Histórias de vestiário.
Durante todo o ano passado, exceção feita aos meses de novembro e dezembro, pratiquei atividade física regular, ao menos três vezes por semana. Às segundas-feiras no final da tarde e, às quartas e sextas, de manhã cedo.
Bem cedo.
Acordava nesses dias às 5h15 e pouco antes das 6h da manhã estava entrando na piscina para a atividade matinal antes de começar o dia de trabalho. Fugia do sendentarismo e - bônus - me sentia muito bem pelo fato de às 8h da manhã já ter feito a atividade física do dia. Ganhava duplamente, com o ganho de auto-estima.
Todas as vezes em que chegava no clube para nadar, me divertia em pensar se eu seria o primeiro a entrar na piscina - nos estertores do verão ainda ao ar livre e depois na térmica. Na maior parte das vezes, não o era. Boa parte das vezes era o segundo ou terceiro, algumas poucas estreava a piscina no dia. E ainda tinha a vantagem de - na hora do banho - o vestiário estar vazio e silencioso. Os poucos que chegavam nessa hora pouco falavam, alguns "bom dia" e pouca conversa naquela hora da manhã. Como não conhecia ninguém, a não ser de vista, era - para mim - momento de silêncio e paz.
Corta para a semana que passou.
Por questões logísticas envolvendo levar a Marina da casa dos meus pais - zona sul - para o clube, onde ela participa do projeto verão, mudei minha rotina de sexta-feira: saí da Santa Casa e, ao invés de ir para a PUC para depois ir até a zona sul e de volta até o clube e aí de novo para PUC, decidi ficar perto do Centro e Moinhos de Vento.
Fui nadar.
Tudo certo, tudo bem.
Ao sair da piscina, encontrei o vestiário cheio. Como sempre, em silêncio, fui tomar banho, mas foi impossível deixar de ouvir uma conversa que acontecia animada e em alto e bom som. Conversavam dois amigos enquanto tomavam banho.
Cheguei no vestiário no momento em que falavam sobre o tipo de roupa que as mulheres usavam na noite ("de vadia"), e sobre algumas que haviam conhecido. Até que um disse: "não quero mulher com filho, é complicado", e o outro respondeu que "se é para alguém vir com pacote, que seja só tu, né?". E o outro concordou. Depreendi que ambos era separados e com filhos. E daí, foi ladeira abaixo, sem freios. Um clichê machista após o outro. E outro. E mais um.
Dez minutos de como não se deve pensar o mundo e a vida.
Vou voltar a nadar de madrugada.
Até.