domingo, dezembro 27, 2009

A Sopa 09/20

Litoral norte do Rio Grande do Sul.

Os próximos dias serão de poucas atividades. Tomar café da manhã com a família, ler os jornais do dia com calma, uma caminhada na praia se o tempo permitir, o chimarrão de antes do almoço, a siesta após. Sem maiores preocupações com outras atividades que além de observar a Marina brincar na areia, correr na grama, essas coisas.

O recesso de final de ano, provavelmente a única folga que faremos no verão serve para isso mesmo, não fazer nada e preparar o ano que começa no final da semana.

As perspectivas para 2010 são boas, e espero terminar o ano que vem da mesma forma que termina 2009: com a sensação do dever cumprido.

Valeu.

Até.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Envelhecer

É do Arnaldo Antunes uma das músicas mais bonitas que ouvi nos últimos tempos e que tem tudo a ver com o que eu venho escrevendo por aqui: a passagem do tempo.

A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer
A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer…

Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qualé
E dizer venha pro que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione
E que a pia comece a pingar

Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular

Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá

Pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não pára de crescer
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr

Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qualé
E dizer venha pro que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione
E que a pia comece a pingar

Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular

Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá


segunda-feira, dezembro 21, 2009

A Sopa 09/19

A passagem do tempo.

Como todos aqueles que lêem essa Sopa há algum tempo ou que me conhecem um pouco mais além da superfície do dia-a-dia sabem, sou fascinado pela passagem do tempo, seus efeitos e conseqüências. Da mesma forma, ou por isso mesmo, tenho por característica pessoal recordar datas e eventos, e refletir – a partir dos mesmos – sobre a vida em geral.

Imagine, então, caro leitor, o que significou, para mim, completar quinze anos de formado. Isso aconteceu na quinta que passou, dia 17/12/2009, e foi marcada por um encontro de ex-colegas que eu não organizei. Por mais que alguém possa dizer o contrário, não fui eu o organizador. Eu apenas mandei os e-mails e reservei o restaurante, mas nunca me senti organizador. Claro que isso pode ter sido um mecanismo de defesa para, caso o encontro tivesse sido um fracasso, eu não me sentisse mal...

Foi um encontro leve, divertido, com a presença de colegas que – em um primeiro momento – não acreditava que fossem comparecer. Muitos de nós com os filhos juntos, acabamos “tomando conta” de boa parte do restaurante. Relembramos histórias da época da faculdade, celebramos quem não está mais entre nós em definitivo e quem não estava ali circunstancialmente. Foi uma noite daquelas em que só temos boas sensações. Valeu mesmo.

Fui forçado, em virtude da data, a pensar em quem eu era há quinze anos atrás e quem sou hoje em dia, e confesso que os caminhos percorridos foram – sim – inesperados em muitos aspectos, e de forma positiva. Como escrevi na sopa da semana passada, reforçou a sensação do dever cumprido, e de estar no caminho certo.

Tranquilo, porque a caminhada é longa.

Até.

terça-feira, dezembro 15, 2009

A Sopa 09/18

Em débito com meus escritos.

Pensei em dizer em débito comigo, mas estaria falseando a verdade. Nunca estive tão tranquilo comigo mesmo quanto agora. E, como os meus escritos não são nada além de partes de mim, é um paradoxo estar “em débito” e “tranquilo” ao mesmo tempo. Então devo reformular: apenas não tenho conseguido materializar os meus escritos, que existem, são criados e vividos diuturnamente, ainda etéreos, esperando a materialização que certamente virá em breve, muito breve.

Comecei, há poucas horas, a desacelerar.

O que significa que o ano está a terminar, término esse que se estenderá pelos próximos quinze dias. Serão dias de encontros, comidas, celebrações, brindes. Mais uma vez não será possível reunir todos aqueles que deveriam estar próximos nesses dias, e são circunstâncias da vida. Paciência.

Como não acontecia há muito tempo (será mesmo?) estou com a sensação do dever cumprido. Fiz a minha parte, e posso dormir tranquilo.

Tem coisa melhor que isso?

Até.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Você acha que está com a gripe A (H1N1)??

Faça o teste.




Até.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

A Sopa 09/17

(Uma Sopa requentada, de cinco anos atrás, enquanto lido com final de semestre e pacientes internados e reuniões e aniversários e outras correrias)

Em casa.

Foi longa a viagem até aqui. Saí de Toronto na sexta-feira às 7h15 (hora local) e fui chegar em Porto Alegre no sábado às 10h15, horário de Brasília. Acertando o fuso, foram 24 horas em trânsito.

Depois que consegui embarcar em Toronto, foi tranqüilo. Para tal, foi necessária uma longa espera numa muito longa fila para passar pela imigração. Parecia que todo mundo estava deixando a cidade em busca de temperaturas das mais amenas do sul. Havia chegado duas horas antes do horário no aeroporto, mas faltando cinco (!) minutos para a hora de saída eu ainda estava na fila para mostrar meu passaporte ao oficial da imigração e ter que explicar que eu iria parar em Miami apenas para esperar meu vôo seguinte e o que eu ia fazer no Brasil.

Após passar pela imigração, saí rapidamente em direção à próxima etapa, passar minha mochila pelo RX e ter que tirar as botas para passar no detector de metais. Passei, coloquei-as de volta e, sem amarrá-las, saí correndo em direção ao portão de embarque. No caminho, para não cair, parei para amarrar os cadarços. Neste momento, ouvi nos alto-falantes chamarem vários nomes, o meu incluído, como última chamada para embarque... Tudo certo, me acomodei, e ouvimos o recado do piloto dizendo que iríamos atrasar por culpa da imigração americana.

Vôo tranqüilo até Miami e, chegando lá, cerca de cinco ou seis horas de espera até o vôo para São Paulo. Não tive dúvidas: deixei minha mochila num depósito, peguei um táxi, e fui para Miami Beach.

Lá, dei umas voltas, observei o movimento de pessoas circulando com pouca roupa, sentadas nos restaurantes na Ocean Drive, tomando drinks coloridos, comendo lagostas e fumando charutos. Parece um chavão, ou um código de postura. Sexta-feira à tarde, de folga em Miami Beach, comer lagosta e fumar charuto. Tirei algumas fotografias, tomei um suco. Parecia um alienígena, carregando o meu casacão que dava calor só de olhá-lo, em contraste com os "locais" em trajes de verão bem mais compatíveis com os 26ºC de temperatura. Mas serviu para readaptar o olhar para o mundo latino, bem mais sensual do que o do norte da América...

De volta ao aeroporto, mais uma pequena espera para o vôo até São Paulo, que foi tranqüilo e, de certa forma rápido. Depois da espera em São Paulo, já no sábado de manhã, uma hora e quinze até Porto Alegre, passada relâmpago no free-shop a mala que demorou a sair do avião e passagem direta pela alfândega, sem nenhuma inspeção.

Ao sair, cartazes, balões, festa, fotos e sorrisos me esperando. Uma recepção muito melhor do que sequer imaginava, e a boa sensação de estar em casa, de onde parecia que nunca tinha saído.

Esse, um pensamento recorrente durante toda a viagem: de que o tempo, quando visto retrospectivamente, passa muito rápido. A estranha sensação de que nunca saí de casa, a impressão de que tudo - os últimos três meses e meio - não foi real.

Foi por isso que passei o dia ontem com uma camiseta comprada em Toronto. Para lembrar que isso tudo (e muito mais, o que vem pela frente) é bem real. E a certeza de que - não importa para onde a vida me leve, nem por quanto tempo - eu tenho um lugar para voltar. Eu tenho referências e uma história.

E nada pode ser maior que isso.

Até.

terça-feira, dezembro 01, 2009

O Grêmio, sacola de pano e o Cirano de Bergerac

Por AIRTON GONTOW*

Aconteceu na manhã de ontem, 29 de novembro, no mercado ver-o-peso, na bela Belém do Pará.

No último dia de uma rápida viagem a trabalho, encontrei tempo para fazer compras pessoais e, claro, procurar alguns presentinhos para a família.

Ao chegar a uma banca de bolsas, vi que havia duas interessantes.

Uma era colorida e muito bonita. E tinha a cara da minha mulher!

A outra, embora também tivesse lá a sua beleza, era menos encantadora e, definitivamente, não fazia o estilo da minha esposa!

Infelizmente, um jornalista – o jovem repórter Rafael Seixas, do jornal "A Crítica", de Manaus, chegou um pouco antes. O rapaz descobriu as duas bolsas e decidiu que levaria uma. Olhou para mim e disse: "Eu não tenho bom gosto para este tipo de coisa. Qual você acha mais bonita?"

Meu coração bateu forte. Pensei em dar a resposta errada. Dizer que a mais bela era justamente a bolsa que eu não queria levar. O presente era para a mulher!

Olhei para o repórter amazonense e disse, ainda que com dor no coração: "a mais bonita, sem dúvida, é a colorida."

Por que eu disse a verdade? A resposta é simples e até óbvia: porque era o correto, independente do meu desejo.

Penso nesta pequena história vivenciada ontem diante do dilema de qual deve ser a atitude do meu Grêmio no decisivo jogo de domingo, contra o Flamengo, no Maracanã: o Grêmio deve entrar com o time titular contra a equipe carioca, lutar com todas as suas forças para empatar ou ganhar e, indubitavelmente, dar o título de campeão brasileiro ao grande e tradicional adversário? Ou deve entregar o jogo para não ajudar a dar mais uma glória ao terrível e centenário rival?

Para mim não há discussão. O Grêmio deve jogar com toda a sua tradicional garra e matar-se em campo em busca da vitória, ainda que o Inter conquiste pela quarta vez o título brasileiro.

Não importa que o Inter tenha jogado com o time reserva no ano passado contra o São Paulo, ainda que em contexto completamente diferente, já que disputava simultaneamente a taça sul-americana; não importa que o diretor Fernando Carvalho, não bastasse a trapalhada que fez no ano passado, com a história do vídeo denúncia, já tenha voltado a falar bobagens; não importa que, com mais essa conquista, o colorado gaúcho aumentará consideravelmente o seu já espantoso número de associados, venderá mais camisetas e diminuirá a desvantagem que tem em número de torcedores em relação ao Grêmio.

Não importa nem mesmo a opinião momentânea da maioria da torcida gremista, que é favorável à entrega da partida.

O Grêmio deve buscar a vitória ou empate contra o Flamengo porque – apenas isso – essa é a atitude correta.

Independentemente dos nossos desejos e sentimentos.

Como gremista, só detesto o Internacional porque o respeito como adversário.

E certamente há apenas um time que respeito mais que o grande rival.

Este time é o Grêmio.

E por respeitar o meu imortal tricolor exijo a dedicação total na partida do Maracanã.

Além disso, convenhamos, mesmo com o quarto título brasileiro os colorados não vão poder se vangloriar por estarem em vantagem em relação ao Grêmio.

Terão quatro Brasileiros e uma Copa do Brasil contra dois títulos do Brasileiro e quatro Copas do Brasil gremistas.

E uma Taça Libertadores contra duas do Grêmio.

Os colorados gostam de tripudiar em cima das quedas gremistas para a segunda divisão do país, mas é justamente aí que mora a principal diferença entre os dois grandes clubes do Rio Grande do Sul.

Por maior que seja, o Internacional não tem a dimensão épica gremista.

Não tem a incrível história do goleiro Eurico Lara.

Não tem títulos importantes conquistados no estádio do adversários.

Não tem a Batalha dos Aflitos.

O que poderia ser desonra, para nós, gremistas, é motivo de filme!

Que outra torcida no mundo tem, no fundo, mais orgulho de uma inacreditável conquista na Segunda Divisão arrancada com sangue, suor e lágrimas, com sete jogadores, em um acanhado de Recife, que do título mundial, conquistado em Tóquio?

O jogo do Maracanã, com todos seus dilemas, poderá ser uma nova Batalha dos Aflitos na memorável e história gremista.

Vencer e dar o título ao maior adversário, apesar da maior rivalidade do país, segundo votação recente entre jornalistas esportivos de todo o Brasil.

A dor de ser digno e dar o título ao inimigo.

A tristeza de ouvir os rojões colorados infernizando durante toda a noite o sono dos gremistas.

A tristeza – e o orgulho – de ser um Cirano de Bergerac. Ajudar o rival na conquista da mulher amada. Com digna e bela melancolia.

É preciso lutar – com garra e espada mosqueteira no Maracanã.

É melhor não dormir devido ao barulho ensurdecedor dos vermelhos, do que ter o sono estragado pela vergonha de não ter jogado com dignidade.

É melhor aguentar o rival que sucumbir aos nossos mais primitivos anseios, como o de "entregar" a partida.

Que atender ao grito desesperado e irracional da maioria.

Vamos fazer o que é certo, Grêmio!

Melhor assim, que ver-o-peso doendo na nossa consciência e manchando nossa história épica e inigualável.



*Airton Gontow é jornalista e cronista

P.S – Espero que o Grêmio lute com todas as forças contra o Flamengo mas vou, como todos nós gremistas, torcer pela vitória da equipe carioca. E claro, também pelo Santo André. Já pensou se o Grêmio empata e o Inter não vence, mesmo no Beira-Rio? Seria demais para esse pobre e velho coração tricolor... 

Fonte: Aqui