Um texto de quatro anos atrás, sempre pertinente.
Não sou um bom médico. No máximo, regular, do tipo “quebra o galho”. Também não sou um grande escritor. Nem um bom músico (talvez “músico” seja um adjetivo forte demais para mim). Na área dos esportes, jogo futebol, alternando atuações ruins com eventuais jogos em que “vou bem”. Já joguei vôlei (até que bem, modestamente), tênis – sem comentários – e até sei rudimentos de golfe. Em resumo, faço muitas coisas superficialmente. O que talvez não seja tão ruim quanto você, leitor, pode estar pensando.
Assisti, há alguns poucos anos, numa Feira do Livro (evento que não poderia acontecer em outra cidade que não Porto Alegre), a um depoimento do Nélson Motta, espécie de “faz-tudo” no show business brasileiro. Produziu já muitos discos de muita gente boa, como Lulu Santos e Marisa Monte, já compôs muitas canções, foi dono de casa noturna, participou de programas de televisão, como o excelente Manhatan Connection, em que foi parceiro de bancada do falecido Paulo Francis e do sempre polêmico mas muito inteligente Arnaldo Jabor. Como dizia, assisti a um depoimento dele no Clube do Comércio, durante uma Feira do Livro, e ele disse exatamente isso: nunca queria ter sido um especialista em nada, ou melhor, em uma única coisa, queria saber de tudo um pouco.
Achei bem interessante este ponto de vista, porque vinha de encontro a uma idéia e ou teoria que eu já tinha há algum tempo: a das células pluripotenciais. Para quem não é médico ou nunca ouviu falar deste tipo de coisa: células pluripotenciais são células que podem se diferenciar em células de qualquer tecido. Ou seja, podem ser qualquer coisa, dependendo do estímulo que tiverem. Na minha teoria, nós – humanos – também funcionamos desta forma. Quando nascemos, temos o potencial de nos tornar ou fazer qualquer coisa. À medida que crescemos, vamos nos diferenciando, e acabamos nos tornando especialistas num único assunto (profissão, se quiserem). Com esta especialização, perdemos de saber (conhecer) todo o resto de possibilidades.
Nesta linha de pensamento, crescer significaria restringir possibilidades. Quanto mais “maduro”, mais específico numa determinada linha de funcionamento e menos aberto ao resto do mundo. Esse sempre foi um dilema existencial: “saber tudo” de um assunto e desconhecer o resto. Por exemplo: se sou advogado, nunca vou poder fazer cinema ou ser chef de cuisine, ou – mais importante – não vou poder fazer os três sem abrir mão de uma das atividades. Não que eu achasse ser possível fazer as três ao mesmo tempo, mas fazer cada uma delas a seu tempo, sim. E eu até hoje quero saber de tudo.
Os artistas renascentistas, como Michelangelo e Leonardo da Vinci, eram pintores, escultores, cientistas. Gênios, você diria, e eu concordo. Mas será que não foram tudo isso porque tiveram o estímulo adequado, não necessitando se superespecializar para poderem ser grandes? Não sei, nem me comparo com ninguém. Talvez o que eu disse até aqui tenha sido para justificar a minha dispersão de interesses. E talvez – também – esteja chegando a hora de eu me dedicar com máxima profundidade a algumas coisas. E, finalmente, talvez eu deva ficar sozinho, em silêncio, para saber disso.
Quantas coisas aconteceram desde então, quantas pessoas conheci, quantos lugares visitei?
A vida é sempre cheia de possibilidades e de surpresas. Às vezes me dou conta disso e fico admirado. Percebi também que hoje, 15 de abril, é aniversário de um grande amigo que não vejo há mais de dois anos, mas que a distância não quer dizer nada. Certo, Fernando?
Parabéns, meu velho.
Até semana que vem.
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