segunda-feira, maio 31, 2010

Fim

Estou com o memorando da minha transferência em mãos.

Agora é oficial.

Consegui.

Até.

domingo, maio 30, 2010

A Sopa 09/42

Tranqüilo.

Domingo à noite, sento em frente ao computador para preparar essa Sopa de todas as semanas, mas que tem sido negligenciada nos últimos tempos pela avalanche de acontecimentos que é a rotina da vida. O foco tem estado distante daqui, e a energia que vinha gastando nos últimos dois meses e meio – em especial – estava me privando de muitas coisas das quais eu não estava disposto a me privar, e sofria com isso, e desperdiçava mais energia ainda.

Uma merda, em resumo.

Quem acompanha essa Sopa de todos os domingos tem uma idéia do que estava acontecendo, e não vejo necessidade de explicar mais uma vez além das milhares de vezes as quais já tive de fazer. Explicarei, contudo, o que isso significou, enquanto experiência que leva à reflexão, como uma oportunidade de pensar a vida. Pensando bem, todas as situações de vida são oportunidades de se (re) pensar a vida, em maior ou menor intensidade.

Voltando ao meu umbigo, estava numa situação em que havia sido aprovado num concurso público e, ao tomar posse do cargo, estava sendo designado para exercer uma função totalmente diferente daquela para qual eu havia feito o concurso. Além de ilegal, uma total falta de bom senso. Primeiro, conversei educadamente e tentei encontrar uma solução pacífica. Não foi possível. Propuseram uma situação longe da ideal e ainda em desvio de função. Disse que topava, mas não houve acerto com o novo local. De volta à estaca zero, pressionei com mais intensidade e foram algumas semanas de conversas que resultaram numa reunião de duas horas que havia parecido resolver o problema, mas era alarme falso. Estaca zero novamente. Apelei ao bom senso, mas recomendaram procurar a justiça. Disse que não faria, e que se tinha que ser assim eu preferia pegar o meu boné e ir para casa. Anunciei que era o fim, e estava tranqüilo com isso.

Numa penúltima jogada (a última seria –metaforicamente falando – cair atirando) procurei instâncias superiores (ainda mais) e expus o caso, além de encaminhar um ofício. Uma semana após esse último (penúltimo, no caso) ato, recebi por telefone a confirmação de que eu estava certo e que tudo estava resolvido da forma correta. Aliviado, não me senti vitorioso. A justiça havia sido feita. Amanhã, vou tratar das questões burocráticas finais, e espero que se confirme o que me foi informado por telefone.

Mas de que serviu essa confusão?

Para eu, mais uma vez, confirmar aquilo que eu quero para a minha vida. Reafirmar quais são as coisas que realmente importam, aquilo pelo qual vale à pena lutar. Depois de dois meses confusos, em que perdi e tive que brigar para recuperar o controle sobre o meu tempo, já posso direcionar minha atenção a tudo o que faz sentido no meu mundo e que havia sido obrigado a deixar de lado temporariamente.

O sentido da vida.

Até.

quinta-feira, maio 27, 2010

Day After

Semana que vem, defino toda a minha situação funcional (que já está encaminhada como deveria ter sido desde o início).

Agora posso me preocupar com o que realmente interessa.

Até.

quarta-feira, maio 26, 2010

A novela

Está, finalmente, em seus últimos momentos.

No mais recente capítulo, passado nessa quarta-feira que em breve se encerra, o nosso herói - quando mais uma vez tudo parecia perdido - recebeu uma ligação de figura-chave na trama indicando quatro caminhos que antes eram inacessíveis agora transformados em opções viáveis e possíveis. Um deles, inclusive, era o desejado por todos. Mais tarde, no mesmo dia, ligou também outro personagem com acesso ao alto poder para dizer que o problema seria resolvido, conforme prometera há exatamente uma semana.

Como em toda novela que se preze, o final feliz está reservado para o último capítulo, segunda-feira próxima.

Já posso dormir tranquilo.

O objetivo foi alcançado.

Vitória?

Não. Justiça.

Até.

domingo, maio 23, 2010

A Sopa 09/41

(Ainda em litígio com a Secretaria de Saúde de Porto Alegre e com minha situação indefinida, tudo é mais tranqüilo, e a falta de tempo para escrever uma Sopa nova é devido ao final de semana intenso que passei com a Jacque e a Marina. Por isso, uma Sopa e cinco anos atrás, quando ainda morava em Toronto. Se tudo correr bem, em pouco tempo volto a escrever com calma).

Vocês não fazem idéia do que este tempo aqui no Canadá está representando e vai significar para a minha vida profissional e pessoal no futuro. Nem eu.

Melhor mudar de assunto, então.

O exílio (e falo do meu exílio canadense, que não o é no sentido mais comum da palavra) é composto ou formado por várias partes, ou etapas. Elas vêm em seqüência e se misturam, o início de uma não implicando necessariamente no final de outra. A melhor forma de ver – e a minha opinião é que conta, afinal é a minha vida e meu exílio – é como se fossem graus crescentes de complexidade.

A primeira fase, o início, foi a chegada aqui. O fato de ter vindo sozinho, deixando a vida que eu vivia para trás, fez com que fosse a fase mais difícil, ou mais sofrida. A culpa de ter vindo (não ter ficado ao lado daqueles que amava e amo) associada ao chegar a um lugar desconhecido, sem referências, sem contatos, foi como tirar o chão sob os meus pés. A sensação principal era a de ser um fantasma. As pessoas passavam por mim e não me viam, ninguém me reconhecia e eu não reconhecia ninguém. O momento desestabilizador. É como se te arrancassem do teu mundo e colocassem em outro, sem nada. Fica-se como um barco à deriva, perdido, flutuando no ar. É o momento de desistir: a tentação de fugir, voltar ao porto seguro é grande. É a primeira prova de resistência.

Respira fundo uma, duas, três vezes. Para evitar o desespero, medidas práticas. Onde morar, burocracias mil, comprar coisas para o apartamento vazio. Isso enquanto não há uma rotina estabelecida, um roteiro a cumprir diariamente. Começar a criar as primeiras referências na cidade, no país.

A primeira fase é, em suma, “desintoxicação”. Aprender a viver sozinho, a conviver com e superar os fantasmas que todos temos. Viver sozinho (totalmente, sem conhecer ninguém, sem as referências locais próximas) não é simples, o início realmente é difícil. Mas é necessário, precisamos “ir ao fundo” para começar do zero. Temos que aprender por conta própria que somos capazes. Que somos fortes.

Até.

sexta-feira, maio 21, 2010

Sexta-feira

Como tenho deixado implícito, minha celeuma ainda não terminou.

A expectativa é de que ocorra na próxima semana, e que seja a meu favor.

Pra ser sincero, ainda não tenho certeza daquilo que é o melhor para mim.

O que sei é o que eu não quero, e isso eu larguei. Amanhã faz uma semana.

E tenho dormido bem mais tranquilo.

Até.

segunda-feira, maio 17, 2010

domingo, maio 16, 2010

A Sopa 09/40

“E depois?”

Essa foi a pergunta que me fez o Allan (do blog Carta da Itália) ao ler as últimas atualizações do meu imbróglio com a prefeitura de Porto Alegre, mais especificamente com a Secretaria da Saúde. Perguntou isso após ver uma foto com a legenda “a road to freedom” e dizendo que me despeço do serviço público.

Para quem não acompanhou ou cansou de ouvir falar a respeito (eu mesmo cansei disso tudo, sintoma que pode ajudar a defini-la de vez), um resumo.

Fiz concurso da Prefeitura de Porto Alegre para Médico Pneumologista e fui aprovado em 2º lugar. Dois anos após o mesmo, fui convocado, tomei posse e, apenas após isso, fui informado que havia sido designado para função de emergencista e lotado no SAMU, serviço de atendimento de urgência, num claro desvio de função. Comecei na função e tentei me adaptar, o que não foi possível devido a circunstâncias da minha vida profissional e pessoal.

Comecei, então, uma maratona de conversas e reuniões tentando conseguir a transferência para a função para a qual fiz concurso. Surgiu uma oportunidade que seria perfeita, atuando como pneumologista e num local geograficamente bem situado com relação aos meus roteiros diários por Porto Alegre. Pareceu que a situação seria bem resolvida, afinal de contas. Mas nem sempre as coisas são como deveriam ser.

Tudo culminou na última quarta-feira quando o próprio secretário da saúde me ligou me oferecendo uma vaga em outra função que não era aquela a qual eu havia feito o concurso, com o agravante de que era geograficamente inviável para mim. Disse a ele que não tinha como ajudar. Perguntei sobre aquela oportunidade que havia, e ele fechou as portas a ela. Ainda apelei para o bom senso, conversando mais duas vezes com o assessor direto dele.

Sem sucesso.

Cheguei ao meu limite, então, e resolvi me exonerar do serviço público, após apenas dois meses desde que comecei. Comuniquei a minha chefia direta que a partir de sexta-feira (quando estaria de plantão novamente) já não estarei mais trabalhando (estava de plantão ontem e, apesar de aconselhado a não aparecer no trabalho, minha consciência me mandou ir para não deixar nenhum colega na mão). No momento em que escrevo essa Sopa, já fiz o plantão e não farei mais. Se nada mudar nos próximos dias (ainda aguardo a remota possibilidade de alguma mudança a meu favor), no final do mês estarei oficialmente fora.

Num momento em que tudo o que dizem nas ruas e na imprensa é que faltam médicos e especialistas no serviço público, que atendam no postos de saúde (que tem a remuneração menor que o pronto-socorro e o SAMU), acho o fim do mundo eu, médico especialista, com doutorado e pós-doutorado no exterior, que estou disposto a trabalhar no posto de saúde, ser obrigado a me exonerar porque não consigo exercer a função na qual me especializei e para a qual fiz concurso. Perguntam-me por que não entro na justiça, como outros fizeram.

Por uma questão de princípios. Não vou entrar na justiça para requerer algo que é meu por direito. Estou certo, tenho razão, e não vou ficar à mercê de decisões ou falta de vontade política dos gestores públicos. A justiça estaria do meu lado (porque tenho razão), mas me recuso a seguir esse caminho nessa situação. Talvez o serviço público não seja, no fim das contas, para mim.

Outra pergunta que me foi feita foi “por que não ficar lá até conseguir transferência para onde queres, ou ao menos até o final do estágio probatório?”.

São três anos de estágio probatório, e nenhuma garantia de conseguir a transferência após esse prazo. Não tenho três anos para jogar fora fazendo plantões e não sendo dono do meu tempo. O que significa isso? Que as escalas de plantão são feitas mensalmente e não tenho controle sobre isso. Qualquer planejamento fica na dependência de conseguir trocar os plantões ou compensá-los dobrando carga horária em outros momentos. Trabalhando finais de semana, que é quando teria mais tempo para ficar com minha filha (ter pacientes internados e ir vê-los nos finais de semana é um coisa, ficar vinte e quatro horas de plantão é outra bem diferente).

O meu tempo livre – aquele que dedico à família e aos amigos – é muito valioso para deixar sob controle de outros. Qualidade de vida é tudo o que busco, sempre.

Chego então à pergunta que me fez o Allan: “e depois?”.

Bom, vou direcionar meus esforços e tempo a algumas coisas que não estava conseguindo fazer, vou realocar mais tempo para atividades profissionais onde sou o meu próprio chefe, como meu consultório, e tenho certeza que em pouco tempo estarei até mais tranqüilo que no serviço público.

E como nada na vida é definitivo, se por acaso a prefeitura mudar de idéia em tempo (no que não acredito), talvez ainda possa continuar. Mas nos plantões, certamente não.

Até.

sábado, maio 15, 2010

Sábado (e "a road to freedom")

Costa da Ligúria

Bom final de semana a todos, enquanto vivo meus últimos
momentos no serviço público.

Até.

quarta-feira, maio 12, 2010

Kafka

Fui chamado hoje para uma reunião na Secretaria de Saúde de Porto Alegre.

Imaginei, pelas informações que eu tinha, de que a minha situação seria resolvida em breve. Chegando lá, a surpresa: estavam me oferecendo uma saída para a situação que seria bem pior a emenda que o soneto. Frustração.

Fiquei duas horas em reunião com o coordenador da área, a primeira achando que iria me exonerar da prefeitura e a segunda comprovando que havia uma solução (simples, na verdade) para a mesma. Convencido disso, ficou de conversar e pegar o aval do secretário de saúde para a solução (que é simples e lógica, puro bom senso). Voltei para o plantão tranquilo, sabendo que a solução estava próxima.

Cerca de uma hora depois, me liga o Secretário da Saúde em pessoa, para justamente me oferecer a emenda que era bem pior que o soneto. E a solução (que é simples, lógica e de bom senso), perguntei. Sem chances, declarou.

Frustração, novamente.

Bem, resolvi o problema cá com meus botões.

Deixo o próprio perceber que a melhor solução é a mais simples e lógica e de bom senso e tudo se resolve, ou pego meu boné, devolvo o macacão, e vou para casa, trabalhar por conta.

É o que eu queria?

Não, evidentemente, afinal fiz um concurso, e não acho demais solicitar ser designado para trabalhar na função para a qual fiz concurso.

Mas é uma questão de respeito próprio.

Até.

domingo, maio 09, 2010

A Sopa 09/39

(Uma Sopa de cinco anos atrás, porque ainda estou enrolado com assuntos profissionais que requerem minha máxima atenção).

Tenho sido um homem angustiado.

Por causa do Abominável Homem das Neves.

Não, não tem nada a ver com o fato de eu estar no Canadá, teoricamente mais perto. Nem é porque não tenha nada mais importante ou mais interessante com o que me preocupar. Também não imagino que ele ande por Toronto nem que escale prédios, coisa e tal. Nada a ver. O que me intriga é algo um pouco diferente.

Yeti, uma imensa criatura bípede, não-humana, que viveria nas montanhas do Tibet, é também conhecido por Raksha, palavra em sânscrito que significa demônio. Hirsuta criatura, muito alta, com altura aproximada de 2,1 a 3 metros, pés duas vezes maiores do que os humanos, já foi “visto” também na China, no Nepal, Sibéria, e… Canadá. Mas, como já disse, não é isso que me preocupa.

Por que Abominável?

Pode ser pelo seu odor, dito desagradável, também possivelmente por sua hirsutez e não uso regular de xampus adequados ao seu tipo de cabelo, sei lá. Mas, de antemão, já sabemos que não vamos gostar de encontrá-lo: ele é abominável. Logo, vamos abominá-lo. Isso é grave, pesado.

Abominar algo ou alguém é coisa muito séria. Muito radical (nada pessoal, Radi), definitivo, até. Se abominas uma coisa, é sinal de que nunca vais gostar dela. Não há a menor chance. Se fosse o Desagradável Homem das Neves ou o Inconveniente Homem das Neves, tudo bem. Mas Abominável é definitivo. Ponto.

Fico imaginando o que ele fez para merecer esse epíteto. Comia de boca aberta, liberava sonoros e nauseabundos flatos enquanto à mesa, não tomava banho. O que pode ter feito ele para que se tornasse alguém que previamente sabemos que vamos abominar, mesmo antes do sermos pessoalmente apresentados?

Mais um dos mistérios desse mundo…

Eu, quando mais novo, abominava algumas coisas e até algumas pessoas. Hoje, já não perco tempo e/ou energia com esse tipo de sentimento. A indiferença é muito mais eficiente.

E você, abomina algo ou alguém?

Pensa e me diz…

Até.

quinta-feira, maio 06, 2010

Noite

De plantão, antes de viajar para um congresso, não encontro tempo para pensar na vida. Aliás, quase não tenho tido tempo para pensar, não importa se na vida ou em quem ou o que quer que seja. Tempo é o que faz falta.

E tempo é o que mais desejo agora, para poder passar o tempo que me propus passar junto da minha família, e da Marina em especial. Justamente quando eu mais precisava de/queria tempo, ele parece escorrer pelas mãos. Não me queixo. Encaro o tranco e tento tornar a vida mais tranquila em meio à loucura.

Fisicamente, ando cansado. Muito.

Mas feliz, MUITO MAIS.

Até.

domingo, maio 02, 2010

A Sopa 09/38

(Uma Sopa de cinco anos atrás, porque estou enrolado com assuntos profissionais que requerem minha máxima atenção).

Bob & Bono.

Na primeira parte de sua autobiografia, intitulada Chronicles Volume One, Bob Dylan conta a respeito de uma noite em que o Bono Vox, vocalista do U2 foi jantar na casa dele e ficaram conversando até madrugada. Fiquei imaginando como terá sido.

Se não me engano, nessa época Dylan morava em Rhode Island, não muito longe de Nova York, com certeza perto do mar. Imagino sua casa num típico subúrbio norte-americano, muito verde à volta, uma cozinha com grandes janelas que dão para o pátio, nos fundos da casa. Talvez o piso de madeira, uma grande mesa. Um pouco mais ao fundo, o mar.

Noite, a visão que se tem de dentro da cozinha é quase que inteiramente escuridão. Bono havia trazido um caixa de Guiness, a cerveja irlandesa. De todos os que participaram do jantar, a última a sair foi a Sra. Dylan, que se despediu dizendo que precisava dormir e perguntando ao marido se ele ia demorar muito para subir, e ele respondeu que logo iria se juntar a ela.

Horas depois, estão os dois ainda sentados em volta da mesa conversando. Quem somos, para onde vamos, qual o sentido da vida. Questões que brotam numa noite de inverno após algumas cervejas. Talvez tenham querido escrever alguma música juntos, mas acharam melhor não.

Com a palavra, Bob Dylan.

“… Spending time with Bono was like eating dinner on a train – feels like you’re moving, going somewhere. Bono’s got the soul of an ancient poet and you have to be careful around him. He can roar ‘til the earth shakes. He’s also a closet philosopher… We were talking about things that you talk about when you’re spending the winter with somebody…”

Até.