domingo, fevereiro 27, 2005

A Sopa 04/32

“There's so many different worlds
So many different suns
And we have just one world
But we live in different ones”

O LP ‘Brother in Arms’, da banda inglesa Dire Straits, liderada pelo ótimo guitarrista Mark Knopfler, foi lançado em maio de 1985. A última música do lado B do vinil (a última do CD) é a que dá nome ao disco e, além do trecho acima, do qual vou falar um pouco mais adiante, termina dizendo que somo tolos por fazer a guerra. Verdade indesmentível.

Quanto a termos um único mundo e mesmo assim vivermos em mundos diferentes, é impressionante como isso é correto. Compartilhamos nossa estada no planeta, mas vivemos em mundos totalmente diferentes. Enxergamos a realidade de maneira totalmente pessoal. Por isso que começo a admitir (estou aprendendo) que não há uma única verdade, definitiva e absoluta. O mesmo fato pode ser vivenciado de maneiras completamente antagônicas por duas pessoas. E ambas estarem certas.

Tenho pensado nisso ao acompanhar uma discussão na comunidade ‘Brasileiros em Toronto’ no Orkut. Se você não sabe, o Orkut é um ser viço de redes sociais criado por um funcionário do Google. Como funciona? Você entra por convite, se cadastra, coloca fotos suas, descreve quem você é (seu perfil) e pode, a partir daí, entrar em comunidades, encontrar velhos conhecidos, enfim, montar um rede de contatos virtual. Que pode se tornar real ou não.

Existem milhares de comunidades , e o Brasil é um dos países com mais cadastrados, atrás dos Estados Unidos (se já não ultrapassou). As comunidades são as mais variadas possíveis, desde estudantes de determinado colégio que estudaram em tal ano até pessoas que odeiam acordar cedo.

Por ser livre, qualquer um pode criar uma comunidade. E a maldade (ou falta do que fazer) humana se manifesta. Boa parcela das comunidades são “Eu odeio…” alguma coisa. E dentro das comunidades, algumas pessoas – como em qualquer outra forma de realcionamento humano – também acabam manifestando seu outro lado. Preconceito, intolerância, tudo pode aparecer numa comunidade do Orkut.

Mas eu falava da comunidade ‘Brasileiros em Toronto’. Pois bem, há um mês surgiu um tópico de discussão intitulado “imagem diferente!”, em que um cara dizia que estava há três semanas no Canadá e não estava gostando, tinha uma idéia diferente daqui. Surgiram uns poucos que concordaram com a idéia de que o canadá “não é nada daquilo que eles pensavam” e criou-se uma enorme polêmica. E mais uma prova de que pessoas vivendo a mesma experiência podem ter percepções totalmente diversas sobre ela. E, claro, a partir do tópico inicial há um desvio no foco da discussão e interpretações erradas daquilo que o outro escreveu… e por aí vai.

Partiram das impressões de alguns adolescentes que vieram para cá fazer intercâmbio e que – reação perfeitamente natural – estavam passando por dificuldades de adaptação (ou não estavam dando tempo para ela acontecesse) que todos passamos na começo, e mudaram o enfoque para quem imigra para cá legalmente, quem fica aqui ilegalmente trabalhando na construção ou de faxineiro para tentar juntar dinheiro e voltar ao Brasil, e passando por alguns que decepcionados com o país e querendo voltar ao paraíso que é o Brasil. E cada um discutindo consigo mesmo, no final das contas, tentando impor a sua verdade.

Por que cada um vive no seu próprio Canadá, Brasil, ou qualquer outro país. Cada experiência é única, o que cada um de nós vive é único. Já me perguntaram sobre vir ou não para o Canadá. Não posso dizer nem que sim nem que não, porque a minha expiriência, as circunstâncias que me trouxeram para cá, onde e o modo que vivo aqui são válidos apenas para mim.

Eu vim. E gosto daqui. É tudo que posso dizer.

sábado, fevereiro 26, 2005

Sábado de sol

A temperatura ainda não é a melhor, afinal ainda estamos no inverno. A neve ainda não derreteu toda, as folhas ainda não voltaram, os casacos ainda dominam a paisagem. Mas é sábado, e tem sol. O melhor momento da semana.

O tempo passa rápido. As semanas se sucedem uma atrás da outra, e quando vemos o ano mal começou e já estamos às portas de março. E março também vai voar, e virá abril. Assim sempre foi e será. Por que é que ainda me admiro com isso?

Provavelmente porque me admiro com muitas coisas. Quanto mais eu vivo e vejo coisas e conheço pessoas, mais o mundo e suas questões (quem somos, de onde viemos, para onde vamos) me fascina.

É ou não é admirável?

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Amenidades

- Tudo de volta ao normal no A Sopa no Exílio. Graças à pronta e eficiente ajuda da Lúcia voltamos ao sistema antigo de comentários e todos os antigos comentários estão de volta… Faço aqui o agradecimento público a ela, a quem enviei por email o ‘Template’ e ela me mandou de volta com algumas melhorias. Agradecimentos também a todos que se dispuseram a me ajudar, Ana e Alessandro e Gean. Obrigado, prometo comprar o livro Web Design para Dummies o mais breve possível…

- Com relação aos comentários feitos no Haloscan (o sistema NÃO vou usar, ao menos por enquanto) esse não vão aparecer aqui.

- De qualquer forma, vou comentar um comentário feito ontem, pelo Allan, do Carta da Itália:

”Acho melhor você parar com essa história de homenagens ao Chico. Lembro que a Globo fez um especial chamado "Assim era Elvis", mas o cara ainda estava vivo. Uma semana depois, pimba! Disseram que foi mau agouro.”.

Allan, não acho que eu tenha toda essa energia negativa. Além do mais, hoje é o último dia.

- Dedico a música de hoje ao novo presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, cuja principal promessa de campanha e primeiro ato foi encaminhar, em regime de urgência, um aumento para os salários dos deputados para R$ 21.500,00, e tem a cara de pau de dizer que a “sociedade” concorda.


Apesar De Você

Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser outro día.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforía?
Cómo vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!

Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza
Agora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.

Apesar de você
Amanhã há de ser outro día.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não quería.
Você vai se amargar
Vendo o día raiar
Sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir
E esse día há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você
Amanhã há de ser outro día.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesía.
Cómo vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Cómo vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Pouco inspirado

Esta tem sido uma semana de pouca inspiração e paciência. Por isso, os posts têm sido concisos. Sem falar do fato que instalei o novo sistema de comentários e perdi os antigos (para recuperá-los, teria que voltar ao sistema antigo, cujas tags deveria ter copiado, mas – adivinhem – não o fiz). Claro, tenho todos os antigos comentários no meu email, mas… sei lá, ainda estou vendo o que fazer.

De qualquer maneira, como não tenho mandado notícias, aí vai (ainda homenageando o Chico Buarque de Holanda):

Meu Caro Amigo

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Pouca Prática

Olha só.

Mudei o sistema de comentários do blog e perdi todos os comentários antigos...

Alguém sabe como recuperá-los?

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Terça-feira

Conforme passam os anos, vou ficando mais intolerante com algumas coisas bem específicas.

Mas ninguém precisa saber que coisas são essas… ou, melhor, quem me conhece bem, sabe.


Roda Viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá

Tanto Amar

Sou um romântico incurável. Mas não sou o único nem o último.

Tem um amigo meu, por exemplo, que um dia se apaixonou pela menina da fiambreria. Você sabe, aquela que fica atrás do balcão e pesa e embrulha os fiambres (do Cast. fiambre, carne fria - s. m., carne, especialmente presunto, preparada para se comer fria) e os queijos. Pois é, nunca se comeu tanto queijo na casa dele quanto naqueles dias de tresloucado amor platônico e muitas visitas ao supermercado.

Não lembro se ele chegou a viver uma história com a menina dos queijos, mas isso não vem ao caso. Pensando nisso, percebi que hoje em dia, na era dos queijos fatiados e já embrulhados a vácuo, que ficam à disposição do consumidor sem que se precise solicitar a alguém “duzentos gramas de queijo lanche”, esse tipo de amor não surge mais…

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Essa semana, A Sopa no Exílio homenageia um dos maiores poetas da música popular brasileira, gênio mesmo, Chico Buarque de Holanda. Assim como com os Beatles, escolher apenas cinco ou seis músicas chega a ser uma crueldade, mas – paciência – ninguém disse que a vida era justa… Para começar a semana, e já antecipando a que vem, a música de hoje é dedicada à Jacque.


Tanto Amar

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho sempre a boiar
E outro que agita

Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E outro olho a me arregalar
Sua pepita

A metade do seu olhar
Está chamando pra luta, aflita
E metade quer madrugar
Na bodeguita

Se seus olhos eu for cantar
Um seu olho me atura
E outro olho vai desmanchar
Toda a pintura

Ela pode rodopiar
E mudar de figura
A paloma do seu mirar
Virar miúra

É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olha a pestanejar
E outro me fita

Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito

Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um chico
Já pensamos em nos casar
Em Porto Rico

domingo, fevereiro 20, 2005

A Sopa 04/31

Há seis meses, cheguei.

Não estava sozinho. Trazia comigo a culpa de deixar todos a quem amo para trás, mesmo que provisoriamente, para começar uma fase nova na vida profissional e - por que não? - pessoal. Sem falar nas duas enormes malas (literalmente falando) e uma mochila não menos pesada. De tudo, talvez o mais difícil de carregar fosse a culpa, que surgiu mesmo depois de todo tempo de gestão da viagem, e por mais que todos aqueles que ficaram estivessem me apoiando e torcendo por mim. Era inevitável.

Os primeiros dez dias foram os mais complicados, mais difíceis de levar. Contei – desde o início e como sempre – com o total suporte da família, a Jacque, o Pai, a Mãe, o Neni, a Ane, meus sogros. Ao mesmo tempo em que eu passava por esses dias iniciais difíceis, principalmente por estar sozinho e sentir falta de todos, em Porto Alegre a família também tinha problemas com que se preocupar, e não pequenos, mas que acabaram muito bem. Desde o início, contudo, eu sabia que – por mais difícil que fosse – a sensação de estar sozinho e perdido era transitória e uma questão de tempo para tudo se acomodar.

E tem sido assim, tudo vai se acomodando com o passar dos dias. Cada vez mais confortável com a cidade, com a minha casa aqui, com o trabalho. Como não poderia deixar de ser, as referências vão surgindo, as rotinas e os hábitos, novos contatos, outras pessoas com outras culturas. É uma experiência rica, desde o seu início.

Algumas vezes não noto as mudanças que estão acontecendo, a evolução. Então alguém diz uma coisa que aparentemente não tem nada a ver comigo ou com o que estou passando, mas uma luz acende e me dou conta de sensações que eu tinha e nunca havia tornado consciente. E isso torna tudo mais interessante.

Com o tempo, dá para começar a entender melhor o país. As questões que estão na pauta das discussões, as preocupações de todos, as suas relações, como vêem os outros países – o Brasil em especial – o quem é quem da política, etc. Já que vivo aqui, devo aprender (ou entender) o modo de pensar dos canadenses, nascidos aqui ou que adotaram o país, mesmo que temporariamente, como eu.

sábado, fevereiro 19, 2005

Mais um sábado

Há seis meses, saí de Porto Alegre para vir morar por um tempo aqui em Toronto. Seis meses! Quase nada, um “tempão”. Já tinha me dado conta disso, e até escrito, acho, mas é impressionante como o tempo passa rápido quando visto retrospectivamente.

Acho que vou ser sempre assim: o tempo, presente, passado e futuro, vão sempre me surpreender. A impressão é de que passa muito rápido para podermos “digerir” tudo o que acontece à nossa volta. Eu, pelo menos, estou sempre correndo atrás. Quero aprender o máximo possível sobre tudo (mesmo sabendo que vai ser suficiente saber um pouco sobre algumas coisas) ao mesmo tempo que não posso perder o foco das coisas que acontecem e vão continuar acontecendo.

Mudando de assunto, mas nem tanto assim, hoje assisti ‘Finding Neverland’ (“Em Busca da Terra do Nunca’). Gostei muito. É um filme daqueles que emociona, e saímos do cinema felizes. Além disso, a história de Peter Pan e o conflito entre crescer ou não, deixar de ser criança, “ser sério” versus “ser criança”, sempre me interessou e me fez pensar.

Encerrando a semana Beatles, neste A Sopa no Exílio, e mesmo sabendo que uma semana foi muito pouco para mostrar algo dos Beatles, Strawberry Fields Forever.


Let me take you down, ’cause I’m going to strawberry fields.
Nothing is real and nothing to get hungabout.
Strawberry fields forever.

Living is easy with eyes closed, misunderstanding all you see.
It’s getting hard to be someone but it all works out, it doesn’t matter much to me.
Let me take you down, ’cause I’m going to strawberry fields.
Nothing is real and nothing to get hungabout.
Strawberry fields forever.

No one I think is in my tree, I mean it must be high or low.
That is you can’t you know tune in but it’s all right, that is I think it’s not too bad.
Let me take you down, ’cause I’m going to strawberry fields.
Nothing is real and nothing to get hungabout.
Strawberry fields forever.

Always, no sometimes, think it’s me, but you know I know when it’s a dream.
I think I know I mean a ’yes’ but it’s all wrong, that is I think I disagree.
Let me take you down, ’cause I’m going to strawberry fields.
Nothing is real and nothing to get hungabout.
Strawberry fields forever.
Strawberry fields forever.

Que momento!

Quando, em janeiro de 2000, decidimos que iríamos passar o Natal na Neve, a primeira opção foi uma estação de esqui aqui no Canadá. A partir daí, numa série de associações, upgrades e delírios, evoluímos de estação de esqui (Mont Tremblant) no Natal e Ano Novo em Nova York para Natal nos Alpes italianos e Ano Novo em Paris. Como estaríamos na Itália, tínhamos que conhecê-la, então imaginamos uma semana na Itália antes do Natal e depois indo para Paris no Ano Novo.

Em virtude do preço das passagens aéreas, relacionados com alta temporada, concluímos que valia à pena sair uns dias antes e a diferença pagaria os gastos nos dias a mais na Itália. No final das contas, saímos de Porto Alegre no dia 08 de dezembro direto para Roma, onde ficamos até dia 13, quando pegamos o carro (leasing de Renault Megane, ganhamos um upgrade para um Laguna) e fizemos um tour pela Itália até o Natal, que passamos na pequena Oberassen, um pouco ao norte de Brunico, próxima à fronteira com a Áustria.

Logo após o Natal, seguimos de carro e cruzamos os Alpes para o norte pela passagem de Brener e seguimos pela Alemanha e daí à França, Alsácia, Champagne até Paris. Fomos em cinco: o Magno, o Caio, a Aline, a Jacque e eu. Como tínhamos idéias de roteiro um pouco diferentes, alugamos dois carros e o Magno fez a Itália com o Caio e a Aline e a partir do Natal comigo e com a Jacque.

A viagem foi ótima, com muitos momentos memoráveis, entre eles a ceia de Natal no Hotel Andreas Hofer e a passagem de ano (e milênio) na chuva e no barro embaixo da Torre Eiffel e depois voltar caminhando até o hotel no Quartier Latin cantando na chuva.

Mas antes ainda de chegarmos na França, cruzávamos pela Schwarzwald (Floresta Negra), o Magno dirigindo, eu de co-piloto dormindo (isso rende uma outra história) e a Jacque no banco de trás comandando os suprimentos de bolachas, gomas de mascar, e toda forma de guloseimas, e ouvindo Beatles no Cd player, logo após passarmos pelo Mummelsee, que estava congelado, sou acordado pela gritaria dos dois que param o carro aos gritos de “Que momento, que momento!” (expressão típica nossa daquela época). Tinham avistado o que acharam de início ser um grande lago mas que se revelou depois uma densa camada de neblina. Nesse monento, tocava Hey Jude, e ficou marcada desde então.

Foi nessa mesma neblina que mergulhamos ao chegar em Baden-Baden naquele final de dia, e foi o que motivou o surgimento de uma expressão nossa para locais enfumaçados ou com neblina: “Está super Baden-Baden isso aqui”.

Vou parar por aqui porque uma lembrança leva à outra e vou passar o resto da noite contando histórias que vivemos. Não é a intenção, não hoje.


Hey jude, don’t make it bad.
Take a sad song and make it better.
Remember to let her into your heart,
Then you can start to make it better.

Hey jude, don’t be afraid.
You were made to go out and get her.
The minute you let her under your skin,
Then you begin to make it better.

And anytime you feel the pain, hey jude, refrain,
Don’t carry the world upon your shoulders.
For well you know that it’s a fool who plays it cool
By making his world a little colder.

Hey jude, don’t let me down.
You have found her, now go and get her.
Remember to let her into your heart,
Then you can start to make it better.

So let it out and let it in, hey jude, begin,
You’re waiting for someone to perform with.
And don’t you know that it’s just you, hey jude, you’ll do,
The movement you need is on your shoulder.

Hey jude, don’t make it bad.
Take a sad song and make it better.
Remember to let her under your skin,
Then you’ll begin to make it
Better better better better better better, oh.

Na na na na na ,na na na, hey jude...

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Ainda o caminho

Não sou um alguém que nunca muda de opinião, que tem verdades e conceitos imutáveis. Claro, existem as “cláusulas pétreas”, os princípios primeiros que regem minhas condutas, e que permanecem. Podemos chamar isso de essência.

Ainda sobre o assunto de ontem, é a essência o que nos faz escolher o caminho.

A música de hoje é dedicada à Jacque, porque ela é tudo, e muito mais para mim…


Something

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me

I don´t want to leave her now
You know I believe her now

Somewhere in her smile she knows
That I don´t need no other lover
Something in her style that shows me

Don´t want to leave her now
You know I believe her now

You´re asking me will my love grow
I don´t know, I don´t know
You stick around now it may show
I don´t know, I don´t know

Something in the way she knows
And all I have to do is think of her
Something in the things she shows me

Don´t want to leave her now
You know I believe her now

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

O caminho

Lembro de um dito: “se seguirmos os caminhos que os outros seguiram, chegaremos onde os outros chegaram”. E não é essa a intenção. A idéia sempre foi seguir o meu próprio caminho, aquele que eu defini a partir do que é realmente importante (claro que a partir de um ponto da estrada não estava mais andando sozinho…). O caminho foi difícil, algumas vezes, mas a caminhada vale.


The Long and Winding Road

The long and winding road
that leads to your door
Will never disappear
I've seen that road before
It always leads me here
Lead me to your door

The wild and windy night
that the rain washed away
Has left a pool of tears
Crying for the day
Why leave me standing here
Let me know the way

Many times I've been alone and
Many times I've cried
Anyway you'll never know the
Many ways I've tried but

Still they lead me back
to the long winding road
You left me standing here
A long long time ago
Don't leave me waiting here
Lead me to your door

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Hoje é só música

Quando estávamos nos preparando para a formatura, há mais de dez anos atrás, tivemos que escolher a música que tocaria quando fôssemos chamados para colar grau. Decisão difícil.

Escolher uma música que tivesse significado especial, algo como um resumo de quem éramos, do que esperávamos para a vida que começaria após, e que fosse também uma celebração. Difícil mesmo. Depois de muito pensar, utilizar um processo de exclusão meticuloso e cheio de critérios, terminei com três possibilidades.

Primeira, ‘O Tempo Não Pára’, Cazuza.

Sempre fui fã do Cazuza, tinha os discos dele (agora tenho os Cds) e algumas de suas músicas marcam alguns dos momentos significativos para mim. Era uma boa opção, a música tem aquele início com bateria que é bem legal, mas…

Segunda opção, ‘Joquim’, Vítor Ramil.

Uma música belíssima, e tinha a parte significativa que dizia que “No final de longa crise depressiva/Ele raspou completamente a cabeça/E voltou à velha forma/Com a força triplicada/Por tudo o que passou/Louco, Joquim louco/O louco do chapéu azul/Todos falavam e todos sabiam/Que o cara não se entregava”. Era perfeita, mas o início é bem lento, ele cantando à capela, não parecia que teria o impacto que eu queria.

A terceira opção foi a vencedora, e, assim como o Magno e o Petterson, que escolheram ‘Fool on the Hill’ e “With a Little Help From My Friend”, respectivamente, escolhi uma canção dos Beatles. Afinal de contas, nada melhor que Beatles para uma celebração.

Entreguei para a equipe de som o nome da música, e perguntei se eles não queriam que eu conseguisse um Cd com ela, e eles me garantiram que não precisava, eles tinham. Fácil.

Na formatura, na hora que me chamaram, tocou a música… instrumental, algo como ‘Ray Coniff Toca Beatles’… estou até hoje considerando uma segunda faculdade para poder me formar de novo…


Penny Lane

Penny Lane there is a barber showing photographs
Of every head he's had the pleasure to have known.
And all the people that come and go
Stop and say hello.

On the corner is a banker with a motor car.
The little children laugh at him behind his back.
And the banker never wears a mac
In the pouring rain. Very strange.

Penny Lane is in my ears and in my eyes.
There beneath the blue suburban skies,
I sit and meanwhile back,

In Penny Lane there is a fireman with an hourglass.
And in his pocket is a portrait of the queen.
He likes to keep his fire engine clean,
It's a clean machine.

Penny Lane is in my ears and in my eyes.
For a fish and finger pie,
In summer meanwhile back,

Behind the shelter in the middle of the roundabout
The pretty nurse is selling poppies from a tray
And though she feels as if she's in a play,
She is anyway.

Penny Lane the barber shaves another customer.
We see the banker sitting waiting for a trim.
And then the fireman rushes in
From the pouring rain. Very strange.

Penny Lane is in my ears and in my eyes.
There beneath the blue suburban skies,
I sit and meanwhile back,

Penny Lane is in my ears and in my eyes.
There beneath the blue suburban skies.
Penny Lane!

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Segunda-feira

Começo de semana, nada melhor que uma segunda-feira para deixar de ser sedentário. Dia de começar na academia. Ainda não tinha me matriculado, mas poderia fazer na hora que chegasse para o primeiro dia, depois de ter ido comprar uma mochila para carregar todo o material, tênis, calção, camiseta, toalha e todo o resto necessário para um bom e quente banho pós-atividade física.

O plano original era fazer na academia que faz parte do condomínio, mas o valor era mais do que eu gostaria de pagar e tinha que ser adiantado, em cash, todo o valor da anuidade. Resolvi procurar outra, aqui perto de casa. Razoável, ainda assim plano de 12 meses, e tal e coisa, mas decidi que seria essa. Compraria a mochila, passaria em casa para pegar as coisas e iria para lá.

Está chovendo desde cedo…

Além disso, descobri que posso utilizar o Centro Desportivo da Universidade de Toronto por um valor provavelmente menor, e os equipamentes são melhores, pelo que me disseram. Vou ter que ir lá para me informar melhor.

Então, saí do hospital e vim direto para casa, onde observei a noite cair ouvindo o Vítor Ramil, Ramilonga, antes de telefonar para algumas pessoas para não deixar que elas me esqueçam.


Semana dos Beatles

A primeira semana temática d’A Sopa no Exílio não poderia deixar de ser uma homenagem aos Beatles. E a primeira música, ‘Golden Slumbers’.

Golden Slumbers

Once, there was a way to get back homeward
Once, there was a way to get back home
Sleep pretty darling, do not cry,
And I will sing a lullaby

Golden slumbers fill your eyes
Smiles awake you when you rise
Sleep pretty darling, do not cry,
And I will sing a lullaby

domingo, fevereiro 13, 2005

A Sopa 04/30

O exílio como metáfora da morte.

Esses dias, enquanto a Jacque me contava que a Roberta, minha afilhada de oito anos, tinha chegado em casa às três da manhã numa das noites de carnaval – havia saído com as primas sob supervisão do Paulo e do Fernando, pais das meninas, da Roberta e da Carolina e Fernanda, respectivamente - e que permaneceria na praia, na casa dos avós, por mais uns dias, eu disse a ela que tinha certeza que eles já haviam me esquecido.

Exagero, claro. Mas nem tanto. E voltei a pensar nesse assunto, algo em que já não pensava há um bom tempo: o exílio é como a morte. E essa afirmação não é composta por nenhum tipo de drama, saudades ou solidão. É parte daquilo em que me envolvi ao decidir que seria bom vir para cá, tanto no plano profissional como pessoal. E eu já sabia que seria assim.

O partir é como o morrer. De repente, somos “arrancados” da realidade em que vivemos, do mundo tal como conhecemos, e “caímos” em outro, onde não temos referências, vínculos ou mesmo passado. Nem mesmo a referência mais básica, um lugar onde ficar, temos. Tudo deverá ser construído a partir do zero. Mas não totalmente do zero, afinal ainda somos o que éramos na “vida passada”, e é a partir disso que vamos nos estabelecer material e emocionalmente.

Assim como com a morte, por mais que nos consideremos preparados e esperando pelo seu acontecimento, a ida para o exílio sempre ocorre num momento em que ainda não estamos totalmente prontos para partir. Por isso, sempre ficam coisas a serem ditas, assuntos pendentes. E a aceitação da morte (exílio) é mais difícil no seu início. A demora (que não é tão longa assim) de adaptação se relaciona às questões que ficaram pendentes. Ou à qualidade da vida que se tinha antes de morrer (ir para o exílio).

Quanto melhor a qualidade de vida, e falo no sentido das relações pessoais, cônjuge, família, amigos, colegas de trabalho, mais difícil vai ser partir e mais dolorosa vai ser a ausência, principalmente no início, quando ainda não foram criadas ligações com o novo local em que se vai viver. Depois, à medida que novos laços são criados, a angústia que a ausência (e, por que não, segurança) dos grupos de convívio anteriores diminui. Sempre há saudades, óbvio.

E há algo de paradoxal nisso tudo. São as boas lembranças do passado (de quando estávamos na casa antiga) que causam essa angústia, inquietação, sofrimento até, mas são elas também que nos confortam nestes mesmos momentos. Ela são a cura para o mal que estão causando. E assim vai-se vivendo enquanto aprendemos novamente a andar em linha reta (metáfora que ficará óbvia logo adiante) e tentamos readquirir a noção de perspectiva e profundidade, como quando ficamos um tempo em coma e temos que nos readaptar ao mundo.

Se o exílio é como a morte para quem vai, ele também o é para quem fica, e começa a fechar o círculo que comecei quando falei do carnaval da minha afilhada. A vida continua para quem fica, óbvia constatação, e o que acontece é que as pessoas se acostumam com a ausência de quem foi. A ausência passa a ser normal – também óbvia constatação do ciclo normal da vida – e com o tempo a tendência é que quem foi torne-se uma lembrança distante. É o barco que segue, sempre, independente de quem está a bordo ou quem está no leme.

E a volta? Pode ser considerada como uma forma de ressurreição? Quem estava no “mundo dos mortos” (metáfora fraca para o exílio) ressurge do nada, e tudo volta a ser como era?

Não, os mortos não voltam. Quem aparece ao final do exílio pode até ser muito parecido com quem foi, as mesma feições, os mesmos trejeitos, os mesmos vícios de línguagem (“na verdade”…), mas não é a mesma pessoa. É outro, e vai ter que se enquandrar nessa nova vida, que não é a mesma de antes da partida.

sábado, fevereiro 12, 2005

Matinê

Chega um dia em que descobrimos que não precisamos provar nada para ninguém, como disse a Legião Urbana. Que não precisamos representar ser o que não somos para “agradar” quem quer que seja. Que somos felizes do jeito que somos.

Eu gosto de filmes bobos, e eu gosto de me divertir no cinema.

Sem me preocupar com a fotografia, com a verossimilhança do roteiro, com atuações, com as questões humanas e o sentido da vida.

Às vezes tudo o que precisamos é de duas horas sem pensar.

E tenho dito.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Uma história antiga e um anúncio

Durante a primeira viagem dos Perdidos na Espace, em 1999, que vocês podem “acompanhar” através da leitura do livro que surgiu depois (é só clicar no link Perdidos na Espace ao lado), uma das discussões que tivemos foi sobre música.

Numa das primeiras reuniões que fizemos como preparação para a viagem – tudo registrado em ata – depois de vários debates, decidiu-se que não seria levada nenhuma forma de mídia musical (além de nenhum brinquedo infantil que fizesse som, mas isso é outra história). Contudo, logo depois da reunião, eu me declarei diretor de mídias musicais…

O folheto de informações, assim como o site da Renault, informava que a Espace vinha de fábrica com toca-fitas. Com base nestas informações, e com o coração cheio de ingenuidade e inocência, na véspera da viagem gravei algumas fitas para ouvirmos durante nossos períodos na estrada. Chegando lá, é claro que a Espace vinha de fábrica com… CD player. Paciência, as fitas foram passear na Europa com a gente…

De qualquer forma, ouvíamos um pouco de rádio, mas principalmente falávamos muito, contávamos piadas, ríamos e algumas vezes até cantávamos. Nesta função, e como diretor de mídias musicais, decidi que seriam criados dias especiais. Explico: cada dia seria o “dia mundial” de algum músico, cantor ou banda. Teve Chico Buarque, Emgenheiros do Hawaii, e outros que já não lembro.

Bom, pensando nisso e por ter gostado da experiência de colocar letras de músicas nos posts aqui do blog durante o carnaval, decidi criar as semanas especiais, citando determinados tipos de músicas, homenagens a compositores e poetas, etc.

Começa segunda-feira.

Quarta-feira

Depois de uns dias de temperatura mais amena e claros, hoje voltou a nevar.

Sentado em minha poltrona de trabalho, olho pela janela. A noite é clara pelas luzes da rua, milhares delas. A visão da neve, que cobre telhados e ruas, ainda me dá uma sensação de paz, de tranquilidade. O silêncio voltou a ser confortável.

Quando cheguei aqui, o silêncio foi meu companheiro por muitos dias. Foram também dias de reflexão e circunspecção e trabalho. Esse tempo ficou para trás.

Na volta dos feriados de Natal e Ano Novo, com a Jacque me visitando aqui em Toronto, decidi que era hora de comprar uma televisão. Não tinha comprado antes para não me desviar de meu objetivo inicial: terminar minha tese. Pois então, comprei a TV, assinei uma companhia de TV a cabo, e a vida mudou. Tenho compainha o tempo todo em casa, há quase sempre alguém falando…

Hoje, mudei o rotina.

Cheguei em casa quando a noite já começava a cair. Não acendi a luz nem liguei nada que fizesse som. Fiquei sentado, no escuro, sozinho, em silêncio. Como foi bom… Quando toleramos bem o silêncio e o ficar sozinho, é porque estamos em paz com o mundo.

Eu estou.

#

Só para marcar a quarta-feira de cinzas, Vinícius de Moraes.


Soneto de quarta-feira de cinzas

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

iChat


DSCN0725
Originally uploaded by Marcelo Tadday.

Muitas vezes falei aqui sobre a situação de eu estar morando no Canadá e a Jacque - com quem sou casado há oito anos e meio - ter ficado em Porto Alegre. Não é a situação mais agradável do mundo, claro, mas seria muito pior sem o advento da internet, da Apple e do seu software chamado iChat.

Nos falamos todos os dias, e a foto ao lado é como nos vemos enquanto conversamos online e sem interrupções decorrentes de problemas de conexão, afinal temos uma conexão "banda larga". Permite, inclusive, que eu participe virtualmente de encontros com amigos, como mostra a foto, em que estava falando também com o Pedro e com a Zeca, que jantavam lá em casa.

Assim como converso com a minha mãe que, nestes dias, está no litoral norte do Rio Grande do Sul e com o meu irmão que mora em Nova York.

Certo, certo. Não é a mesma coisa, mas imagine só poder me comunicar por telefone ou - pior - por carta.

Segunda-feira de carnaval

Ainda em clima de carnaval, mas fugindo um pouco dos ritmos próprios do mesmo, dos quais já afirmei ser fervoroso fã. Mas antes da música de hoje, uma poucas palavras sobre o Superbowl, que ocorreu ontem.

Ganhou o New England Patriots, que havia feito três das últimas quatro finais. Eu não sabia antes, mas ia torcer por ele já que a única referência que eu tinha de algum dos dois times era que em dezembro havia passado de carro perto do estádio deles, saindo de Boston…

Certo, não era uma razão suficiente, mas – de qualquer forma – não gosto (e não entendo completamente) de futebol americano. Então, a razão para tomar partido podia ser a mais absurda que não faria nenhuma difereça. Por que eu queria ver, então? Pelo show do intervalo.

O Galvão Bueno e a Rede Globo (ou a CBF, tanto faz) deveriam ficar ruborizados com o que ele chamam de “show do intervalo”. Eles não sabem do que estão falando…

Começa que – antes do jogo – a abertura do espetáculo foi feita pelo Micheal Douglas, que apresentou veteranos de guerra uniformizados presentes ao estádio, um telão mostrou que também estavam acompanhando o jogo soldados americanos no Afeganistão, no Iraque e na Alemanha (todos mostrados em frente a um telão, em posição de sentido). Depois disso, entram os ex-presidentes Bush pai e Clinton.

Daí vem o jogo e blá-blá-blá… até o intervalo, e o motivo principal de eu estar em frente à televisão.

Colocam no centro do campo um palco e quem entra para tocar é nada mais nada menos que Sir (como é chamado aqui) Paul McCartney. Ele, o cara. Toca quatro músicas, Drive My Car, Get Back, Live and Let Die e Hey Jude. Nada a declarar, me emocionei só de ver – pela primeira vez – ele tocando ao vivo. Claro, ele na Flórida e eu no Canadá, vendo pela TV, mas vendo ao vivo, no mesmo momento que acontecia. Bobagem, eu sei, mas ele é o cara.

O resto do jogo? Nem me interessou muito…

A música de hoje, tema de carnaval mas não de carnaval.


Colombina

(Ed Motta)

Se você voltar pra mim
Juro para sempre ser arlequim
E brincar o carnaval
Viver uma fantasia real

Sou triste pierrot mal-amado
Mestre-sala desacompanhado
Um bufão no salão a cantar

Colombina, hey!
Seja minha menina, só minha
Bailarina, hey!
Mandarina da China, rainha
Quero ser seu rei!
Um rei momo, sem dono, sem trono
Abram alas pro amor!

Minha vida sem você
É uma canção de amor tão clichê
O meu 'bem-me-quer' não quis
Fez de mim um folião infeliz

domingo, fevereiro 06, 2005

A Sopa 04/29

Mais uma de carnaval.

Primeiro, deve ficar bem claro que não sinto falta do carnaval. Ao contrário de outras pessoas que – em Toronto – estão deprimidas (vide Orkut, comunidade Brasileiros em Toronto), pra mim está tudo tranqüilo. Afinal, já não era um carnavalesco assim, assíduo. Ao contrário do que acontecia em outros tempos, já há muito passado.

Mas nem tanto. O último baile (isso, baile) de carnaval que fui foi há dois anos, na SAT (Sociedade de Amigos de Tramandaí), em Tramandaí, litoral do Rio Grande do Sul. Fomos em grupo. Não um bloco, mas uma turma. E foi bem legal, ficamos no baile até as cinco horas da manhã e depois terminamos a noite comendo um “xis” no Pica-Pau Lanches.

Explicações: o ‘xis’ (corruptela de cheeseburger, e que no Rio Grande do Sul é feito com um pão maravilhoso e com uma fartura de ingredientes como em nenhum um outro lugar) do Pica-Pau era famoso pela sua qualidade, e tamanho, que incluia inclusive batatas fritas dentro, e era praticamente uma tradição terminar as noites de festa com uma passadinha lá.

Outras explicações: só participei de um bloco de carnaval nos tempos de folião assíduo. Foi o ‘Perversa’, e fomos nós que – em Imbé – começamos com o carnaval de rua na Av Rio Grande. Explicação da explicação: lá por 1990, época em que Imbé era o centro da noite do litoral gaúcho, e a Av Rio Grande era o centro da agitação com seus bares com música ao vivo, decidiram fazer um carnaval de rua que, na verdade, era num terreno ao lado de um dos bares. Nós, como bloco, fomos para lá.

No início, o pessoal ficava restrito ao terreno, enquanto carros passavam na avenida. Com o decorrer da noite, e num daqueles ‘trenzinhos’ característicos, que vai aumentando de tamanho à medida que vai passando e mais pessoas vão se juntando, começamos a atravessar a rua e a entrar em outros bares, chamando mais pessoas. E foi uma bola de neve, até que toda a rua foi invadida e carros não passavam mais. Nas noites seguintes e nos anos seguintes, a polícia antecipadamente bloqueava o espaço aos carros.

Aumentou muito em tamanho e número de pessoas com os anos, mas isso implicou – pelo fato de ser de rua e livre acesso – na presença de grupos dispostos a “esculhambar” muito mais que brincar. Assaltos e brigas foram o último estágio antes de o Imbé perder o posto de centro da noite no litoral para Atlântida, que desde então tem a principal noite do litoral gaúcho. Mas, nessa última fase, já não passávamos o carnaval lá. Nesta fase, já tínhamos nos mudado para os bailes de carnaval da SAT (a mesma que fomos, o Pedro, a Zeca, Jacque e eu, há dois anos).

Como falei outro dia, sou um fã dos carnavais de antigamente. Os carnavais das marchinhas, dos sambas-enredo das escolas de samba. Não daquelas festas de carnaval em que toca bate-estacas. Carnaval tem que ter música de carnaval, para o resto do ano temos as outras músicas. Ainda quero passar um carnaval em Salvador e um no Rio, desfilando numa das escolas, de preferência na Estação Primeira, do grande Cartola.

A música de hoje, novamente do Chico Buarque, é outra obra-prima da música popular brasileira, composta em 1966. A dica foi da Jacque, que insiste em chamá-la de “A Cachorra da Cabrocha”…



Quem Te Viu, Quem Te Vê

(Chico Buarque)

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

sábado, fevereiro 05, 2005

Ainda o carnaval

Lamartine Babo. Esse é (ou, melhor, foi) o cara.

Lamartine de Azeredo Babo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de janeiro de 1904. Décimo segundo filho do casal Leopoldo de Azeredo Babo e D.Bernardina Gonçalves Babo, teve contato com a música desde criança, pois sua mãe e uma irmã tocavam piano e o pai era amigo, entre outros, de Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense, que sempre freqüentavam sua casa.

Começou a compor desde cedo, e sua obra é vasta e inclui diversos estilos musicais, desde foxtrot, operetas, marcha-rancho até marchinhas de carnaval, estilo que ajudou a popularizar e até sobrepor em importância o samba, durante um certo tempo. Era um gênio, podemos dizer, e sua importância na história da música brasileira é incontestável.

No clima de carnaval, então, transcrevo para vocês uma das mais famosas marchinhas de carnaval de todos os tempos que é de sua autoria:


O Teu Cabelo Não Nega
(Lamartine Babo e Irmãos Valença)

O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor...
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor

Tens um sabor
Bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado
teu tenente interventor

Quem te inventou
Meu pancadão
Teve uma consagração.....
A lua te invejando fez careta
Porque mulata, tu não és deste planeta

Quando meu bem
Vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval


Mas não só as marchinhas de carnaval dele que fizeram sucesso estrondoso. Outra de suas composições, por exemplo, que foi gravada por muitos e que poucos sabem ser dele a letra (a melodia é do Ary Barroso), é a belíssima ‘No Rancho Fundo’, :


No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade....

No rancho fundo
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos dӇgua

Pobre moreno
Que tarde no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno
Ele pega da viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal deste moreno

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite e nem de dia

Os arvoredos
Já não contam mais segredos
Que a última palmeira
Já morreu na cordilheira

Os passarinhos
Internaram-se nos ninhos
De tão triste essa tristeza
Enche de treva a natureza

Tudo por que?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê



E tem gente que não gosta de música brasileira…

Carnaval

No Brasil, começou o carnaval.

Aqui em Toronto, nada, exceto pelo Superbowl no domingo, que nem é aqui, é na Flórida. Tudo bem, carnaval é como o vestibular (?): tem todo o ano.

Falando em carnaval, acho que as melhores músicas de carnaval são as velhas marchinhas, quase todas compostas antes dos anos cinqüenta do século passado. Tem uma – contudo – mais recente, composta pelo Chico Buarque, que me fez constatar: tenho saudade dos carnavais que não vivi.

Ei-la, então (gravação em dueto com a Elis Regina - imagine um baile de carnaval de salão):


Noite Dos Mascarados

Quem é você?
Adivinha se gosta de mim
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim

Quem é você?, diga logo
Que eu quero saber o seu jogo
Que eu quero morrer no seu bloco
Que eu quero me arder no seu fogo

Eu sou ceresteiro, poeta e cantor
O meu tempo inteiro só penso no amor
Eu tenho um pandeiro
Só quero um violão
Eu nado em dinheiro
Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
Eu, modéstia à parte, nasci para sambar
Eu sou tão menina
Meu tempo passou
Eu sou Colombina
Eu sou Pierrot

Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
E você me quer
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Cartas sem envelope

Já falei disso. Ou não.

A internet é um fantástico meio de comunicação. Aproxima as pessoas, torna a comunicação mais direta, rápida. Tem sido perfeito para eu manter “encontros” diários com a Jacque via iChat. Até de jantas virtuais já participei, ontem a última, com os amigos queridos Pedro e Maria José. Mas…

Sempre tem um “mas” na vida. Parênteses. Este deveria ser o nome de uma música que eu estava compondo, mas estava ficando muito Engenheiros do Hawaii e mudei de idéia. Fecha parênteses. Falava da comunicação fácil via internet, em especial os e-mails. Pois é, mas nem tudo é perfeito.

Os e-mails – por serem fáceis de enviar, quase instantâneos – se revestem da efemeridade que caracteriza os dias de hoje. Como é simples, simplifica-se. Superficializa-se. O que ganhamos em rapidez, fluidez, perdemos em profundidade, substância.

Quando enviávamos cartas, em virtude de todo o processo envolvido, comprar envelope, selo, o próprio ato de escrever no papel, levar ao correio, todo o ritual envolvido fazia que se valorizasse o conteúdo do que ia ser enviado. Ao contrário dos dias atuais, onde a pressa é a lei. Como podem ver, sou do tempo e um entusiasta das cartas.

Só que poucos mandam cartas hoje em dia. Nem mesmo eu, fã, envio cartas. Mas ao menos tento fazer os emails um pouco mais próximo do que eu considero a melhor forma para cartas. Portanto, tento dar valor aos e-mails que envio. Nem sempre é possível ou adequado, eu sei. Mas eu tento.

Procuro, então, valorizar o contato com as pessoas, os amigos, via e-mail. Ou mesmo os comentários aqui no blog. Fico bem feliz quando isso acontece. Tenho tentado manter uma certa regularidade de troca de e-mails com os amigos. Só que essa época, no Brasil, é complicado… Férias de verão, vai começar o carnaval… Normal, a quantidade de emails cai.

O que me deixa incomodado são aqueles que – mesmo amigos de anos – só mandam e-mails com piadas ou fotos de gosto de duvidoso. Tudo bem que enviem, mas de vez quando poderiam manter contatos mais pessoais, tipo “como vai?” ou “a vida vai bem, e a tua?”.

Sei lá.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Viagem no tempo (1)

Uma menina, uma canção

(1987)

Ela é só uma menina
e eu pagando pelos erros
Que eu nem sei se eu cometi
Ela é só uma menina
e eu deixando que ela faça
O que bem quiser de mim

Se eu queria enlouquecer
Essa é a minha chance
É tudo o que eu quis
Se eu queria enlouquecer
Esse é o romance ideal

Não pedi que ela ficasse,
ela sabe que na volta
Ainda vou estar aqui
Ela é só uma menina
e eu pagando pelos erros
Que eu nem sei se cometi

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

“Os conservadores estão afiando as unhas”

Estava lendo a revista Time, edição Canadá – cuja capa desta semana, aliás, é “What really goes on Inside a Canadian Hospital” da qual falo num próximo dia – e me deparei com uma reportagem que questiona o que o Bush deve às organizações religiosas que, claro, são conservadoras e o apoiaram intensamente.

E aí temos várias questões delicadas, que incluem o casamento de pessoas do mesmo sexo, aborto, censura a programas de TV, pesquisas com células-tronco, etc.

Com a eleição do pequeno Bush, esses grupos religiosos super-conservadores estão certos de que sua agenda ou, melhor, suas demandas serão atendidas. Como diz Michael Farris, presidente da Home School Legal Defense Association: “Ele não é o típico político que nos entende, ele é um de nós”. Dá pra imaginar o que vem por aí…

Fiquei, então pensando em qual são minhas opiniões sobre esses assuntos, cheguei na questão do aborto e lembrei de uma secretária que tive no consultório há uns anos atrás.

Ela tinha sido secretária de uma clínica em que fui sócio por um ou dois anos em Osório, litoral do Rio Grande do Sul. Um tempo depois de eu ter saído da clínica, fiquei sabendo que ela tinha se mudado para Porto Alegre para tentar a vida lá. Detalhe, ela tinha uma filha de uns três ou quatro anos e era separada do pai da criança. Por isso, ao se mudar, deixou a filha com os pais e foi morar com uma amiga.

Trabalhou alguns poucos meses num loja num shopping center até que a loja fechou e ela perdeu o emprego. Como estávamos trocando de secretária no consultório, nós a contratamos.

Uns meses depois, ela ficou doente: sentia-se mal, enjoada, e, dizia, com dor de estômago. Doente, trabalhando num consultório médico. Uns dias depois, a Sandra – uma das sócias do consultório e que agora está logo ao sul aqui da fronteira, na Clínica Mayo – levou-a ao hospital para uns exames. Diagnóstico, claro: estava grávida.

Nesta época, tinha trazido a filha para morar com ela em Porto Alegre, e quase todo o salário dela ia para pagar a escolinha e alimentação da filha. Tinha dias que ficava sem almoçar por falta de dinheiro. Já tínhamos até aumentado o salário para ajudá-la e eventualmente algum de nós levava alguma coisa para o seu almoço. Como é que ela conseguiria criar outro filho sozinha, já que o pai da criança em gestação era um ex-namorado com quem tinha tido uma “recaída”? Ela só via uma opção, e deixou bem claro isso para nós: fazer um aborto.

Conseguiu metade do dinheiro e o ex a outra metade, e foi fazer um aborto numa clínica clandestina no centro da cidade. Correu tudo bem, sem complicações, por sorte, eu diria. Voltou ao trabalho uns dias depois e seguiu a vida.

Antes de fazer o procedimento, conversamos e ela me perguntou se eu era contra ou a favor o que ela ia fazer. Disse que não me dizia respeito, eu não tinha o direito de ser a favor ou contra o que ela ia fazer. Era uma decisão única e exclusivamente dela e do ex-namorado. Por princípio, contra o aborto, mas quem deve decidir isso, sempre, é quem está envolvido diretamente no caso. E também não faço julgamentos morais ou religiosos.

Assim com o casamento de pessoas do mesmo sexo. Mas sou a favor da pesquisa com células-tronco e radicalmente contra a censura.

E a favor da tolerância, sempre.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Cinema

Uma das vantagens de estar no Canadá, deixando de lado a parte profissional, é com relação ao cinema. Os filmes têm sua estréia – normalmente – antes nos Estados Unidos e aqui do que no Brasil. Dá só uma conferida no que vem por aí:

Março

11 – Robots, dos mesmos criadores do excelente “Era do Gelo”. Animação.
18 – Melinda and Melinda, novo filme do Woody Allen.
25 – Miss Congeniality 2, no Brasil Miss Simpatia 2, com a Sandra Bullock.

Abril

01 – Sin City, co-dirigido por Frank Miller, um dos mestres do quadrinhos, com inúmeros trabalhos, entre eles “Batman, The Dark Knight Returns”.
01 – The Weather Man, com o Nicholas cage.

Maio

06 – Kingdon of Heaven, do Ridley Scott, que se passa durante as Cruzadas.
19 – Star Wars III The Revenge of Sith, nem precisa comentar.
27 – Madagascar, animação da Dream Works que deve ser MUITO BOM.

Junho

03 – Cinderella Man, com o Russel Crowe e a Rene Zellweger, sobre um lutador de boxe que lutou contra o campeão dos pesos pesados, na era da grande depressão dos anos 30
10 – Mr and Mrs Smith, com o Brad Pitt e Angelina Jolie, sobre um casal que leva uma vida dupla como assassinos e que são contratados para matar um ao outro.
17 – Batman Begins, sobre como surgiu o Cavaleiro das Trevas.

Julho

01- A Guerra dos Mundos, o maior orçamento da história do cinema (mais de USD$ 200 milhões), dirigido pelo Spielberg e estrelado pelo Tom Cruise, que vai receber 10% de tudo o que o filme arrecadar.

15 – Charlie and the Chocolate Factory, com o Johnny Depp, refilmagem de um “clássico” das velhas Sessões da Tarde de muitas infâncias, a minha incluída.

E por aí vai. Foram só alguns dos filmes que pincei para dar um idéia a vocês.

Quanto pipoca, meu Deus…