domingo, fevereiro 28, 2010

A Sopa 09/29

Tenho que quer muito cuidado com que escrevo.

Escrever, afinal de contas, é uma atividade que comporta uma responsabilidade enorme e, mesmo que os leitores dessa Sopa estejam cada dia mais escassos e sejam em sua maioria familiares, isso não diminui em nada o peso daquilo que escrevo. Na verdade, é exatamente o oposto. Os meus escritos têm um peso grande, e sou cobrado pelo que consta lá.

Como quando eu escrevi sobre o sagu, a melhor sobremesa do mundo. A partir daí, sempre que eu tinha de escolher uma sobremesa em frente às pessoas, criava-se a expectativa e rolava certa decepção e cobrança se eu não pedisse sagu. Mas eu nunca disse que só gostava de sagu, que desprezava as outras sobremesas! Eu só disse que era a melhor, na minha avaliação.

Da mesma forma quando eu declarei minha frustração por morar num apartamento sem churrasqueira, afinal eu não tinha a opção de fazer churrasco quando eu bem entendesse. Foi interpretado como se eu fosse alguém louco para fazer churrascos pelo mundo afora. Chegaram até marcar churrascos para eu fazer, inclusive com convidados diversos! Quando tudo que eu disse era que queria poder fazer churrasco quando eu tivesse vontade...

Em outras palavras, tenho sido responsabilizado pelo que escrevo.

Nada mais justo. Se não quero ser cobrado pelo que digo/escrevo, o melhor é ficar de boca calada, ou deixar a página em branco.

Mas não consigo, e vou “me afundar” de novo.

Estava há um tempo com vontade de comer churrasco (assunto recorrente) em uma dessas churrascarias selvagens, daquelas em que se vai para comer bem, sem grandes pudores. Mesmo sabendo que a relação custo-benefício de ir a um local desses não é boa, afinal o preço é bem alto e acabamos comendo pouco, estava decidido a ir. Principalmente por que era um desejo específico.

Mesmo porque almoço churrasco todas as sextas-feiras. Nos cerca de quarenta minutos que tenho para almoçar no último dia útil da semana, costumo ir a uma churrascaria que tem um bufê de saladas e pratos quentes e dois ou três cortes de carne de churrasco pelo preço de um bufê normal, nem barato nem caro. Isso para dizer que minha vontade de ir numa churrascaria não é abstinência de churrasco, é (era) desejo mesmo.

Acontece que – por diversas vezes nos últimos meses – tive a chance de ir numa dessas churrascaria e na hora desisti. Não sabia por que razão isso acontecia. Fiquei curioso, fui pesquisar. Inclusive indo numa churrascaria tradicional no último sábado. Pensei muito até que descobri.

Estou com saudades de um churrasco no Vicente.

O Vicente é tio da Jacque e mora aqui em Porto Alegre, na zona norte, num chalé que tem nos fundos uma área com churrasqueira que é perfeita para fazer churrascos no inverno (eu e minhas saudades do inverno). Ele é o típico “botador de pilhas”, o cara que reúne as pessoas, que chama para si a responsabilidade de ser gregário, de juntar todos em volta. Lá, a carne é boa e cortada em pedaços que comemos com garfo ou com as mãos, sem muitas frescuras, e a qualquer momento pode (e vai) irromper a música, principalmente se os outros irmãos estiverem lá. Longas horas de conversas e música e vinho e histórias.

É isso, estou com saudades do churrasco do Vicente.

Até.

sábado, fevereiro 27, 2010

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Nem tudo está perdido

Ainda sobre a "polêmica" sunga x bermudão, recebo o seguinte e-mail de uma amiga de Porto Alegre que agora mora em Recife:

Venha para Pernambuco!

Aqui, a maioria dos homens usa sunga. No máximo, um short. Usar bermudão é coisa de gente de fora. Na verdade, aqui, ninguém se importa muito com forma física na praia. A maior parte dos usadores de sunga não têm nenhuma preocupação com forma física, querem mais é ir para a praia e passar o dia tomando cerveja, comendo besteiras e conversandos com os amigos (também usuários de sunga). Além disso, os que se preocupam um pouco com a estética, compram o dito "sungão", uma sunga um pouco mais larga nas laterais. E só.

Esse estilo de vida também se reflete fora da praia. As pessoas aqui não se vestem para mostrar que são isto ou aquilo. É extremamente comum frequentar lugares "chiques" e encontrar pessoas vestidas de maneira simples e com grandes contas bancárias (justamente o contrário do que acontece no RS...). Dia desses, comemorando meu aniversário, fui jantar num restaurante oriental-tailandês àla Koh Pee Pee, que abriu recentemente em Boa Viagem (NIKKO). Todo metido a besta como diriam os gaúchos. E, realmente, o ambiente e o preço eram sofisticados. Lá estávamos, quando entrou um grupo de casais onde um dos homens vestia sandálias Havaianas. Entrou, sem nenhum constrangimento e parece que a única pessoa que reparou no acessório fui eu...a gaúcha.

Ainda tenho o que aprender por aqui.

Não abra mão da tua sunga!


Ainda resta esperança no mundo. E talvez se chame Pernambuco.

Até.

domingo, fevereiro 21, 2010

A Sopa 09/28

Uma polêmica.

Tenho a impressão de que gaúcho, quando não tem mais nada a fazer, resolve criar uma polêmica. Está lá, de bobeira, na paz, e pensa: “Está tudo muito calmo, acho que vou me indispor com alguém...”. E, geralmente, compra briga com um vizinho ou outro conterrâneo qualquer. Não faz muito sentido, mas talvez se explique pelo nosso passado belicoso, tendo que defender fronteiras, essas coisas. E como agora não há mais inimigos externos contra os quais lutar, como não precisamos diuturnamente defender nosso território, voltamos nossas energias a discussões muitas vezes bobas e inúteis.

Pois domingo passado, ao abrir o jornal, me deparei com uma “polêmica” que se enquadra na categoria do “ninguém tem mais nada de importante a fazer?”. Faz todo o sentido, isso de tentar criar uma controvérsia no jornal de domingo de carnaval, afinal é uma época em que não existe outra pauta que não as pessoas atrás de trios elétricos, desfiles de escolas de samba, pessoas ditas “celebridades” freqüentando camarotes de cervejarias nos diferentes lugares do Brasil. Nada acontece. Sem falar que o jornal de domingo, principalmente os cadernos acessórios (não a parte principal) são fechados na quarta ou quinta-feira anterior ao domingo em que serão publicados.

Dessa forma, imagino um editor de um caderno de variedades tendo que encontrar um assunto que motive o leitor em pleno feriadão dos festejos carnavalescos. Não deve ser fácil. Até que algum gênio se sai com a idéia de publicar sobre uma polêmica que deve tirar o sono de muita gente (ironia, ironia): usar sunga ou bermudão na beira da praia? Convidam alguns autores a se posicionarem sobre o assunto e está feita a matéria.

Confesso que me senti atingido.

Por que sou um usuário de sunga.

Isso mesmo, estimado leitor, sou daquele grupo que usa sunga, caracterizado (com bom humor) pelos que opinaram como “o macho tenso e nervosinho”, “deselegante pra cacete”, “sujeito seguro, ainda que, muitas vezes, não tenha nenhuma razão para isso”, “se enquadra em uma das três categorias em que a sunga sempre cai bem: senhores de mais idade, gays ou o Paulo Zulu”, “passam protetor solar com aloe vera”, “geralmente mais chatos”, e “pessoal de pênis pequeno prefere sunga”.

De repente, me senti no mais baixo nível da escala social, quase a escória da sociedade. Eu, que achava que a praia era o lugar mais democrático possível, onde todos eram iguais (excluindo-se, claro, as praias privadas e os beach clubs), estava enganado. Há um código de postura, um traje adequado para ir ao mar, e eu estava assassinando impiedosamente o bom senso e as noções de estética e bom gosto. Eu era um pária.

Por isso, resolvi mudar.

Decidi nunca mais, na vida, usar sunga. A partir de agora, só bermudão, de preferência expondo ao sol apenas o meu tornozelo. Para o bem de todos e a felicidade geral da nação, decidi me vestir ao máximo quando for à praia. Pronto, superei essa polêmica, me rendi aos fatos, abandonei a liberdade de fazer o que tenho vontade em nome de um bem maior. Mas isso não é tudo, vou além. Começo aqui uma nova polêmica (não disse que gaúcho não vive sem polêmica?).

Biquíni ou camisetão?

Digo que em respeito ao bom gosto e ao senso de estética de quem frequenta praias, piscinas e locais de exposição ao sol, em geral, que não deveriam ser permitidas usar biquínis aquelas mulheres com medidas que fogem do padrão de beleza vigente. Essas iriam para a praia de camisetão. Tudo, claro, em nome da beleza e do bem geral. As afastaríamos do convívio geral assim como aqueles que usam sunga (deixando bem claro que abandonei o seu uso).

Que tal?

(ainda bem que a temporada de praia no sul do Brasil está no seu final, caso contrário eu seria hostilizado nas ruas e diria – enquanto apanhava e prestes a perder a consciência – “se não gostaram da mensagem, não matem o mensageiro”)

Até.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Ainda o carnaval

Lamartine Babo. Esse é (ou, melhor, foi) o cara.

Lamartine de Azeredo Babo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de janeiro de 1904. Décimo segundo filho do casal Leopoldo de Azeredo Babo e D.Bernardina Gonçalves Babo, teve contato com a música desde criança, pois sua mãe e uma irmã tocavam piano e o pai era amigo, entre outros, de Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense, que sempre freqüentavam sua casa.

Começou a compor desde cedo, e sua obra é vasta e inclui diversos estilos musicais, desde foxtrot, operetas, marcha-rancho até marchinhas de carnaval, estilo que ajudou a popularizar e até sobrepor em importância o samba, durante um certo tempo. Era um gênio, podemos dizer, e sua importância na história da música brasileira é incontestável.

No clima de carnaval, então, transcrevo para vocês uma das mais famosas marchinhas de carnaval de todos os tempos que é de sua autoria:


O Teu Cabelo Não Nega
(Lamartine Babo e Irmãos Valença)

O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor...
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor

Tens um sabor
Bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado
teu tenente interventor

Quem te inventou
Meu pancadão
Teve uma consagração.....
A lua te invejando fez careta
Porque mulata, tu não és deste planeta

Quando meu bem
Vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval

Mas não só as marchinhas de carnaval dele que fizeram sucesso estrondoso. Outra de suas composições, por exemplo, que foi gravada por muitos e que poucos sabem ser dele a letra (a melodia é do Ary Barroso), é a belíssima ‘No Rancho Fundo’, :


No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade....

No rancho fundo
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos dӇgua

Pobre moreno
Que tarde no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno
Ele pega da viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal deste moreno

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite e nem de dia

Os arvoredos
Já não contam mais segredos
Que a última palmeira
Já morreu na cordilheira

Os passarinhos
Internaram-se nos ninhos
De tão triste essa tristeza
Enche de treva a natureza

Tudo por que?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê


E tem gente que não gosta de música brasileira…

(Publicado em 05/02/2005)

domingo, fevereiro 14, 2010

A Sopa 09/27

Uma Sopa de carnaval, de cinco anos atrás.

Mais uma de carnaval.

Primeiro, deve ficar bem claro que não sinto falta do carnaval. Ao contrário de outras pessoas que – fora do Brasil – sentem-se “deprimidas”, para mim está tudo tranqüilo. Afinal, já não era um carnavalesco assim, assíduo. Ao contrário do que acontecia em outros tempos, já há muito passado.

Mas nem tanto. O último baile (isso, baile) de carnaval que fui foi há dois anos, na SAT (Sociedade de Amigos de Tramandaí), em Tramandaí, litoral do Rio Grande do Sul. Fomos em grupo. Não um bloco, mas uma turma. E foi bem legal, ficamos no baile até as cinco horas da manhã e depois terminamos a noite comendo um “xis” no Pica-Pau Lanches.

Explicações: o ‘xis’ (corruptela de cheeseburger, e que no Rio Grande do Sul é feito com um pão maravilhoso e com uma fartura de ingredientes como em nenhum outro lugar) do Pica-Pau era famoso pela sua qualidade, e tamanho, que incluía inclusive batatas fritas dentro, e era praticamente uma tradição terminar as noites de festa com uma passadinha lá.

Outras explicações: só participei de um bloco de carnaval nos tempos de folião assíduo. Foi o ‘Perversa’, e fomos nós que – em Imbé – começamos com o carnaval de rua na Av. Rio Grande. Explicação da explicação: lá por 1990, época em que Imbé era o centro da noite do litoral gaúcho, e a Av. Rio Grande era o centro da agitação com seus bares com música ao vivo, decidiram fazer um carnaval de rua que, na verdade, era num terreno ao lado de um dos bares. Nós, como bloco, fomos para lá.

No início, o pessoal ficava restrito ao terreno, enquanto carros passavam na avenida. Com o decorrer da noite, e num daqueles ‘trenzinhos’ característicos, que vai aumentando de tamanho à medida que vão passando e mais pessoas vão se juntando, começamos a atravessar a rua e a entrar em outros bares, chamando mais pessoas. E foi uma bola de neve, até que toda a rua foi invadida e carros não passavam mais. Nas noites seguintes e nos anos seguintes, a polícia antecipadamente bloqueava o espaço aos carros.

Aumentou muito em tamanho e número de pessoas com os anos, mas isso implicou – pelo fato de ser de rua e livre acesso – na presença de grupos dispostos a “esculhambar” muito mais que brincar. Assaltos e brigas foram o último estágio antes de o Imbé perder o posto de centro da noite no litoral para Atlântida, que desde então tem a principal noite do litoral gaúcho. Mas, nessa última fase, já não passávamos o carnaval lá. Nesta fase, já tínhamos nos mudado para os bailes de carnaval da SAT (a mesma que fomos, o Pedro, a Zeca, Jacque e eu, há dois anos).

Como falei outro dia, sou um fã dos carnavais de antigamente. Os carnavais das marchinhas, dos sambas-enredo das escolas de samba. Não daquelas festas de carnaval em que toca bate-estacas. Carnaval tem que ter música de carnaval, para o resto do ano temos as outras músicas. Ainda quero passar um carnaval em Salvador e um no Rio, desfilando numa das escolas, de preferência na Estação Primeira, do grande Cartola.

A música que publico hoje, do Chico Buarque, é uma obra-prima da música popular brasileira, composta em 1966.

Quem Te Viu, Quem Te Vê
(Chico Buarque)

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer


Até.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Nostalgia

Vão começar os Jogos Olímpicos de Inverno em Vancouver, e meu coração em parte canadense bate mais forte.




Até.

Fonte: Mirella

domingo, fevereiro 07, 2010

A Sopa 09/26

Clima e catástrofes naturais.

O verão segue inclemente aqui no sul do mundo. A última semana, em especial, foi de temperaturas acima de 40ºC e sensação térmica ainda mais alta. Fora do ar condicionado, a vida tem sido difícil.

A conta de luz, esse mês, vai às alturas.

Dizem que é o aquecimento global, que o clima está como está devido à mão do homem, que vem destruindo muito mais que preservando. Que seria uma reposta da natureza à agressão que já ocorre há muitos anos, e que a vida na Terra vai acabar cedo ou mais tarde.

Pode ser.

Mas penso – leigamente falando e não justificando nada – que também isso pode ser parte de alterações cíclicas que ocorrem no planeta em eras, gelo e degelo. Que não é (ainda) o fim do mundo. Mesmo assim, estaríamos contribuindo com esse ciclo através da poluição e do consumo desenfreado de elementos não-renováveis da natureza, como a água. O que, na prática, dá no mesmo. Ou seja, a preservação e o cuidado são importantíssimos para o bem do planeta.

Eu ia escrever que isso era chover no molhado, mas poderia parecer comentário de mau gosto para os amigos que moram em São Paulo, que vem experimentando um ano de 2010 de chuvas diárias e grande inconvenientes. Sei lá. Por outro lado, e ainda mantendo-me no mesmo assunto, eventos naturais, climáticos ou não, tem uma coisa que me intriga.

Existem situações que ocorrem sempre, e mesmo assim parecem surpresa cada vez que acontecem. Penso isso toda vez que vejo notícias a respeito das chuvas e seus estragos nos verões no Rio de Janeiro.

Todos os anos, próximo à virada de ano e nos primeiros dias do ano novo, chove muito no Rio de Janeiro. Lembro de assistir ao noticiário e sempre ver que a região Sudeste, e o Rio em especial, são atingidos por chuvas intensas e duradouras. Sempre. Esse ano de 2010 começou marcado pela tragédia em Angra dos Reis, com o deslizamento de terra e muito mortos em Ilha Grande. Foi uma fatalidade que nos deixou a todos tristes e solidários. Mas não foi uma total surpresa. Em Angra, no verão, chove, e muito. Todos sabem, e sabem do risco.

Lembro que – há uns bons anos – fomos passar uma semana de férias no Club Med Rio das Pedras, em Mangaratiba, litoral fluminense. O Club Med, rede francesa de resorts, presente em vários países do mundo, classifica os seus resorts em “destinos”, basicamente praia ou neve. O Rio das Pedras, em Mangaratiba, era chamado informalmente de “Destino Chuva”, porque chovia todos os dias. Aproveitamos ao máximo, mas estava sempre nublado e, em algum momento do dia, chovia. Porque todos sabem que lá chove, principalmente no verão.

Assim como todos sabem que o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, está sobre uma falha geológica, e se espera o dia em que virá o Big One, o terremoto que devastará a região. Quando ocorrer será uma tragédia, mas não uma surpresa. Faz diferença?

Se há preparação para quando acontecer, sim, faz (fará) muita diferença.

Até.

sábado, fevereiro 06, 2010

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Caros generais, almirantes e brigadeiros

Por MARCELO RUBENS PAIVA

Eu ia dizer "caros milicos". Não sei se é um termo ofensivo. Estigmatizado é. Preciso enumerar as razões?

Parte da sociedade civil quer rever a Lei da Anistia. Sugeriram a Comissão da Verdade, no desastroso Programa Nacional de Direitos Humanos, que Lula assinou sem ler. Vocês ameaçaram abandonar o governo, caso fosse aprovado.

Na Argentina, Espanha, Portugal, Chile, a anistia a militares envolvidos em crimes contra a humanidade foi revista. Há interesse para uma democracia em purificar o passado.

Aqui, teimam em não abrir mão do perdão. E têm aliados fortes, como o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que apesar de civil apareceu num patético uniforme de combate na volta do Haiti. Parecia um clown.

Vocês pertencem a uma nova geração de generais, almirantes, tenentes-brigadeiros. Eram jovens durante a ditadura. Devem ter navegado na contracultura, dançado Raul Seixas, tropicalistas. Usaram cabelos compridos, jeans desbotados? Namoraram ouvindo bossa nova? Assistiram aos filmes do Cinema Novo?

Sabemos que quem mais sofreu repressão depois do Golpe de 64 foram justamente os militares. Muitos foram presos e cassados. Havia até uma organização guerrilheira, a VPR, composta só por militares contra o regime.

Por que abrigar torturadores? Por que não colocá-los num banco de réus, um Tribunal de Nuremberg? Por que não limpar a fama da corporação?

Não se comparem a eles. Não devem nada a eles, que sujaram o nome das Forças Armadas. Vocês devem seguir uma tradição que nos honra, garantiu a República, o fim da ditadura de Getúlio, depois de combater os nazistas, e que hoje lidera a campanha no Haiti.

Sei que nossa relação, que começou quando eu tinha 5 anos, foi contaminada por abusos e absurdos. Culpa da polarização ideológica da época.

Seus antecessores cassaram o meu pai, deputado federal de 34 anos, no Golpe de 64, logo no primeiro Ato Institucional. Pois ele era relator de uma CPI que investigava o dinheiro da CIA para a preparação do golpe, interrogou militares, mostrou cheques depositados em contas para financiar a campanha anticomunista. Sabiam que meu pai nem era comunista?

Ele tentou fugir de Brasília, quando cercaram a cidade. Entrou num teco-teco, decolou, mas ameaçaram derrubar o avião. Ele pousou, saltou do avião ainda em movimento e correu pelo cerrado, sob balas.

Pulou o muro da embaixada da Iugoslávia e lá ficou, meses, até receber o salvo-conduto e se exilar. Passei meu aniversário de 5 anos nessa embaixada. Festão. Achávamos que a ditadura não ia durar. Que ironia...

Da Europa, meu pai enviou uma emocionante carta aos filhos, explicando o que tinha acontecido. Chamava alguns de vocês de "gorilas". Ri muito quando a recebi.

Ainda era 1964, a família imaginava que fosse preciso partir para o exílio e se juntar na França, quando ele entrou clandestinamente no Brasil.

Num voo para o Uruguai, que fazia escala no Rio, pediu para comprar cigarros e cruzou portas, até cair na rua, pegar um táxi e aparecer de surpresa em casa. Naquela época, o controle de passageiros era amador.

Mas veio a luta armada, os primeiros sequestros, e atuavam justamente os filhos dos amigos e seus eleitores - ele foi eleito deputado em 1962 pelos estudantes.

A barra pesou com o AI-5, a repressão caiu matando, e muitos vinham pedir abrigo, grana para fugir. Ele conhecia rotas de fuga. Tinha um aviãozinho. Fernando Gasparian, o melhor amigo dele, sabia que ambos estavam sendo seguidos e fugiu para a Inglaterra. Alertou o meu pai, que continuou no País.

Em 20 de janeiro de 1971, feriado, deu praia. Alguns de vocês invadiram a nossa casa de manhã, apontaram metralhadoras. Depois, se acalmaram. Ficamos com eles 24 horas. Até jogamos baralho. Não pareciam assustadores. Não tive medo. Eram tensos, mas brasileiros normais.

Levaram o meu pai, minha mãe e minha irmã Eliana, de 14 anos. Ele foi torturado e morto na dependência de vocês. A minha mãe ficou presa por 13 dias, e minha irmã, um dia.

Sumiram com o corpo dele, inventaram uma farsa (a de que ele tinha fugido) e não se falou mais no assunto.

Quando, aos 17 anos, fui me alistar na sede do 2º Exército, vivi a humilhação de todos os moleques: nos obrigaram a ficar nus e a correr pelo campo. Era inverno.

Na ficha, eu deveria preencher se o pai era vivo ou morto. Na época, varão de família era dispensado. Não havia espaço para "desaparecido". Deixei em branco.

Levei uma dura do oficial. Não resisti: "Vocês devem saber melhor do que eu se está vivo." Silêncio na sala. Foram consultar um superior. Voltaram sem graça, carimbaram a minha ficha, "dispensado", e saí de lá com a alma lavada.

Então, só em 1996, depois de um decreto-lei do Fernando Henrique, amigo de pôquer do meu pai, o Governo Brasileiro assumiu a responsabilidade sobre os desaparecidos e nos entregou um atestado de óbito.

Até hoje não sabemos o que aconteceu, onde o enterraram e por quê? Meu pai era contra a luta armada. Sabemos que antes de começarem a sessão de tortura, o brigadeiro Burnier lhe disse: "Enfim, deputadozinho, vamos tirar nossas diferenças."

Isso tudo já faz quase 40 anos. A Lei da Anistia, aprovada ainda durante a ditadura, com um Congresso engessado pelo Pacote de Abril, senadores biônicos, não eleitos pelo povo, garante o perdão aos colegas de vocês que participaram da tortura.

Qual o sentido de ter torturadores entre seus pares? Livrem-se deles. Coragem.

*Publicado em "O Estado de S.Paulo" de 30 de janeiro de 2010.

Sessão da Tarde É Confusão



Até.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Não dá

Todo ano prometo que vou ser mais tolerante.

Todo ano falho vergonhosamente.

Não consigo assistir ao BBB.

É muito, muito chato.

Até.