Sábado.
Com extrema facilidade e gosto, retomo antigos hábitos e – por que não? – rotinas de antes do exílio. Até para provar a mim mesmo que nem tudo muda. Hoje, primeiro sábado em Porto Alegre desde a volta, percebi que o meu organismo já volta a funcionar como antes. Cedo, pouco depois das sete da manhã, já estava acordado.
Como na música, acordei mais cedo, tomei sozinho o chimarrão, lendo o jornal do dia, não mais on line, e ouvindo as milongas do Vítor, o caçula da talentosa família Ramil. O dia amanheceu nublado, com uma chuva intermitente que completou o quadro típico do inverno nos pampas, mesmo que a temperatura – em agradáveis 15ºC - não seja aquela de inverno de verdade.
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais
(‘Ramilonga’, Vítor Ramil)
Bom sábado.
Até.
Um comentário:
E nos estamos com 39 graus, tipico verao de Toronto.
Infelizmente...
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