sexta-feira, setembro 30, 2005

Confissões

Por incrível que pareça para você, fiel leitor, nem todo mundo gosta de mim. Não sou uma unanimidade. Verdade. Entendo sua estupefação. Como alguém pode não gostar de mim, um cara bem humorado, simpático e modesto?

Mas acontece que, e durante algum tempo, quando era mais novo e achava que precisava provar muita coisa para muita gente, eu realmente quis que todo mundo gostasse de mim. Foi duro descobrir que isso é impossível, por diversas razões. Desde as relacionadas a quem sou e o quê quero para mim, até aquelas relacionadas a circunstâncias da vida e às outras pessoas. Nada é nada anormal que pessoas entrem e saiam de nossas vidas.

É um processo de seleção, o que vamos fazendo durante a vida. Encontramos pessoas, as conhecemos, nos conhecemos melhor por interagirmos com elas, nos reconhecemos nos outros. Nem todos estão na mesma sintonia que nós, ou não estão no mesmo barco, seja lá o que isso quer dizer. Procuramos aqueles que são parecidos conosco, com quemnos identificamos. E isso é muito mais marcado quando somos muito jovens, quando estamos formando nossa identidade social, digamos assim, que é a forma que o mundo nos vê e com a qual nos apresentamos.

Para reafirmar nossa própria identidade, procuramos aqueles que se identifiquem com quem somos, ou achamos que somos. É a fase das turmas, dos grupos, todos iguais, músicas iguais, roupas iguais. Lembro do All Star preto, que marcou uma fase. Tudo isso é importante e até fundamental para nos tornarmos adultos, para crescermos.

Chega um momento, porém, que aqui aquilo que somos não muda mais, ao menos não em essência. E chega o dia que percebemos que não podemos (e na verdade não queremos) agradar a todos, fazer todos gostarem de nós. Como toda revelação, não é tão simples, e por mais que alguém diga que foi tranquilo, nunca é. Tem gente que nunca consegue, e passa a vida se preocupando com o que os outros vão pensar. E tomando atitudes em virtude do que os outros vão pensar.

Muitas vezes, para chamar a atenção – pois precisam disso, platéia, circo – criam polêmicas, agridem, tentar chocar os outros e, se e quando conseguem, ficam em estado de êxtase com as reações a suas provocações. Como muitos dos que escrevem em blogs. Criam polêmicas, acirrados debates, dão respostas agressivas quando, no fundo, são apenas crianças pedindo atenção. Eu não dou corda e esses provocadores. Não dou bola, que escrevam o que quiserem. Se eu não gostar, ou ficar ofendido, não leio mais.

Além disso, outro problema é que tem muita gente que se leva muito a sério. Que acha que – por escrever um blog – é mais ou melhor que outros. E que – além de “serem” especiais – se consideram “guardiões” do bem na internet. Vão de um lado a outro da “blogosfera” policiando o que os outros escrevem e/ou pensam. Falta do que fazer.

Eu não me levo tão a sério assim. Escrevo porque gosto e porque sinto necessidade de fazê-lo. O que escrevo é de minha única responsabilidade, e arco com as consequências do que digo e faço. Não preciso provar nada para ninguém, mas devo confessar que – de vez em quando - não consigo não pensar que ser quem eu sou e estar onde estou é uma forma de vingança contra alguns por aí que – além de não gostarem de mim – ainda tentaram puxa o meu tapete.

E não conseguiram.

(falei, falei, e não disse nada, eu sei…)

quinta-feira, setembro 29, 2005

Também por aqui

Após a “blogagem” coletiva discutindo a questão da descriminalização do aborto, voltemos às questões mais profundas.

Os elevadores.

Já escrevi sobre isso, com certeza há mais de um ano, a estranha relação que nós, humanos, temos com elevadores. Por mais absurdo que pareça, nos portamos como se eles tivessem vida própria. Primeiro, pensei que fosse um comportamento típico nosso, brasileiros. Sei lá, algo de terceiro mundo, vai saber.

Mas estava enganado.

Aqui no Canadá é a mesma coisa, mas eventualmente pior. Sério.

Veja o caso dos elevadores da nova ala leste do Toronto Western Hospital. A New East Wing, em cujo sétimo andar fica o Respiratory Research Lab e cuja a sala 455 é a deste que vos escreve, e que tem um poster da Baía de Guanabara no final de tarde, o tom dourado do crepúsculo dando o tom do quadro, tem quatro elevadores. E eles falam.

Sempre, ao abrir a porta em qualquer andar, por exemplo o sexto, além da seta externa que indica se o “veículo” está indo para cima ou para baixo, há uma mensagem que diz ‘sixth floor’ e o sentido da viagem ‘going up' (ou down). Ou seja, informa qual o andar e se sobe ou desce. Impossível de haver dúvidas: há um bip, há seta acende indicando a direção, a porta abre, o elevador diz o andar e que está indo para cima.

Mas sempre tem alguém que pergunta.

Going up?

Já pensei em mil respostas diferentes para a situação, mas nunca disse nada, afinal sou um cara educado. Só que sempre lembro daquela série da revista Mad, “Respostas Cretinas para Perguntas Imbecis”. Era muito engraçada…

Pois é, os elevadores falam. Isso deve acentuar a crença das pessoas de que eles têm vida própria, auto-determinação. Bobagem. Eu não acredito, ele são apenas máquinas.

De qualquer forma, quando chego no meu andar, ao desembarcar, sempre digo um ‘thank you’. Vai saber…

Até.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Aborto

Nós na rede

Hoje, 28 de Setembro, é mais um Dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe, e os blogueiros do grupo blogleft estão puxando mais um movimento Nós na Rede. Assim como no Sete de Setembro, estou me juntando a eles e escrevendo sobre o assunto.

Aborto é uma questão de foro íntimo da mulher.

Essa é a premissa número um do que penso sobre o assunto. Acho que o Estado, a Igreja ou quem quer que seja jamais deveria interferir no assunto. Nunca, sob hipótese nenhuma. Qualquer outra consideração sobre o assunto é criminosa. Simples assim. Não se pode legislar sobre o corpo da mulher, que é o que querem fazer e fazem aqueles que advogam sobre o assunto, que fazem leis que tornam o aborto crime. É pura hipocrisia.

Que fique claro: não sou a favor do aborto. Defendo intransigentemente a liberdade de escolha da mulher (e de quem mais ela quiser envolver na decisão, porque é ela quem vai passar por todo o processo físico - gravidez ou aborto - e por todo o processo emocional). Tenho certeza que NUNCA é uma decisão fácil, nunca é sem traumas. Ninguém precisa do estado ou de religião para acrescentar mais culpa e mais dificuldades ao assunto.

Esse é um lado.

O outro é de que é hipócrita manter a opção do aborto na ilegalidade porque isso acaba apenas impedindo o acesso de quem não tem como pagar particular e que acabam nessas clínicas sem condições mínimas, nem mesmo de higiene, ou fazendo em casa elas mesmas. E muitas morrem, diariamente, enquanto as que têm dinheiro ficam em clínicas com todo o conforto e segurança. Sejamos claros, aborto é ilegal para quem não pode pagar.

O aborto não pode ser crime.

Até.

terça-feira, setembro 27, 2005

Só capim não dá

Após passar os últimos dias pensando no ponto e em suas implicações na evolução do pensamento ocidental, ao ler o que escrevi sobre o assunto, me dei conta que eu tenho uma batalha maior a enfrentar.

Contra os vegetarianos.

Não, nada contra quem não come carne. Cada um na sua. Sem preconceitos, afinal tem gente que tem peixes, outros são webdesigners (brincadeira, Gean, brincadeira…) e tudo bem, somos amigos. Vegetarianos são gente como todos nós, mas…

Não agüento aqueles que ficam apregoando sua “virtude” e tentando convencer os outros a segui-los em seu desvario. Sim, porque aquele papo de que é “natural” é bobagem. Isso mesmo. E não estou aqui tentando convencer ninguém nada. Como eu disse, cada um na sua. Mas se vem com aquele papo de que é mais saudável e bibibi-bobobó, é melhor se preparar e prestar atenção no que eu vou dizer.

Quem só come capim é vaca.

Certo, fui meio radical (nada pessoal, Radi). Deixa eu explicar uma coisa chamada cadeia alimentar. Preciso mesmo? Acho que não. Mas só para acrescentar: lembra aquele papo de herbívoro, carnívoro? Pois é, o ser humano é omnívoro, come de tudo, precisa de tudo. De proteínas, que vem de produtos animais, que vegetariano estrito não come: leite, ovos, carne de gado, galinha, etc. E quando não ingerem proteínas, ficam doentes.

Então esse papo de que ser vegetariano é melhor em termos de saúde é papo para boi dormir, com o perdão do trocadilho infame.

Quer ser vegetariano, tudo bem, não tenho nada a ver com isso. Pode ser por razões religiosas, princípios morais, gosto pessoal, não me importa. Só não vem dizer que carne faz mal. Isso não, por favor.

E, por ser um hábito anormal, não tenta convencer os outros a aderirem a ele.

Até.

(Normal – conceito estatístico, o mais comum)

segunda-feira, setembro 26, 2005

O Ponto

Diante de todas as questões existenciais, das muitas encruzilhadas morais com as quais nos defrontamos, daquelas que inquietam a humanidade desde o princípio dos tempos, de todas, a que elegi como a que mais necessita minha atenção e para a qual vou dedicar os próximos anos da minha vida em pesquisas e reflexões, é a mais intrigante delas.

O que é o ponto?

Sim, porque se você nunca se perguntou isso, caro leitor, você tem passado pela vida em branco. Você não pode saber quem você é ou de onde você veio se nunca se perguntou o que é o ponto. E caso tenha se perguntado, o que eu respeitosamente duvido, não chegou à resposta. Até sente que sabe o que é o ponto, mas não tem como defini-lo.

Porque mal passado, ou bem passado, todos sabemos o que é e como é. Mas o ponto, que alguns chamam também médio, apesar de parecer simplesmente estar entre o mal e o bem passado, não é só isso. O ponto é um conceito pessoal, único. O que é o ponto para mim pode não ser para você.

Até porque não é simples questão de gosto pessoal. A definição de como a carne deve vir assada (cozida) é também uma definição de caráter. É mais fácil permanecer no simplismo preto/branco do bem ou mal passado. Não há filosofia ou virtude nos extremos. O mal passado é uma opção primitiva, selvagem. Talvez fosse mais apropriado comer a carne mal passada com as mãos, parti-la com os dentes e mastigar com a boca aberta; sentados no chão, certamente.

Já o bem passado, por outro lado, simboliza exatamente o oposto, e não como virtude: o excesso de civilização, o distanciamento homem da natureza, um medo irracional de doenças e germes. Ou não. Sei lá.

Bem ou mal passado. Simplório, superficial. O mundo não é assim. É muito mais complexo, e profundo e belo, como encontrar o ponto, aquele momento mágico, a carne em sua forma mais perfeita.

E quem disse que um churrasco não tem poesia?

Até.

domingo, setembro 25, 2005

A Sopa 05/10

Hoje passei por um amigo na rua. Não me reconheceu.

Deve ser pela barba. Ou os óculos escuros. Talvez o chapéu. Ou a barba, os óculos e o chapéu, juntos. Acho que o fato de eu andar olhando para baixo e me esgueirando entre as sombras também tem a ver com isso. Tudo, na verdade, são sinais do que está acontecendo.

Eu estou me escondendo.

Terça-feira eu fui dormir um “cidadão respeitado que ganhava quatro mil cruzeiros” por mês e amanheci quarta-feira um pária, um escroque, parte do submundo (underground, se preferirem). Noite violenta, vocês devem estar imaginando. Que nada, digo eu, não houve nada de diferente, tudo continua igual no mundo, exceto por mim. Eu sou um fora da lei.

Certo, certo, não é bem assim. Eu não sou, assim, um criminoso. Apenas alguém cujo status legal em solo canadense está como pendente. Não fede nem cheira. Não tenho o meu work permit (e o Social Insurance Number, licença médica, posição na universidade, salário, cartão de crédito, etc) porque o meu venceu e – apesar de ter enviado os papéis para a imigração dentro dos prazos legais – eles ainda nem começaram a processá-los.

Se eu, num delírio kafkaniano, tivesse acordado uma barata na manhã de quarta, pelo menos eu saberia o que fazer: fugir de sapatos e chinelos enquanto aguardaria em segurança a hecatombe nuclear que vai acabar com os humanos, esses inconvenientes. Mas não, acordei exatamente como eu havia ido dormir, física e psicologicamente falando, exceto pelo fato de ser um biltre, um renegado da sociedade, um outsider.

E não posso fazer nada, porque está tudo nas mãos da imigração, provavelmente em cima de uma mesa repleta de outros processos iguais aos meus esperando um funcionário ter a boa vontade de olhá-los e passá-los para a seção seguinte, onde vão parar em cima de uma mesa aguardando por um novo funcionário do setor notar que há um erro que o seu colega cometou e que atrasa mais ainda o andamento de tudo. Esperar, tudo que me resta.

O que muda na minha vida? Exceto os disfarces que tenho que usar para burlar a imigração – ah, me vestir de índio não foi uma boa idéia – muito pouco. Talvez hoje, no almoço dos blogueiros lá no Rio 40 Graus, eu seja posto para fora do restaurante por não ser uma pessoa confiável, não sei. Não dá para confiar em nós, ilegais…

Por outro lado, o pior que pode acontecer – com exceção da horda de blogueiros furiosos que podem querer quebrar minhas pernas – é eu ser deportado. Humm… passagem de graça para o Brasil… bom…

Nada de ruim pode acontecer, afinal de contas…

sábado, setembro 24, 2005

Outro

Sábado.

Termina mais uma semana e chega o inevitável sábado. Amanheceu com sol, temperatura de 11ºC – o verão começa a se distanciar na memória – depois nublou e agora o sol brilha novamente lá fora.

Quando faltavam seis meses para reencontrar a Jacque, havia a resignição de que nada adiantava sofrer, a ansiedade não tinha motivo de ser, afinal seis meses de ansiedade iam resultar no máximo na minha cabeça explodindo, eu dentro de um bonde, sangue e partes do meu cérebro espirradas nas pessoas, aquelas faces de horror perante o meu corpo sem cabeça fazendo movimentos aleatórios, apenas reflexos medulares. Ia ser manchete no jornal das onze, podem estar certos. De qualquer forma, não tinha razão, ou sentido, ficar ansioso. Agora é diferente.

Faltam duas semanas, e o tempo se arrasta.

Não é só isso o que se passa por aqui por esses dias, mas prometi que não falaria (amanhã, amanhã).

Falando em amanhã, nada como um pequena pilha posta no momento adequado: tem almoço dos Blogueiros e Simpatizantes no restaurante Rio 40 Graus, na St Clair West. Dia de comer picanha com arroz e feijão. Não falei isso antes, mas tenho restrições ao feijão que fazem aqui em Toronto. Nada pessoal, na verdade, mas acho que colocam um pouco de alho a mais do que o meu paladar prefere. Azar, é feijão.

Amanhã, 1pm.

Bom sábado a todos.

sexta-feira, setembro 23, 2005

A Semana

Foi uma semana cheia de emoções contraditórias.

O fato mais positivo e que me deixou mais feliz foi, evidentemente, a defesa da dissertação da Jacque, e o título de Mestre. Ao mesmo tempo, como ela me disse, se passou a defesa é porque falta pouco para nos encontrarmos. Respondendo à tua pergunta, Aninha: duas semanas, duas semanas.

Nem tudo são flores, contudo. Mas também não é o fim do mundo.

Não, não vou falar o que “está rolando”. Não agora, ao menos. Aguardem cenas dos próximos capítulos. Quem sabe no domingo, quem sabe no domingo.

Enquanto isso, na sala de justiça…

Não acredito em sinais, nem sou supersticioso.

Não tenho problemas com gatos pretos (certo, não gosto de gatos, mas independe de cor), escadas, ou outras crenças. Assim como sei que simpatia não cura asma (e nem homeopatia – aliás, nada cura asma, ao menos por enquanto), e… bom, já entenderam a idéia geral do que quero dizer. Sou um cientista. Totalmente racional.

Agora, se o Inter for campeão do Brasil e/ou da Sul-Americana, vou ser obrigado a acreditar que é só porque eu estou longe de Porto Alegre…

quinta-feira, setembro 22, 2005

A sorte sorriu para mim

Sabina Peter é filha única de Peter Martause, rico mercador de algodão e cacau no Zimbabwe. Ele morreu em 2000 e deixou nove milhões e meio de dólares numa conta secreta em nome da filha na Costa do Marfim. Agora, ela precisa de um estrangeiro para gerenciar seus investimentos, para o que ela precisa que eu mande os dados da minha conta bancária para que ela possa transferir o dinheiro. Para tal, me oferece uma comissão de 20%.

Peter Frank, que mora na Libéria, é filho de James Peters, rico mercador de ouro e diamantes que foi morto por rebeldes em seu país. Antes de morrer, ele revelou que possuia dezesseis milhões de dólares depositados em Gana. Peter, nesse momento, precisa de alguém de fora do país para gerenciar seus investimentos, para o que ele precisa que eu mande os dados da minha conta bancária para que ela possa transferir o dinheiro. Para tal, me oferece uma comissão de 20%.

Kingsley Bayo Agua é auditor do United Bank for Africa. Ele fez contato comigo para me porpor um negócio: Kennethh Magoto, um cliente do banco, morreu – ele e toda a sua família – num desastre de avião, e seus investimentos, totalizando sessenta e cinco milhões de dólares, estão disponíves. Ele procura por um sócio e – por isso - ele precisa que eu mande os dados da minha conta bancária para que ela possa transferir o dinheiro. Para tal, me oferece uma comissão de 30%.

Histórias semelhantes acontecem com Edward Kamara, Terfar Otis, Fatima Owayed, o Príncipe Abacha, Keneth Willians, Williian Bill, Tafa Frank Balogun, Joihn Kofir, Andrey Konovalolv, Monica Rossman, Madi Abu, Bright Nelson, e até a viúva do falecicido Yasser Arafat, Suha. Todos eles receberam indicações de que eu sou uma pessoa confiável e querem fazer negócio comigo.

Eu sabia que vir para o Canadá seria um enorme upgrade no meu currículo. Só não achei que fosse ser tão rápido e nem nesse sentido...

Até.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Mestre

Hoje no final da tarde, quando consegui falar com a Jacque por telefone para que ela me contasse como havia sido, ela simplesmente disse: “É, podia ter sido melhor…”. Como assim, melhor!?

Foi ‘A’, nota máxima, o que ela recebeu pela dissertação do mestrado dela. Muitos elogios (e não foi ela quem me falou isso), reconhecimento pelo trabalho.

Mas ela disse que poderia ter sido melhor. Poderia?

Não é importante. Na verdade, o que vale é o título, o trabalho bem feito, o dever cumprido. Estar mais leve… e as férias que vêm aí.

Eu não estava lá. Geograficamente, claro, porque passei o dia pensando que tudo daria certo e lamentando não estar lá, para compartilhar o momento com ela. Essa é uma daquelas situações em que sinto mais falta de casa, em que o preço que estou pagando para estar aqui fica mais caro, mais amargo.

Fazer o quê?

Esperar, que é tudo o que posso fazer agora. Em pouco mais de duas semanas, o reencontro.

Parabéns, Jacque. Tu sabes o quanto me orgulho de ti e o quanto sinto a tua falta.

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(A Mãe e a Jacque logo após a defesa)

Informe Econômico

Agora este blog vai ser, de alguma forma, também informativo. Começa hoje com uma informacao realmente importante para quem mora no Canadá, ou está planejando se mudar para cá (Fonte: jornal Zero Hora.)

Saca-rolhas

Depois de quase dois anos de fermentação burocrática - período no qual seus produtos passaram por diversas etapas de testes do governo - a Miolo prepara o embarque de um contêiner de vinho ao Canadá.

Para 2006, a vinícola gaúcha pretende se tornar um fornecedor fixo do mercado canadense.


Pergunta: e a Valduga, quando chega?

Até.

terça-feira, setembro 20, 2005

A importância de ser gaúcho

(Moacyr Scliar)

Na exposição que, em 2004, lembrou o centenário da colonização judaica no RS, havia uma foto antiga que chamava a atenção. Mostrava dois homens tomando chimarrão, ambos usando trajes típicos gaúchos. Um deles era nascido e criado no Estado; o outro era um imigrante, chegado não havia muito tempo da Rússia. No entanto, os dois eram indistinguíveis. A cultura conseguiu o milagre de torná-los semelhantes.

Porque é uma cultura forte, a cultura gaúcha. A gente viaja pelo oeste do país e em vários lugares vamos encontrando núcleos urbanos constituídos por gente originária de nosso Estado. Alguns destes pioneiros estão ali há décadas, já tem filhos, netos e bisnetos. E estes descendentes freqüentam CTGs, cantam e dançam música gaúcha, mesmo que nunca tenham vindo ao nosso Estado.

É uma impressionante manifestação de vigor cultural, sobretudo em nossa época. Vivemos em um tempo de globalização, que é ao mesmo tempo de homogeneização, uma homogeneização que decorre sob a égide da grande potência de nosso tempo, os Estados Unidos. Em toda parte, as pessoas vêem os mesmos filmes, comem os mesmos hambúrgueres do McDonald's, tomam Coca-Cola. Tirando os aspectos nutricionais, isto não é necessariamente ruim; afinal, habitamos um mundo só, precisamos de coisas que nos sirvam de denominador comum. Mas não podemos esquecer que existe uma palavra-chave para qualquer ser humano. Esta palavra-chave é identidade, aquilo que nos afirma como pessoas e, ao mesmo tempo, garante nossa adesão a um grupo, a uma comunidade. Sem identidade, corremos o risco de nos dissolvermos na geléia geral, de perdermos nossos característicos.

Os gaúchos, talvez até por instinto, se deram conta disso. A cultura criada em nosso Estado, sem ser muito antiga (não estamos falando de milênios, como na China ou na Índia), consolidou-se e, mais, foi adotada pelos contingentes migratórios que em sucessivas levas chegaram ao nosso Estado. O 20 de Setembro evoca um episódio importante de nossa História - e é também uma ocasião de reafirmar a identidade gaúcha. Que, desafiando o tempo e o espaço, permanece sempre autêntica.

(texto publicado na edição de hoje, 20/09/2005, no jornal Zero Hora, de Porto Alegre)

Vinte de Setembro

Apesar de alguns não entenderem dessa forma, talvez até por não conhecerem a história, a Revolução Farroupilha iniciou basicamente por causa do excessivo imposto que o governo central cobrava do charque produzido no sul. O que os revolucionários queriam era um melhor pacto federativo (aspiração essa que não mudou nos últimos 170 anos). As idéias de independência vieram depois.

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De qualquer forma, o interessante é notar que uma revolução que dividiu o estado em dois hoje sirva como motivo para unir os gaúchos e celebrar sua história e seu chão. Existem aqueles que insistem em falar em separatismo. Uma bobagem, claro. Somos tão brasileiros quanto qualquer outro brasileiro, apesar de nossa proximidade com os país do prata que nos dá algumas características distintas. Mas o que seria do mundo se não fosse a diversidade?

Não conheço gaúcho que não ame seu estado, mesmo morando bem longe dele pelas mais diferentes razões. Ano passado, escrevi que o Rio Grande do Sul, mais do que geografia, é um estado de espírito. Um ano morando fora do estado e do país me fizeram reafirmar essa certeza.

Eu sou do sul. Mas agora também um pouco do norte.

Eu Sou do Sul

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

Nascido entre a poesia e o arado
A gente cuida do gado e cuida da plantação
A minha gente que veio da guerra
Cuida dessa terra
Como quem cuida do coração

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

Você, que não conhece meu estado
Está convidado a ser feliz neste lugar
A serra te dá o vinho
O litoral te dá carinho
E o guaíba te dá um pôr do sol lá na capital

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

A fronteira los hermanos
É prenda cavalo e ganha
Viver lá na grande espanha é bom demais
Um santo missioneiro
Nos acompanha companheiro
Deve levar a alma no rio uruguai

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

Eu sou do sul

segunda-feira, setembro 19, 2005

As Coisas

Uma das inevitabilidades da vida, e aprendi isso cedo, é que não podemos controlar o mundo ao nosso redor. Contudo, a ansiedade que é gerada em tentativas de fazê-lo é enorme. Desgasta, consome, e o resultado é absolutamente o mesmo: nenhum. Não temos controle sobre tudo.

Aceitar esse fato, fase seguinte ao tomar conhecimento, por outro lado, é bem mais difícil. Lutamos e lutamos, como se quiséssemos – ao insistemente bater a cabeça na parede – derrubar a casa. Nunca resolve e só causa dor. E nos deixa tontos.

Um velho professor meu – nem tão velho assim ou, melhor, nada velho – uma vez me disse isso, que aprendera com seu avô, também médico, honrando assim a tradição de Hipócrates de passar adiante os ensinamentos, a ciência e a filosofia da medicina para os discípulos, alunos, que tudo na vida se enquadra em duas categorias: o que podemos mudar e o que não podemos mudar. Quanto ao que é passível de mudança por nossa intervenção, devemos empregar toda nossa energia para moldar a nosso gosto. Das outras, não adianta fazer nada, não vale à pena.

Hoje me surgiu o conceito da ‘contemplação ativa’: fazemos tudo o que está ao nosso alcance para atingir determinado objetivo, e depois esperamos. Contemplamos o desenrolar dos fatos tranquilos por termos feito a nossa parte, tudo o que estava ao alcance, com força e correção. Chegado nesse ponto, o que resta é sentar e esperar, que tudo, tudo, vai dar pé.

No, woman no cry.

Até.

(O texto não se refere a ninguém em particular, o woman no cry é apenas para fechar o texto, emendando o parágrafo anterior, que diz “que tudo vai dar pé”…

domingo, setembro 18, 2005

A Sopa 05/09

Vamos falar de filhos. Mais especificamente, da criação deles.

É cada vez mais difícil educar os filhos, e os fatores que complicam esta tarefa que no passado era bem mais simples são muitos e os mais variados. Desde a tecnologia – televisão, internet, etc - até a liberalização dos costumes, tudo que está aí serve para dificultar a vida dos pais.

Antes não, antes as coisas funcionavam de outro jeito. Os filhos aprendiam desde muito pequenos a respeitar os pais. Inclusive os chamavam de senhor/senhora (eu, na única vez que fui tratá-los com tamanha reverência, virei motivo de piada por um bom tempo…). Hoje, não. Tem filhos que até chamam os pais por adjetivos de baixo calão. Não se tem respeito. E essa falta de respeito se estende também para os professores, mas essa é outrra questão e não vou abordá-la hoje.

O fato é que a tarefa dos pais é imensamente maior hoje do que era, digamos, há vinte anos atrás, e eles tem que transitar por uma perigosa fronteira. Os filhos, as crianças em geral, são puramente impulso, são só id. Os pais, por seu turno, tem de ser o ego, o bom senso, a razão. O problema é que anda faltando superego, alguém que imponha limites, não tenha pudores em dizer não. Antigamente, um dos pais cumpria esse papel, mas, hoje em dia, concordo que não dá. É preciso mais.

O que falta, para auxiliar os pais a educarem os seus filhos, é um superego externo.

Eu, por exemplo.

Há algumas semanas, minha afilhada amada Roberta – que já teve cachorro e agora tem um hamster (rato, mas se eu disser isso ela fica braba) – inventou que queria um coelho. Os pais dela, com toda a razão, disseram não. Até aí tudo bem. O problema é que uma estratégia comum das crianças é insistir e repetir tanto o assunto até conseguir o seu objetivo. E, muitas vezes, conseguem, e nem é porque os pais são frouxos ou algo do gênero. É simplesmente porque os filhos vencem no cansaço. Não foi o caso dessa vez mas, falando com eles via Skype, ela me contou que queria um coelho. Instantaneamente, respondi: “Tá louca? Coelho para quê? Eles só servem para duas coisas: páscoa e churrasco…”. Foi aí que me dei conta da utilidade de um superego externo nessas situações.

Imagine os pais com o filho num shopping center, e o filho resolve que quer um, vejamos, PSP (o Play Station Portable), e fica repetindo aquele “me dáááá… Ahh paaaai…”. Nessa hora, o pai pega o seu telefone celular, liga para mim (por enquanto o único Superego Externo para Pais com certificação do ACSP – American College of Superegos for Parents) e passa o telefone para o filho, já quase às lágrimas implorando pelo brinquedo. A ligação:

Filho – Alô?

Eu – Vem cá guri, o que tu tá pensando!?

Filho – Quem é?

Eu – Não interessa. Tu pensa que dinheiro dá em árvore? Ou será que teu pai caga dinheiro?!

Filho – Quem ééé…?

Eu – Primeiro: deixa de ser fresco e FALA COMO HOMEM. Segundo, esquece essa coisa de joguinho eletrônico, vai pra casa jogar futebol ou brincar de pegar com as meninas.

Filho - ?

Eu – E tem mais: se continuar com esse lenga-lenga, eu vou até aí e dou um pau em ti e no teu pai, pra ele aprender a não me ligar mais e pra tu deixar de ser bundão.

Nesse momento, o menino deixa o celular cair no chão e se agarra nas pernas da mãe chorando. Ela olha o marido com cara de desaprovação, no que ele responde que é para o bem do filho deles. Leva tempo até o menino se recuperar, mas em outro dia, outro passeio ao shopping, e ele pede uma televisão de 29 polegadas e tela plana para o seu quarto. Eles dizem não e o menino ensaia uma birra, no que o pai pega o telefone celular. Ao ver isso, o menino fica sério, muda de assunto e sai da loja. Nunca mais pede nada de presente.

Psicologia, zero. Resultado, dez.

Até.

sábado, setembro 17, 2005

O frio vai chegar

E os Blogueiros e Simpatizantes de Toronto andam meio parados. Talvez seja o famoso end of summer blues, ninguém pode confirmar o fato. O último EBS foi em julho, o que ocorreria em setembro foi cancelado e a lista de discussão no Yahoo está lá, jogada às moscas e à míngua.

Bem ao contrário do inverno passado, como podemos comprovar na foto abaixo, tirada na final do I Torneio de Pôquer dos Blogueiros de Toronto.

poker-game


(No detalhe, momento tenso do jogo: podemos notar a face tensa de Sérgio ao apostar seu emprego acreditando que ganharia a rodada com dois pares, enquanto Alessandro, como quem não quer nada, desiste da rodada por não acreditar que ganharia com seu jogo exatamente igual ao de Sérgio. Heitor , por seu turno, blefa com uma frieza impressionante. Marcelo, tão frio quanto, não consegue se mexer e, além de perder a rodada por estar com uma mão ruim, perdeu também dois dedos do pé e levou três meses para voltar a sentir as mãos)


Bom sábado a todos.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Consultório Sentimental do Seu Sopa


Seu Sopa:

Ainda não fiz 18 anos, e namorei uma menina por três meses. Eu tinha certeza que ela era a mulher da minha vida, mas ela acabou o namoro comigo. Fiquei triste por semanas, até que ela veio falar comigo e disse que queria voltar para mim. Ficamos juntos de novo, mas agora tenho me perguntado se ela gosta mesmo de mim. O que você acha? Acho que a mágica se quebrou, mas não sei ao certo. Devo continuar com ela?

Apaixonado Aflito


Meu caro AA,

Não jogue sobre meus ombros essa imensa responsabilidade, dizer o que você deve fazer de sua vida! Mas lendo sua mensagem e suas dúvidas, lembrei de quando eu tinha sua idade, e de algumas certezas que temos quando somos tão jovens. Não duvido que ela seja a mulher de sua vida, podes estar certo, mas discordo que ela seja a única mulher de sua vida.

Não somos destinados a uma única pessoa no mundo. Sou da teoria de que – durante nosso tempo de vida – encontramos várias “pessoas” de nossa vida, e vamos acabar ficando com uma delas. Eu encontrei algumas, a última foi Isabella, com quem estive em Paris, mas não é de mim que estamos falando. Normalmente, por circunstâncias alheias à nossa vontade, não ficamos com a primeira que encontramos. O mais comum é sermos muitos jovens.

Acho que esse é o teu caso, ainda és jovem. O que não quer dizer que não possas encontrar já, agora, a pessoa que vai ser para sempre, a definitiva. Não é o mais provável, contudo, e digo o que digo já sabendo que não adianta nada te dizer isso, pois, quando terminar (se terminar) a história de vocês, vais sofrer, chorar, sentir-se sozinho, estranho, sem esperança até. É assim que os amores acabam, e é desse ponto que temos que renascer e nos preparar para começar de novo. É o ciclo dos nossos amores, um dos muitos ciclos da vida.

Mas não sei se ela gosta de ti, vou ser sincero, só que ninguém mais, além de ti, pode saber disso. Penso, contudo, que se tens dúvida é porque já sabes a resposta. Digo isso com respeito, mas não pena. A vida é assim, não temos que lamentar a vida.

Conversando com o Marcelo dias atrás, ele lembrou de uma história parecida com essa que ele viveu, e a música que sobrou no final da história dele, e que acho que tem tudo a ver com a tua situação. Chama-se “O Nosso Amor a Gente Inventa (Uma História Romântica)”.


O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu

O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa, inventa

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa

Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açucar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma estória romântica

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu


Volto semana que vem,

Ombro Amigo

quinta-feira, setembro 15, 2005

Vertigo

Não posso ser crítico musical, já sei disso há tempos.

Simplesmente porque quando gosto de um banda e vou a um show dela, eu acabo não prestando atenção aos detalhes técnicos e fico boquiaberto, meio em transe. Já aconteceu várias vezes, desde os tempos dos shows da Legião Urbana, os do Vítor Ramil (até hoje), do Chico Buarque e até da Maria Bethânia. E aconteceu aqui em Toronto, ano passado, no show do REM. Além disso, shows de música são eventos para se ir acompanhado, de preferência de turma, porque é justamente isso, um momento de catarse.

Bom, esse pequeno preâmbulo é para falar que eu fui, noite passada, no show do U2 aqui em Toronto, no Air Canada Centre, e acho que devo fazer alguns comentários sóbrios e técnicos sobre o que eu assisti.

PUTA QUE O PARIU, MUUUUITO BOM!!!!!

U2 Vertigo Tour 2005

Como eu ia dizendo, fui ao show, o segundo deles na abertura da terceira perna da turnê de lançamento do seu último trabalho, “How to Dismantle an Atomic Bomb”. A vantagem de ir ao segundo show é que ele não tem a tensão da estréia e eles ainda estão de saco cheio de tocar várias noites em sequência. Ou seja, foi tudo planejado. Mentira, foi o dia que eu consegui ingresso, que comprei pela internet no dia 19 de março passado. Aliás, a venda começou às 10h da manhã e encerrou (esgotaram-se os ingressos) às 11h.

Voltando ao show e arredores.

O show estava marcado para dezenove horas e trinta minutos. Eu tinha meu ingresso com lugar marcado, então nem encontrei filas. O Air Canada Centre é o mesmo ginásio onde joga o Toronto Raptors, franquia da NBA aqui de Toronto. Então dá para imaginar o tamanho dele. O meu lugar era algo como a arquibancada superior, quase de frente para o palco. Algumas pessoas assistiam com binóculo, mas evidentemente era um exagero, a não ser que quisessem ver se ele tinha se cortado fazendo a barba… sei lá. De qualquer modo, o lugar marcado era garantia de tranquilidade, e assim foi.

O palco ficava num lado da quadra, e no seu lado oposto ficava a mesa de som. O palco em si era como uma célula, saca aula de biologia? Eles ficavam e tocavam no que era o núcleo da célula, e podiam percorrer toda a membrana plasmática. No citoplasma da célula (a área confinada pela membrana plasmática) estava um primeiro grupo de fãs, de pé (pista). Eles, se não me engano, era membros do fã clube. Fora da célula ficava o resto do pessoal de pista.

A associação com a membrana citoplasmática ficou mais forte durante o show, por efeito de luzes que mudava de cor e que constituiam uma dupla membrana. Todos os integrantes da banda, em algum momento show, foram e tocaram ali.

Acima do palco, um grande telão retangular formado por quatro telões quadrados que mostram, cada um, um dos integrantes da banda o tempo todo durante o show. Por trás do palco, uma grande cortina como se fossede lâmpadas, que mudam de cor e projetam imagens conforme a música que toca.

A função toda começa antes do show. Um estande recebe doações para a campanha “Make Poverty History” em troca de pulseiras brancas. Junto, no estande, um grande painel com milhares de assinaturas que será enviado ao Primeiro Ministro Paul Martin. Doei, ganhei a pulseira e assinei, pela Jacque, pela Banda da Sopa e por mim.

O show, o show.

Como eu disse, ir sozinho a um show tem suas peculiaridades. Eu, por exemplo, tenho esse lance esquizofrênico de pensar na vida enquanto aguardo o mesmo começar, alheio ao que acontece minha volta. Tudo bem, no quando realmente começa eu estou prestando atenção.

Tecnicamente, perfeito. Som, iluminação, presença de palco, tudo. Bono Vox mantém o público hipnotizado ao que ele canta e diz. Sim, porque ele interage com a platéia. Primeiro se desculpa por ter demorado tanto a vir para Toronto nessa turnê. Conta histórias, dedica canções. Fala da campanhã “Make Poverty History”. Em meio ao show, antes tocar ‘Where the Streets Have no Name”, o telão mostra Declaração Universal dos Direitos do Homem e, durante a música, aparecem projetadas na cortina atrás do palco as bandeiras de países da África.

O repertório, impossível de criticar. Tocaram as músicas do novo Cd e muitos clássicos. O show começacom a esperada ‘Vertigo’, que tem o clima perfeito para o início, com o seu “uno, dos, tres… catorze”. O primeiro momento em que o ginásio foi ao delírio foi quando tocou ‘I still haven’t found what I’m looking for’, e esse estado de extâse durou até o final do show, com ‘One’. O primeiro bis encerrou com ‘With or without you’, e, o segundo, com ‘Bad’. Todos ficamos esperando o terceiro, mas as luzes foram acesas.

Levou um tempo até que nos déssemos conta de onde estávamos e quem éramos: um pouco melhores do que antes…

Até.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Setembros e aniversários

kk,-xu-&-jacque
Uma história sobre o Paulo, aniversariante do dia.

Ele é o primeiro e único ganhador do 'Prêmio Pato Purific de Melhor Parceiro de Viagem’, outorgado a ele em 1999, após a primeira viagem à Europa dos Perdidos na Espace, viagem essa que está relatada, com fotos, aqui (começa em outubro/2004 e vai até março/2005, confiram lá). Foi quem manteve sempre o bom humor e disposição durante toda a preparação e realização da viagem. Nem eu, quando resolvi abandonar o grupo e seguir sozinho, numa cidade do Vale do Loire, e nem o Dudu, o alarmista, com sua intenção de sair do Brasil com todos os hotéis já reservados, conseguimos tirá-lo do sério.

É uma grande figura, entre os melhores companheiros de viagem que temos, e um irmão para mim.

Feliz aniversário, Xu.

(eu ia colocar aquela foto com o Papai Noel, mas… deixa pra lá…)

terça-feira, setembro 13, 2005

Wasaga Beach

wasagabeach01

Daqui do morro dá pra ver tão legal
O que acontece aí no seu litoral
Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais
Do alto da cidade até a beira do cais
Mais do que um bom bronzeado
Nós queremos estar do seu lado

Nós 'tamo' entrando sem óleo nem creme
Precisando a gente se espreme
Trazendo a farofa e a galinha
Levando também a vitrolinha
Separa um lugar nessa areia
Nós vamos chacoalhar a sua aldeia

Mistura sua laia
Ou foge da raia
Sai da tocaia
Pula na baia
Agora nós vamos invadir sua praia

Agora se você vai se incomodar
Então é melhor se mudar
Não adianta nem nos desprezar
Se a gente acostumar a gente vai ficar
A gente tá querendo variar
E a sua praia vem bem a calhar

Não precisa ficar nervoso
Pode ser que você ache gostoso
Ficar em companhia tão saudável
Pode até lhe ser bastante recomendável
A gente pode te cutucar
Não tenha medo, não vai machucar

* Informações sobre Wasaga Beach você encontra aqui

wasagabeach02

segunda-feira, setembro 12, 2005

Liberdade, liberdade

Quando ainda não existia este blog, quem lia ‘A Sopa’, o semanário que enviava por email a uma lista de assinantes, eram basicamente pessoas que me conheciam antes de se tornarem meus leitores. Alguns desses começaram a me conhecer melhor por ler os meus escritos.

Quando criei esse blog, ou seja, passei a tornar público os meus textos, a maioria das pessoas que passaram a visitá-lo não me conhecia, e – desses – alguns poucos eu vim a conhecer. Por “me” tornar público, insisto nisso, muitos dos meus leitores não sabem quem eu sou, e, mesmo entre aqueles que me conhecem um pouco, às vezes ainda sou “vítima” de mal-entendidos. O que quero dizer com isso?

Quero dizer que, quando escrevia só para quem me conhecia, eu podia escrever qualquer coisa que eu quisesse. Em outras palavras, tinha a liberdade de escrever os maiores absurdos, porque as pessoas entendiam que eram piadas, ou ficção. Não levavam aquilo como verdade porque sabiam que eu não podia estar falando sério, que era brincadeira. Como quando eu escrevi que em determinadas situações a violência está jusificada. Não dava para levar a sério.

Escrevendo publicamente, aqui no blog, cheguei até ensaiar uns textos assim, sem maiores preocupações com o politicamente correto, sem estar cheio de dedos para não ofender ninguém. Nessas poucas vezes, fui fulminados por críticas, que me chamaram desde chato até preconceituoso e hipócrita. Percebi, então, que estava sendo vigiado, monitorado. Confesso que estou me sentindo tolhido. Não me sinto livre para escrever o que quiser aqui, porque vou ser fuzilado por críticas e comentários raivosos contra mim.

É evidentemente que não me refiro aqui há ninguém mais que não ao meu próprio umbigo, claro.

Tudo isso pra dizer que não me sinto à vontade para falar sobre os webdesigners nem sobre os donos-de-peixe.

Até porque pode aparecer o policial chinês e uóóóóóó… (piada interna, desculpem...).

Até.

domingo, setembro 11, 2005

A Sopa 05/08

Onze de setembro, domingo.

Esses dias, não lembro onde, ouvi alguém comentando que iria viajar de avião no dia onze de setembro, e alguém respondeu que era “sinistro”, ou outra expressão do gênero, dando a entender que era arriscado viajar na dita data. Bobagem, pensei.

O nine eleven, ocorrido há quatro anos atrás (lembro bem, eu estava em Butiá/RS trabalhando no posto de saúde e, quando ao sair de lá, de carro, liguei o rádio, já quase meio-dia, e ouvi que os Estados Unidos estavam sob ataques, e imediatamente pensei no Neni, meu irmão, que morava - e mora – em Nova York e trabalhava perto do WTC, proximidade essa que permitiu algumas fotos interessantes) foi marcante porque mudou o mundo. Desde nossa percepção da infalibilidade e do poderio militar norte-americano, até as invasões realizadas em nome da “guerra ao terrorismo”, nada foi como antes depois de onze de setembro de dois mil e um. O mundo talvez tenha ficado um pouco mais restrito em termos de trânsito entre países, e paranóias mil surgiram e cresceram.

Agora, passados quatro anos, os Estados Unidos estão frente a uma nova catástrofe, dessa vez causada pela inépcia e incompetência de seus líderes, que - mesmo diante de insistentes avisos do que aconteceria em New Orleans – não se prepararam. Pior, não se preparam, não responderam prontamente à situação, e não sabem como lidar com as conseqüências. Um fracasso, assim como vem sendo o governo Bush em termos gerais. Os que mais ganharam nessa “brincadeira” de guerra foram a indústria bélica e a de reconstrução.

Sem falar que revelou a face mais gritante da desigualdade social no país do Tio Sam: a maioria dos mortos, aqueles que ficaram para trás, foram os negros (que não tinham carro), velhos e doentes.

A cultura da competitividade às vezes tem que ter limites…

sábado, setembro 10, 2005

Sábado, de novo e sempre

Em uma Toronto de final de verão, a manhã é de sol. A temperatura máxima hoje será de 23ºC. No Brasil, termina a semana da pátria e, no Rio Grande do Sul, começa a semana farroupilha.

Sábado é dia de poesia, e Drummond.


Também já fui brasileiro

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.

Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.


Até.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Consultório Sentimental do Seu Sopa


Caro amigo Marcelo,

De volta à vida canadense, aproveito os intervalos que me proporciono em meio às minhas leituras dos clássicos gregos (releituras, digo) para passear nisso o que as pessoas chamam de blogosfera. Entre os weblogs que tenho visitado, está esse aqui, afinal colaboro com meus escritos semanalmente (ou quando possível).

Não posso deixar de comentar o que li ontem, sobre as dificuldades que vens enfrentando nos últimos dias para conversar e ver tua musa, a Jacqueline. A partir do que escreveste, percebi que tinha que escrever sobre algo que vem me angustiando: não acredito em relacionamentos à distância.

Como és inteligente, tenho certeza que sabes que não me refiro a ti. Até porque, caro Marcelo, não tens um relacionamento à distância. Tens uma relação de dez anos e que, agora e temporariamente, vocês estão longe um do outro. É diferente, como bem sabes.

O que não funciona são os namoros, ou relações que iniciam na distância. Exceções? Existem, claro, mas não é a regra. Um casal se forma no dia-a-dia, na rotina, no acordar juntos, nas alterações de humor, nas idas aosupermercado, nos almoços de família.

Morando longe, não se tem nada disso.

Não pode dar certo.

Acho que até podemos conhecer pessoas pela internet, começar a se conhecer à distância, mas o relacionamento mesmo, o se conhecer de verdade, descobrir a química, o toque, a pele, isso não pode ser de outra forma que não ‘face to face’.

Sincerely,

Ombro Amigo

quinta-feira, setembro 08, 2005

Dificuldades Técnicas

Desde ontem, parece que Toronto ficou mais longe de Porto Alegre.

Não, não aconteceu nada de grave, apenas dificuldades técnicas que impediram (e provavelmente vão impedir pelos próximos dias) a comunicação minha e da Jacque via webcam. E vocês sabem, falar pelo telefone não é a mesma coisa. Ver, além de falar, aproxima muito. Meus pais que o digam, afinal é a forma de se comunicarem com os dois filhos atualmente.

Aliás, tenho certeza – e já falei isso - que só aguentamos estar separados geograficamente, a Jacque e eu, já há um ano, só porque contamos com a internet para a nossa comunicação diária. Isso, diária. Nos falamos todos os dias, e estranhamos quando isso não acontece. Por isso essa sensação de estar mais longe foi maior ontem à noite, motivando uma noite de sonhos estranhos, em que estava desocupando o apartamento para voltar ao Brasil, mas percebia que estava fazendo isso em dezembro, quando ainda tenho mais seis meses de Canadá a partir do final desse ano.

Sem dúvida chato, frustrante, ainda mais que lá se vão cinco meses em que estive a última vez em Porto Alegre, a última vez que estive com a Jacque, e ainda falta exatamente um mês para nos encontrarmos de novo, num sábado de manhã, em Malpensa. Mas as dificuldades técnicas a que me refiro são apenas isso, dificuldades técnicas, problemas materiais, e esses sempre são assuntos menores, não importantes, no final das contas.

O que é importante não se pode comprar e não é material.

E isso não muda.

Até.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Sete de Setembro

Independência, tudo bem.

O quero saber é: quando vamos crescer?

Crescer como nação, como povo. Deixar de se sentir inferior apenas por ser brasileiro e deixar de botar a culpa dos nossos problemas nos outros.

Quem sabe aí, o Brasil possa ser um país muito melhor para se viver, para todos os brasileiros.

Com a palavra, Cazuza.


Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"

Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)


Até.

terça-feira, setembro 06, 2005

Kaká

Conheci a Karina num elevador. Era o elevador do edifício onde moram os seus pais, e eu estava indo jantar na casa deles.

Entramos os dois no elevador e, entre o térreo e o nono andar, ela perguntou se eu era o Marcelo. Olhando bem para ela, não tive dúvidas: era a irmã da Jacque, a quem eu namorava há pouco mais de um mês. Era a primeira vez que eu ia jantar na casa dos meus futuros sogros, e também iriam no jantar a Karina e o Paulo, seu marido. Isso foi há pouco mais de dez anos, e parece que eu os conheço desde sempre.

Logo depois de nos conhecermos, passei a frequentar também a casa deles, e – além de sairmos freqüentemente – passávamos muito tempo lá com eles. Foi no apartamento deles onde planejamos a nossa primeira viagem juntos, em junho de 1995, quinze dias em que passamos uma semana na Flórida (nos parques da Disney) e depois fomos para Nova York, Washington e arredores. No final dos quinze dias, eu voltei (porque minhas férias terminavam) e eles foram (vieram, no caso) visitar o Canadá, sem conhecer Toronto, contudo.

No ano seguinte, logo após anunciarmos que íamos casar, a Kaká engravidou e nos convidaram, a Jacque e eu, para sermos padrinhos do bebê que recém haviam descoberto estar esperando, que nasceu em dezembro de 96, a minha muito amada afilhada Roberta.

E essa relação de amizade, companheirismo, parceria mesmo, vem desde lá. Por isso, entre as saudades que mais sinto por estar aqui, longe do sul, é também da Karina que, além de ser tudo o que falei, e ser mãe da Roberta e do Gabriel, é mãe de quase uma centena de pequenos mais, todos os alunos da Projeto Vida, a escola que é a sua cara.

Tudo isso, já falei pra ela antes, mas hoje reforço porque é seu aniversário.

Muitas felicidades e MUITOS anos de vida.

(nós todos sempre juntos, claro)

Beijo.

Até.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Azedo, eu?


DSCN4278
Originally uploaded by Marcelo Tadday.
A foto ao lado foi tirada no Museu de Arte Moderna de Nova York, e ficou perfeita para a função que pretendo dar e ela: de ser um logo quando eu não estiver de bom humor ou escrever sobre assuntos que me tiram a paciência. Algo como, ‘Marcelo, o limão’. Bom, deixa pra lá…


#

Vinha pensando sobre o que aconteceu em New Orleans. Não só pensando, mas lendo os relatos de várias fontes diferentes, assistindo na televisão (as aqui do Canadá, a CNN), etc. Mantenho o mesmo choque – vamos dizer – misturado com uma certa incredulidade perante as imagens de algo que pode ser definido como a ‘crônica de uma morte anunciada’, pois desde de 2001 já se dizia que os diques de contenção poderiam romper e nada se fez sobre isso.

Também o fato de que as principais vítimas são negros e pobres, aqueles que não tiveram como deixar a cidade a tempo, porque não tinham carro ou outro meio de fuga, é também simbólico (ou não) da desigualdade social que – apesar de tudo – impera no grande irmão do sul de onde estou temporariamente. A demora no reação do governo, a falta de preparação, tudo ocorreu porque as vítimas não eram wasps, e podiam ser consideradas collateral damage? Pergunta que todos tememos responder

Confesso também que me causa um certo desconforto ler algumas pessoas dizendo que foi bom (?) o que aconteceu em New Orleans, que foi algo como um castigo para os Estados Unidos, pelo seu comportamento imperialista e blá blá blá. Esse é um dos momentos em que ficar quieto seria a atitude mais adequada, infinitas vezes mais inteligente que dizer uma estupidez dessas. Não é preciso nem comentar mais uma idiotice dessas.

Anyway, uma das questões que foram levantadas em meio ao caos vigente é exatamente relacionada à preparação ou não do país para lidar com esse tipo de evento, e – por extensão – com possíveis ataques terroristas de grandes proporções, químicos ou biológicos. Ou o quando vier o ‘Big One’, o grande terremoto que vai “rachar” a Califórnia ao meio, e que é esperado para um futuro não muito distante.

Loucura, loucura.

Até.

domingo, setembro 04, 2005

A Sopa 05/07

Religião é um assunto de foro íntimo de cada um.

Por isso respeito todas as diferentes religiões e credos. Cada um acredita naquilo que mais lhe conforta, que mais traz paz interior. Não acho que uma seja melhor que a outra e que nenhum deus tenha preferência sobre qualquer outro. Aliás, é querer obrigar os outros a seguir as mesmas crenças o que torna a religião motivo de tanta intolerância e sangue derramado.

Apesar de respeitar todos os credos, como falei, para algumas coisas eu não tenho paciência nenhuma. Mais, não só não tenho paciência como – confesso – fico intolerante.

Acho religião importante, sim, mas num nível pessoal. É, religião é um assunto pessoal, individual. Mesmo que milhares de pessoas sejam da mesma religião, compartilhem experiências, frequentem igrejas, ou templos, juntas, ainda assim é assunto que diz respeito a cada um. Por isso que religião não pode jamais se misturar com o estado. Porque não dá certo, simples. Há um movimento nos Estados Unidos tentando isso, inserir religião nas coisas do estado, e isso é um erro gigantesco. Mas, deixa para lá, não é disso que quero falar.

Como acredito que religião serve, além de meio de se alcançar conforto e paz espiritual, também, de certa forma, como guia de condutas morais, também não aceito que se “intrometa” em um outro assunto que não diz respeito a ela: a vida, no sentido biológico, das pessoas. E vocês estão começando a entender onde quero chegar.

Como no caso não tão recente assim (mas ainda desse ano) da americana Terri Schiavo, que vivia em estado vegetativo irrecuperável há anos e que o marido queria a suspensão do suporte de vida, e choveram protestos de grupos dito em favor da vida protestando contra. Falei sobre isso na época, acho que tinha de suspender sim, se fosse comigo eu gostaria que fizessem o mesmo.

Agora, no Brasil, caso não exatamente igual está acontecendo, e vem aí mais uma batalha judicial (certamente não tão longa quanto à americana) envolvendo o assunto, que chamam de eutanásia: em São Paulo, um pai vai recorrer à justiça para suspenderem o suporte de vida ao seu filho, João, de 4 anos, vítima de uma síndrome degenerativa incurável. Reproduzo abaixo, trecho da notícia que saiu no Terra:

"Segundo o jornal Comércio da Franca, que revelou o caso à imprensa, ele é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos. João ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas".

Precisa dizer mais alguma coisa? Só para reforçar, então: é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos… ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas.

Bom, a mãe é contra. O que ela diz?

"Esse garoto é a minha vida. (...) Eu tenho fé, acredito na força de Deus e sei que Ele vai salvar meu filho".

Pois é. Complicada a situação, admito. Ambos, o pai e a mãe, amam o seu filho, sem dúvida, mas não posso deixar de me posicionar do lado do pai. A pobre criança está sendo mantida viva com ajuda de aparelhos, não tem vida de relação. Em termos práticos, está morta. A mãe não aceita, é compreensível e é parte do luto a negação. Amar, contudo, às vezes é deixar a vida seguir seu curso.

O que não consigo aceitar bem é que o caso virou uma polêmica, e aqueles “a favor da vida em qualquer situação” (SIC) se utilizem do nome do seu deus para condenarem o pai dessa pobre criança que também a ama e só quer que ela não sofra. Dizem que só deus pode tirar a vida de alguém. Seguindo este raciocínio, só deus poderia manter a vida, e suporte artificial de vida deveria ser “pecado”. Não faz sentido?

Até.

sábado, setembro 03, 2005

Sábado, final de verão

O último final de semana do verão começou com sol e céu azul aparecendo entre nuvens, temperatura agradável de 17ºC.

Somos eternos insatisfeitos, todos sabem.

E nossas queixas variam – e aqui falo com relação à meteorologia – conforme a estação do ano. Os canadenses ou, melhor, aqueles com quem convivo e com quem converso, não aguentam mais inverno e frio, e amam – acima de tudo – o verão. Eu os entendo, mas até certo ponto.

O inverno, o frio, a neve, enfim, os extremos, ainda me fascinam. Mas até eu, fã do frio, tenho que admitir que bateu um certo baixo astral ao perceber que o final de semana do Labour Day, nosso dia do trabalho, primeira segunda-feira de setembro, é o final do verão aqui. O que vem pela frente é o longo inverno, precedido pelo mudar de cores e o cair da folhas do outono. A temperaturas extremas não incomodam, afinal é se abrigar mais, luvas, toca, botas. O que realmente angustia é a longa duração. Parece que não vai acabar nunca, que nunca veremos a primavera.

Mas ela virá, inevitavelmente.

O tempo passa rápido, já faz um ano que estou aqui – vou para o meu segundo outono – e este ano vou quebrar o inverno em dois, passando o final do ano em casa, em Porto Alegre, com a família.

E quando a primavera estiver terminando aqui no norte, estarei voltando para o inverno do sul, o frio externo aquecido pelo chimarrão, sentado na porta da minha casa, a mesma e única casa, a casa onde eu sempre morei.

Bom sábado.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Consultório Sentimental do Seu Sopa

Depois de meses sem mandar notícias, Ombro Amigo, consultor sentimental deste blog, reapareceu em Toronto. Quando perguntado sobre o que aconteceu em sua estada em Paris com Isabella, sua mais recente paixão, desconversou (“Ao trabalho, ao trabalho”). E volta respondendo a uma carta de uma leitora. Mas deixemos de conversa. Com vocês, Ombro Amigo:


Circunspecto Marcelo,

Sorria mais, meu caro amigo. Sinto uma volta da melancolia em teu blog? Não podemos deixar isso acontecer. Vamos trabalhar nisso, com certeza, mas não hoje. Hoje preciso ajudar uma leitora do teu blog que mandou um email. Depois de ajudá-la, vamos tratar do teu caso.

Diz a leitora:

“Caro Ombro Amigo,

Espero que possas me ajudar. Estou numa relação mais ou menos recente, e enfrentamos um problema: não sabemos lidar com momentos de "tensão" um do outro. Por algum motivo a comunicação se rompe e caímos no silêncio. Não nos entendemos e nos afastamos. O que fazer para resolver isso?

Grata pela atenção,

R (em.dificuldades@gmail.com)”

Cara Erre,

Pelo que pude depreender, vocês são um casal jovem, estão juntos há relativamente pouco tempo, ainda na fase em que as abóboras vão se ajeitando com o andar da carroça, se conhecendo, se entendo, entendo as razões e os motivos um do outro, conhecendo sua história passada (que é o que determina o hoje). Aprendendo a conversar, também.

Não é fácil, concordo e confesso que ainda lembro de como foi cada início de relação que vivi. Sabe como é, nem sempre falamos a mesma língua, ou, melhor, o que queremos dizer, a mensagem, às vezes ainda não é decodificada pelo nosso interlocutor da forma exata que gostaríamos. É um processo lento esse de encontrar a sintonia exata com o outro, e não falo aqui de gostar ou não, mas da comunicação, do olhar, das meias palavras, do significado dos silêncios e a medida certa da respiração.

São ajustes que levam tempo, e são trabalhosos. Até porque tudo isso dá trabalho, é um investimento de tempo e energia, como é com qualquer outra construção que temos de fazer. Criar uma terceira pessoa, que é o que vocês são quando juntos, é tarefa hercúlea, se quisermos ir além de uma relação superficial e curta.

De quem deve ser a inciativa de manter a conversa, de não deixar o silêncio ser uma barreira, um muro? Não importa, vocês só não podem deixar isso acontecer.

Como dizem por aqui, take care.

Eu volto.

quinta-feira, setembro 01, 2005

De animais de estimação

Computadores são que nem cachorros.

Não, não quero dizer que são os melhores amigos do homem.

Fato: pesquisa realizada na Universidade de Toronto (pela psicologia, acho) programou computadores para aleatoriamente (randomicamente) darem erro, travarem. Selecionaram então pessoas que foram divididas em dois grupos, aquelas que se queixavam que os seus computadores sempre davam erro e aquelas cujos computadores não davam erro, e as orientaram a usarem os computadores programados para darem erro ao acaso.

Analisando os dados, descobriram que – para aquelas pessoas que se queixavam de que os computadores ‘travavam’ mais – eles davam mais erros que para aquelas que não se queixavam. E isso foi estatisticamente significativo. Ou seja, a chance de os erros ocorrerem mais com quem espera que isso aconteça é maior que com quem não espera. E não é apenas o acaso!

Na pesquisa, eles não estudaram o por quê, então podem apenas inferir a razão. Eu não. Eu sei a razão.

Computadores são como cachorros, eu disse. Eles percebem se o seu interlocutor está com medo, ansioso, e seu ataque é uma reação a isso. Sensíveis, essas máquinas de hoje.

Mas isso pode não passar de teoria, admito. É muito mais plausível que as pessoas cujos computadores estejam dando muito problema tenham uma energia negativa (para o computador, para o computador). Algo ralcionado a campos magnéticos. Quando se aproximam de um computador, se altera o equilíbrio tênue que sustenta o universo e então o computador – como o canário da mina, que ao morrer serve de sinal de que algo não está bem – sente primeiro esse distúrbio cósmico e trava. E avisa.

Que é hora de fugir para um lugar seguro.

Até.

PASSAGEM DO TEMPO: DEZ.

UPDATE - A música, a música...

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal
Olhar teus olhos de promessas fáceis
Te beijar a boca de um jeito que te faça rir

Hoje eu preciso te abraçar
Sentir teu cheiro de roupa limpa
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou causador da tua insônia
Que eu faço tudo errado sempre, sempre

Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje