Uma vez, há muito tempo, em conversa com uma (àquela época) amiga sobre o ocaso da turma de que fazíamos parte, eu muito mais e há muito mais tempo que ela, fiz um comentário que foi respondido com a seguinte afirmação: “Talvez tenhas sido um coadjuvante nessa história”.
Não respondi, não era necessário. Eu sabia a verdade.
De qualquer forma, lembrei dessa conversa – e da afirmação em questão – hoje quando voltava para casa.
Depois de um dia pesado de trabalho.
Pesado porque parece que todos os pacientes hoje tinham histórias graves, problemas aparentemente insolúveis, tanto médicos como não-médicos. Fazia tempo que eu não atendia pacientes assim. É claro que não acontece todo o dia, mas algumas vezes não há como não sentir que está tendo a sua energia sugada e, à medida que o dia passa, parece esvair-se. Parênteses. Sobre o verbo esvair, sempre que o emprego não consigo de pensar numa velha expressão escatológica envolvendo ‘esvair-se’, mas deixa pra lá. Fecha parênteses.
Então, vinha eu após um dia repleto de histórias trágicas e pesadas, de sofrimento e privações, que não pude deixar de pensar: “Se nas próximas horas eu cogitar pensar em me queixar da vida, eu vou pegar uma faca e rasgar meu abdome de um lado a outro, expor minhas próprias vísceras e depois jogar álcool”. O que isso tem a ver com a conversa que tive com a amiga do passado? Simples.
Eu não me queixo da vida.
Tenho o controle sobre o meu destino. As coisas que acontecem comigo são conseqüências dos meus atos e decisões.
Eu sou (e sempre fui) protagonista da minha história.
Até.
Um comentário:
Ah, eu reclamo. Penso que nao deveria reclamar, ate demais. Mas quando percebo...estou eu reclamando.
Nem sempre da vida, vamos lembrar. As vezes e do fulano ali, da comida aqui.
Ou sera que isso tudo pode se encaixar na palavra "vida"?
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