terça-feira, janeiro 31, 2012

Depois de cento e cinquenta anos

Final de semana na praia.

Estávamos na orla, minha Mãe e eu, brincando com a Marina de fazer castelos de areia, indo e voltando até o mar para encher de água o baldinho e o regador que eram imediatamente esvaziados no buraco que fazíamos, aquela coisa de praia com criança pequena. Isso até que minha mãe sugeriu que eu poderia dar uma caminhada na beira da praia.

Assim o fiz.

E o que aconteceu foi exatamente como se eu tivesse passado cento e cinquenta anos em coma e voltasse, ou como se eu tivesse ido para uma viagem espacial e tivesse - num enredo de ficção científica - voltado ao mesmo planeta, mas o tempo só não tivesse passado para mim, saca Futurama, a série?  Esse era eu circulando pelas areias do Imbé no domingo.

Não estou dizendo que o tempo não passou para mim. Os seus efeitos estão evidentes para quem me olha e não vê boa parte dos meus cabelos que ficaram pelo caminho. Quero dizer que tive a experiência de passar por um lugar MUITO familiar agora habitado por estranhos.

Não encontrei nenhuma alma conhecida, ao contrário de tempos passados.

Festa estranha, com gente esquisita, mas não no bom sentido.

Culminou naquilo que caracterizei como símbolos do meu passeio: um cidadão com o cabelo descolorido, com um bermudão indo até o joelho, a cueca aparecendo e uma inscrição nela, "Underwear", como se precisasse esclarecer...

E a banda da Brigada Militar, em pleno calçadão, tocando Michel Teló, "Ai se eu te pego".

Certamente eu estava numa dimensão paralela.

Até.


segunda-feira, janeiro 30, 2012

Estamos bem

Marina e eu, quero dizer.

Aproveitamos o final de semana na casa da Vó Tânia e do Vô Gilberto.

Na volta, dormiu na saída de Tramandaí e acordou apenas perto de casa. Quando eu disse que estávamos chegando, espantou-se: "Como viemos rápido!". À noite, em casa, comemos pizza. Hoje, difícil acordar cedo, mas chegamos na escola no horário normal, bem certinho.

Na saída, a Vó Sílvia foi buscá-la para brincar na piscina.

Quando fui buscá-la, contei que haviam chegado os móveis novos do quarto dela. Quis vir para casa logo. No carro, o pedido: "Podemos ir bem rápido?".

Adorou o "quarto novo, principalmente porque pode "desenhar na hora em que quiser", já que tem uma escrivaninha e uma cadeira só dela. Quando eu disse que um dia desses, quem sabe coloquemos uma tevê no quarto, comentou "Uma TV?! Uau!".

Certamente tem saudades da mãe, mas ao três anos e meio já tem discernimento para entender que a mãe está viajando e volta no sábado agora.

O que me surpreende, devo confessar.

 E me deixa mais encantado ainda.

Coruja, meu nome é coruja...

Até.

sábado, janeiro 28, 2012

Sabado (num teclado sem acento)

Marina e eu na casa da Vo Tania no litoral norte gaucho.

Sem fotos.

Apenas sol e brincadeiras.

Ate.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Pois é

Hoje à tardinha, Marina e eu vamos para a praia.

Nos dois finais de semana em que fomos, o tempo esteve bem ruim, tanto é que nem fomos até o mar.

A previsão para o de agora é tempo bom.

Detalhe: talvez seja prudente evitar chegar até o mar porque houve um vazamento de petróleo na região e a mancha está por perto.

Se eu fosse paranóico, ia achar que é contra mim.

Peraí: eu sou paranóico...

Até.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Sem noção (ou "é o fim do mundo")

Quinta-feira no consultório manhã e tarde.

O penúltimo paciente do dia não aparece no horário. Dou alguns minutos de tolerância. Nada, e nem um aviso. Dessa forma, decido atender o último paciente marcado, que chegou um pouco antes do seu horário.

Termino a consulta. Arrumo minhas coisas. Confiro calmamente minha agenda dos próximos dias.

Saio do consultório. Caminho até o estacionamento. Entro no carro, ligo o ar condicionado. Deixo o estacionamento e encaro o trânsito de Porto Alegre no meio da tarde (excepcionalmente saio no meio da tarde do consultório) até em casa, caminho alguns minutos mais longos desde que o sentido do trânsito foi alterado na minha rua.

Ao entrar na garagem, converso com o zelador que pede para fazer a medição mensal do gás do apartamento. Entro no elevador.

Toca o meu telefone celular.

Atendo, a ligação cai.

Chego na porta do meu apartamento quando o telefone toca novamente. É minha secretária, dizendo que o paciente aquele que faltou na verdade chegou uma hora e meia (!!!) atrasado e está perguntando se eu não posso voltar ao consultório para atendê-lo, pois precisa ser visto com certa urgência, e queixa-se do trânsito de Porto Alegre "vocês deveriam da um jeito nisso".

Sorrio.

Digo à minha secretária que "é mais fácil um avião da Pan Am cair sobre mim quandi eu estiver parado num sinal do que eu voltar ao consultório naquele momento, depois de"

Ela me interrompe para dizer que o paciente havia ido embora batendo a porta.

É ou não é um sinal do final dos tempos?

Até.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Temporariamente

Pai solteiro.

Estamos Marina e eu, por nossa conta, até mamãe voltar, sábado da semana que vem.

Passaporte esquecido em casa, corrida louca em plena hora do rush para buscá-lo e de volta ao aeroporto. Deu tudo certo.

Após, McLanche Feliz e brincando em casa até a hora de dormir.

Justamente quando começou o jogo do Inter.

Até.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Histórias de Verão (um texto antigo)

Verão.

Litoral norte do Rio Grande do Sul. Manhã de sol, brisa amena e água clara, de temperatura agradável. Milhares de pessoas na praia, tomando sol, deitadas ou caminhando. Nós (o Paulo e eu) estamos parados observando as crianças, filhos e sobrinhos, que brincam com as ondas. Correm de um lado a outro sob nossos olhares atentos e vigilantes. Vez e outra um ou outro grita instruções sobre onde devem ficar e para onde não devem ir. No meio disto, conversamos:

- Mudou o ano, hora de mudanças.

- É isso aí.

- Temos que definir quem vamos ser daqui para frente.

- A-hã.

- Estive pensando, e só temos duas opções de mudança.

- Que são...

- Surfistas ou metrossexuais.

- Desenvolva esse pensamento.

- Podemos virar surfistas. Compramos um pranchão, um carro de surfista e... Qual o carro dos surfistas?

- Parati?

- Não, parati não. Isso era nos anos oitenta. Agora deve ser outro.

- Não tenho nem idéia, para mim era ainda parati.

- Deixa para lá. Compramos um pranchão, e vamos pegar onda. Aliás, nem precisa pegar onda, basta ter atitude.

- Mas com esse marzinho de hoje, dá para chegar fácil no outside. Subir na prancha, bom, são outros quinhentos. Mas tem uma coisa...

- O quê?

- Assim, usando sunga, estamos mais para metrossexuais.

- Tem razão, acho que estamos mais para metrossexuais. Mas o que metrossexuais bebem na beira da praia? Qual o drink dos metrossexuais? Não pode ser cerveja...

- Claro que não, e nem caipirinha, que não são bebidas adequadas. Champanhe?

- Não, é coisa de metido à besta. Os metrossexuais são assim, simples mas não simplórios.

- Despojados.

- Isso aí.

- Sabem cozinhar...

- Nós sabemos.

- Curtem ficar em casa, receber a turma, preparam jantares legais, criam um clima legal na casa, com velas...

- Epa.

- O quê?

- Vela não.

- É, vela é coisa de veado.

- Parece que a linha que separa a metrossexualidade da homossexualidade é muito tênue.

- Qual é o preço da parati e da prancha mesmo?

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Verão

Que estou gostando da minha nova rotina.

Sim, eu sei que não vai ser assim por muito tempo (aos menos espero que não) e logo estarei correndo novamente. Mas, por esses dias de verão, tem dado para ir levando de maneira bem tranquila.

As atividades na Universidade recomeçaram, mas durante o verão são quinzenais, o que me deixa com uma terça-feira de férias a cada quinze dias até a metade de fevereiro. Amanhã, por exemplo, estou de férias. As demais atividades (autônomas) estão devagar por razões sazonais: no verão as pessoas adoecem menos do pulmão, digamos assim.

Com isso, tenho sido frequente e disciplinado na atividade física.

Por outro lado, é claro que há muito o que fazer.

Projetos científicos, planos de trabalho, aulas, organização do evento de junho da Sociedade de Pneumologia, entre outros. Mas o verão - e conta o fato de eu ter voltado de quase um mês de férias - faz o trabalho ser - sob certo aspecto - mais leve.

Com o ar condicionado ligado, então, melhor ainda.

Até.

domingo, janeiro 22, 2012

Domingo de verão

Dessa vez, decidimos não ir à praia.

Claro que foi um final de semana de sol e calor.

Que aproveitamos em piscinas e ar condicionado, churrasco e siestas.

Como o anterior, no litoral e com chuva, perfeito.

No próximo, Marina e eu vamos ao litoral, enquanto a mãe dela estará ao norte da linha do Equador, no inverno.

Só não torço pela chuva e pelo frio na praia por causa da Marina.

Antes, uma semana de trabalho (mas sem as preocupações da última semana).

Até.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Há trinta anos



O post original foi apagado num erro grotesco meu...

Mas fica a homenagem a essa maravilhosa artista...

Até.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Nada a ver

Rotina de trabalho nova, ainda "engrenando".

Independente de qualquer coisa, uma verdade que não muda: quarta-feira é o melhor dia da semana.

Porque ontem era recém terça e amanhã já é quinta-feira...

Devemos comemorar, então.

Até.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

A todo vapor

Trabalho.

Mesmo tendo voltado de férias há mais de uma semana, o ritmo ainda era mais lento, como se eu precisasse começar devagar para não dar muito gás no início e cansar logo ali na frente (é uma maratona, é uma maratona...). Também ajudou isso o fato de eu ter me demitido de um dos trabalhos que eu tinha e ter deixado as novas atividades para começarem por esses dias.

Hoje, tudo recomeçou.

A nova rotina, quero dizer, que inclui - por enquanto - a tarde de segunda-feira sem compromissos oficiais (não sei até quando) e - se tudo correr bem e até surgir algo que me tire isso - uma ida à academia quando possível. Hoje foi.

Amanhã, estrada novamente, de volta à Universidade.

Comecei já hoje a adiantar trabalhos, mandar e-mails, planejar.

O final do dia, após a janta e até agora, foi na função de relações exteriores e tradutor.

Como já disse, 2012 vai ser bem legal.

Até.

domingo, janeiro 15, 2012

Fim de semana na praia

Verão.

Ainda não usei protetor solar nenhuma vez.

Foram dois finais de semana em que fomos para a praia, o do ano novo e esse que ora termina. Choveu em ambos. De sexta para sábado, ininterruptamente. Ontem, por volta das 10h30, a chuva parou. Pensando na Marina - louca para brincar na areia - rumamos em direção à beira da praia, de carro. Ao chegar na avenida beira mar, começou a chover fraco.

Não parei o carro.

Voltamos para casa e, quando chegamos, chovia forte. As ruas viraram rios, praticamente uma Veneza do sul. Ao final da tarde, após acordar da siesta, "atravessamos uma lagoa" para chegar num mercadinho e fazer compras para a janta.

Sopa de capeletti e vinho tinto.

Que tomamos contando estórias e olhando fotos de viagem.

Hoje cedo, ao acordar, sol.

Hora de voltar para casa, então.

Final de semana perfeito.

Até.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Sem afeto e outras idéias soltas

Sei lá.

Estava pensando ontem à noite e percebi que não acho o Big Brother uma coisa ruim. Sério. Mesmo. De verdade. E não acho que ele esteja fazendo o telespectador emburrecer, muito menos julgo quem assiste alguém com problemas. Eu simplesmente não acho nada.

Não tenho afeto nenhum pelo programa. Não interessa, não importa. Confesso, porém, que nos outros anos eu ficava, sim, revoltado com o programa (até tentei ver uma vez, para não parecer preconceituoso, mas não consegui).

Agora, nada.

Por outro lado, o que tem me deixado - digamos assim - tenso é uma mania (ou um péssimo hábito) antigo que, em tempos de redes sociais, está tomando proporções gigantescas, que é o de atribuir a conhecidos escritores textos apócrifos, na maioria das vezes de baixa qualidade, ou de auto-ajuda. Luis Fernando Veríssimo, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu e até o Dalai Lama. É evidente que nem tudo o que atribuem a eles é falso, mas convenhamos que tem alguns escritos que claramente não são de quem se atribuiu a autoria. Se houver dúvida, uma pequena pesquisa (Google) esclarece a verdade.

Como o texto sobre o Big Brother que dizem ser do Veríssimo.


Não é, óbvia e claramente.

Mas, como eu dizia, sei lá, cada um, cada um...

Até.


quarta-feira, janeiro 11, 2012

Sobre a minha decisão

Como anunciado aqui neste espaço, há uma semana eu me exonerei do meu cargo de médico especialista da Prefeitura de Porto Alegre. Os motivos, expostos em texto de 2003 também publicado, já não importam.

Confesso que não foi uma decisão fácil, sem algum sofrimento, essa de abandonar um emprego com estabilidade (que seria conquistada em mais um ano de estágio probatório), com pagamentos religiosamente feitos no dia 30 de cada mês, para ser um profissional um pouco mais autônomo que eu era. Foi um longo período de reflexão e discussões e noite mal-dormidas até que, no final de agosto passado, tomei a decisão.

Sabendo que eu ainda poderia mudar de idéia - nada é definitivo nessa vida - estabeleci que iria até o início de dezembro trabalhando, tiraria férias e - conforme estivesse a situação na primeira semana do ano - pediria para sair, zero dois. Foi o que aconteceteu, como contei semana passada.

O engraçado - confortador, até - é que todo mundo que fica sabendo dá apoio. E, mais, alguns colegas até vieram falar comigo para me falar que fiz a coisa certa, me parabenizar.

Fico mais tranquilo.

Agora é trabalhar.

Até.

terça-feira, janeiro 10, 2012

Terça-feira atípica

Ainda em clima de férias apesar de já estar trabalhando (foi a última terça de férias, já que volto à Universidade na próxima semana, em ritmo de verão mas já no ambulatório...). Após levar as meninas para a escola e para o hospital, pequena parada para um café e logo após direto para a academia.

Para minha surpresa, já passaram mais de três meses desde que comecei atividade física.

Que não sou mais sedentário.

MUITO feliz com a persistência e disciplina até aqui (espero que persistam).

À noite, reunião da Sociedade de Pneumologia até às 22h.

Muitas idéias, muitos planos.

Ao trabalho, então.

Até.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Pois é

Saiu a listagem dos artistas que vão tocar naquele festival de música no litoral norte do RS que leva o nome de planeta e da lendária cidade perdida no fundo do oceano.

Mais uma vez e com maior intensidade, a recomendação é clara:

MANTER-SE AFASTADO DA REGIÃO DURANTE O EVENTO!

Até.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Sociologia

Hoje - mais uma vez - pude pensar e falar na minha teoria sobre a formação do caráter dos povos.

O que define como será - moral, valores, etc - um determinado povo é o clima, sim, mas mais importante ainda é o litoral.

O litoral do RS é a explicação para tudo o que somos.

Para o bem e para o mal, depende do ponto de vista e de quem analisa.

Até.

Músicas que marcaram (29)




Is it getting better?
Or do you feel the same?
Will it make it easier on you now?
You got someone to blame
You say...

quarta-feira, janeiro 04, 2012

O Dia em Que o Caetano me Ligou


Fernando chegou ao Platão, o café onde semanalmente se reunia a autointitulada “Confraria do Nada”, encontro da turma do tempo do colégio, passavam vinte minutos da meia noite. O atraso, normalmente punido com o pagamento de três rodadas de chopes para os confrades tinha plena justificativa, pensava. “Caetano me ligou”, disse, a frase abafada pelas vaias dos outros quatro integrantes da turma. Sérgio, o mais velho, também conhecido por Diabo, retrucou: “Conta outra”. Eduardo, Lipe e Tony, os demais integrantes da confraria, ainda ameaçando o infrator com as sanções regulamentares para casos de atraso, silenciaram para ouvir a história do estranho dia de Fernando.

Tudo começara naquele mesmo dia, pela manhã. Mal tinha acordado, e recebeu um telefonema da Bela, sua ex-namorada e eterno amor platônico, dizendo que precisava conversar urgentemente com ele. Ela que, nos últimos dois anos – desde que haviam rompido o namoro de três - estava namorando Eliseu, na confraria conhecido por Pastel.  Perguntou se ela estava com algum problema. Belíssima, assim ele a chamava, disse que “mais ou menos”, mas que não podia explicar mais por telefone, e convidou-o para almoçar. “No mesmo lugar de sempre” sugeriu, sugestão prontamente aceita por Fernando.

O local, o restaurante Famiglia, era uma cantina administrada pelo Vittorio, um italiano que dizia ter vindo para o Brasil porque representaria uma ameaça à Europa ocidental se permanecesse por lá, sem nunca dizer o por quê. Fernando chegou um pouco antes, pediu guaraná zero, uma heresia, segundo o Vittorio, que ignorava o pedido e trazia um cálice de vinho por conta da casa, para que o ragazzo aprendesse a beber enquanto ele fosse vivo para ensiná-lo. A Bela chegou um pouco depois e, quando viu o cálice de vinho na mesa, reclamou que ele ia virar um bêbado, e ela não queria vê-lo na sarjeta. Não adiantou tentar explicar o que tinha acontecido, ela não lhe deu ouvidos, como sempre acontece com as conversas de casais. Para encerrar a discussão, disse “Quer saber? O fígado é meu e eu faço o que eu quiser, pior és tu que namora um pastel”. Mais uma vez – como sempre acontecia quando discutiam – ela ficou contrariada e não quis mais falar nada. “E daí, o que há de especial nisso?”, retrucou o Tony, o mais impaciente do grupo que, por essa razão tinha o apelido de Comecru. “Calma, agora é que vai começar”. Voltando ao almoço com a Bela, após alguns minutos de silêncio, ela revelou o motivo do encontro urgente: precisava de um favor, que só ele poderia fazer.

Contou-lhe a história. Ela tinha quase certeza de que o Eliseu (o Pastel) estava tendo um caso com outra (“Eu avisei, eu avisei!”), mesmo tendo proposto casamento a ela. O favor: que ele fosse a determinado restaurante, numa determinada hora, para dar um flagrante. Com fotos do momento e tudo. “E aceitaste?”, quiseram saber os amigos. “Em princípio não”, falou, mas depois confessou que aceitara para ver o Pastel ser desmascarado. “Algo como vingança, por ele sempre ter estado rondando à volta, como urubu, enquanto eu a Belíssima namorávamos. É a minha vez de ser urubu, de estar à espreita”. “Mas ela não vai voltar pra ti, sabes disso”, ponderou o Diabo. “Sei e nem quero, mas queria ter o gostinho de ver o rival tombar”, completou Fernando, revelando um lado pouco louvável do caráter humano.

No horário marcado, Fernando entrou no restaurante indicado, e não encontrou o Eliseu nem sua suposta amante. Na única mesa ocupada, estavam três loiras e um vaso com três tulipas vermelhas. Caminhou até elas, pediu permissão e sentou na cadeira vazia. “Já contei o dia em que Caetano me ligou?”, perguntou, fazendo levantar duas das três integrantes da mesa. “Pra mim também”, se espantou a terceira integrante. A partir de então haviam conversado até decidirem ir morar juntos. Fernando estava passando no Platão só para comunicar que estava se licenciando da confraria por tempo indeterminado, pois estava indo passar o verão em Ubatuba, numa cabana de frente para o mar.

Após a saída de Fernando, que foi correndo para o carro em que a loira o estava esperando para a viagem, todos integrantes da mesa permaneceram em silêncio por um longo tempo, até que o Lipe encerrou o assunto:

- Poxa, pra mim ele nunca ligou...
                       

terça-feira, janeiro 03, 2012

Um anúncio e uma carta antiga

Hoje solicitei minha exoneração da Prefeitura de Porto Alegre.

Decisão tomada, posso dizer, não sem sofrimento. Com coerência, contudo.

Quero que fique claro que acho justo que seja cobrado que se cumpra a carga horária de todos os funcionários públicos, mas acho que deveria haver remuneração condizente, o que não ocorre. Como não consigo - teria que abrir mão de outras atividades importantes - cumprir o que está no meu contrato, a única opção honesta - no meu caso, atenção para o negrito - é sair. Fico chateado, mas paciência.

Com relação esse assunto, mantenho a mesma opinião que tinha muito tempo antes de sequer fazer concurso para ser médico do município. Encontrei, nos meus arquivos, carta aberta ao então Prefeito de Porto Alegre, que enviei a um jornal local em 2003, nunca publicada. Diz mais ou menos o seguinte (editei algumas partes por citar nomes e fatos já datados):


23 de Março de 2003.

Excelentíssimo Prefeito de Porto Alegre,


Tomo a liberdade de escrever-lhe esta carta para fazer uma reflexão, motivado pelos últimos acontecimentos envolvendo a questão da saúde na nossa amada cidade, principalmente aqueles relacionados ao tratamento dispensado pelo seu governo aos médicos.


Esclareço desde já que sim, sou médico, e não, não sou funcionário do município. Esta condição provavelmente não me dá o distanciamento crítico necessário para analisar os dois lados da questão com total imparcialidade, mas permite que eu possa lhe alertar e tentar esclarecer algumas coisas que não vêm sendo ditas para o grande público como deveriam ou com o destaque que mereceriam.
Todos dizem que a saúde vai mal em Porto Alegre, assim como no resto do Brasil, e disso não se pode discordar. Mas está mal por quê? Por que os médicos não querem cumprir o seu horário de trabalho? Ou por que faltam recursos para investir em saneamento básico, educação (saúde também é questão de educação) e na própria saúde, remunerando melhor hospitais, disponibilizando especialistas,  exames e, sim, remunerando melhor os médicos? Apesar de parecer, não é uma questão tão simples assim.


Não vou entrar no mérito da equiparação salarial entre os médicos, que – quando da municipalização da saúde – foram colocados trabalhando juntos, cumprindo o mesmo número de horas e com as mesmas funções, profissionais recebendo remunerações diferentes por terem sido admitidos pelo estado, união ou pelo município. Isso nem é preciso de argumentos maiores do que aquele que diz que, para trabalho igual, igual remuneração. Ponto. Também não vou entrar na questão das condições de trabalho, segurança, etc, que em alguns locais é exemplar, mas em outros deixa muito a desejar. 
 

Pergunto, contudo, qual o custo de se ser médico? Essa é uma pergunta que normalmente não é feita, mas é interessante pensar no quanto se investe na formação e manutenção de um médico. Custos em espécie, que podem ser medidos em moeda corrente, e custos outros, talvez mais importantes e mais difíceis de serem medidos e avaliado seu retorno. Quanto custa, pergunto, uma juventude, interrompida na sua metade pela precoce perda da ilusão da imortalidade?


Todo o jovem, conscientemente ou não, traz consigo a ilusão da imortalidade, da onipotência. A morte é uma idéia muito distante, assunto para muito, muito mais tarde. Essa é, junto com a associação  entre álcool e direção, uma das causas de morte por acidentes de trânsito, que ceifam as vidas de parte de nossa juventude. O jovem estudante de medicina (que é jovem, e que também morre como muitos outros, no trânsito) conhece a morte de perto desde cedo, na faculdade de medicina. Mais grave, conhece a morte com sofrimento, o que é um pouco pior. Começa por aí a perda da juventude, e vai além, com inúmeros finais de semana estudando para provas, plantões, etc. E continua depois de formado, com as muitas noites e finais de semana de plantão, longe da família, os vários empregos algumas vezes até em cidades diferentes.


O custo de manutenção de um médico é alto, porque do médico é cobrado que ele se mantenha sempre atualizado, estando ciente dos principais avanços e novidades da sua área, que participe de congressos, de estudos. Que se dedique aos seus pacientes como se cada um fosse o único, que esteja sempre disponível e de bom humor, mesmo que ele ligue para o seu médico às quatro horas da manhã com alguma dúvida. Que compartilhe de suas angústias, que os ouça e sofra junto. E, na grande maioria das vezes, encontra médicos assim. Mas tudo isso tem um custo. E alto, em termos gerais, não só financeiros. Entre tantas razões, essas acima são algumas para justificar porque o trabalho médico não é um trabalho burocrático, que deva ser cumprido em horário comercial, das oito ao meio-dia e das duas às seis da tarde, de segunda à sexta-feira. O médico não pode bater cartão,  sair do hospital ou do posto, ir para casa e esquecer totalmente do trabalho, do sofrimento das pessoas que passam por ele.


Além disso, nem todo o trabalho médico é igual. Existem diferentes tipos de atendimento: o consultório, o posto de saúde, o pronto-atendimento (que pode ser num posto de saúde), o plantão de emergência. Não se pode tratar tudo como se fosse a mesma coisa. O plantão de emergência e de pronto-atendimento, locais onde as pessoas vão porque sentem algo agudamente e necessitam ser vistas por um médico, necessitam de um  pronto atendimento, neste locais não pode faltar e nunca faltam médicos. No consultório do médico, último reduto do tempo em que o médico era um profissional liberal ou autônomo, o horário é ele quem determina, a partir de suas condições de tempo para atender, pois ainda é seu próprio patrão.


Quanto aos postos de saúde, com especialistas, onde as consultas são previamente agendadas, o funcionamento pode e deve ser diferente. Por exemplo, um especialista que tem doze consultas agendadas e atende todas em tempo menor do que as horas que deveria cumprir (quatro, por exemplo), por que este médico tem que ficar, sem fazer nada, no posto, esperando para completar suas horas? É no mínimo ilógico querer obrigá-lo a isso. Por que não atende mais? Porque, por determinação da lei, o médico pode e deve atender no máximo quatro pacientes por hora, para um bom atendimento. 


Em pronto-atendimento e emergência, atendemos bem mais pacientes que isso, sem dúvida, sempre para o bem do bom fluxo do sistema. Sem fôssemos seguir esta orientação, quanto tempo de demora levaria o atendimento? É para pensar.


Não digo que os médicos sejam ingênuas vítimas do sistema e que são explorados, mas também não podemos culpá-los pelo caos instalado. Existem maus profissionais, aqueles mal-intencionados e outras distorções de caráter, assim como existem maus empresários, advogados e até maus políticos. De todos, se espera correção e honestidade. Todos, sem exceção, podem fazer grande mal a um grande número de pessoas. Excluindo-se os políticos, todos têm que passar por um longo período de formação específica até exercerem suas atividades.

(...)



Numa guerra, como sabemos Vossa Excelência e eu, a primeira vítima é sempre a verdade. É o que parecer estar acontecendo no caso dos problemas com a saúde pública. Por isso, e na mais honesta e boa das intenções, devo lhe fazer um alerta: não é a política mais adequada a de demonizar os médicos para encobrir uma série de outros problemas relacionados à saúde. 


Obrigado por sua atenção,

Marcelo Tadday Rodrigues

Até.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

De volta (2)

Último dia de férias.

O caminho do litoral norte do RS até em casa foi três vezes mais longo que o usual, mas não importa o por quê... Chegando em casa, ainda não coloquei tudo em ordem.

Os e-mails, principalmente de trabalho, só vou ver e responder a partir de amanhã.

A idéia é retardar o início do ano de trabalho (com suas mudanças, desafios e preocupações) até o último momento, ou seja, amanhã de manhã.

Então dá licença que vou ali curtir as férias mais um pouquinho antes de terminarem.

Até amanhã.

Fui.

domingo, janeiro 01, 2012

No meio deles

(ou um pouco de rivalidade grenal para começar o ano)

Passei o ano novo com um grupo formado quase que exclusivamente de gremistas (a família pelo lado da Jacque). Nada demais, obviamente. Em determinado momento da festa, ainda antes da meia-noite, enquanto cantávamos diferentes músicas embalados pelo Pedro (primo) tocando violão, todos os gremistas começaram a cantar o hino do time deles. Provocação, claro.

Em silêncio, ouvi.

Ao final, não pude deixar de comentar:

"Proponho logo um brinde, afinal essa vai ser a primeira e única vez que vocês vão levantar uma taça em 2011...".

:-)
 
Até.