Existe um conhecido e batido, mas verdadeiro, dito popular que afirma que a liberdade de um termina quando começa a liberdade do outro. Ou seja, o direito de um indivíduo não pode (não poderia, não deveria) invadir o direito de outro. Simples e justa afirmação. Mas – se preciso escrever isso – é porque isso não acontece.
Antes de qualquer coisa, acho ridículo, de última, um determinado tipo de visão de mundo que se resume a uma frase, dita por muitos como se fosse uma verdade ou, mais, uma sentença: “isso é coisa de brasileiro”. Existem muitas situações em que se afirma isso, normalmente em tom pejorativo, e na maioria delas eu não me enquadro. E daí? Daí que sou brasileiro, e tal atitude não faz parte do rol das minhas atitudes. Mais, o fato de eu (e qualquer um) ser brasileiro não me torna melhor nem pior que ninguém. Para terminar esse preâmbulo, última premissa: não acho que nada, só porque vem do exterior é melhor do que algo que é daqui. Se determinado produto (ou idéia, ou seja lá o que for) for o melhor, não interessa sua origem. Pronto, vamos ao que interessa.
Quando cheguei em Toronto, dois anos atrás, uma das primeiras coisas que me chamou à atenção foi o fato de não ser permitido fumar em recintos fechados, como bares e restaurantes. Se quisesse fumar, que fosse para a rua, ou ficasse na área externa. Perfeito. Não precisei nunca tomar banho na volta de uma saída apenas para tirar o fedor de cigarro que fica impregnado, como já havia acontecido muitas vezes no passado, aqui no Brasil.
Saltemos no tempo, e caímos em Porto Alegre em 2006. Muito recentemente, coisa de uma semana a dez dias, foi sancionada a lei que proíbe o fumo em recintos fechados do tipo restaurantes, e casas noturnas. Aplausos para a medida que não tem o rigor da lei em vigor na província de Ontário, Canadá, mas que representa um começo. Qual não é minha surpresa ao ler no jornal de hoje, sábado (que por sinal está com temperatura agradável e com sol, como todos os sábados deveriam ser) que a prefeitura de Porto Alegre e os bares estabeleceram uma trégua e não multará os estabelecimentos que não respeitarem a lei. Já é um absurdo, mas pior foi a declaração do gerente de um boteco:
É hora dos ‘borrachos’, fumantes e poetas se unirem contra essa lei que é injusta, porque não respeita a individualidade. Como posso chegar para um cliente e mandá-lo fumar na rua? Se ele sair, nunca mais volta”.
Comecemos do fim, apenas para deixar a irritação e a indignação progredirem lentamente. Não é o dono do bar quem vai mandar ele sair. É a lei. Não pode, não pode. Não tem o que discutir. Agora, então, o ponto central da discussão: o não respeito à individualidade.
E a minha (e de todos os não-fumantes do mundo) individualidade, onde é que fica? E o meu direito de respirar um ar sem a fumaça do cigarro que o imbecil resolve fumar do meu lado num bar? Por quantos anos estivemos expostos ao mau cheiro que esses boçais exalam, sem se preocupar com os outros?
Quer fumar? Vai para bem longe de quem não fuma. Na condição de cidadão, tenho o direito de ir a um bar, restaurante, ou onde quer que seja e não ser obrigado a “fumar” junto com um idiota que não se toca. Quer fumar, vai pra rua e respeita os outros. Por outro lado, como médico e pneumologista, tenho outras mil razões para que as pessoas não fumem, mas falo aqui como cidadão.
É isso.
Até.
Um comentário:
Se o estabelecimento não será multado então essa lei nunca vai ser respeitada, cabe mesmo aos não fumantes agirem. Muita dor de cabeça pela frente nas idas aos bares.... bjs,
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