quinta-feira, setembro 30, 2004

Do tempo e seus efeitos

Desde que vim para o Canadá e estou com computador e internet, tenho passado bastante tempo "surfando" na rede mundial de computadores. Através do Orkut, descobri vários outros brasileiros que estão não só no Canadá, mas em diversos países pelo mundo. E tenho também dedicado algum tempo para visitar outros blogs.

Se vê de tudo, obviamente. Afinal, a internet é um espaço democrático, aceita tudo. Se por um lado isso é bom, por outro tem distorções.

É engracado ver alguns blogs cheios de certezas, de opinões definitivas sobre todos os assuntos, críticas ácidas e algumas vezes cruéis àqueles que pensam diferente de seus autores.

Eu já fui assim.

Houve um tempo em que eu tinha essas certezas todas. Em que a verdade era clara, cristalina, e única. Ou estava ao lado do que é certo, ou estava 100% errado. Bom ou mal, preto ou branco. Tudo mais simples, não era preciso pensar muito.

Mas as coisas mudam, e o tempo e a experiência nos fazem ver o mundo de maneira diferente, como não poderia deixar de ser. Percebemos, então, que a maioria das certezas desmorona como castelos de areia que o mar leva embora. Descobrimos que nem tudo é como parece num primeiro instante, que nem sempre vamos saber o que fazer ou dizer ao nos defrontarmos com uma situação nova, e que isso não é necessariamente ruim. Que às vezes simplesmente temos que dar de ombros e seguir caminhando.

Quanto mais vivo, menos certezas absolutas eu tenho. E mais tranqüilo fico.

Certezas absolutas e verdades únicas só levam a fanatismos e intolerâncias.

Lembro da música 'Loucos de Cara' do Vítor Ramil:

"Se um dia qualquer, tudo pulsar num imenso vazio,
coisas saindo do nada, indo pro nada,
Se mais nada existir, mesmo o que sempre chamamos real,
e isso pra ti for tão claro, que nem percebas.
Se um dia qualquer, ter lucidez for o mesmo que andar,
e não notares que andas, o tempo inteiro
É sinal que valeu, pega carona no carro que vem,
se ele é azul não importa,
Fica na tua"

Quanto mais sei, mais sei que não sei.

quarta-feira, setembro 29, 2004

Motivação

Nada como estar motivado.

Não vou contar aqui toda a minha história acadêmica, mas o que importa no momento é que estou aqui em Toronto fazendo o meu Pós-Doutorado. Você, leitor, que me conhece pessoalmente, deve estar se perguntando: "Pós-doutorado?? Eu nem sabia que ele tinha defendido o doutorado dele!".

Pois é, não defendi.

Quando eu saí de Porto Alegre há cerca de 1 mês e pouco, a situação estava assim: a tese estava quase pronta, faltava ainda escrever uma parte, o que faria aqui em Toronto, e depois enviaria por e-mail. Ela seria revisada pela minha orientadora, impressa, e havia a possibilidade de não defendê-la publicamente, apenas por escrito. Conveniente para mim.

Confesso que, lá no fundo, não achava muito justo. Dava a impressão que não tinha o mesmo valor de que defender publicamente. Parecia que estava fazendo curso por correspondência... (tipo "doutor em pneumologia e técnico em eletrônica pelo Instituto Universal Brasileiro", IUB - quem lia revistinhas em quadrinhos lembra).

De qualquer forma, logo na primeira semana aqui, recebi um e-mail da Jussara (minha orientadora, mestre e guru) dizendo que tinha "más notícias": eu teria que defender publicamente a tese, e possivelmente antes de abril (quando eu previa ir à Porto Alegre). Na hora pensei: "Oba, motivo para ir à Porto Alegre mais cedo que eu estava pensando!!!". Nem o stress de ter que defender a tese diminuiu a empolgação.

Desde então, tenho estudado com afinco e uma paixão que acho que nunca tive... Claro que eu não é só por isso, mas estudar tem sido muito mais legal que antes. O ambiente aqui favorece e, afinal de contas, estou aqui para isso mesmo...

Mas sem esquecer que, quanto antes eu terminar, antes vou à Porto Alegre.

domingo, setembro 26, 2004

A Sopa 04/10

Tenho andado distraído.

Mas não a ponto de não cuidar ao atravessar a rua, ou perder a estação do metrô. A culpa da minha distração é a música, que toca alto, toma conta do ambiente como a trilha sonora de um filme, em que todos os meus passos são acompanhados por sons às vezes intensos de uma bateria, noutras por suaves linhas melódicas de um violão.

Eu tenho um walkman.

É engraçado, mas – para mim - é nova a experiência de andar pelas ruas ouvindo música, como os fones discretos no ouvido, como as antigas “galenas” que acompanhavam os velhos rádios que só pegavam estações AM, eventualmente algumas das FMs. Nunca antes havia experimentado isso, porque não era seguro, ou andava de carro ou alguma outra desculpa, mas o fato é que não tinha experimentado antes, ao menos com a intensidade que faço agora, esses aparelhos.

O fato de ser uma rotina nova, novos meios de transporte incorporados ao movimento de todas as manhãs, mesmo um improvável bonde (streetcar, chamam-no aqui) parte do passado de Porto Alegre e do presente de Toronto, que circula e pára na parte central da avenida, e faz com que os carros que vêm pelo lado dentro, entre o bonde e a calçada, sejam obrigados a parar, e de fato param, em cada esquina para que os passageiros desçam e subam do veículo em segurança, quase um atravessar a rua, sim, essa nova rotina torna a experiência com o walkman mais intensa.

É um momento de abstração do mundo exterior, que o aparentemente mecânico ato de sair de casa, descer de elevador – tirando o fone para responder ao simpático senhor que pergunta como passei o final de semana, como estará o tempo nos próximos dias, e sim, aguardo o frio com ansiedade – entrar no metrô já com o jornal que é gratuito e atualiza com as notícias locais – já que as do meu pago ouvi e li pela internet antes de sair de casa – descer na estação para fazer aquilo que os franceses chamam de correspondance e aqui de transfer, pegar o bonde até o hospital, ainda atento para descer na parada correta, entrar no hospital, essa rotina que é tão benvinda, toda ela ganha uma cor especial ao ganhar uma trilha sonora diferente a cada dia. Todos os atos ganham um significado diferente quando acompanhados de música.

Além de tudo isso, de ter na música que ouço no walkman uma companhia constante que empresta significados diversos ao fatos corriqueiros de todos os dias, não posso esquecer dos significados ou, melhor, das sensações e imagens que as diferentes músicas representam para mim. É redundante dizer que as músicas e nossas reações a elas estão entre as mais fascinantes experiências subjetivas que podemos ter, comparadas – talvez – ao sentido transcendental que damos a alguns eventos-chave de nossas vidas. Uma mesma música pode ter significados diversos e até opostos para duas pessoas, sem que nenhuma delas esteja errada. Quando ouvidas no walkman, isso tudo é – de certa forma – amplificado. Ganha, então, importância a seleção de Cds que fiz antes de vir para cá, porque estava trazendo comigo parte da minha história, parte da minha própria trilha sonora.

Decidi, de antemão, que em virtude do pouco espaço e da questão do peso da bagagem, traria no máximo 22 Cds para cá. De todos os cds que possuía, tinha que selecionar pouco mais de vinte, que representassem o meu gosto pessoal e que tivessem signifcado na minha vida. Quase uma escolha de Sofia. Quais dos meus “filhos” viriam comigo, já que a maioria ficaria em Porto Alegre? Necessitava de um método de seleção. Depois de pensar muito, já quase no dia da viagem, escolhi os cds da seguinte forma:

1. Cds que representam o Rio Grande do Sul:
a. As Melhores Canções Gaúchas Vol.1
b. Jayme Caetano Braun – Êxitos 1
c. Elton Saldanha – Ao Vivo em Vacaria
d. Vítor Ramil – Ramilonga A Estética do Frio

Clássicos da música gauchesca, com o sentido de ser mais uma forma de me manter próximo à terra onde nasci, de não perder minha ligação com o pampa.

2. Música Gaúcha Urbana
a. Nei Lisboa – Cena Beatnik
b. Vítor Ramil – Tambong

Claro que esta é uma classificação arbitrária, e cds classificados num item fazem também parte de outra(s), é apenas uma forma de sistematização...

3. MPB e Pop Brasil
a. Nando Reis – Infernal
b. Skank – Ao Vivo em Ouro Preto
c. Zeca Baleiro – Líricas
d. Chico Buarque – Coletânea

4. Não Poderiam Faltar
a. Legião Urbana – As Quatro Estações Ao Vivo
b. Cazuza – Ideologia
c. Paralamas do Sucesso – Uns Dias Ao Vivo (2 cds)
d. Beatles – One
e. Simon & Garfunkel – Live in Central Park

5. Não Classificados em Outra Parte (mas não menos importantes)
a. Joss Stone – The Soul Sessions
b. U2 – All That You Can’t Leave Behind
c. Astortango 1 – Piazzolla y el Mundo
d. Pink Floyd – The Final Cut
e. Billie Holiday – Best of
f. U2 – Best 1980-1990

6. Talvez o Mais Importante (que me deixa mais feliz...)
a. Banda da Sopa

Quando cheguei aqui, não eram todos que eu conseguia ouvir, exatamente em virtude dos significados que eles têm para mim. Os do Nei Lisboa e do Zeca Baleiro foram os últimos que ouvi, somente depois de ter superado os dias em que me sentia perdido e saudoso, porque associo eles dois a uma viagem que a Jacque e eu fizemos para a Europa há dois anos e meio atrás, e que foi um momento de intensa felicidade e reafirmação de um casamento feliz. À medida que me senti mais seguro de que ia agüentar a barra de viver aqui, passei a ouvir todos eles.

Por último, mas não menos importante, é a estranha e incrivelmente boa sensação de ouvir – no caso no metrô - um cd que nós (Magno, Márcio e eu) gravamos. Vinha eu, sexta que passou, voltando para casa e ouvindo o cd. Foi muito louco ouvir nossa gravação. Que felicidade! Bendita hora que decidimos – e que o Magno viajou de Ribeirão Preto à Porto Alegre especialmente para isso – entrar em estúdio para gravarmos nosso primeiro cd para que eu pudesse trazer para cá.

Como eu disse anteriormente, sou um cara de sorte.

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Peço que aqueles que quiserem receber um e-mail avisando das atualizações do Blog, que mandem um e-mail solicitando.

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Estou, novamente, publicando um texto da querida amiga e “prima” Lúcia Stenzel na versão em anexo que os assinantes recebem por e-mail. Recomendo a leitura, está muito bom mesmo.

sábado, setembro 25, 2004

Sábado (4)

Mais um sábado de tempo bom e temperatura de agradável a quente em Toronto. Todos por aqui dizem que o verão só apareceu nas últimas semanas, que nas férias todos enfrentaram baixas temperaturas e chuva. Eu – para ser diferente – estou louco que esfrie...

Sábado, na minha nova rotina de alguém que mora sozinho, é dia de “faxina”: lavar roupa, limpar cozinha e banheiro, dar uma geral na casa para a semana que virá. Depois de tomar café, conferir os jornais de Porto Alegre na internet e os e-mails, hora de lavar a roupa da semana.

Reúno toda a roupa, coloco num saco, pego o sabão em pó e desço para a lavanderia, levando a roupa e o lixo seco, este último para reciclar. Lava-roupas operada com cartão, lavagem com água fria, tempo total de vinte e oito minutos.

Deixo a máquina trabalhando e subo de volta ao apartamento. Ponho para tocar o CD ‘As Melhores Canções Gaúchas’. Arrumo a casa enquanto ouço a boa música da terra. Janelas abertas, deixo o sol invadir toda a casa e a tudo iluminar. Não há nada como um sábado de sol…

Quanto chega a hora, vestindo abrigo e uma camiseta do Inter, volto à lavanderia para recolher as roupas, levá-las ao apartamento e colocá-las para secar. No elevador, na volta, entra um morador que ainda não tinha visto por aqui (como a maioria…). Enquanto o elevador sobe, ele vira para mim e comenta, em português perfeito, “Bonita camisa”. Gaúcho, e colorado! Conversamos um pouco e ficamos de falar em breve de novo.

Volto para casa, termino a arrumação, e saio de casa para almoçar e passar no supermercado… À tarde, vou ouvir o jogo do Inter na internet e estudar.

É isso, sábado. Na boa. Até.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Baaaahh...

Nem sei o que dizer...

QUARTA-FEIRA, 10/11/04 - 7:30 PM
HUMMINGBIRD CENTRE
ROR2 ZZ 76
R.E.M. CN 50008 HOUSE OF BLUES CONCERTS
MARCELO RODRIGUES TOR ROR2 ZZ 12-50473 76

R.E.M.
É isso aí... já estou com o meu ingresso garantido...

Até mais.

quinta-feira, setembro 23, 2004

Idioma

O inglês não tem sido problema para mim.

O entendimento é fácil, com exceção de alguns sotaques específicos, como o de alguns orientais, russos e - algumas vezes - até de portugueses. Tenho noção de que o meu também não é 100%, mas vou melhorando... Por outro lado, o português tem sido útil por esses dias. No hospital, existem muitos pacientes portugueses, e quando precisam de um intérprete, têm me chamado eventualmente.

Saber falar o básico de um idioma é relativamente simples. Aprende-se as principais expressões, verbos com suas conjugações, até preposiçoes. Mas só se aprende de verdade uma língua quando se mora num lugar onde ela é falada. Porque então vai se aprender não só as gírias, mas encontrar o real sentido das expressões, as formas de se dizer aquilo que se quer.

Têm duas expressões que acho bem interessantes, porque associo ao sentido que damos a elas em português:
- "Good for you" - se a olharmos com o sentido que normalmente usamos no Brasil, soa irônico, mas aqui não.
- "Not bad" - Por exemplo, se alguém pergunta a outra pessoa "Como foi o seu fim de semana?" uma possível e comum resposta é "Not bad". Para mim, sempre soa como uma coisa pessimista, algo como "É... não morri...".

Mas é apenas uma questão cultura, de intimidade com o idioma.

Como estou? Not bad...

quarta-feira, setembro 22, 2004

Onde estou?

Toronto nunca esteve nos meus planos.

Exatamente por isso - provavelmente - é que algumas vezes eu não me dê conta de onde estou. Daí, sem mais nem menos, vem aquela revelação: puxa vida, estou no Canadá! No ônibus, ou andando na rua, vejo a CN Tower, e não parece real. Depois de tanto ver fotos, sites da internet, estou em frente à torre, mas ainda não parece de verdade.

Aconteceu a mesma coisa na primeira vez em que estive em Paris. Até ver a Torre Eiffel, não conseguia me sentir na cidade. Ao vê-la, não parecia real. Uma montagem, quem sabe. Demorou até me adaptar...

Então, talvez se - ao invés de Toronto - eu estivesse passando esse tempo em Paris, estaria passando os meus dias boquiaberto, caminhando lentamente pelo bulevares, curtindo cada minuto na cidade. Isso porque já faz anos que sou um apaixonado por Paris, um encantado com a 'Cidade-Luz'.

Conheço Toronto há apenas um mês. Ainda não tive tempo de 'digerir' a cidade, de começar a vivê-la. É uma questão de tempo, de adaptação, de reconhecer o terreno, ter os meus roteiros do dia-a-dia, de criar as preferências. É um novo relacionamento, cujo início é sempre marcado por uma certa formalidade, por pudores exagerados. À medida que a convivência aumenta, cria-se a intimidade, e o tratamento muda. De 'senhora', passarei a tratar a cidade por 'tu'. Simples questão de tempo e convivência.

Ainda vou me surpreender várias vezes com o fato de estar aqui, é esperado. Sempre imaginei morar um tempo fora do Brasil, mas achava improvável. Agora, cá estou eu todos os dias no metrô ouvindo discman (hoje foi Chico Buarque) e lendo o jornal a caminho do hospital. Parece banal.

Mas acho que não é.

domingo, setembro 19, 2004

A Sopa 04/09

Um mês de Canadá, um mês longe de Porto Alegre.

Depois de passadas as duas primeiras semanas, de angústia, sensação de ausência de referências e com fatos desagradáveis ocorrendo longe do meu alcance e a correspondente frustração pela impotência de não poder interferir no curso dos acontecimentos e nem ao menos estar fisicamente presente, e depois de fugir para perto dos cuidados familiares, finalmente a poeira parece baixar. Claro que ainda me movimento com certo cuidado para não levantá-la (e junto, ressucitar velhos fantasmas…). Vai se estabelendo de novo uma rotina.

Descobri - nestes últimos tempos – a injustiça que se comete com a rotina. Como se fala mal dela sem razão! Pelo contrário, percebi ser a mesma fundamental para a sanidade do homem. Sem a rotina, sem método, sem rituais, seríamos ainda selvagens correndo atrás de animais selvagens e sendo nômades. Foi a rotina que trouxe a civilização. A civilização surgiu também da hipocrisia, mas isso é assunto para outra oportunidade, quem sabe numa quarta-feira filosófica, quem sabe para uma noite de inverno canadense.

O importante, agora, é saber que a rotina é de vital importância para nossa sanidade. É ela que nos dá referências, rumo. Sem ela, ficamos perdidos, como se suspensos no ar, sem ao menos saber onde ir. O casamento, dizem, perde a graça quando “cai na rotina”. Mas os únicos momentos em que o casamento não é rotina são a lua de mel e as férias, o primeiro único, e o segundo acontecendo eventualmente. O grande desafio é tornar o dia-a-dia prazeroso, fazer da rotina uma sucessão de momentos agradáveis. Claro que nunca é 100%, mas o balaço final deve ser positivo, caso contrário não faz sentido estar junto.

De volta ao Canadá, dizia eu que começava a estabelecer uma rotina, o que faz com que os dias ganhem sentido, adquire-se o conhecimento do que fazer e onde ir todos os dias de manhã. Tenho casa, local (ao menos provisório) de trabalho, já sei me localizar no metrô e nas ruas, e tenho projetos.

Assim como ter uma rotina é importante para nossas vidas, também fundamental é ter projetos. Projetos de futuro, distante e próximo, são outra motivação para seguirmos em frente, para que saiamos da cama de manhã e tenhamos porque encarar mais um dia. Se a rotina é a mecânica que nos faz funcionar, os projetos de futuro (sonhos, objetivos) são o combustível que nos mantêm ativos.

Já voltei a ter todos os ingredientes acima.

§

Antes de vir para cá, conversei com muitas pessoas que me disseram várias coisas sobre o Canadá, e Toronto em especial. A maioria falou bem da cidade, mas quase invariavelmente com a ressalva de que “Toronto é tipo São Paulo”. Comentavam sobre a grande oferta de atividades culturais, shows, exposições, etc. Toronto não seria tão bonita, mas seria “civilização”.

Talvez se formos compará-la com outras cidades daqui, tipo Vancouver, ou algum outro local na Bristish Columbia – que não conheço – pode ser que Toronto até pareça menos atraente. Vou pagar para ver. Toronto tem uma quantidade grande de parques, muitas – muitas – áreas verdes, tem o lago, sempre com muitos veleiros navegando, e uma área portuária que foi transformada em centro cultural que é um local muito agradável para passear.

A menos de cem metros de onde estou morando (“Muito bem localizado”, segundo comentário geral) tem um grande parque que dá nome à região (High Park). No último domingo, fui conhecê-lo. Andei, andei e andei por dentro do parque, por caminhos, trilhas, e – quando vi – estava na beira do lago! Passeei um pouco pela orla e voltei por dentro do parque. Parei para olhar um jogo de baseball da Liga Infantil de Baseball do High Park, e depois até um zoológico encontrei. E ainda não conheço todo o parque…

Já com relação ao sistema de transporte público, é diferente. Posso até dizer que já domino. Não é muito complicado, afinal de contas. É composto de metrô, ônibus e streetcar (bondes, bem claro). Cada viagem, paga-se uma única vez, não importando se vai pegar o metrô e depois um ônibus ou streetcar. É tudo interligado. Em algumas estações, sai-se direto do metrô e tem-se acesso ao streetcar/ônibus. Noutras, tem que pegar um ticket para fazer a baldeação.

O metrô é bem simples. Tem basicamente duas linhas: uma que cruza a cidade de leste a oeste e outra, de norte a sul. Esta última forma um “U”, desmembrando-se em duas que correm paralelas. O pré-requisito é saber os pontos cardeais. Sabendo-se orientar-se através de leste/oeste e norte/sul tudo fica simples.

A cidade se divide na esquina da Bloor com a Yonge St. A Bloor corre no sentido leste oeste e a Yonge de norte a sul, sendo – inclusive – a mais longa avenida do mundo. Da Bloor em direção ao lago, vai-se para o sul. Aí é só saber um mínimo de geografia e tudo fica fácil. Eu moro na zona oeste da cidade, muito perto da Bloor West Village, uma região de restaurantes, pubs, cafés, lojas, livrarias, etc. Fica a mais ou menos vinte minutos de metrô do centro e dos hospitais.

Com relação aos hospitais, estou vinculado à UHN (University Health Network), que é composta por três hospitais: Toronto General Hospital (TGH), Princess Margaret Hospital (PMH) e Toronto Western Hospital (TWH). Os dois primeiros estão localizados na University Avenue, frente à frente, bem próximos ao Ontario Parliament Building. O TWH fica a algumas quadras dali. Para ir de um hospital outro, tem um ônibus que liga os três que circula a cada 15 minutos o dia todo ou, ao menos, das 8 às 17h. Neste primeiro mês de trabalho, estou no TWH, no Centro de Asma, além de ir a rounds no TGH e a um laboratório do sono, próximo ao hospital.

Para o TWH, vou de metrô, numa viagem de uns 15 minutos, e depois pego um streetcar, numa viagem de outros 15 minutos. Fácil, fácil. Sempre ouvindo discman e lendo jornal, que é de graça e pego na estação do metrô.

§

Há alguns dias, escrevi que não sentia saudades do Rio Grande do Sul, apenas das pessoas. Demorei um pouco para entender, e também entender o por quê de gaúchos que saem do estado e continuam ligados visceralmente à terra em que nasceram.

Não sinto falta do Rio Grande do sul porque nunca deixei o Rio Grande. Pelo visto, nem vou. No fundo, continuo vivendo e vou ainda continuar me sentido parte da terra que me viu nascer. Posso estar há muitos mil quilômetros de Porto Alegre, mas continuo tão local quanto antes.

O Rio Grande do Sul, mais que geografia, é um estado de espírito.

Ah, eu sou gaúcho.

Minha singela homenagem ao 20 de setembro.

“Como a aurora precursora
Do Farol da divindade,
Foi o Vinte de Setembro
O precursor da liberdade.

Mostremos valor constância,
Nesta ímpia e injusta Guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda a terra,
De modelo a toda a terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda a terra.

Mas não basta p’ra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo”

Até semana que vem.

terça-feira, setembro 14, 2004

Hockey

No Canadá, como os canadenses.

Hoje foi a final da Copa do Mundo de hockey, no Air Canada Centre, aqui em Toronto. Canadá X Finlândia. Já que estou aqui, achei que tinha a obrigação moral de assistir. Ao vivo, nem pensar: os ingressos já estavam esgotados e, além disso, eram bem carinhos... Então, o jeito era assistir pela televisão. Detalhe: ainda não tenho televisão em casa. O jeito foi assistir em um bar, e aproveitar para jantar lá.

Cheguei em casa do hospital por volta de quinze para as seis, e a primeira coisa que fiz foi checar os e-mails (boas notícias!) e fazer um lanche. Nesta de ver e-mails, passear pela internet, quando vi já eram quase sete horas, horário do jogo. Troquei de roupa e, de abrigo, camiseta e tênis, saí de casa em busca de um local para assistir à final.

Não foi muito difícil achar um local: The Yellow Griffin, na Bloor West Village (muito perto de onde moro). Um pub, na verdade, e o jogo estaria sendo exibido no segundo andar, nun telão de 84'', segundo o cartaz anunciando. Subi as escadas e encontrei um local vazio, com mais cinco ou seis pessoas. "Putz, todos vêem em casa?!", pensei. Decidi ficar assim mesmo. Peguei uma mesa, pedi uma cerveja e esperei o jogo começar.

Começa a final. De repente, o pub começa a encher, mas ninguém parece estar muito ligado no jogo, ouço apenas conversas paralelas. Até que o Canadá faz o primeiro gol, logo nos primeiros minutos da partida: todos gritam e batem palmas, eu inclusive, afinal era um jogo de vermelhinhos (Canadá) contra azuizinhos (Finlândia). Parece que vai ser um jogo fácil...

Que nada, a Finlândia não acusa o golpe e parte para cima, pressionando em busca do empate. Passa a jogar melhor que o Canadá, que tem dificuldades em sair de seu próprio lado da quadra, apesar de seu "goleiro" (não sei se é assim que chama) não precisar fazer muitas defesas. Mas a Finlândia tanto faz que acaba por conseguir o gol de empate: 1x1. O final do primeiro tempo é de jogo franco, aberto e até violento em alguns momentos, como só o hockey sabe e pode ser. Fim da primeira etapa.

O bar esvazia de novo. Boa parte das pessoas sai para a frente do pub para fumar, afinal desde 01/06 é proibido fumar dentro de qualquer estabelecimento em Ontário. Peço então a minha janta: 'Fish and Chips", peixe com batata frita. Um copo d'água.

Começa o segundo tempo. Também ainda nos primeiros minutos o Canadá passa à frente do marcador. Gritos e aplausos, novamente. Agora, a atenção de todos não foge do grande telão. O Canadá joga melhor, o goleiro da Finlândia faz algumas defesas aparentemente impossíveis. A cada lance, o "Uuhh" é geral. Parece tudo estar bem encaminhado quando, faltando 3:13 para o final, um jogador da Finlândia avança, tira um adversário do caminho à força, dribla outro de forma magistral e faz um belo gol, empatando o jogo novamente. Lamentação geral. Está terminando...

Engano. O neófito aqui não lembrava que o hockey tem três tempos de vinte minutos. Ainda tem muito jogo pela. Peço outra cerveja, e vamos lá, 'Go Canada!'. Com poucos segundos de terceiro tempo, novamente gol, estamos na frente! Festa no pub. Aí então são muitos minutos "secando" a Finlândia.

Desta vez, contudo, ela não consegue se recuperar e chegar à igualdade. Fim de jogo. Canadá 3x2 Finlândia. Campeão do Mundo!

Pago a conta e volto para casa. Dei sorte. Amanhã tem Grenal pela rádio Guaiba, única que consigo ouvir daqui. Antes de dormir, ainda ouço o "Noturno Guaiba" que hoje toca sucessos dos anos sessenta da Orquestra Tabajara. Está virando hábito: antes de dormir, ouço clássicos da MPB. Ontem foi Cauby Peixoto, e, anteontem, Orlando Silva.

Durmo perto de casa...

Até.

domingo, setembro 12, 2004

A Sopa 04/08

Uma vez, não lembro bem, vi na TV um teste que aplicaram para crianças e que tinha relação com satisfação imediata, não sei ao certo. Mas funcionava da seguinte forma: eles davam um doce para uma criança e diziam a ela que se ela guardasse o doce por um tempo, ganharia dois. Algumas conseguiam esperar, antecipando o prazer de receber dois doces, enquanto outros comiam na hora, pois necessitavam de satisfação imediata.

Pois é, percebi estes dias que eu comeria o doce na hora, talvez até tirasse da mão do pesquisador, ansioso por satisfazer o meu prazer. Como eu descobri? Com um livro, e já introduzo o assunto deste editorial, exatamente isso, um livro.

O livro em questão me foi sugerido pela minha professora de inglês, ainda em Porto Alegre. Fiz aulas de conversação por uns dois meses antes de viajar com a Nora, uruguaia formada em Sociologia, filha de um médico que foi integrante dos Médicos Sem Fronteiras, e que morou em vários países da América Latina e África. Ou seja, uma pessoa com uma grande experiência de vida e certamente muitas histórias para contar.

As aulas ocorriam no Hospital Mãe de Deus, no café, em consistiam em uma hora (às vezes até quase duas) de conversa, sobre qualquer assunto que surgisse. Antes de comecar, tinha dúvidas se conseguiria ter sobre o que falar nas aulas. Que bobagem, às vezes a aula terminava e ainda tínhamos coisas para falar…

Numa das últimas aulas, não sei por que, falávamos sobre as Portas Santas das igrejas católicas. Para quem não sabe, as Portas Santas são portas das igrejas que ficam fechadas e só são abertas a cada vinte e cinco anos, nos anos jubilares. Diz a tradição que quem passa pelas Portas Santas das catedrais de Roma (São Pedro, San Giovanni in Laterano, Santa Maria Maggiore e San Paolo fuori le Mura) num Ano Jubilar tem os seus pecados perdoados. Dizia eu a ela que em 2000, no último Ano Jubilar, coincidiu de visitarmos Roma em dezembro, e que, lá, tivemos – a Jacque e eu – a oportunidade de visitar estas igrejas e passar pelas Portas Santas.

Foi aí que que ela me sugeriu o livro que agora quero sugerir a vocês e que motivou a conclusão de que sou um selvagem atrás de satisfação imediata. Ela perguntou se eu conhecia o livro Código Da Vinci, do autor americano Dan Brown. Disse que sim, que estava ansioso em lê-lo, mas que, devido a toda correria pré-viagem a Toronto, não achava tempo para tal. Então ela sugeriu o livro anterior do mesmo autor, a primeira aventura do professor Robert Langdom, chamado ‘Angels & Demons’. Sugeriu que eu comprasse quando já estivesse em Toronto, em inglês, obviamente.

Pois bem, logo antes de ir à NY, no aeroporto em Toronto, encontrei a edição de bolso do livro. Comprei, e fui lendo no avião. Durante a estada em NY, não li praticamente nada, mas na volta, no avião, não consegui parar de ler. Chegando aqui, enlouqueci: aproveitava cada segundo livre, no metrô, esperando por uma reunião, todo momento servia para ler. E quando não conseguia, ficava ansioso em saber o que iria acontecer nos momentos seguintes do livro.

É muito bom mesmo, um thriller bem escrito, ação e suspense, corrida contra o tempo, e se passa em Roma, incluindo o Vaticano. Na sexta-feira, fui lendo até às duas da mannhã, não queria parar de ler para saber o final, surpreendente, cheio de reviravoltas. No sábado, acordei às nove e fiquei na cama lendo até às 10h, quando terminei o livro. Depois, aquele vazio: puxa vida, por que não li com mais calma, degustando o livro aos poucos?

Porque sou um troglodita. Satisfação imediata.

Até semana que vem.

sábado, setembro 11, 2004

Sabado (3)

Primeiro sábado depois de voltar de NY, trazendo a internet aqui para casa, me conectando com o mundo.

Depois de ficar lendo até as 2h da manhã (outra hora conto o quê), acordei às 9h e fiquei ainda lendo até 10h. Aí era hora de começar as atividades do sábado. Faxina, basicamente. Lavar roupa (a lavanderia é no subsolo), ver as ofertas do final de semana nos prospectos à disposição na própria lavanderia. Logo após isso (estreei o varal que comprei para não ter que usar a secadora) fiquei no telefone/internet tentando resolver o problema que vinha enfrentando para usar a webcam (tinha usado na quinta, depois parou de funcionar). Liguei para a Apple, para a Bell, e todos diziam que não era com eles o problema. Acabamos resolvendo o Neni, de NY, e eu, online. Diversas tentativas até conseguir que nos falássemos e nos víssemos. Era hora, então, de começar a faxina.

Varre, passa pano, limpa banheiro, põe o lixo para fora, organizar os papéis espalhados. Apartamento pequeno, fica pronto rapidamente. Hora de sair para dar uma volta. Saio - com a máquina fotográfica - para andar e conhecer o bairro onde estou morando. Caminho até a Bloor (grande avenida que atravessa a cidade no sentido leste-oeste) e sigo em direção leste, para conhecer um pouco mais. Na primeira esquina, encontro um 'garage sale': paro, olho, e um dos responsáveis pelas venda vem falar comigo. Oferece um par de esquis. Digo que ainda não estou pronto para comprar os meus próprios esquis, e começamos a conversar sobre de onde viemos e para onde vamos.

Contei que recém cheguei do Brasil, para ficar pelo menos um ano, ele diz que esteve no Brasil visitando o Rio e Belo Horizonte, e acabou indo passar um carnaval em Porto Seguro. 'Crazy', concordamos, e ele diz que gosta muito do astral do Brasil. Conta que é designer de esquis, de Montreal, morou dois anos em Santiago do Chile e agora está de mudança com esposa para Vancouver, para ficar mais próximos das montanhas. Nos desejamos sorte e acabei comprando um camiseta com logo de hockey por C$1,00.

Sigo adiante, duas grandes quadras que têm estações do metrô, e descubro o que também procurava: supermercado e algumas outras lojas. Dou uma olhada geral de reconhecimento, olhando os preços, e resolvo voltar. No caminho, um letreiro: Conservatório de Música de Ontário, aulas de violão e piano. Vou até lá, deixo meu nome, e eles prometem me ligar para maiores informações.

Volto para casa, instalo o roteador para ter conexão wireless (acesso à internet sem fio), e decido ouvir o jogo do Inter pela internet (rádio Guaiba, a única que consigo acessar e ouvir). Perdeu, e descubro que desde que eu saí de Porto Alegre o Inter não ganhou mais de ninguém. Tenho que dar um jeito de ir até aí, se não...

Quinze para as oito, o sol já se pôs mas ainda não escureceu. Daqui a pouco vou fazer a janta: coxas de galinha assadas no forno, arroz e salada. Dormir não muito tarde (antes das duas...) porque amanhã quero conhecer o High Park (grande parque a menos de uma quadra daqui) e talvez ir ao cinema, no Toronto International Film Festival. Engraçado é que quando eu estava numa das lojas olhando preços, num programa de rádio o locutor dizia que quem visse uma celebridade tinha que ligar para lá...

Sábado, na boa. Até.

sexta-feira, setembro 10, 2004

De volta

Depois de alguns dias de família e carinho e "mimos" e cuidados e recomendações, voltei à Toronto para tentar finalmente começar a trabalhar. Foi bom voltar para o meu acampamento aqui no norte da América, e me sentir um pouco acostumado com a cidade.

Computador conectado, mas nem tudo ainda funciona, vou ter que re-estudar as configurações para entender o que está errado. Tudo bem, tenho tempo.

Hora de pensar nas coisas práticas da profissão: terminar logo minha tese para ter um motivo para ir à Porto Alegre antes do previsto, que é só lá por abril. Me descobri sem saudades (ainda) do Brasil e do Rio Grande, apenas das pessoas...

Logo, logo, escrevo mais.

domingo, setembro 05, 2004

A Sopa 04/07

Vivendo e aprendendo.

A gente só percebe a importância de algumas coisas quando ficamos sem elas. É sempre assim, elas estiveram sempre conosco e nunca as valorizamos, até o dia em que elas não fazem mais parte de nosso cotiadiano – mesmo que temporariamente – e então sentimos na carne a sua falta. Estou me referindo às gavetas. Meu Deus, como gavetas são itens fundamentais para nossas vidas.

Uma vida sem gavetas é uma vida onde não podemos guardar as pequenas coisas que nos são queridas, fotos, guardanapos de papel com filosofias e descobertas feitas à volta de uma mesa de bar, relógios que não funcionam mais, cartões de Natal antigos. Ou mesmo canetas, documentos, antigas fotos 3x4, etc. Gavetas são também um depositário de nossas memórias.

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Como vocês notaram, ainda estou em função da minha mudança para Toronto, mesmo que esta Sopa esteja sendo escrita de Nova York, para onde eu vim na última terça-feira e fico até quarta, passando um tempo junto do meu irmão e da minha cunhada, a Ane.

Com a vinda para cá, consegui fechar o ciclo das minhas prioridades mais básicas na chegada ao Canadá: (1) apartamento, (2) colchão, e (3) computador. Estou escrevendo esta Sopa do meu próprio computador, um simpático e eficiente iBook G4 de 12” , que foi comprado junto com a iSight, a webcam que me permite falar e ver a Jacque e a família diariamente, o que torna tudo um pouco menos difícil.

Vou poder agora retomar a minha vida que estava mais ou menos em suspenso. Desde escrever A Sopa, outros escritos e inclusive trabalhar para terminar a minha tese de doutorado, que vou ter que defender no Brasil, logo que der para ir aí.

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Vou continuar atualizando o blog sempre que der (A Sopa é uma vez por semana) e agora, com as fotos daqui, também o fotolog: www.fotolog.net/mtadday. Confiram e comentem

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Não lembro em que parte da publicação “Perdidos na Espace” eu parei quando saí de Porto Alegre. Se alguém souber, favor me avisar.

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Esta semana, A Sopa é mais uma vez dedicada à Karina, desta vez por duas razões: a primeira é que segunda-feira, 06/09, é aniversário dela (UM GRANDE BEIJO!!!) e, segundo, foi tudo muito bem com a cirurgia e, a partir de agora, tudo deve ficar muito bem. Felicidades dupla, Kaká.

quarta-feira, setembro 01, 2004

New York & Chimarrao

As coisas continuam lentas aqui no hemisfério norte. E paciência é tudo que tem sido exigido de mim nestes primeiros trezes dias no Canada.

Depois de na primeira semana ter alugado apartamento, me mudado, conseguido telefone (após brigar muito com a Bell canada) e ter os meus documentos todos corretamente entregues no College of Physicians and Surgeons of Ontario, ainda falta mais de uma semana para efetivamente começar a trabalhar, já que estão todos a caminho de Glasgow, na Escocia, para um congresso. Dependo da volta de todos para começar.

Como teria estes quase dez dias de folga ainda, pensei: "Vou ao Brasil, ficar ao lado da família mais um pouco". Contudo, de Porto Alegre veio um sonoro "NÃO, É LOUCURA GASTAR TANTO DINHEIRO PARA FICAR TãO POUCO TEMPO!!". Tá certo, não vou, provavelmente apanharia de todos quando chegasse no aeroporto... O que fazer, então, para ocupar os meus dias de ócio antes de começar a trabalhar? Se não podia viajar para o Brasil, que tal um lugar mais perto, e que incluísse família? Seria perfeito...

Nova York, onde moram desde o ano passado o Neni, meu irmão, a Ane, minha cunhada, e a Bili, irmã da Ane. Foi o que fiz.

Ontem à tarde arrumei minha mochila, peguei o metrô e fui até a estação Kippling (extremo oeste do metrô de Toronto), onde peguei o ônibus linha '192 - Airport Rocket' e fui até o Aeroporto Internacional Pearson. Lá, direto ao balcão da Air Canada, onde - antes de pedir a passagem mais barata para NY - ainda pensei em ir ao Brasil, mas logo lembrei do sonoro não que havia ouvido quando comentei essa vontade com todos com quem falei em Porto Alegre. Então, comprei passagem para NY.

A passagem pela imigração é feita no próprio aeroporto em Toronto, o que facilita as coisas em termos de tempo na chegada. Uma hora e quinze de vôo (contra doze horas de ônibus ou trem) e cheguei à NY, num belo final de tarde de céu azul e o avião sobrevoando o estádio do NY Yankees na hora de um jogo, uma bela recepção.

Saindo do aeroporto La Guardia, peguei o ônibus M60 e solicitei ao motorista que me deixasse numa parada para pegar o metrô linha 4, que me levaria à casa do Neni, no Bronx. Durante o trajeto, conversando com outro passageiro que vinha do aeroporto também, fiquei confuso quanto ao trem que deveria pegar, ele dizia que eu para pegar a linha 4 desceria no local mais selvagem do Harlem, eu dizia que tudo bem, eu só ia fazer uma baldeação, etc. Quando nos demos conta, tinha passado da parada. Desci na seguinte, caminhei até a estação e peguei o metrô para o lado contrário de Manhatann. Aí fiquei em dúvida quanto ao local em que deveria descer. Decidi e desci na estação seguinte.

Parecia que tinha descido nos esgotos de NY. Estação totalmente deserta e um telefone. Tentei ligar, não consegui (estava ocupado). Apareceu um cidadão e interpelei-o perguntando sobre o endereço que eu queria ir. falou que a linha que eu queria era aquela que eu estava, e que devia ser perto do final da linha. Entrei no primeiro linha 4 que passou e fui cuidando para ver se lembrava do nome da estação (que o Neni me dissera por telefone e eu esquecera). Então lembrei: penúltima estação, 'Moshulu Parkway'. Estava em casa.

Ao sair do metrô, consegui telefonar e a Ane veio ao meu encontro para levar para casa. Na chegada, fui direto ao computador pois o Neni estava falando com o Pai e a Mãe pela webcam. Logo depois, falei com a Jacque da mesma forma. Como foi bom vê-la!! Que saudades!! Se não foi possível estarmos juntos no nosso aniversário de oito anos de casados, ao menos nos vimos...

Depois, tinha uma janta me esperando (com feijão!).

Ficamos conversando até por volta da meia-noite, quando não resisti e caí dormindo numa longa a agradável noite de sono.

Hoje de manhã, fiz chimarrão. É bom se sentir em casa...