Chove em Porto Alegre.
Ontem foi o vigésimo aniversário da morte de Carlos Drummond de Andrade.
Poesia, então.
Sentimento do mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
Até.
Um comentário:
Olá, Marcelo!
Estava procurando no google algo sobre "exílio em casa" - porque é como estou me sentindo nessa temporada de Brasil - e encontrei o seu Blog. Já coloquei nos favoritos, que a história é bem longa, né?
Abração
Gisela
Obs: um pneumologista que diz que ler é como respirar é realmente qualquer coisa de especial...
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