domingo, novembro 16, 2008

A Sopa 08/16

Tenho pensado na verdade.

Você sabe, estimado leitor. Falo daquela Verdade escrita assim, em maiúsculas, única, inquestionável. A Verdade, aquela por detrás e acima de todas as versões. Essa mesma.

Ela não existe.

Eu entendo que isso possa não surpreender vocês, mas houve um momento que surpreendeu a mim, que imaginava ser meu dever ir atrás dela e então fazer meu norte. Descobri que ela é uma ficção, uma quimera. Só que até isso acontecer, tive alguns problemas. Chato, isso, mas não vem ao caso. Falava eu da verdade, e já não a escrevo com maiúsculas, e queria dizer que ela é alguma coisa que está entre as versões, essas sim reais e quase palpáveis.

Nenhum fato é um fato em si, único. Todo fato é algo que ocorre e a forma como as pessoas o vêem e interpretam. O mesmo evento pode ter significações diferentes para duas pessoas que o vivenciaram ao mesmo tempo, e ter interpretações diferentes para a mesma pessoa em momentos diferentes. Por isso, pelo caráter fluido disso que chamamos verdade, pelos eventos e suas interpretações, é que não deveríamos dar palpites ou conselhos para pessoas a respeito de suas vidas pessoais.

Porque só pode dar confusão.

Por outro lado, em um imbróglio de casal, é sempre aconselhado ouvir os dois lados da história, as duas versões, antes de emitir um juízo, qualquer que seja. E mesmo conhecendo muito bem um dos envolvidos, sendo muito próximo, tendo todas as informações possíveis para se emitir um parecer, ainda assim o risco de erro é grande, o que me lembra um fato do verão de 1995, quase quatorze anos atrás.

Verão de 1995, então.

Recém formado em medicina, iniciando a residência médica, havia terminado no final do ano anterior um namoro de oito meses com uma menina que conhecera numa festa no ano anterior. Éramos muito diferentes e, sob certo prisma, vivíamos em mundos diferentes. Nossos círculos de amizades não tinham sequer um ponto de contato, nenhuma afinidade.

Uma noite de fevereiro daquele ano, um grande amigo meu foi me visitar em casa para batermos as conversas em dia e, em mais uma daquelas longas conversas que começam num ponto e terminam onde menos se espera, chegamos à conclusão de que eu ainda gostava daquela menina. Ele é quem deu o toque, que eu deveria ir atrás dela. Fui, e no final de semana seguinte – carnaval – fomos, eu e ela, para a praia.

E foi uma merda.

Nada deu certo, não acabamos juntos e perdi um carnaval na praia. O amigo que deu a dica de ir atrás da menina até hoje se ressente do conselho dado (mas ele sabe que ficou tudo bem, que não era para ser, não tinha nada a ver). Evidentemente continuamos amigos na boa, há mais de vinte anos. Outras vezes a confusão foi porque eu inventei de dar palpite, mesmo quando foi solicitado que eu o fizesse. Por uma palavra dita ou (pior) escrita fora de lugar, já quebrei a cara, me tornei o cara mau. Nada que algumas explicações e as devidas desculpas não tenham resolvido.

Mas foram boas lições.

Hoje, tento ao máximo não me meter nesse tipo de confusão. Porque nem sempre o que é certo para mim o é para outro; e porque não devo (ninguém deveria) tentar impor minhas (suas) verdades para os outros. Porque a verdade quase sempre está no meio das diversas versões e opiniões que aparecem, e não ainda gritar mais alto porque aí sim é que ela se esconde ainda mais.

Até.

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