domingo, outubro 26, 2008

A Sopa 08/13

Tenho pouco cabelo.

Isso é uma verdade inquestionável. Não nego o fato, aliás, estou bem tranqüilo com a situação. É da vida, para que lutar contra algo que não depende de mim, que é determinado geneticamente?

Se estou bem comigo mesmo, se não importo em ter os cabelos escassos, o mesmo não acontece com o mundo. As pessoas se preocupam com o fato de eu ter perdido cabelo (mesmo que não todo), e acham que eu não percebi o acontecido. O que me faz lembrar de uma máxima da vida em sociedade: existem comentários que não se deve fazer, por óbvios demais.

Nunca deves dizer para uma mulher que ela está gorda. Nunca, jamais. Ela sabe que está, e o comentário só resultará em mais ansiedade e mágoa dela com ela mesma e com quem foi indelicado a ponto de fazer esse tipo de comentário. A outra situação em que qualquer palavra é desnecessária (no sentido de fazer um alerta, ou algo semelhante) é dizer a alguém que “estás ficando careca”. Se está ficando, já sabe que se tornará. Quem é que – em sã consciência – passas anos sem se olhar no espelho até o dia em que um amigo prestativo comenta sobre sua calvície, olham-se no espelho e – chocado – percebe que cabelos longos já não existem (nem curtos). De novo, o óbvio: se alguém parece estar ficando careca, não há necessidade de se apontar esse fato porque a “vítima” JÁ SABE QUE ESTÁ PERDENDO CABELO!

É sério, você – prestativo leitor – que acha importante alertar seus pares de que estão sofrendo da perda progressiva e inexorável de seus cabelos, saiba que não há esta necessidade: ele já sabe disso. Mais, ele não precisa de conselhos de tratamentos com medicamento ou até mesmo implantes: se ele quisesse, já os teria procurado.

O pior, contudo, não é isso.

O pior são os “ex-carecas”, aqueles que fizeram algum tipo de tratamento que “melhorou” a situação e agora querem que faças o mesmo, querem dividir o sucesso que alcançaram. Mesmo que nunca tenha te visto antes, sejam totais estranhos, ou até mesmo pacientes.

Aconteceu comigo. Estava, esses tempos, com um paciente e, durante a entrevista médica, perguntei sobre história de problemas de pele e queda de cabelo. Respondeu que não, que havia feito implante de cabelo e que teria ficado perfeito. Nem havia reparado nesse detalhe, quando comentou, no espírito do paciente que quer que seu tratamento resolva o dos outros: “Bem que poderias fazer um...”

Olhei para ele em silêncio (palhaço!, imbecil!, filhadaputa!, vai tomar no teu cu!) e disse que ia pensar...

Tem gente que não tem noção.

Até.

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