarde...". É, realmente, muitos precisam.
Nisto se encerra uma fase na minha vida. Já fazia alguns dias que eu me sentia estranho, diferente, mas não sabia o que era. Hoje descobri: minha vida está tomando uma nova direção. Não sei exatamente qual é, mas é uma mudança, e todas são positivas. E eu tenho dezoito anos.
Ritual
Pra que sonhar
A vida é tão desconhecida e mágica
Que dorme às vezes do teu lado
Calada
Calada
Pra que buscar o paraíso
Se até o poeta fecha o livro
Sente o perfume de uma flor no lixo
E fuxica
Fuxica
Tantas histórias de um grande amor perdido
Terras perdidas, precipícios
Faz sacrifícios, imola mil virgens
Uma por uma, milhares de dias
Ao mesmo Deus que ensina a prazo
Ao mais esperto e ao mais otário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba
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