domingo, outubro 12, 2008

A Sopa 08/11

Doze de outubro, dia da criança.

Já faz um bom tempo que não ganho mais presentes, mas – muito mais importante – faz muito tempo que não os espero... Começo a falar sobre o tempo, sua passagem e seus efeitos, assunto que sempre me fascinou, desde o tempo em que era um guri, até os dias de hoje, médico e pai de família, ainda que há bem pouco tempo.

Tenho pensado muito na meia idade.

Não sei – honestamente – se já cheguei lá. Caso não tenha chegado, me aproximo a passos largos. Sem dramas, mas começo a pensar em que ponto da vida me encontro, o que fiz e o que tenho ainda a fazer. Já plantei uma árvore, já escrevi um livro, já fiz um filho. O que me resta, antes da morte?

Lembro de uma noite de julho, há vinte anos, em que sentado num balanço (já era bem crescido para andar de balanço), conversando com uma amiga (que se perdeu no meio do caminho), antecipei essa pergunta sob forma de angústia com relação ao meu futuro profissional. Argumentava eu, naquele momento, que se fizesse medicina já sabia qual seria o meu futuro: trabalhar, casar, ter filho(s), envelhecer e morrer. Usando um termo ultrapassado já naquela época, morreria burguês (e como todos sabem, e Cazuza cantou, a burguesia fede...) e não teria grandes feitos a serem lembrados.

Quanta bobagem.

Aos dezesseis anos, ainda via o mundo em preto e branco, de maneira simplista e ainda não enxergando muitas coisas que só vemos com o tempo. São precisos muitos anos para tornarmos realmente jovens.

Bom, decidi tomar o caminho que eu temia por imaginar previsível. Previsível? Não poderia estar mais enganado! De previsíveis esses últimos vinte anos não tiveram nada, assim como não seria previsível qualquer caminho que eu viesse a tomar, qualquer rumo que eu tivesse escolhido.

Por que a vida não é previsível.

E não é uma linha reta que percorremos desde o momento que nascemos até o inexorável fim, a morte: a vida é muito mais que isso. A vida é o caminho, a estrada, e que é cheia de curvas e desníveis e desvios. O que fazemos durante o percurso é o que faz valer à pena percorrê-la. Tão ou mais importante que o destino numa viagem é o trajeto até lá; assim como a volta é parte fundamental da viagem, mas não devo entrar na metafísica...

Onde me encontro hoje?

Caminhando para os quarenta anos (em três anos e meio), ainda jovem, muito jovem, com muitos projetos de curto, médio e longo prazos, alguns talvez irrealizáveis, mas quem se importa? Trabalhar o suficiente para viver bem e poder realizar alguns desses planos, e me divertir com os amigos enquanto andamos juntos por essa estrada.

Até.

Um comentário:

Claudio Costa disse...

Caminhantes é o que somos; por caminhos imprevistos, você o disse. Identifiquei-me com sua angústia de anos passados, pois eu também quero(ia) muito, principalmente ter muito tempo de vida. E hoje descubro, perplexo, que quanto mais tempo de vida tenho, menos tempo de vida terei. Filosofices...