sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Não Sou Poeta (ao menos não em público)

Ontem à tarde, enquanto esperava um paciente no consultório, começou a chover com intensidade.

A quarta-feira já havia sido caótica em parte de Porto Alegre devido à chuva que havia caído e alagado parte da cidade, que também ficou sem luz. Quase a cidade parou.

Então quando recomeçou a chuva ontem, lembrei direto de uma música que gosto muito e que fala de chuva e Porto Alegre e despedidas, a (para mim, ao menos) clássica 'Ramilonga', do Vítor Ramil, que postei trechos da letra no Facebook. Nesse momento, eu fui vítima de uma situação que não é nova para mim, que é assumir que todo mundo tem as mesmas referências e/ou habilidades que eu. Como no caso dos recrutas que não sabiam nadar.

Já contei essa história: quando era médico da aeronáutica, fui convocado para ser o médico de plantão no treinamento de campo dos recrutas, que incluia passar por um lago não muito profundo. Para minha total surpresa, metade dos recrutas não sabia nadar. Fiquei chocado. Como assim?! Todo mundo sabe nadar! Descobri que o que achei que era uma habilidade de todos não o era. Surpresa.

O mesmo aconteceu ontem, quando citei trechos da música do Vitor Ramil. É verdade que não creditei os versos ao seu autor, mas jamais iria imaginar que iriam pensar que seriam de minha autoria. Qual não foi minha surpresa quando várias pessoas que me encontraram depois disso comentaram "Virou poeta?". 'Como assim?!', pensei...

Não, não sou poeta (ao menos não em público).

Trancrevo abaixo, por isso, de forma completa o música completa, com a devida autoria:

Ramilonga

(Vitor Ramil)

Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais

Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga

Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais

O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga

O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais

Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga

Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais

Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga

Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais