domingo, julho 30, 2006

A Sopa 06/02

Um mês.

Estou de volta há um mês, apenas um mês, mas parece que faz muito tempo que saí de Toronto. É estranho porque a chegada foi natural, sem impactos, foi a vida retornando ao seu andar natural, como se eu tivesse passado um ou dois dias fora, e não dois anos. Estranho, insisto, e já falei disso, porque não houve um fechamento, um encerramento, saí de Toronto como se fosse voltar em poucos dias.

Com a correria do dia-a-dia, do tentar colocar o barco em movimento novamente, aquele trabalho braçal de levantar a âncora, subir primeiro a vela grande e depois a genoa, caçar os cabos, deixar o vento fazer seu trabalho e acertar o rumo, talvez cambando uma ou outra vez até deixar a proa rumo ao destino escolhido, em meio a todo esse trabalho, nem tive tempo de sentir falta de lá, da cidade. Até que vi umas fotos de Toronto e, admito, confesso, senti saudades. Mas uma sensação boa, de lembrar dos amigos (da Stella Artois das sextas-feiras de verão), da cidade em si, de um tempo bom. E fiquei feliz por isso, os amigos, os laços criados. Esse é o termômetro que uso para avaliar se tenho andado pelo caminho certo pela vida: a minha relação com as pessoas.

Um mês, pouco tempo. Ainda não consegui rever a maioria dos amigos daqui, tenho muitos encontros agendados, muitas histórias para contar e colocar em dia. Ainda estou voltando.

Porque são várias as voltas, os retornos.

Percebi isso pouco tempo depois de chegar. O vôo da GOL que me levou de Guarulhos até o Aeroporto Salgado Filho, onde me esperavam a Jacque, os meus pais e a minha sogra, foi a primeira volta, a física, a oficial. Desde então, a cada reencontro com um amigo, com um lugar de Porto Alegre, me sinto voltando mais uma vez. E é uma sensação boa.

Como foi na semana passada, terça-feira dia 18, quando fui ao Sarau Elétrico, em seu sétimo aniversário. O Sarau Elétrico é isso mesmo, um sarau literário que ocorre toda terça-feira no bar Ocidente, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom-fim, em frente ao Parque Farroupilha (Parque da Redenção). Mais Porto Alegre impossível. Pois bem, toda terça-feira, comandado por uma radialista, por um professor de literatura e escritor e por um professor de português com grande domínio de mitologia grega, são lidos trechos de livros e discutidos autores os mais variados. Logo após a parte literária, sempre tem um convidado que faz uma apresentação musical.

No dia em questão (até escrevi no blog que pretendia ir), o sétimo aniversário, o convidado especial foi o músico e escritor Vítor Ramil, e os autores foram Jorge Luís Borges e o próprio Vítor, cujo livro ‘Satolep’ deve ser lançado ano que vem. Essa parte foi muito boa, mas confesso que não foi a melhor (na minha modesta opinião). A “canja” musical do Vítor Ramil foi o ápice do evento.

Antes de mais nada, estava completamente lotado. Ficamos, o Magno e eu, de pé no mezanino. Três horas de pé, primeiro ouvindo leituras do Borges e depois ouvindo o show. Valeu tudo, mesmo com o cheiro de cigarro que tornava o ar denso, quase irrespirável. Após a leitura de trechos de textos do Borges - em português e espanhol - e do Vítor Ramil, este tocou alguns poemas do próprio Borges que ele musicou. Quis encerrar, mas todo o público pediu que tocasse mais. E ele tocou.

Já na saída, quando íamos embora, comentei com o Magno a minha teoria de que a realidade é uma coisa individual, única. Nossas realidades podem até se encontrar, mas, se em algumas situações a minha realidade não interfere na de ninguém mais, eu posso acreditar no que eu quiser. Por isso, não tenho dúvidas que aquele evento foi para comemorar a minha volta ao Brasil. Porto Alegre à noite, temperatura (aquele dia) de uns 18ºC, era possível ver a lua e o parque pela janela ao fundo do pequeno palco, e ele tocando ‘Loucos de Cara’, ‘Ramilonga’, Deixando o Pago’ e terminando a noite com ‘Estrela, Estrela’.

Valeu, e muito.

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Hoje se comemora o centenário do nascimento do grande poeta Mário Quintana. Celebremos, pois.

O Mapa

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Até.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ontem saimos de carro e o cd escolhido foi MTV Acústico. Não dá mais para ouvir esse cd sem lembrar de vc, até mesmo cantando no banco de trás.... bjs,

AZZAI. COM disse...

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Anônimo disse...

FPuxa Marcelo...deu ate saudade de POA....
DE VERDADE,
Catia