sábado, novembro 15, 2008

Sábado (sem fotografia)

Pequeno caso nada incomum em medicina.

Com uma certa freqüência, que chama a atenção porém não chega a irritar, durante uma consulta médica, no momento em que explicas ao paciente o que é que ele tem e qual o tratamento adequado, indicando uma medicação, ele te pergunta:

- Doutor, isso não vai me fazer mal?

Depois de um tempo ouvindo a mesma pergunta repetidas vezes, é quase impossível resistir à tentação e dizer, sei lá:

- Vai fazer mal, sim. Vocês me descobriram, eu sou um assassino, fujam porque eu tenho uma arma na minha pasta, para o caso de o senhor não tomar o remédio por bem...

Isso é, muito provavelmente, reflexo desses tempos de relações médico-paciente não muito sólidas, de pacientes que não procuram o médico em especial, mas sim o do convênio, muitas vezes saindo da consulta sem lembrar do teu nome. Eu, por exemplo, numa clínica que atendo (não o meu consultório), faço questão de me apresentar, reforçando o meu nome para que saibam quem os está tratando. Sabendo com quem estão lidando ("meu médico é o Dr Marcelo") sendo atendidos com atenção, fica menos provável que deixem de fazer algo que se recomenda ou receita por desconfiança.

E mesmo com tudo isso, estabelecendo uma boa relação de confiança com o paciente, sendo atencioso, sabendo ouvir e esclarecendo suas dúvidas, orientando, apesar de todo esse cuidado, sempre tem uma vizinha que chega e diz que "a bombinha vicia" ou "ataca o coração" ou mesmo "a bombinha mata", recomenda um tratamento alternativo com alguma planta ("se é natural não pode fazer mal") ou simpatia, e todo o teu trabalho deve ser recomeçado na consulta seguinte...

As vizinhas são o inimigo da boa saúde.

Até.

Um comentário:

Allan Robert P. J. disse...

Lembro da última vez em que estive em um hospital no Brasil: pela dor, acreditei tratar-se de OUTRA crise de cálculo renal. O médico do pronto-socorro me atendeu com a cabeça baixa, sem responder ao meu "boa-tarde" e sem me dirigir um olhar sequer. Fazia as perguntas para preencher o formulário em modo mecânico. Acabamos discutindo, é óbvio. Já o excelente ortopedista que reconstruiu meu pé numa madrugada de 96, acabou virando meu amigo.

Na Itália é obrigatório escolher um médico de família, que é quem prescreve exames e visitas especialísticas. Decidi mudar o nosso por absoluta falta de atenção.

Nesses tempos de internet e acesso às informações, as pessoas esquecem que só quem estudou e vive da profissão tem capacidade para avaliar as diferenças entre pacientes e interpretar sintomas.

Boa sorte! :)